capítulo 03

Brooke

Sem exceções todas as mesas do refeitório permaneciam cheias, desde o início até um pouco depois do fim. Entre todas as conversas, banais e casuais, as risadas e os gritos vez ou outra se sobressaiam. Nenhuma delas era escutada a respiração ou qualquer som vindo dela.

Apesar de estar um tanto longe de toda a bagunça, permanece ali, parecendo vigiar, se preparando para qualquer ataque. Seus olhos não se concentravam tanto ao redor, apenas nos sons, os odiando, enquanto comia calmamente mais um sanduíche e tomava, desta vez, um suco de laranja.

Brooke odiava essa parte do dia, as conversas se misturando de maneira irritante, e o sentimento de ter olhares sempre sobre ela, parecendo a torturar a cada mordida no pão.

Toda aquela gente queria chamar atenção de alguma forma, querendo mostrar quem era melhor, quem teria mais sucesso no futuro, para ela isso não passava uma ilusão idiota. Todos ali eram nada, tanto ela quanto qualquer um, todos sumiriam depois de um tempo em cima do pódio, para serem esquecidos por estarem velhos ou saturados demais.

Não importava quanto dinheiro você tinha na conta bancária, a morte vem para todos, da mesma forma que a pobreza ou o esquecimento.

Nada poderia controlar o que planejaram para o seu futuro e ela estava bem habituada com o dela, conseguindo segui-lo sem mais questionamentos ou fugindo da linha, era o que tinha para receber, mesmo não gostando.

Ela tinha em sua mente que seria uma advogada de sucesso, conseguiria um título e reconhecimento, mas ao mesmo tempo também sabia que poderia ser morta por um cliente insatisfeito, por vingança. Sabia mais ainda que era tanto nada quanto todos ali, em um cubículo de vidro.

Tomou o último gole do liquido gelado, descendo pela sua garganta seca pelo tempo que não diz uma palavra, e pensou se valia a pena se levantar dali. Por incrível que pareça, em todas as escolas que já esteve, sempre teve uma mesa longe e vazia para ela, como se soubesse de quem pertencia antes mesmo de se sentar ali. Ninguém nunca, ao menos tentou, a acompanhar ou sentar antes dela, para pegar a mesa longa e vazia.

Se perguntava se isso era brincadeira com a sua cara, mas achava impossível todos os adolescentes das escolas que já foi terem contato, ou perderem seu tempo para fazer algo tão estúpido assim.

Não pensou uma segunda vez antes de levantar-se. Pegou tudo em cima da mesa, até a embalagem de plástico vazia, e a mochila, a colocando nas costas.

Tinha que andar até o outro lado, passando entre as ambas as fileiras de mesas, e por mais que seja constrangedor para muitos, nem se passou uma sensação de vergonha ou intimidação dentro de si.

Seguiu até onde precisava, sem olhar para os lados, seu foco permaneceu na lixeira. Mesmo com sua atenção focada, não tem como silenciar seus ouvidos, não sem o fone, então escutou as vozes parecendo se acalmarem, quase se silenciarem por completo, mesmo que muita outras continuaram altas, e uma delas foi quase necessária para a fazer parar e se livrar para apreciar o momento, sabendo que sua atenção não estava nela.

Mas não podia parar, se parasse sabia que não suportaria.

Apenas se permitiu virar um pouco sua cabeça para a direção de onde um timbre maduro se destacava, dando de cara com o maxilar marcado, o sorriso em seu lindo rosto, o cabelo bagunçado, de uma maneira gostaria de arrumar, em segundos deslizou para o resto do que tinha a vista, apenas para depois voltar sua atenção para a frente e repassar o mesmo momento com mais detalhes e calma.

Observou em sua mente a camiseta branca, em seu toráx, se contrastando um pouco com a pele um pouco bronzeada – se perguntou como, se fazia frio atualmente –, o moletom escuro aberto, e desceu até ver o que poderia ser uma tatuagem, mas não tinha plena certeza disso, já que não iria virar novamente para comprovar tal pensamento.

Gostou do que viu, mais do que admitiria a si mesma.

Era, muitas das vezes, automático seguir para onde aquela voz se sobressaia. No fundo mais profundo, onde tinha requisitos de sentimentos, ela apenas queria ver o sorriso, mesmo não sendo direcionado para si, ver seus lábios finos se moverem enquanto conversava, e talvez olhar para os olhos verdes acinzentados, poderia passar horas olhando para eles. Não sabia o porquê, mas era tão simples, tão fácil, era apenas segui-lo, sem que soubesse.

Ela queria saber se ele estava bem. Bem depois de ver a destruição naquelas mesmas írises que tanto admirava.

Não, aquilo não era amor, não para ela, não era ao menos gostar.

Amor tem significados diferentes para cada pessoa, para ela era tão distorcido; pela forma que foi criada. Para ela, patinar era amor, a dor que sentia quando fazia todos os movimentos e pulos dava a ela um sentimento que nunca havia sentido, até fazer a primeira vez. Até se machucar pela primeira vez. Aquilo, da forma mais repugnante possível, era amor.

O que ela sentia por ele, se é que sentia alguma coisa, não tinha palavras para serem descritas em seu dicionário. Era estranho, ridículo, tão triste, feito da raiva mais acumulada que já existiu, feio e horrendo. Não queria aquilo, não quando sua alma, apesar de querer novamente o passado, se sentia frágil por ter confiado, por ter tentado.

Tudo se dilacerou em um completo nada por algo inútil e doloroso demais por causa de um menino inocente e ingênuo, que agora não parecia nada disso.

Jason Hart a culpa por ter destruído tudo que um dia teve, todos os sentimentos de uma criança, mal ele sabe que conseguiu a destruir com apenas uma simples fala.

Um simples murmúrio de fofoca e verdade. Mesmo assim, ela não conseguia esquecer de quando ele era quem a elevava para o céu e depois a segurava pela cintura enquanto flutuavam no maciço e duro gelo.

Sempre que saia da aula de negócios, se segurava muito para não soltar um suspiro de alívio. Não sabia de onde veio a vontade de fazer direito, porém era uma profissão que batia com quem era, ou quem achava que era.

Estava no último ano e não queria desistir, mesmo que tivesse mais três pela frente, ao menos se preocupava com a aquela sensação agoniante de não saber se podia ou não entrar na sua próxima faculdade, sua meta era Harvard, fazer direito lá poderia lhe dar mais oportunidades, mas tinha outras opções, sabendo que todas poderia ser paga sem pesar um centavo na conta bancária da sua família.

Se importava com o futuro, às vezes, mas também sabia que não tinha o que lutar por. Não sabia se odiava ou não o privilégio, era como se ele a seguisse por onde andava.

Porque por onde andava o nome Beaufort se destacava.

Entrou no seu carro, jogando a mochila no banco do passageiro.

Abaixou o quebra-sol e ajeito os fios bagunçados pela brisa gélida, fitando seu próprio olhar por um segundo, antes de pegar o óculos de sol que mantinha guardado e o posicionou na ponta do nariz.

Com o rosto sério, da forma que dirigia, e toda a sua aparência, isso sim podia dar as pessoas uma certa intriga por ela.

Ligou o carro e logo a música alta se sobressaiu a todas as outras que compunham no estacionamento lotado de alunos. Madonna conseguia se destacar, ainda mais com a música Frozen que esbanjava de todas as formas coisas que Faith apenas sentia, não saberia pôr em palavras. A letra era dela, e a batida era só uma porção da sensação poderosa que poderia dar a alguém que não a obtinha.

Não se importou com a atenção que poderia receber com aquilo, nem em abaixar o volume. Apenas mudou a marcha e deu ré, com calma e olhando para os retrovisores.

Percebeu pelo som que o pneu de outro carro fazia ao acelerar que estava próximo, e pisou no freio a tempo, mesmo que se o outro não tivesse feito o mesmo, provavelmente bateriam nela.

A raiva de que isso poderia ter acontecido quase deu as caras, mas Brooke respirou fundo, se concentrando nas batidas da música, batucando os dedos no volante e saindo da vaga do mesmo jeito que antes, apesar de que o apressadinho idiota apertasse a buzina o mais alto que pudesse, sem parar.

Quando saiu, não evitou de olhar quem seria o idiota, e quase soltou um riso de escárnio quando viu um jogador de hóquei, não um, mas três deles no carro de trás.

O motorista, por ver que ela estava parada, ergueu os braços desacreditado, achando que ela ficaria parada na passagem só de birra.

Jogadores de hóquei estúpidos.

Ela não perdeu tempo olhando e captando os detalhes de quem era, apenas permitiu perdeu três segundos preciosos de sua vida para abrir a janela e fez algo inesperado, mas nem tanto.

Colocou sua mão para fora e mostrou o dedo do meio para quem quisesse ver, mas apenas direcionado para uma única pessoa. Acelerou e saiu do estacionamento sem olhar para trás.

Depois de passar no mercado, para reabastecer o frigobar do seu quarto, e comprar o remédio que precisava para sobreviver durante as noites, parou em frente a porta grande e preta, brilhando e gritando tentação e riqueza.

Sentiu olhos sobre sua pele, mesmo que se olhasse ao redor e não visse ninguém, sabia da presença dos funcionários constante ao redor da casa e dentro dela, apesar de quase não os ver, além dos seguranças que pareciam se camuflar durante a noite e de dia serem tão silenciosos quanto.

Invisíveis.

Nunca falaram um a para Brooke, eram proibidos de terem qualquer contato social com ela, apenas limpavam, organizavam, a alimentavam e protegiam se necessário, nada além do profissional. Se não fosse por Max.

Ou Maxine.

A única madame que poderia se comunicar com Brooke, e também a que está a quilômetros de distância por causa de seu pai.

Não sabe o motivo, mas apenas imaginou que era por conta da empresa ou do trabalho. Deixou de questionar a muito tempo o porquê as coisas nessa casa são tão estranhas.

Abriu a porta depois de pressionar sua digital e senha na fechadura. E mais uma das coisas estranhas são que de alguma forma aquela grande e luxuosa mansão, apesar de exigir todo o dinheiro que tem, também possuía um ar tão pesado quanto aquele que ela podia trazer à tona. Era mais forte e denso. Quase a sufocava e odiava viver dentro daquele teto.

Era incrível como uma casa, um ser inumano podia fazer com que cada poro de seu corpo suasse um pouco, e que sempre quando abria uma pequena fresta da porta, prendia a respiração apenas para se acostumar com a mudança repentina.

E como uma lindo e belo e poderoso alívio, escutou as o tec tec de uma unha batendo contra o azulejo incrivelmente limpo. É automático, bem mais forte que ela, e qualquer ação de seu corpo, quando o canto esquerdo da sua boca se eleva em um sorriso.

Sorriso pequeno e o máximo que dá atualmente, mas mesmo assim um sorriso.

Antes mesmo de entrar por completo, viu o animal correndo na sua direção, o corpo esguio e alto como o dela era só uma das coincidências, eram como almas gêmeas mesmo em seres vivos diferentes.

O pelo preto e marrom claro, eram só um dos detalhes que poderiam botar medo em qualquer pessoa que não conhecesse aquele animalzinho tão dengoso e adorável, as orelhas pontudas para cima e focinho se movendo em um tique normal da raça Dobermann, talvez.

Sobressaindo todo o silêncio, ela dá um latido alto e forte, mostrando seus dentes limpos e quase brilhantes. Não é à toa, já que vive no veterinário, tomando banhos caros e no spa, pode até pensar ser mentira, mas realmente não é.

Neit como a deusa da guerra, também tem o mesmo tratamento de uma.

Brooke apenas não deu a atenção que gostaria para a cadela, porque estava cheia de coisas na mão, então subiu as escadas e foi para o seu quarto, o tempo todo sendo seguida por Neit, que esperava pelo carinho atrás da orelha que tanto prezava.

Colocou as sacolas em cima do colchão macio.

— Oi, deusa — disse de uma forma que apenas falava com Neit, doce e quase amorosa.

Neit colocou as patas para cima, aumentando o seu tamanho, e as apoiou na barriga de Brooke, que fez o que ela tanto queria. Acariciou os pelos pequenos, macios e cheirosos.

— Pelo jeito alguém foi tomar banho — respirou fundo sentindo o cheiro floral.

Neit agradeceu ronronando e inclinando a cabeça na direção da mão que a acariciava de forma leve e suave. Ela não se importava em ter desobedecido diretamente uma ordem de seu primeiro e egocêntrico do seu dono, agora estava com quem a merecia.

Capítulo um pouco grandinho rsrsrs. O que acharam????

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