capítulo 08
Brooke
Queria socar alguma coisa.
Qualquer merda em seu caminho.
E tinha várias pessoas ao seu redor para servirem de saco de pancada, mas não chamaria atenção, não assim.
Controlou todo seu corpo, por mais que o sentisse estremecer em partes que não sabia ser possível, pela raiva que a dominava. Sentia algo estranho em suas entranhas, parecendo a consumir em cada órgão, se manifestando de formas inimagináveis.
Eram sentimentos misturados, parecendo novos e nunca antes tocados.
Ergueu sua mão, por algum motivo querendo tocar sua bochecha, mas a sentiu suada. Não de como ela ficava após seus treinamentos. Era quase como uma água fria que saia de seus próprios poros até sua superfície macia.
Fechou seus dedos, passando-os em sua palma e sentindo aquele líquido estranho.
Descontrolada. Era assim que se reconhecia naquele exato momento.
Encostou no canto mais escuro, se era possível, e não respirou fundo, sabia que se fizesse todo aquele cheiro se impregnaria em seu corpo, um ar poluído que não queria em si mais do que o necessário.
Pegou no bolso da jaqueta de couro brilhante seu celular, abriu no Pinterest e ficou divagando entre fotos e mais fotos. A maioria sendo de amigos se divertindo, roupas caras e joias que ela compraria qualquer dia, além de umas frases com um fundo de "aura", entre mais outras e outras que eram sua distração do mundo real que no momento realmente precisava.
Até ter ele retirado de sua mão.
Seus dentes de apertaram com força, marcando todo seu maxilar que poderia trincar a qualquer instante. Os olhos subiram lentamente até o rosto desconhecido, mas nem tanto.
Sua mão direita se fechou em um punho, tentando segurar todo aquele espírito raivoso apenas para si. Ergueu sua palma pedindo silenciosamente o celular de volta, mas antes que devolvesse, disse em tom brincalhão, fazendo com que ela quisesse arrancar aquele sorriso de seu rosto idiota:
— Estava falando com você, não ouviu?
Apenas ergueu sua sobrancelha levemente, sem dar nenhuma resposta ao desconhecido. Ele, então, devolveu o aparelho e sorriu, apesar de seus olhos mostrarem certa confusão ou reconhecimento.
— Eu tenho certeza que te conheço de algum lugar... — faz um som irritante com seus lábios e arregala os olhos. — Porra! Claro, claro, você é a menina do estacionamento! Jesus, gata, não fiz nada para receber um dedo do meio.
Brooke soltou o ar de seu pulmão, em uma graça ácida, mas ele não parece ter ligado ou ao menos entendido.
Claro, o jogador de hóquei apressadinho e idiota.
— Não deveria correr em um estacionamento — apenas diz isso, nada mais e sai andando, porém é impedida por um toque leve em seu braço.
— Beleza, sei que fui idiota...
— Exatamente — o interrompe. O olhando de esguelha, ainda com seu corpo virado para frente. — Agora, me solte.
Ele faz sem pestanejar.
— Você poderia me dizer ao menos seu nome.
Brooke se virou, pela primeira vez no ano dando um sorriso de canto minúsculo, e não o respondeu, apenas olhou naqueles olhos escuros como o seu, desejando que o tal jogador entendesse o recado e não fosse como outros: totalmente impaciente e impossível de desistirem do que querem.
Não se importou mais com o acontecimento recente, apenas foi até seu carro e dirigiu para longe de qualquer outra pessoa conhecida ou desconhecida, precisava de paz por alguns segundos, sabia que a qualquer instante poderia explodir e realmente não queria isso.
Porque sabia o que acontecia a si nesses momentos.
Não gostava da sensação de descontrole.
Estava divagando, mas seus olhos capturaram rapidamente um grande vazio em meio a algumas arvores, dando-a rapidamente aquela sensação do coração acelerado. Sabia o que tinha ali, e não se conteve em estacionar com cuidado entre alguns troncos, de forma que a lataria escura saia quase imperceptível para outros motoristas, se não fosse pelos faróis ligados.
Desceu e foi até o porta-malas pegando o estojo com o patins dentro e sentou de volta ao banco do motorista para calçá-lo.
Mesmo diante a escuridão a sua volta, não estremeceu ao pensar se havia alguém a vigiando nas sombras, ou se a matariam ali mesmo, imaginou várias formas de matar qualquer um que a tentasse machucar e isso envolvia a lâmina que se equilibrava em cima, ela com certeza poderia fazer um grande estrago se usada da forma certa.
Testou para ver se o gelo aguentaria seu peso e percebeu ser grosso o suficiente para que sim. Naquele momento nem o vento gélido, quase cortante, em sua perna a faria parar por mais que se tornaria mais evidente com a velocidade que tinha em deslizar. Gostava daquela sensação dolorosa, poderia dizer que era apenas um método para saber que estava ali, viva, mas não era.
Não tinha nada a ver com isso, apenas gostava, sem explicações.
Em seus ouvidos a música after dark, da Mr.Kitty. A lua naquele exato momento saiu das proteções das nuvens e se mostrou reluzente, dando o brilho que o palco de Brooke precisava, para o espetáculo mortal que estava prestes a fazer.
Senti o olhar sobre seu corpo, queimando cada célula, mas não sabia se era os olhos da lua a admirando ou de alguma pessoa, apenas seguiu para os passos repetidos em sua mente antes de fazê-los.
Em um meio giro, fica de costas, olhando para trás e inclinando para o lado, apenas para pegar impulso o suficiente para saltar e girar no ar três vezes com precisão, com os dois braços para cima, como se a levassem para onde devesse estar. Chego à superfície apoiando seu peso no joelho, esticando o outro para trás e continua a deslizar de costas e depois de frente.
Movimento seus braços e pernas com sincronia a música, fazendo com que a dança se transforme em algo tão belo que se questionariam se era mesmo ela quem dançava. Fantasiada em um ser majestoso, quente, perfeito e como a morte traiçoeira. Frio. Congelante e petrificado no tempo.
Passa suas mãos por cada curvatura do seu corpo, sensualizando para si mesma e ao mesmo tempo para alguém. As sombras a perseguem por cada movimento, encantando o que era feio, tornando-se em apenas um vulto preto.
Escorrego com o pé de traz quase encostando totalmente no gelo enquanto o outro suporta o peso, se curvo até virar de costas e levanta sua perna para cima, curvando meu tronco para baixo, todos esses movimentos deram impulso para girar suavemente no mesmo lugar quatro vezes, só para que na quinta agarrasse a lâmina, na parte certa para não cortá-la, e deite as costas para traz, ainda rodando, e quase conseguindo esticar a perna totalmente.
Consigo se recuperar com rapidez, mesmo com um pouco de tontura presente.
Se concentra na paisagem enquanto dá a volta na pista natural de gelo. Girando sem muita precisão, apenas correndo entre os ventos, querendo ser mais rápida que ele, mais forte e superestimada.
Toda raiva se foi em um piscar, em um movimento, seu coração pareceu deixar de bater assim que pôs seus pés ali, assim que o melhor dela foi posto em prática, e assim que o pior deixou de existir e se tornou em nada, apenas para que uma hora volte para a amedrontar.
Fechou os olhos por um instante, ouvindo o farfalhar das árvores e suas folhas, da música no ouvido, sentindo com toda a potência a sensação do que é patinar, do que é estar sobre o gelo e se sentir única e poderosa.
O que é ter o poder em seu sangue, correndo em suas veias, destruindo cada insegurança, cada imperfeição, cada pensamento autodestruitivo.
E arruinando a única coisa que tinha, ou que nunca tive, na verdade.
A falsa sensação de liberdade e vida em seu inútil corpo sujo, mascarado entre o poder e a beleza.
capítulo curtinho pq o proximo serão🤌🏿🤌🏿🤌🏿
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