capítulo 07

Brooke

No dia anterior...

Escondeu a surpresa ao sentir o seu celular vibrar. Não espera por mensagens e nem as queria, mas não evitou, por curiosidade, dar uma olhada no que tinham a dizer.

Leu três vezes seguidas o convite. O porquê fora convidada para uma festa de universidade em uma república? Não fazia ideia, mas então leu a parte pequena dizendo que seria uma festa a todos os veteranos, pensou e repensou se valia a pena ir, já que não faria nada e talvez precisasse de uma distração.

Quando enviaram a mensagem, foi apenas por educação, pois sabiam que ela nunca apareceria. A conheciam por entre os corredores, mal tinham ideia de que ela iria para beber ou ficar os julgando com o olhar, precisava as vezes disso, mas como nunca foi convidada para alguma, se virava com as festas de boate do centro.

Onde colocava seus pés vez ou outra para tomar a melhor bebida forte que teve o prazer de enfiar goela abaixo. Podem achar que por ser uma mulher sozinha onde homens que procuram por sexo ou uma dança sensual, ela poderia ser assediada, mas não entendia completamente do porquê sempre se manterem longe quando se tornava presente naquele ambiente luxuoso e erótico.

Mas não teria como mentir ao dizer que nunca recebeu uma cantada idiota e bêbada, mais vezes do que ela gostaria, porém sabia se proteger ou dizer as palavras certas para a deixassem em paz. E sempre funcionou. Não que ela tenha usado seu melhor tom de ameaça, e aproveitado para fazê-la também, e que tenha a ver com as bolas e a genitália do agressor.

Poderia ser uma boa ideia ir a essa festa?

Talvez fosse uma pegadinha, mas quem teria coragem?

Não importa.

No espelho, se olhava enquanto lavava suas mãos, aproveitando para passar seus dedos molhados embaixo de seus olhos, sentindo a água extremamente fria em sua pele.

Deixou o celular dentro da mochila e saiu do banheiro, passando entre os estudantes que sem perceber literalmente lhe davam passagem. Em seu ouvido a música tocava em último volume, ela não duvidava que daqui alguns anos poderia ficar surda.

Porém não tinha como não estar, quando sua música favorita tocava: House Of Balloons, do The Weeknd. Poderia ficar horas escutando que não enjoava nunca, até mesmo nas noites silenciosas e inquietantes naquele quarto gelado e solitário, ouvia o som e as batidas para acalmar os demônios que mesmo controlados durante o dia, a perturbavam no escuro, a fazendo recorrer na maioria das vezes para seu precipício.

O remédio pequeno, minúsculo, a aliviava de tal forma que não entendia, mas não abandonava nunca, por mais que a sensação de fraqueza a tomasse no exato instante.

As pessoas com certeza falariam para ela não se submeter a pílulas para dormir, porque lhe faria um mal tremendo, podendo ou não matá-la, mas não havia ninguém ali. Ninguém para se importar o suficiente com o que acontecia naquelas quatro paredes, onde habitava também seu pior pesadelo em forma de gente.

Enquanto andava, não percebeu ir em direção ao ginásio, sabendo que ali com certeza habitava sua maior fonte de paz superficial. Desta vez... nem tanto.

O barulho alto do metal raspando o gelo era o dobro, talvez o triplo, do que já fez. Não era de surpreender quando viu os vários jogadores dentro daquela pequena área, se esbarrando e quase se matando atrás de um disco. Quase soltou um riso de escárnio de toda aquela situação estúpida e tão ridícula. Por que se machucariam à toa por algo tão banal?

Ela não podia questionar tanto sobre, afinal... fazia o mesmo consigo.

Prendeu o ar quando o corpo de um se chocou contra um outro, caindo de forma dura naquela superfície nem um pouco macia. O arquejo que soou pelo ginásio não veio dela. Não expressou nada, mas sentiu a dor em si quando viu quem estava caído, sem se mover, o pânico quase a pegou por completo, pode-se dizer quase preocupada com o que pode ter acontecido.

Mas não chegou nem perto disso quando viu o treinador indo na sua direção e soube que estaria tudo bem, preferiu acreditar que sim.

Quis sair dali antes de ser vista, mas não conseguiu, seu corpo estancou no lugar, como uma pedra pesada difícil de ser locomovida. Apesar dos comandos de seu cérebro, nada aconteceu.

Esperou até vê-lo sendo carregado por dois amigos, e aí sim saiu dali o mais rápido possível. Respirou calmamente, não se exaltando em questões e pensamentos que a levam até quem queria apenas distância.

Seguiu até sua aula, mesmo estando muito adiantada, precisava do vazio. Ele a contentava mais do que qualquer outra sensação.

(...)

No dia seguinte, mais cedo...

Repensou nos diversos motivos do porquê não deveria ir aquela festa. Mas quando chegou em casa e não fora recebida por Neit soube que não estava sozinha, sentiu pena da cadela, mas ela sabia se defender mais do que qualquer outro cão dos seguranças. Foi em silêncio, até a parte de trás da mansão e encontrou o local onde todos eles ficavam, tendo certeza que ela pelo menos estava bem e segura daqueles outros animais assassinos.

Neit estava em um quadrado frio e sozinha pelo menos, acariciou os pelos quando ela se aproximou e pediu por ele. Não podia negar. Em seu mais profundo pensamento prometeu que a tiraria dali assim que conseguisse.

Entrou novamente pela porta dos fundos e seguiu até as escadas, apesar de ser bem obvio o homem alto sentado na mesa vazia, enquanto revisava papéis, comia e falava no telefone. O que era bem incomum. Poderia fazer isso no seu escritório como sempre, por que não desta vez?

Ao menos comeu.

Apenas tomou um rápido banho e se trocou com a primeira roupa que estava em sua frente, não se importando em deixar suas pernas desnudas ou com o frio do lado de fora.

Fez todas suas higienes necessárias e saiu apenas com apenas celular e chave em mãos. Sem pensar muito, atravessou a porta da frente sem dar explicações, estava muito cedo para uma festa ainda, por isso resolveu dar voltas e voltas com seu carro pela grande cidade, indo ao shopping e comendo qualquer coisa na praça de alimentação para forrar seu estômago.

A comida japonesa fajuta era deliciosa e caríssima a olhos alheios, mas era posta tanta expectativa em um macarrão e legumes que não sentia nada de especial além do preço absurdo.

Andou entre uma loja e outra que achou interessante, resultou em apenas duas que não passou nem 10 minutos. Com certeza compras online valiam mais a pena do que as em lojas físicas.

Comprou um sorvete de baunilha na casquinha e comeu, dando tempo o suficiente para voltar ao seu carro e dirigir, dando algumas voltas novamente, querendo evitar a todo tempo o caminho de onde morava.

A música baixa era uma pequena distração do seu ao redor. O céu já estava escuro e iluminado por brilhos pequenos e quase insignificantes se não fosse pela junção de tantos que deixava a imensidão azul escura mais bonita do que realmente era.

Estacionou longe o bastante para nenhum incompetente bêbado acertar seu carro quando decidir que está bem o suficiente para guiar o volante. Pegou o celular dos porta copos e o desbloqueou apenas para não fazer nada nele. O desligou e saiu do carro, o trancando a uma distância considerável.

Se soubesse o que estava prestes a acontecer com certeza teria ido a um daqueles bares do centro, a companhia do banco vazio com certeza era melhor do que qualquer outro ser humano encubado naquele lugar fedido e nojento.

Além de todos os outros motivos que gritavam em sua cara, mas o encarava com frieza e sem motivos nenhum para reagir de outra maneira.

Quase, por muito pouco, não sentiu algo ao ver como a expressão de seu rosto mudou assim que a viu ali, no lugar onde definitivamente não deveria estar, no lugar onde ele pertencia e ela não, mas apenas achou uma graça sem risadas da situação patética que o universo começou os envolver.

Sentiu o corpo atrás de si, mas não quis acreditar, preferiu continuar o que estava fazendo sem dar nenhum indício de que sabia da sua proximidade repentina. Que no fundo não queria que ele se aproximasse mais, então ela fez por ele antes que pudesse se conter por completo.

Encarou aqueles olhos, tão próximos quanto qualquer outra vez que haviam se encontrado ou esbarrado durante esses anos. Mas nada chegou perto do que já foram, nunca mais chegaria.

Ela o odiava. Com toda a certeza, e podia sentir isso vindo do mesmo.

Não conseguiria esquecer o tom da sua voz, não nem fudendo. Não teria como. Acreditava fielmente que era ela quem a atormentava todos os dias, dizendo as verdades que ninguém mais tinha coragem. Apenas dizia por que sabia que ela nunca o machucaria, não conseguiria encostar um dedo nele, nem se sua vida dependesse disso. Preferiria morrer do que o matar ou lhe causar um arranhão.

Seu nome pronunciado por ele era a mesma coisa que pedir ao inferno para se tornar gelo. Impossível, mas ali estava ele. Com seu rosto maduro, sério e raivoso. Para ela, ele estava imaginando as mil formas de estrangulá-la ali mesmo.

Porém, Brooke não reagiria, não fisicamente, nem mesmo uma torção nos lábios ou desviada de olhar. Ela o encararia até cansar, podendo passar dias olhando para os olhos escuros, um pouco mais claro que os dela, apenas pela sensação de os ter queimando novamente em seu rosto.

Algo que ela jamais iria admitir, nem para si mesma.

Era possível sentir a tensão avassalando qualquer divertimento ao redor. Naquele momento aquilo de poder sentir na pele nunca foi tão real. Era uma onda silenciosa e fria se arrastando por cada corpo dançante ou alheio naquela casa. Porque naquele exato instante dois mundos estavam prestes a se chocarem, destruindo qualquer um que se aproximasse demais, não temendo as consequências.

After Hours poderia ser a trilha sonora daquele extermínio da humanidade.

Em puro tom de deboche, permaneceu seus olhos amantes da morte concentrados no puro ódio, ergueu o copo e tomou um gole calmamente, disfarçando com sucesso a vontade de engolir toda aquela água de uma vez.

Piscava com tamanha lentidão, querendo com certeza desafiar qualquer próxima ação do seu inimigo.

Porque estavam se encarando com tamanho... alguma coisa?

Não sabiam. Talvez sim, na verdade.

A muito tempo não sentiam aquela pressão atmosférica sobrecarregada, poluindo o ar que antes parecia mais fresco. Não conseguiam se lembrar da exata sensação dos olhos um do outro sobre suas peles, e agora estavam tendo uma dose transbordada da aflição do que não é saber se o mundo explodiria apenas com aquele momento. Uma grande mistura turbulenta entre raiva, insignificância e da mais pura e verdadeira dor, adrenalina, saudade e ódio.

Forte, intenso, um choque entre aqueles dois planetas distintos que de repente se encontraram na intenção de se destruírem. O fogo repartindo suas terras e conceitos, cavando seus piores sentimentos e pensamentos, tirando das profundezas os melhores momentos; aqueles que não foram esquecidos, e sim eram lembrados vagamente por suas mentes destiladas em sensações horrendas, mas não apagadas. Eram o salvamento de suas almas perdidas e frias. 

Como eles se moviam com tamanha perfeição e feroz sincronia, harmonizando qualquer partícula de ar imperfeita, fazendo o vento rodar ao favor se seus corpos jovens. Rastejaram por tanto tempo naquele gelo, que ele se abriu e os engoliu para nunca mais se encontrarem ou se salvarem da morte prematura.

Brooke havia lhe permitido o passe para ir embora e encontrasse o que precisava, ela era o que ele com certeza não gostaria em seu caminho.

Mas ali estava ele, interrompendo qualquer tentativa de se afastar.

Preferiu machucá-lo do que se machucar no final. Ela poderia ditar as regras naquele momento e preferiu fazer antes que ele fizesse.

Aquele era um desafio entre o deus da morte desafiando a vida plena, e cheia de arco íris, prontos para se definharem em nada.

— Cara... — Não desviaram o olhar com a interrupção.

Não em primeiro momento.

Jason virou seu rosto antes de seus olhos por completo, porém ainda a mantinha sobre sua vista. Ela ainda podia sentir, mas segurou o suspiro de alívio quando não tinha aquele calor incomum em sua carne. Parecia a queimar mesmo assim.

Quando desvia, nota um outro jogador de hóquei em sua frente. Volta a sua perfeita postura, o encarando também, mas desta vez deixando transparecer como o mataria por os interromper.

Adam a olhava, mas não esboçava nenhuma reação, não como a dela, mas sim uma que com certeza não esperava vir de uma mulher.

O porte físico era rondado por arrogância em mais puro líquido, e com certeza tivera vários olhares femininos o seguindo até aqui. Os dois.

Não se atentou muito em nada nele, apenas quis sair dali, apenas precisava da brecha.

Ele desviou quando ela não o fez em 5 segundos, e Brooke pode jurar sentir um tremor vindo daqueles músculos.

— O-o que está acontecendo?

Pegou a oportunidade para sair dali, sem ter ao menos escutado uma resposta de Jason ou escutar sua voz mais próxima novamente.

Brooke poderia ter respondido, mas não fez, não quando ele havia dito seu nome de forma tão natural, sem nenhum julgamento como deveria ter. Odiou pela primeira vez uma decisão depois de anos.

Com certeza era melhor ter ficado em casa.

jesus cristo...

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