capítulo 05

Jason Hart

Minhas mãos começaram a escorregar no tecido do volante, sem que eu conseguisse controlar o suor frio que parecia sair de cada poro da minha pele.

As esfrego no jeans com certa força e respiro fundo, de forma trêmula. Sei o que está acontecendo, consigo sentir os sinais.

Sinto minha traqueia parecendo se fechar, me impedindo de conseguir inspirar normalmente. Volto a ligar o carro, mesmo estando parado no estacionamento da faculdade, e deixo o som da rádio baixinho para que eu possa me concentrar na letra. Ao menos sei que música é, mas é precisamente a que eu precisava; calma e suave.

Abraço o condutor do carro e deito minha testa ali, controlando meu corpo de forma lenta e paciente, não tendo pressa de querer voltar ao normal, apenas me concentro no som ao redor. Agradecendo por estar conseguindo.

Solto o ar tranquilamente, orgulhoso por ter realizado pela primeira vez uma forma de estancar o pânico no meio do caminho e o fazer se lembrar de que sou eu quem comando meu corpo.

A muito tempo não tinha essas crises, até tinha esquecido o que era senti-la, e o quão desesperador pode ser, mas venci, desta vez eu venci essa merda.

Não contenho um repuxar leve dos meus lábios e volto meu corpo para trás e encosto minha cabeça no banco não me dando por vencido de que pode não voltar. Espero 10 minutos, antes de girar a chave e sair com a mochila nas costas.

— Ei, Jason! — viro para trás e não me surpreendo em ver Adam correndo na minha direção. — Resolveu?

— Resolvi o que? — Seguimos juntos até chegar próximos a entrada.

— Eu lá que sei, você disse que tinha que resolver uma coisa agora de manhã, e não explicou o que era.

— Ah, isso... — murmuro. — Mais ou menos.

— Ok. — Ficamos em silêncio, que não duram nem seus 2 minutos. — Vai ter uma festa na república dos outros meninos do time amanhã, você vai né?

— Tenho escolha?

— Não.

— Então eu vou! — finjo animação, erguendo um pouco os braços, e rimos, ele entendendo meu sarcasmo.

— Você sabe que precisa ir às festas, relaxar um pouco. — Para seus passos apenas para vir atrás de mim e massagear meus ombros, quase solto um gemido ao perceber o quão tensos eles estão. — Beber pra caralho e quem sabe encontrar alguém pra transar. — Reviro os olhos. — E você está muito tenso, vou te passar o número da minha massagista.

— A mesma que você transa? — ergo as sobrancelhas, achando graça da carranca que sua cara se fez.

— Não fode.

Andamos entre os corredores, até nossa primeira aula, em salas diferentes, mas próximas, e não deixo de notar os olhares que recebemos só de pôr os pés aqui. Desde que chegamos, enquanto conversávamos, no mínimo 15 pessoas acenaram e deram oi, principalmente as meninas.

Somos como estrelas aqui, e na maioria das vezes é um saco, mas o que podemos fazer se apenas jogamos hóquei e somos gostosos. Acho que estamos bem com isso, por enquanto.

Adam é um pouco mais alto que eu, com seus 1,86 de altura. O cabelo loiro-castanho e os olhos azuis escuros sempre chamaram muita atenção, quando digo que ele sabe disso, é porque sabe.

Brian, o outro jogador do time que também tenho certa proximidade por morarmos juntos, vive mudando de cabelo, juro por Deus, recentemente está com o seu cabelo natural cacheado com uma coloração roxa clara, curto e raspado nas laterais e atrás, além de estar sempre com a barba feita e média, parecendo ser bem mais velho do que é, meio estranho que eu nunca tenha o visto sem ela.

Posso dizer que ele é o mais bonito de nós três, porque porra... tenho que ser honesto, o cara tem um sorriso lindo. Ele é tem a altura do Kane, se não me engano, é muito vaidoso consigo, nunca vi a sobrancelha dele malfeita, ou a pele escura oleosa ou com espinhas/ cravos. Tem vez que só falta ele marcar um spa para todos nós com direito a uma renovação facial.

Além do Lee, não falo muito com ele, na verdade nenhum de nós. Desde que o conheço, sempre foi muito na dele, apesar de automaticamente ter se aproximado do Brian. Acho que isso, dele ser quieto e meio misterioso, chame muito mais atenção do que qualquer aparência.

Aaron Lee, vem de longe, se não me engano, contou que nasceu na coreia do sul e veio para o Canadá quando era adolescente. Ele é o mais calmo, acredito, dentre todos nós. Nunca se preocupou em dizer aonde ia, apesar de não precisar, as vezes ficamos preocupados com a demora, mesmo que seja muito protetor. Pode rir, mas é verdade.

Lee tem a mania de sair pra puta que pariu e voltar quatro da manhã como se fosse quatro da tarde.  Ele é a asa direita do time, é forte e alto também, porém mais rápido, com certeza. Aaron tem o cabelo um pouco mais longo, indo até a altura da orelha, e seus olhos escuros com um formato estreito e profundos.

É, e esses são só os que eu moro com.

— Vai me dizer o que você foi fazer, ou vou ter que descobrir sozinho? — Eu disse que ele não aguenta esperar a pessoa querer falar.

— Depois te conto.

— Quando?

Reviro os olhos.

— Depois, Adam! — Ele ergue as mãos, em sinal de rendição. —  A gente de fala depois. — Me despeço quando chegamos na porta da minha aula.

— Beleza. — Ele dá as costas e não chega a dar dois passos. — Ah, porra, verdade, a Cass tava te procurando.

Assinto.

Cacete.

(...)

Calço os patins, com as lâminas protegidas com um plástico evitando que tenha contato com o chão, enquanto ainda não estou no gelo.

Deslizo meus dedos pelo meu cabelo, alinhando os fios bagunçados, antes de pôr capacete de proteção. Presto atenção no murmurinho do meu lado, e quase caio na risada.

— Estou falando sério, as garotas gostam — um dos jogadores, Leon, diz com convicção.

— Uhum — Brian diz sem estar tão convicto assim se o amigo está certo.

— Transei com uma ontem, e ela disse que sente diferença, que faz pressão...

Jesus.

— Não vou colocar a porra de um piercing no meu pau, porque as garotas gostam da pressão — Brian franze o rosto, provavelmente imaginando a dor que não deve ser, e acabo por imaginar o mesmo. — Não é possível que você teve coragem de fazer isso, era a porra de uma aposta, mas cara, eu preferia ter feito outra coisa.

Concordo com ele.

Leon tem mania de fazer apostas, e sempre quando perde acaba se fudendo, mas nunca arregou qualquer desafio.

— Pelo menos sai ganhando — dá de ombros. — Ela vai espalhar para as amigas e você sabe... — Noto o sorriso pervertido crescendo em seus lábios.

Seguro o riso, e nego com a cabeça.

— O que caralhos vocês estão fazendo aí sentados? — endireito minha coluna no mesmo instante que a voz do treinador, nem um pouco suave, soa em um quase grito pelo ginásio.

Levantamos todos juntos, como se estivéssemos em frente a um general.

— Vão! Vão! — bate as mãos uma na outra apressando nossos movimentos até entrar na pista. — Prestem atenção que hoje vou dividir vocês em grupos e irão jogar como se fosse seu pior adversário, entenderão?

— Sim, senhor — dizemos em um uníssono alto.

Geralmente ele não é tão bravo assim, mas provavelmente acordou com o pé direito e iremos pagar por isso.

Deus nos ajude.

É estranho dizer que sempre senti estar no meu lugar quando estou sobre o gelo, é uma sensação única, além e superior a adrenalina, bem mais do que só planejar cada deslize e técnica. Porém nem sempre fui apenas apaixonado no hóquei, minha paixão começou com a dança que eu via, por causa da minha mãe, apaixonada em ver as competições na TV. A primeira vez que assisti, e realmente prestei atenção, soube que aquilo deveria ser meu também.

Tudo começou, principalmente, quando descobri uma pista de gelo próximo a minha nova escola, e foi ali que aconteceu toda a merda, mas foi lá também que aprendi a ser mais rápido e flexível, minha meta na época era entrar no time de hóquei, e consegui, tanto que conheci Adam.

O idiota que nesse exato momento me prensou contra a proteção transparente.

— Filho da puta! — Ranjo meus dentes, com raiva e o empurro de volta, com força, mesmo sentindo meu braço latejar por causa dele.

Kane me olha com raiva, mas vejo o vestígio de graça em seus olhos. Reviro os olhos, a tempo de conseguir pegar o disco preto e desviar de cada um dos jogadores adversários, até chegar do outro lado da pista, sendo protegido pelos meus parceiros de time. Não levo um arranhão até chegar em frente ao gol. Até sentir um peso do meu lado direito, sendo pego de surpresa e cair feito merda.

Perco o ar com a brutalidade que usaram. Se não estivesse usando a proteção na cabeça, não gostaria nem de pensar o que aconteceria. Apenas sinto minha nuca latejar e doer com a batida.

Sinto duas mãos segurando na lateral da minha cabeça.

— Jason? — escuto a voz do treinador, mais pacífica do que antes. — Tá me enxergando?

Olho para o rosto dele em cima do meu, seus olhos transparecem preocupação por um instante, mas não tenho certeza já que vejo tudo embaçado.

Cacete.

— Consigo. — Evito de assentir com a cabeça.

— Acha que quebrou alguma coisa? — A mão dele solta meu rosto. — Não mova a cabeça! — Ordena.

Fico paralisado, sentindo a mão dele tatear meus braços e pernas. Grunhi de dor quando passou pela minha costela direita, sentindo que após a camada de pele algo está errado, além da dor excruciante quase sinto meu cérebro apagar pelo toque dele. Rezo para não ter quebrado nada.

— Caralho — escuto ele sussurrar. O treinador Willians coloca o dedo na minha frente. — Segue me dedo. — Faço o que mandou e percebo seu olhar atento em mim, vendo se tem algo de errado. Consigo ver com mais nitidez as coisas e só agora percebo todos do time ao redor, mas me dando espaço. — Certo, acho que está tudo bem. Consegue levantar, Hart?

— Acho que sim, senhor. — Digo o mais convicto que posso, pois não estou tanto.

— Lee e Kane, ajudem o Jason ir até a enfermaria.

Rapidamente sinto eles me erguendo para cima, solto um gemido sem conseguir conter quando todo meu corpo parece se contrair. Eu estou fudido, não vou conseguir levantar por uns três dias.

— Porra, cara, você é pesado, ajuda aí — Adam murmura baixinho.

Bufo uma risada e deslizo com dificuldade até chegarmos na canaleta.

(...)

Encosto minha cabeça na parede gelada, respirando fundo como a enfermeira recomendou. Já não sinto mais tanta dor por causa do analgésico que ela me deu, quase beijei os pés dela por isso, e também teve que enfaixar minha costela, graças a deus, não quebrada.

Daria tudo por alguma bebida agora.

Escuto a batida leve na porta e falo pra entrar, já sabendo de quem se trata.

— Agora me diz quem foi o filho da puta que fez isso. — Aponto para minha barriga.

— Desculpa. — Lee abaixa o olhar em uma falsa tristeza.

Idiota.

— Porra, tinha que levar tão a sério o negócio de tratar como "seu pior adversário"? — soou indignado.

— Desculpa, cara, não era pra ir tão forte.

Olho para ele com deboche.

— Vai se foder, se eu fosse você fechava bem a porta do seu quarto quando fosse dormir.

Seus olhos se arregalam, mas não dura um minuto para ele cair na risada.

Filho da puta desgraçado.

Por mais que o xingue de mil forma na minha mente, não me contenho e me limito a sorrir, já que se começasse a rir meu corpo todo doeria. Ele é um idiota bruto, mas é bom vê-lo assim.

Eu amo muito a amizade que ele tem com os meninos, apesar de as vezes todos serem bem estressadinhos e raivosos, eles são um amor e mal posso esperar pra vocês verem quando a Faith se aproximar mais deles.

o que acharam?

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