Perdidos
*Flashback há 3 meses*
Logan e eu nos tornamos próximos rapidamente. Não desta forma que você deve estar pensando, apenas amigos. Não é que ele não seja bonito e extremamente atraente, muito pelo contrário. Logan possuí um sorriso de tirar o fôlego, típico carinha popular do ensino médio, que deixaria qualquer menina com as pernas bambas, apenas com o olhar.
Mas nossa relação é muito diferente. Encontrei nele, o que perdi há um ano, e sei que ele encontrou em mim o mesmo. Uma família. Nos tratamos como irmãos. Quando o conheci, dentro daquele mercadinho em uma cidade abandonada, - a não ser pelos caminhantes - no início fiquei meio receosa, já que era um completo desconhecido, mas com o tempo, criamos um vínculo e um se tornou protetor do outro.
Há 3 dias que não temos água. Três dias. Aquelas coisas que conseguimos coletar quando nos encontramos bastou apenas para dois meses. E depois disso, fomos comendo o que encontrávamos, ou as vezes, o que aconteceu com frequência, nem isso. Estávamos famintos. Muito.
Durante este último ano, conseguimos nos manter em segurança por alguns breves momentos. Encontramos duas "comunidades".
Uma era chefiada por um cara, que se auto intitulava como Governador, tudo funcionava bem no lugar. As pessoas eram gentis umas com as outras e tínhamos energia durante uma parte da noite, comida quente e água saindo de uma encanação para nos lavarmos. Ia tudo bem, até Logan ter sido enviado a casa do líder, a pedido do próprio, para buscar umas ferramentas que estavam em seu escritório. Logan descreveu tudo como pode, pois se eu que não estava lá fiquei chocada com o que ele presenciara, imagina ele então. A história foi a seguinte: Logan ouviu um barulho vindo de um quarto, um barulho que mais parecia com o som que os caminhantes faziam. Quando ele foi olhar para ver o que era, se deparou com uma garotinha com capuz na cabeça e amarrada com cordas de aço, atrás de uma porta do mesmo material. Ele não precisou tirar o gorro para saber o que ela era, no momento em que a ouviu já sabia e concluiu que o tal do Governador, não era muito bom da cabeça e demos o fora dali, o mais rápido que pudemos e sem prestar satisfação a ninguém.
Nesse período que passamos em Woodbury, conhecemos duas mulheres, Andrea e Michonne, se não me falha a memoria. Elas foram muito simpáticas com nós dois, principalmente a primeira, uma loira dos olhos claros que na minha opinião não conseguiria viver muito tempo sozinha lá fora. Michonne, já era mais na dela, porém vivia preocupada com a amiga, acho que era isso o que as duas eram, pois, o tempo todo ela perguntava a nós "vocês a viram?", "ela saiu daqui com ele?" e sempre ficava de olho nela. Ela sim seria considerada o que meu tio considerava uma "mulher macho", comentário bem machista que ele sempre fazia, quando ele via uma mulher que exercia alguma atividade que, a principio, eram feitas por homens. Só para deixar claro aqui, eu sempre brigava com ele quando aparecia com esses comentários, dizendo que mulheres podiam exercer qualquer coisa, pelo simples fato de serem mulheres, e assim isso não as tornava mais "macho", ele apenas ria e dizia "Sophie, estou apenas observando. Você precisa se acalmar algumas vezes, querida.". Mesmo ele sendo meio babaca, eu sentia falta dele.
Queria saber o que havia acontecido a Michonne e a Andrea, ou ter tido a oportunidade de me despedir e talvez alerta-las sobre o que Logan viu.
A segunda "comunidade" com que tivemos contato, era conhecida como Terminus. A descobrimos, pois pelo caminho que seguimos, que consistia em trilhos de trem, quando saímos de Woodburry, encontramos diversos mapas indicando o local exato. Junto as coordenadas, havia uma frase "Santuário para todos. Comunidade para todos. Aqueles que chegarem, sobreviverão." Logan avisou, que não era boa coisa, já que nessa nova era, as pessoas precisavam manter aquilo que tinham em total segurança e devia sempre haver um tipo de racionamento com relação a tudo. Até mesmo em Woodburry, as coisas eram dividas de forma exata para cada um dos cidadãos, e havia um deposito abastecido no caso de algo ruim acontecer. Como se o que já estava acontecendo não fosse o bastante. Porém, estávamos cansados de caminhar e estávamos com fome, então a única coisa que queríamos era descansar. Seguimos pelo caminho e quando chegamos a um velho terminal, perdemos nossas esperanças. O lugar estava em chamas, com dezenas de zumbis caminhando para o interior e se meus ouvidos não me enganaram eu pude ouvir gritos e pedidos de socorro, vindos de dentro.
Logan e eu, continuamos nossa longa jornada. Dormimos em carros que foram abandonados na estrada, em casas na árvore, e quando tínhamos muita sorte, encontrávamos comida em uma casa e passávamos a noite ali. Tomar banho se tornou uma atividade um tanto quanto difícil. Já não nos importávamos mais, porém seria satisfatório poder nos lavar. Escovar os dentes ou beber água. Esta nem precisava estar gelada. Como eu disse no inicio, estamos há três dias sem qualquer liquido. Optamos por caminhar por dentro da mata, na esperança de encontrar um pequeno lago, para que pudéssemos beber algo. Até encontramos, mas quando me abaixei para beber, Logan me puxou pelo colarinho da blusa, me parando e apontando para frente. Vários zumbis, "nadavam" tranquilamente ali. Senti muita vontade de chorar, pois não adiantava mais fazer nada se só merda acontecia conosco.
Logan me manteve firme, me abraçando e pedindo que eu ficasse calma, pois daríamos um jeito. Concordei, e dessa vez não chorei.
Decidimos revezar durante a noite, enquanto eu dormia, Logan ficava acordado vigiando. Forrei o chão com um lençol todo rasgado e me cobri com meu velho cobertor. Ele já estava todo sujo e com vários furinhos, mas era a única coisa que eu mantive comigo durante todo esse tempo, assim como as fotos. O Sol havia acabado de se por, – fazia umas duas horas – e mesmo estando cedo eu estava exausta. Agradeci por ele me deixar descansar primeiro, eu estava realmente precisando, mas me arrependi logo depois, porém não disse nada. Eu dormiria por mais ou menos umas seis horas, e depois acordaria para que ele pudesse dormir, pois era preciso. Só que, dormir primeiro significava que eu teria de ficar acordada, "sozinha", em uma mata escura, enquanto comedores de carne humana vagavam por aí. Lutei contra meu medo, e quando foi minha vez de assumir o posto fiquei encostada em uma árvore, ao lado dele.
Eu gostava de observa-lo dormir. Seus olhos quando estavam fechados, deixava seus cílios ainda maiores. Seu maxilar ficava travado durante metade do sono, depois ele relaxava e a boca ficava entreaberta. Seu cenho, ao contrario, ficava franzido durante todo o tempo. Logan não descansava nunca. Sempre estava tenso e se sentia frustrado por não poder fazer algo por nós. Seu cabelo que antes estava curto, hoje chegava mais ou menos na metade do pescoço e ele sempre o mantinha amarrado em um coque.
Mesmo sujo e esgotado, Logan continuava bonito o bastante para ser considerado "Miss Apocalipse". E mesmo nunca tendo dito nada a ele, eu o amava imensamente e minha gratidão a tudo que ele fez e faz por mim, não tem fim. Se algo acontecesse com ele, eu não suportaria e sei que desistiria de viver. Eu não conseguiria.
Enquanto o observava, e o sol começava a nascer, ouvi barulhos de carro dando a partida e cantando pneu. Pensei em acorda-lo e dizer para irmos ver o que era, mas ele estava cansado demais e merecia algumas horas de sono. O cobri com meu cobertor e andei por alguns metros, procurando se algum zumbi se aproximava de nós. Nada. Nenhum. Talvez nossa sorte começasse a mudar. Segui em direção ao som que ouvi e escondida entre os troncos das árvores, vi um grupo de pessoas ajoelhadas no chão, algumas chorando e outras apenas olhando para o nada. Duas delas colocavam algo na caçamba de um carro antigo. Não pareciam ser más pessoas e não tive medo de me aproximar mais, para que pudesse ouvir o que estava conversando.
- O que faremos agora, pai? – um garoto um pouco mais novo que eu, perguntou a um homem alto, sua voz estava tremida.
- Eu não sei. Precisamos de um tempo para processar tudo e depois bolaremos um plano. – o homem tocou o ombro do filho, confortando-o e caminhou em direção a uma mulher que estava agachada ao lado de uma poça de sangue, ficando na altura dela. Ele sussurrava algo a ela e ela não se mexia. Pelo jeito que estava previ que perdera alguém importante.
Eu os observava atentamente, porém não vi quando o garoto se aproximou das árvores onde eu estava e se abaixou para pegar um chapéu de xerife do chão. Acessório engraçado para se ter em um mundo sem leis. Quando pensei em sair dali e acordar Logan para avisa-lo, pisei em um galho seco no chão e o rapaz levantou os olhos e olhou em minha direção.
- Pai! – gritou – tem uma garota aqui nos vigiando. – sai correndo o máximo que pude, quando ouvi uma arma sendo destravada.
- Fique paradinha. – o homem disse e eu obedeci. Parei no lugar onde estava, e um dos meus sapatos ficou sujo de lama. Coloquei as mãos para cima, como fazem nos filmes e me mantive quieta. – Vire-se.
Mais uma vez obedeci à ordem que ele me dera. Me virei, o mais devagar que pude, ainda com as mãos para o alto. Tentei não fazer contato visual com nenhum deles. Muito menos com o cara que segurava um revolver e apontava para a minha cabeça.
- Quem é você? – o homem perguntou. Ao lado dele, formando um meio circo para que eu não pudesse escapar, estavam mais quatro pessoas.
- Me-meu nome é Sophie, eu estava só indo encontrar uma pessoa e...
- Não foi isso que te perguntei. – o homem me cortou. – Perguntei seu nome, e você só precisa responder o que eu perguntar, certo? – balancei a cabeça concordando. – Agora, de onde você veio? – ele deu um passo a frente e tentei não me mover.
- Eu não venho de lugar nenhum, estamos sem lugar há um bom tempo. Mas, se quer saber venho de Atlanta. – falei olhando para ele.
- Pai. – o rapaz com uma faixa no olho disse, se aproximando do homem com a arma. – Atlanta.
- Há quanto tempo saiu de lá? – ele perguntou e respondi que tinha mais de um ano. - Você disse que estava procurando uma pessoa, quem é?
- Meu irmão, Logan. – menti sobre isso, mas fiquei com medo.
- Vocês precisam de abrigo? – o homem perguntou e eu concordei. Há alguns segundos ele estava sendo grosseiro comigo, apontando uma diretamente para a minha cabeça e agora queria me abrigar. Não estou entendendo nada.
- Rick, acho que não devíamos fazer isso agora. Olha a merda que acabou de acontecer, ela pode muito bem ser uma espiã dele. – um homem com o cabelo bagunçado, que mantinha um tipo de arco e flecha apontado para mim, usando um colete velho, se aproximou do que segurava uma arma.
- Não acho que ela seja uma deles. Olha o estado em que ela está. – ele apontou em minha direção, a arma já não estava mais em suas mãos. – Todos que trabalham para ele estão bem limpos e aparentam estar bem alimentados, o que não é o caso dela. Onde seu irmão está?
- Ele ficou dormindo logo ali. – abaixei meus braços e apontei para a onde estávamos.
- Quero que você, Eugene e Carl, a acompanhem até onde eles estavam e os leve para Alexandria. Nós vamos à frente, vou deixar Maggie em um lugar antes. – Rick disse para o homem de colete e este ficou frustrado. – Escute, quando voltarmos para casa, resolveremos tudo. Preciso que a ajude, Daryl.
- Vamos. – Daryl revirou os olhos e fez menção para eu ir indicando o caminho.
Comecei a caminhar, e pela primeira vez em meses tive esperanças de que agora tudo se ajeitaria da melhor forma possível. Quando estava me aproximando do lugar onde o deixei, comecei a falar mais alto.
- Adivinha só Logan? Encontrei um lugar para nós ficarmos e eles têm águ... – parei de falar quando no lugar onde era para ele estar, estava apenas o lençol que forramos no chão, meu coberto embolado e minha mochila. Senti meu mundo girar. – Não! Não! Não, não, não. – comecei a repetir sem parar. Meus joelhos bateram contra o chão e depois de alguns segundos não vi mais nada, apenas senti mãos me envolvendo.
***
Acordei em um cômodo escuro e senti uma grande falta de ar. Isso sempre aconteceu, antes mesmo do apocalipse. Me sentei no lugar onde estava deitada e por um instante minha cabeça girou e tive de segurar no colchão para manter meu corpo no lugar. Quando ia me levantar a luz do cômodo foi acesa e coloquei umas das mãos sobre o rosto, como se isso pudesse apaga-la. Quando minha visão se adaptou a claridade, vi uma garota de cabelos escuros e amarrados em um rabo de cavalo, parada a porta, segurando peças de roupa.
- Oi! Já está acordada. – havia animação em sua voz. – Fui eu que te acordei? – seu tom de voz mudou e parecia preocupada agora. Neguei com a cabeça o que fez com que ela doesse. – Ah, que bom. Rick disse para te entregar isso. – ela estendeu as roupas. – Pode usar aquele banheiro ali, quando terminar desça para jantar conosco, sim? – ela saiu do quarto antes que eu pudesse responder.
Me levantei sentindo meu corpo pesar duas toneladas. Todas as minhas juntas doíam e me sentia extremamente cansada. Caminhei, arrastando os pés para dentro do banheiro e pela primeira vez depois de muito tempo, olhei meu reflexo no espelho. Eu estava um completo caos. Meu cabelo parecia um ninho de passarinho, e marcas roxas debaixo dos olhos me deixavam parecida com os caminhantes. Tirei minha roupa com cuidado, observando cada detalhe do meu corpo. Havia hematomas nos meus braços e na minha barriga. Minhas costelas apareciam sob a pele escura devido a sujeira. Meus lábios estavam rachados e minhas unhas foram pintadas com terra.
Entrei debaixo do chuveiro e deixei que a água caísse em meu corpo. Estava fria, mas não me importei. Eu só queria conseguir relaxar um pouco. Olhei para o chão e escorria em direção ao ralo uma água preta. Eu estava tirando toda a sujeira que acumulei em meses de andança. Em uma prateleira, dentro do box, havia uma embalagem de shampoo e a usei para lavar meus cabelos. Não foi fácil desfazer aquela quantidade de nó que havia ali.
Me permiti demorar mais do que o necessário ali embaixo. Eu só conseguia pensar em Logan. Eu esperava que nada de ruim tivesse acontecido com ele, e que ele estivesse a minha procura, assim como eu estaria a procura dele quando conseguisse sair daqui.
Sequei-me com uma toalha, pendurada em um gancho e me vesti. A calça que me deram ficara muito curta, pegando na metade da panturrilha e a blusa, parecia que havia roubado a roupa de um namorado para usa-la, a barra alcançava metade da minha coxa. Calcei as meias e desembaracei meu cabelo com um pente. As pontas estavam quebradas e eu voltei a ser morena novamente. Meu cabelo, quando encontrei Logan, pegava na altura do ombro, hoje ele esta quase chegando na metade das costas. Procurei pelo banheiro uma tesoura, e sem muita precisão cortei-o na altura que estava há uns anos. Me olhei no espelho, uma última vez antes de sair do quarto e eu me parecia agora com um ser humano.
Quando alcancei o topo das escadas, ouvi vozes vindo do andar debaixo e tentei descer os degraus de madeira da forma mais silenciosa possível. Porém não foi isso que aconteceu, já que um deles rangeu alto e a garota que me entregou as roupas veio correndo.
- Vem. Estamos te esperando. – ela chamou e a segui. Quando cheguei a sala de estar, todos estavam sentados me encarando. – Sente aqui. – ela me guiou até uma poltrona, de frente a ela havia uma pequena mesa com um prato cheio de macarrão em cima e uma xicara de agua. Me sentei, esperando dizerem que eu podia comer.
- Está melhor? – Rick perguntou, sentado ao meu lado. Concordei. – Preciso que me conte o que aconteceu, exatamente. O que viu e o que ouviu, antes de encontrarmos você. Disse sobre seu irmão também. – eu estava olhando para o prato de comida e Rick percebeu, pois ouvi um suspiro vindo dele. – Pode comer. – olhei para ele e dei um pequeno sorriso em agradecimento.
Peguei a xicara com água e tomei tudo em um gole só. Rick pediu a Enid, a garota que me dera as roupas, para buscar a jarra de água e deixa-la aqui. Peguei o garfo e enrolei o macarrão em volta dele. Antes de levar a boca, senti o aroma de molho de tomate e meu estomago roncou alto. Corei pois sabia que haviam ouvido, porém não demonstraram nada. Levei o garfo mais duas vezes a boca, antes de Rick pedir para que eu falasse.
- Logan havia dormido, e eu estava de vigia. Quando de repente, ouvi o barulho de carros dando partida e saindo as pressas. Logan e eu não aguentamos mais viver ao ar livre e decidi ver se era algum tipo de ajuda. Quando encontrei vocês. Pensei em me aproximar, mas vocês pareciam desolados. Algo ruim aconteceu? – perguntei e eles concordaram, suspirando em conjunto. – Sinto muito, pelo que quer que seja. Logan, na verdade não é meu irmão de sangue. Nos encontramos depois de dois meses, se não me engano, desde que tudo aconteceu e ele tem sido minha família.
- E você nunca ouviu falar de um cara chamado Negan ou sobre os Salvadores? – Carl, me perguntou. E eu neguei com a cabeça. A porta da frente se abriu e antes que eu me virasse, Rick estendeu a mão chamando a pessoa que estava ali.
- Michonne, como ele esta? – ele disse e virei minha cabeça bem devagar. Meu coração estava disparado e meus olhos se arregalaram quando a vi, parada ali. Estava do mesmo jeito desdo dia em que a deixei.
- Mi-Michonne?
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Gostaram?
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