Capitulo 8

Ela e Keyla saíram em direção ao prédio em questão em busca de respostas. Era um edifício grande, que se destacava dos demais, parecia mais um lugar de luxo. Erguia-se imponente, com paredes brancas e azuis, devia ter pelo menos uns quinze andares. Chegaram à portaria e se depararam com uma porta totalmente escura e trancada, tocaram o interfone e uma voz monótona falou:

—  Pois não, no que posso ajudar.

—  Precisamos de acesso ao prédio, senhor. Por favor, abra. – Respondeu Keyla autoritária.

—  Não são moradoras daqui, não conheço nenhuma das duas.

—  Não dissemos que somos moradoras, dissemos que precisamos de acesso ao prédio. – Disse Mackey, ríspida.

—  E o que desejam?

—  Precisamos checar algumas informações.

—  São da polícia?

—  Basicamente.

—  Tem mandado?

—  Escuta aqui. Já estamos ficando impacientes. – Interveio Keyla nervosa – Abra imediatamente, nossos distintivos estão aqui, podemos até mostrar para o senhor, mas não podemos perder tempo.

—  Levantem os distintivos, por favor.

Assim elas fizeram, quanto mais cedo aquele palerma as deixasse entrarem melhor seria. Um minuto de silêncio se seguiu até ouvirem o barulho da porta se destrancando. Entraram e puderam ver quem era o porteiro de voz preguiçosa. Um jovem de seus vinte e tantos, magrelo e provavelmente sem força nenhuma, sentado atrás de um balcão pouco cômodo.

—  Posso ajuda-las? – Perguntou uma outra voz.

Olharam na direção de onde vinha o som grave e se depararam com um homem mais velho, na casa do cinquenta, com uma barriga proeminente e cabeça calva. Os olhos eram fundos e penetrantes.

Provavelmente o síndico.

—  Pode sim. – Se adiantou Keyla – Precisamos acessar a sua cobertura.

—  E para quê? Não tem mandado, tem?

—  Senhor, escute. – Interveio Mackey cansada de enrolações – Precisamos subir o mais rápido possível, um crime pode ter sido cometido aqui do seu prédio e precisamos verificar.

—  Que espécie de crime? – Perguntou assustado.

—  Um do qual é melhor não saber....

—  Mas não responderam se tem mandado.

Mackey perdeu as estribeiras com essa história de mandado e respondeu nervosa:

—  Não, não temos um mandado, mas quer saber de uma coisa? Se precisarmos voltar para pedir a emissão de um, a imprensa vai ficar sabendo, afinal um crime sempre vende jornais, e creio que não queira uma imagem tão ruim para esse prédio que presumo que morem pessoas tão importantes. Então se nos deixar subir e verificar a porra da cobertura, vamos fazer tudo em silêncio e não vai sair caralho de notícia nenhuma nos jornais. Será que pode ser?

Ainda assustado, mas convencido o síndico acabou cedendo e conduzindo-as até a cobertura. Do alto se podia ter uma boa visão do bairro. Era uma vista privilegiada.
Mackey caminhou por toda a extensão do lugar e procurou o telhado de onde Pietra caíra, não demorou muito para achar. Apoiou os cotovelos na sacada o observou a posição. Logo assumiu outro gesto, como se estivesse com a arma na mão e apontando para a vítima no telhado. Tentou achar um jeito melhor de dar o tiro, mas não encontrou. Por fim, relaxou o corpo e voltou ao normal dizendo:

—  É, não há dúvidas de que foi daqui mesmo que partiu o tiro, mas não é uma posição confortável para atirar sem usar um tripé para sustentar a arma.

—  Então foi uma que possua tripé.

—  Exato. Mas o que mais me incomoda é como a pessoa sabia que Pietra iria sair por ali e ter tempo suficiente para subir e atirar.

—  Não daria tempo. – Constatou Keyla.

—  A não ser que o assassinato dela já fosse planejado e a vinda dela para o telhado fosse uma emboscada.

—  Nesse caso, outra pessoa a traria ali, e você acabou atrapalhando.

—  Mas de certo modo deu certo, só precisaram agir mais cedo, nesse caso alguma coisa deve ter ficado para trás.

Olhou em volta tentando encontrar algo, Keyla acompanhava os olhares de Mackey, também tentando encontrar algo que pudesse ajudar.

Ficaram pelo menos meia hora tentando achar algo, por fim Keyla chamou a atenção da colega para um pequeno detalhe no chão.

—  Olha aqui, Mackey. Sabe que tipo de pó é esse?

Mackey abaixou e pegou a sujeira com os dedos fazendo uma pinça, cheirou e espirrou com o cheiro forte que aquilo possuía. Jamais havia visto ou cheirado aquilo, o que quer que fosse era desconhecido.

—  Não faço a menor ideia do que seja, mas pelo cheiro forte que tem é alguma droga. Me dá uma coisa para enrolar isso, precisamos levar para análise.

Keyla tirou um pequeno pedaço de papel do bolso e pegou o que restou do conteúdo enquanto Mackey continuava espirrando e coçando o nariz.

—  Seja lá o que isso for. – Disse Mackey – Tenho certeza que não é de cheirar, é muito espesso para ser inalado.

—  Deve ser uma espécie de fumo.

—  Como uma pessoa pode fumar isso? Deus me livre! Bom, se essa coisa é do atirador e se ele deixou cair, só temos duas opções, ou ele estava nervoso e acabou deixando isso cair, o que eu duvido que seja, afinal alguém que atira à uma distância dessas e acerta com precisão, não parece o tipo que fica nervoso, e não é inexperiente, desastrado....

—  Ou estava tendo uma crise de abstinência. Na ânsia de usar a droga novamente, acabou deixando cair.

—  Exato! Atchim! Que merda é essa?

—  Vamos descobrir.

Desceram novamente e Mackey tentou verificar as câmeras de segurança, mas por incrível que pareça nenhuma delas flagrou o atirador. Antes de ir embora pôde sentir um cheiro estranho que vinha do porteiro preguiçoso, mas não do tipo que não toma banho, algo diferente. De qualquer forma, isso não era relevante agora.

Voltaram para a agência e levaram o pó para análise. A princípio o cientista responsável estranhara aquela substância, mas levou para dentro de onde saíra. Mackey aproveitou para dar uma passada na sala dos analistas, a fim de identificar o ruivo estranho da noite anterior.

—  Muito bem, me dê a descrição dele. – Disse Matheus sentando em frente ao computador, ele era um analista experiente, mas pouco humilde.

—  Alto, mais ou menos 1m80, cabelos ruivos e curtos penteados para trás, magro, olhos castanhos.

—  É meio difícil identificar alguém assim. É muito comum. Tem algo que possa diferenciá-lo?

A agente pensou por alguns segundos, sabia que notara algo diferente nele, mas não sabia o quê. Que droga! Ficara focada demais em Pietra. Pense! Havia algo.... Sim, era isso.

—  Um corte no lado esquerdo do rosto. Não sei como ele adquiriu aquilo, mas é algo que chama a atenção. – Respondeu.

—  É esse homem?

—  Exato.

—  Pelo amor de Deus! Como você não reconhece Henrique Galhardo?

—  Famoso quem?

—  É um dos maiores empresários do país, se não o maior. Tem uma indústria de medicamentos.

—  Não me ligo muito em negócios, e como você já deve saber estive preocupada demais para me entreter com isso.

—  Ah, sei. Muito provavelmente você utilizou medicamentos da empresa dele. – Disse seco.

—  Eu não usei medicamentos, seu imbecil. – Respondeu ríspida.

—  Que seja! O que um homem como ele estaria fazendo lá? Numa boate! Para que ele precisaria disso?

—  Um homem de negócios é sempre um homem de negócios, não se esqueça. Com certeza algo ali lhe interessava.

—  Acho muito estranho isso. Não posso acreditar. Ele é um filantropo!

—  Eu também sou, sabia disso? Ajudo a tirar caras como esse aí das ruas e manter a população mais segura! Além disso você não é pago para achar ou acreditar, Matheus, mas sim para analisar. – Disse ela batendo de leve no ombro do analista – Vou levar isso para Augusto.

—  Talvez isso lhe interesse. Ele acabou de fechar negócio com uma antiga fábrica de colchões e vai abrir uma sua em uma cidade do interior.

—  Qual cidade?

—  Nevada.

—  Obrigada.

Ela subiu novamente para o andar onde ficava a sala de Augusto e relatou tudo ao chefe, inclusive o recente negócio de Galhardo. O chefe também não escondera o espanto ao saber que um dos homens mais bem-sucedidos de Guiorgia fora à uma boate para fazer negócios. Mais espantoso ainda era saber que aquele negócio era sujo, por que um homem que fazia questão de destacar sua integridade correria o risco de se envolver em um escândalo?

No entanto não era hora para perguntas e sim hora de agir. Teria de pensar em algo para manter os olhos em Galhardo, assim poderiam descobrir quem assumira o negócio de Pietra e consequentemente quem a matara.

—  Muito bem. Acabou de me ocorrer uma ideia que talvez seja a mais sensata no meio de todas essas insanidades.

—  E qual seria, senhor? – Perguntou temendo a resposta.

—  Tenho certeza que se ele comprou a antiga fábrica de colchões deve estar procurando alguém para auxiliá-lo na administração.

—  Então?

—  Logo vai precisar de uma secretária, e essa é a nossa chance.

—  O senhor quer que eu me candidate para ser a secretária dele?

—  E é exatamente o que irá fazer, Mackey. Pedirei à Isabela que providencie tudo. Seu nome e seus documentos. Não podemos perder tempo. – Respondeu andando pela sala, agitado.

Augusto pegou o telefone e apertou um único número, que entrava em contato com a secretária, Paola, na antessala logo a frente.

—  Paola, quero que entre em contato com a Galhardo Químicas e veja se a vaga de secretária da nova fábrica já foi ocupada, se não estiver consiga o e-mail para envio de currículo. Depois me passe o que conseguiu.

—  Sim, senhor.

—  E você, Mackey. – Disse desligando o telefone – Vá para casa, arrume as coisas e retorne. Você vai para Nevada ainda hoje.

—  Mas senhor, nem ao menos sabe se ele vai me chamar para entrevista!

—  Não somos chamados de Inteligência Investigativa em vão. Podemos muito bem garantir a aceitação do currículo. Agora vá.

—  Sim, senhor. – Disse suspirando e se levantando.

A tarde estava quente, foram tantas informações e providencias que deviam ser tomadas que ela nem vira o tempo passar. Já devia ser por volta das 15h00min, o sol ardia no céu e ela não tinha a mínima ideia de como iria preparar as malas. Não possuía roupas de secretária e sequer sabia como uma se vestia, só via Paola da cintura para cima. De qualquer forma colocaria as melhores roupas e no caminho se preocuparia com o “emprego” que viria pela frente. Voltou para casa, tomou um banho gelado e reparou novamente nos machucados, aquilo teria de sair dali, então precisaria de muita maquiagem, como se ela gostasse muito da ideia.

Ela não tinha aversão à maquiagem, mas preferia usar o mínimo possível, jamais teve muita paciência para ficar se embelezando em frente ao espelho, só que agora isso teria que mudar.
Colocou uma calça jeans e uma camiseta branca, deixou os cabelos molhados, com toda certeza secariam com o calor. Colocou um tênis e começou a arrumar as malas.
Pegou duas grandes com rodas, não sabia quanto tempo ficaria na cidade, colocou todas as melhores roupas que dispunha, de missões anteriores e as que havia ganhado de presente da tia.
Depois que juntou tudo o que precisava saiu em direção à agência novamente, antes, porém, deu uma rápida olhada em seu apartamento.
Estava bom demais para ser verdade, achava que ficaria na paz e no conforto de sua casa e se enganara redondamente.

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