Prólogo
*Flashback há 2 anos*
"Fica calma, Sophie." eu repetia essa frase vezes demais, desde que tudo aconteceu.
Em uma certa manhã acordei, na casa dos meus tios em Atlanta, e minha tia pediu para que eu ficasse calma e não tentasse sair dali, pois, aparentemente, até aquele momento, tínhamos sofrido um ataque terrorista. Não fiquei tão assustada, por que querendo ou não, ataques terroristas, infelizmente, se tornaram comuns. Naquela semana, em que tivemos de ficar em casa, tentei entrar em contato com meus pais, mas não tinha sinal de celular, em nenhum dos celulares. Tentamos assistir o noticiário, mas a TV estava fora do ar. Se os principais meios de comunicação estavam com problemas, o que quer que tenha acontecido lá fora, não era tão simples assim.
A única forma de contato que conseguimos foi pelo rádio antigo, que o irmão do meu pai guardava na garagem. Havia uma única mensagem, que se repetia sem parar: "Pedimos cautela nesse momento. Estamos lidando com forças muito maiores das quais pensávamos ser. Nenhum grupo terrorista assumiu a autoria dos incidentes ocorridos. Pedimos que fiquem em casa ou em algum lugar em que possam estar seguros, não abram a porta para ninguém, não vá lá fora, independente do barulho que ouvirem e fiquem em completo silêncio. Quando soubermos mais, sobre o que está acontecendo, entraremos em contato e passaremos as ordens do que devem fazer. Não está acontecendo apenas aqui, nos E.U.A., mas no mundo todo. Que Deus esteja conosco."
Obedecemos o que nos foi dito por quase duas semanas, quando o básico começou a faltar: comida, energia e água. Os barulhos lá fora eram assustadores, pareciam gemidos e em certos momentos ouvíamos gritos e pedidos de socorro. Vedamos todas as portas e janelas, ficamos em total escuro por duas semanas, até que meu tio em um ataque de pânico, no meio da madrugada, conseguiu arrancar as madeiras que pregamos na porta da frente e sair. Acordei assustada, junto a sua esposa, e saímos atrás dele, mas já era tarde demais. Ele estava sendo atacado por uma coisa, que possuía forma humana, mas a humanidade não existia mais ali. Fiquei parada na porta da casa, sem conseguir sair do lugar, já minha tia, correu para ajuda-lo, porém aquelas coisas a alcançaram antes que ela pudesse chegar a ele. Eles estavam sendo devorados vivos, e não havia nada que eu pudesse fazer. Me mantive ali, parada, como uma estátua, em estado de choque, vendo aquelas coisas se aproximarem de mim. Recobrei a consciência quando Rachel – minha tia – gritou para que eu fugisse dali.
Voltei correndo para dentro da casa, e fechei a porta, escorando o sofá nela. Aquelas coisas batiam sem parar nesta e eu ficava cada vez mais assustada sem saber, ao certo, o que fazer. O sofá não aguentaria ali por muito tempo, e eu deveria ser rápida. Subi as escadas, que davam para o segundo andar da casa e em uma mala, coloquei algumas roupas, uma foto minha com meus pais e uma outra com minhas amigas e meu namorado, um cobertor e uma almofada também. Voltei para o andar debaixo e peguei algumas facas da cozinha e alguns enlatados que sobraram – no caso apenas três. Procurei pela chave do carro do meu tio e corri para a garagem, arrancando as madeiras do portão. Eu sabia que em algum lugar, meu tio escondia um revolver e algumas balas, porém eu não lembrava onde.
Ouvi a porta da frente se quebrando, e vasculhei o mais rápido que pude em meio àquela escuridão. Encontrei uma lanterna que já estava fraca e consegui achar a arma, estava guardada em uma caixa de ferramentas vermelha. Joguei tudo dentro do automóvel e abri o portão, já que faltava energia e não teria como abri-lo pelo controle. Pelo barulho que fiz, aquelas coisas que estavam do lado de fora da casa, começaram a vir em direção ao som. Entrei no carro, travei as portas, e dei partida. Por sorte, o tanque estava cheio e daria para rodar até que eu pudesse encontrar um lugar seguro para ficar, pelo menos por um curto período de tempo.
Dirigi até chegar a uma cidadezinha próxima a Atlanta e está estava totalmente vazia. Encontrei um pequeno mercado, e pelo menos pelo lado de fora, não havia absolutamente ninguém lá dentro e eu torcia para que assim fosse. Estacionei nos fundos, na esperança de que, se houvesse alguém vivo por ali, não vissem o carro. Quando fui entrar no mercado a porta dos fundos rangeu, fazendo um barulhão, fechei os olhos e me mantive em total silêncio para que eu pudesse ouvir se ali havia alguma daquelas coisas. Nada. Completo e total silêncio. Entrei e com todo cuidado do mundo, fechei a porta. Com a mala nas costas, a arma em uma mão e a lanterna na outra, fui vasculhar o local. Não era muito grande, o que seria ótimo, já que eu não tinha nenhuma noção de como matar aquelas coisas. Porém, não havia muita comida também, o que me daria, ali, no máximo uma semana e meia, talvez.
Em um canto do mercado, havia uma sala com uma grande janela e nesta estava escrito "Administração", esvaziei minha mochila em um canto daquela sala e a enchi de suprimentos, para que eu não precisasse ficar andando por ali. Depois de arrumar a comida em um canto e minha "cama" em outro, a luz da lanterna começou a ficar ainda mais fraca. Procurei por pilhas, mas não encontrei nenhuma e estava torcendo para que a lanterna aguentasse um pouco mais. Mesmo lá fora já estando de dia, eu me sentia mais segura sabendo que eu tinha uma luz reserva ao meu alcancei e por que, querendo ou não, anoiteceria e eu não sou tão corajosa assim.
Do outro lado do mercado, do lado de fora, havia uma farmácia e como a cidade é bem de interior, todas as pessoas que ali moravam já estariam em outro lugar e não tinha por que temer em sair. E com certeza, haveria pilhas lá e possivelmente medicamentos. Com o revolver, a lanterna e uma faca, como reserva, saí do mercadinho e corri até a farmácia. Entrei pela porta da frente mesmo, já que está estava aberta. Assim como no mercado, a maioria das prateleiras estava vazia e não sobrara muita coisa ali. Alguns analgésicos e xaropes, poucas caixas de antibióticos e outros produtos para higiene pessoal. Peguei duas cestinhas e as enchi com alguns desses medicamentos, alguns absorventes, – pois, eu não saberia quanto tempo ficaria sem meu remédio – desodorante e por fim pilhas. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas quando olhei para o lado de fora o Sol já estava se pondo. Corri mais rápido ainda na volta e mais uma vez, fechei a porta, que eu por falta de atenção, havia deixado aberta. Quando entrei, não dei muita atenção se algo teria entrado ali, pois, fui direto para meu novo "quarto" e ali fiquei.
Comi uma lata de feijão que encontrei e tomei uma garrafa de água quase em um gole só. A água começara a faltar, na casa dos meus tios, na primeira semana do que seria a nossa "quarentena". Eu estava, até então vivendo apenas de uns sucos que minha tia comprava sempre. Pensar neles me causava imensa dor, principalmente na maneira como eles morreram. Eu tentava não pensar nos meus pais ou em meus amigos, mas eu não podia fingir que não sentia, pois eu sentia e muito a falta deles. Estar sem noticia, não era muito bom e pensar que, talvez, eu nunca mais os veria, tornava as coisas piores ainda. Deixei que as lágrimas caíssem e em algum momento, acabei adormecendo, no meu coberto que agora servia de colchão. Não estava nenhum um pouco confortável, porém era melhor que nada. Sei que não dormi por muito tempo, pois acordei assustada quando ouvi o barulho da porta dos fundos do mercado. Fudeu! Foi a única coisa que consegui pensar naquele instante. Ouvi barulho de passos, e com a arma em mãos fui investigar. Engraçado, eu ter tomado coragem de sair de um lugar em que estava "segura" para colocar minha vida em risco. Eu sempre, costumava reclamar daquelas personagens, nos filmes de terror, que quando ouviam um barulho perguntavam "tem alguém aí?" e eu estava fazendo a mesma coisa, só que sem a parte de perguntar, pois palavra nenhuma sairiam da minha boca, pelo menos não agora.
Optei por não trazer a lanterna comido e por estar descalça, tentei não fazer barulho. Olhei em cada uma das seções e não encontrei nada, até chegar na última seção, quando ouvi o barulho de alguém bebendo algo. Me encostei na estante e respirei fundo, e por alguns segundos fiquei com os olhos fechados, orando baixinho.
– Oi! – alguém disse, e sem pensar apontei a arma para o que quer que estava próximo a mim e apertei o gatilho. – Fica calma, garota. – era a voz de um rapaz, eu não sabia que aquelas coisas falavam.
– Fica longe de mim. – a pessoa começou a se aproximar. – Eu tenho uma arma. – falei me afastando cada vez mais do sujeito.
– Realmente, você tem uma arma – ele fez uma pausa e deu um gole no que estava bebendo. – mas ela não está destravada, então. – ele estava de deboche comigo? Eu tinha um revolver, carregado até os dentes, e esse infeliz estava debochando da minha cara.
Entrei de volta no meu quartinho e tranquei a porta, observando o local pela janela. Fiquei uns cinco minutos em pé, na defensiva, pronta para atacar, mas nada mais apareceu. Talvez meu visitante noturno tenha ido embora. Mas eu estava errada, pois ele apareceu segurando um saco de batatinhas e comendo na minha frente, do outro lado da janela.
– Belo pijama. – ele disse apontando para mim. Olhei para baixo, e nem percebi que ainda estava de pijama, eu saí às pressas da casa dos meus tios, que não reparei que estou com meu conjunto de vaquinhas. – Muito sexy. – ele disse mastigando uma batata. – Aceita? – me ofereceu. Eu neguei com a cabeça e ele deu de ombros.
– Como entrou? – perguntei a ele e este respondeu que eu tinha deixado a porta dos fundos destrancada e ele entrou. – Bom, pode dar o fora daqui.
– Você não quer que eu saí. – ele disse virando o saco de batatas na boca, para comer do farelo. Ele parecia faminto.
– Eu acabei de pedir isso. Não foi?
– Sim. Mas, pense comigo, garota. Eu estou sozinho, já que meu grupo acabou de ser atacado pelos caminhantes. – caminhantes? Grupo? – Você também está sozinha, seja lá qual for a sua história. Por estar tão limpinha e até arrumada, imagino que você ainda não tenha matado aquelas coisas que estão lá fora. Estou errado? – ele questionou, arqueando uma sobrancelha. – Pois bem, imagino então que da mesma forma que você poderia me ajudar, eu poderia, também, ajudar você.
– Como eu lhe ajudaria? – se ele mesmo falou que eu não sei fazer absolutamente nada.
– Poderia me fazer companhia. É muito ruim estar sozinho lá fora, acredite.
– Como vou saber que você não vai me machucar?
– Não vai, mas precisa acreditar que não farei. Não há sentido em machucar quem está vivo, certo? Precisamos nos unir. Confie em mim. – confiar em um estranho, onde eu estou com a cabeça? Concordei e destranquei a porta do quarto para que ele entrasse.
Ele sentou do outro lado de onde estava a minha cama. Tranquei a porta novamente e sentei em meu cobertor. Ele perguntou se podia pegar um enlatado e ofereci a ele, quantos precisasse. Recebi um sorriso como agradecimento e fiquei observando-o, enquanto comia. Quando terminou, limpou a boca na própria manga do casaco e me pegou olhando-o. Senti meu rosto corar de vergonha, e ele de forma gentil puxou assunto.
– Então qual seu nome? Idade? De onde vêm?
– Me chamo Sophie, tenho 19 anos e estava em Atlanta com meus tios. E você?
– Espera, disse que veio de Atlanta? – ele perguntou e eu concordei. – E está viva? Como isso é possível? Atlanta foi destruída pelo exército. – senti meu mundo cair, e minha visão começou a ficar embaçada. Lágrimas começaram a brotar em meus olhos e uma escuridão tomou conta de mim. Todos que eu conhecia estavam mortos.
O rapaz veio em minha direção e me confortou o máximo que pôde. Não me lembro de ter dormido, mas quando acordei a minha frente tinha uma garrafa de água e uma rosquinha de sal, junto a um bilhete: "Não podemos ficar aqui por muito tempo. Guardei alguns suprimentos no carro que você trouxe e separei uma roupa melhor para você do que esse pijama de vaquinhas. Vista-se e quando terminar de comer, a estarei esperando no carro, para partirmos."
Eu não tinha ideia do que aconteceu para termos de ir embora tão rápido, já que ali parecia um local seguro para ficar pelo menos por um tempo, mas não quis discutir. Troquei de roupa e comi o mais rápido que pude. Eu ainda estava com minha arma e com a faca, quando saí. Porém não havia carro estacionado nos fundos. Ele havia me roubado e me deixado ali, e agora eu compreendia o porquê de termos que fugir. Uma horda de coisas, vinha em direção ao local onde eu estava. Alguns estavam mais próximos, e eu sabia qual seria meu fim e eu já não tinha mais nada a perder mesmo. Então o melhor seria, deixá-los vir. Apenas fiquei parada e mantive os olhos fechados, apenas esperando pelo momento.
– Mas, que merda Sophie, corre. – o rapaz gritou e eu abri os olhos e o vi, enfiando a faca que eu tinha deixado cair no chão, na cabeça de cada um dos monstros. Quando acabou com os quatro mais próximos, segurou meu braço e me puxou, para longe da li. – Virou suicida, agora?
– Pensei que você tinha ido embora. Não vi o carro e quando vi aquelas coisas...
– Estacionei o carro, na saída da cidade, que está livre dos caminhantes e voltei correndo para busca-la, quando te vi parada, feito uma idiota, esperando para morrer. Larga de ser louca, garota. – ele disse, bravo comigo. Como se me conhecesse a muito tempo. Entramos no carro e saímos. O rapaz dirigia, rápido demais.
Alguns minutos se passaram até que ele pareceu estar mais calmo, e por fim voltou a conversar.
– Está bem? – ele perguntou e eu concordei. – Quando te perguntar algo, aconselho que me responda com palavras, ao invés de apenas balançar a cabeça negando ou concordando.
– Okay! Desculpa. Sim estou bem.
– Ótimo. Sinto muito por ter descoberto daquela forma, sobre Atlanta. Eu não sabia que você conhecia alguém de lá. São essas pessoas? – ele perguntou, tirando a foto com meus pais, que trouxe na mochila, de dentro do porta luvas.
– São sim. Esses são meus pais. – respondi pegando a foto de sua mão e guardando-a comigo. Achei melhor mudar de assunto, antes que eu começasse a chorar novamente. – Você não me disse seu nome, idade, nem de onde veio.
– Verdade. Que falta de educação a minha, meu nome é Logan Griffin, tenho 20 anos e sou do Texas, mas estava passando as férias de inverno com uns amigos em uma floresta próximo a Atlanta. Para nós foi assustador demais, pois estávamos a céu aberto quando os caminhantes começaram a aparecer. Éramos dez amigos, acampando e dos dez, apenas 5 sobraram. Nos encontramos com um outro grupo, que também estava acampando, próximo a nós e nos mantivemos juntos por quase duas semanas, quando fomos atacados novamente. E pelo que reparei, só sobrou eu.
– Fico feliz que tenha me encontrado. Eu não saberia o que fazer.
– Preciso te ensinar muita coisa, Sophie. O mundo que conhecemos acabou. Precisamos ficar juntos, e acredito que podemos nos manter vivos por um bom tempo se não fizermos merda.
"O mundo que conhecemos acabou." era uma outra frase que se repetia vezes demais.
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Elenco
Hailed Steinfeld como
Sophie González
Jeffrey Dean Morgan como
Negan
Herman Tømmeraas como
Logan Griffin
Norman Reedus como
Daryl Dixon
The Walking Dead Cast como TWD Cast
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