Capítulo 7
"Ergo a minha bandeira, tinjo minhas roupas
É uma revolução, eu suponho
Estamos pintados de vermelho para nos encaixarmos
…
Estou acordando
Eu sinto isso em meus ossos
O suficiente para fazer meu sistema explodir
…
Bem-vindo à nova era, à nova era
Bem-vindo à nova era, à nova era
…
Eu sou radioativo, radioativo"
Imagine Dragons - Radioactive
Até que havia sido rápido e indolor, mas imaginava o estrago que havia sido feito em seu corpo.
Abriu os olhos lentamente esperando encontrar São Pedro com as chaves do céu na mão, – se é que havia ido para o céu – no entanto a visão que teve foi do solo que supostamente teria encontrado, de alguma forma estava acima dele, havia parado antes de se chocar contra ele. Estava.... "Flutuando"?
Olhou para cima e viu que seu pé direito estava preso na corda, aquela maldita corda que a atrapalhara antes, agora salvara sua vida. Tudo bem, recebera uma segunda chance, então melhor aproveitá-la.
Tentou levantar o corpo contra a corda para soltar o nó imenso que apertava o pé. O esforço era grande, a perna doía e o pé começava a formigar e ficar dormente. Se mexeu a fim de soltar o nó, mas só fez apertar mais. Quando estava quase conseguindo, ouviu a voz de Keyla:
— Mackey?
— Estou aqui.
— O que aconteceu? – Perguntou se aproximando.
— Tentei evitar que aquela mulher fugisse, mas ela me jogou do andaime, por sorte a corda veio a calhar.
Keyla não pode se conter e começou a rir.
— Ria mesmo, Keyla, não é você que está pendurada de cabeça para baixo.
— Me desculpe, Mackey, mas se não acontece algo assim não pode ser você!
— Ah, e você só aparece agora? Momento bem oportuno, não é? Aquela desgraçada já fugiu! Não era para me dar cobertura?
— E eu estava. Estava na boate te observando, mas de repente você sumiu e demorei para te achar, só te encontrei porque ouvi o barulho aqui dentro. E seu rosto está ficando vermelho....
— Mas é claro! – Interrompeu Mackey nervosa – Todo o meu sangue está subindo para a cabeça.... Ou descendo.... Seja lá como for me ajude. Solte o nó.
— Na verdade tem uma ponta mais fraca mais acima na corda, acho que fica mais fácil cortar.
— Faça o que quiser, mas rápido, por favor, estou ficando com dor de cabeça. – Suplicou.
Keyla subiu num andaime, puxou o canivete do bolso e começou a cortar a corda, rapidamente ela se partiu e Mackey caiu no chão.
— A corda realmente estava fraca, não sei como aguentou. – Falou Keyla descendo.
— Na verdade acho que ela enfraqueceu justamente porque deu um tranco quando me segurou. – Respondeu se levantando e batendo a poeira da roupa.
Ouviram vozes de um grupo na entrada do salão e se esconderam em um canto escuro. Os donos das vozes adentraram onde elas estavam e pareciam procura-las, estavam em seis e armados. As duas agentes tentaram sair sem serem notadas, mas o plano falhou e receberam uma saraivada de balas. Novamente correram e se esconderam procurando evitar contato com os homens.
— Francamente, Mackey, você ainda não tirou essa corda do pé? – Sussurrou Keyla.
— Não estou conseguindo, está muito apertado! Você também não colaborou, deve ter uns dois metros de corda aqui!
— Não foi minha culpa, só cortei onde deveria. Como acha que nos acharam?
— Pietra deve ter alertado eles. Com certeza estão com ela.
Um dos homens se posicionou ao lado de Mackey, no entanto não a notou, aproveitando que o distraído estava pisando na corda ela puxou, fazendo-o se assustar e cair. Rapidamente ela levantou-o e o posicionou a sua frente, usando de escudo contra as balas, enquanto Keyla devolvia os tiros com sua pistola.
— Cadê sua arma, Mackey?
— Não sei, acho que perdi.
Os homens se aproximaram mais e aproveitando a pausa deles para recarregar as armas, Mackey girou o corpo e chutou o ar fazendo a corda chicotear no rosto de três dos cinco. A arma de um deles caiu, ela correu, apanhou e usou-a.... Apenas quatro.
Keyla cuidou do outro nocauteando-o.... Três.
Agora, sem munição para ambos os lados, o que restava era o combate corporal, um dos restantes pisou na corda para deter Mackey e para se livrar do homem, ela agarrou a corda e com um movimento puxou e enroscou a outra extremidade no punho dele, rapidamente puxou-o para si e acertou uma joelhada no queixo o levando ao nocaute.... Dois.
Keyla cuidou do outro e o último restante, Mackey chicoteou a corda novamente, dessa vez acertando o nariz, com um chute golpeou a têmpora do homem.... E acabou.
— Tudo bem? – Perguntou Keyla.
— Sim, acho que vou usar outras vezes uma dessa. – Respondeu se referindo à corda, e olhando para o teto completou – Isso nunca mais acontece.
— Não mesmo. É melhor tomar cuidado. Vamos, precisa tirar isso do seu pé.
— Na verdade precisamos conferir se Pietra não deixou nada para trás, estava com tanta pressa de fugir que pode ter vacilado. Talvez a encontremos.
Mackey rapidamente tratou de cortar a corda que apertava se pé, então as duas partiram deixando dois mortos e quatro feridos com fraturas e possíveis traumas.
Chegaram ao beco atrás do grande salão onde estavam, se depararam com uma figura estranha caída e se aproximaram mais para tentar entender o que estava acontecendo.
Quando se depararam com a pessoa que jazia no chão sentiram uma decepção se abater sobre elas. Era Pietra, morta e numa posição incomum, parecia uma boneca de pano caída, provavelmente quebrara muitos ossos, os olhos estalados olhando para o alto.
— É.... Nosso alvo já era. – Constatou Keyla.
— Estou precisando aprender a negociar melhor. – Respondeu Mackey.
— Será que ela se desiquilibrou?
— Acho mais provável terem empurrado ela quando subiu no telhado. Mas ela não teve uma corda para segurar.
— Ou.... – Disse Keyla se abaixando, abrindo o casaco da mulher e encontrando um buraco no peito – Atiraram nela.
Mackey se virou para poder calcular de onde o tiro poderia ter vindo, mas o lugar era repleto de prédios, poderia ter partido de qualquer um deles. Teria que subir onde Pietra estava e tentar acertar de onde veio a bala.
— A pergunta é, quem? – Falou para si mesma – E por quê?
Olhou as escadas de incêndio no prédio ao lado e começou a subir, chegando no topo saltou para os prédios ao lado até chegar onde Pietra poderia ter estado antes de ser atingida.
— Ela saiu pelo telhado do salão, pulou nos outros prédios e estava vindo por aqui.... – Disse assumindo a mesma posição que a mulher supostamente teria tomado – E então.... Um tiro.... – Olhou em volta, ali em cima poderia ter uma melhor dimensão do ângulo – O único prédio que daria para atirar nela nesse ângulo fica bem longe, devem ter usado uma arma de longa distância.
— Não há possibilidade de ser em um prédio mais perto?
— Não, analisando a posição que ela está, só dá por esse ângulo.... O tiro provavelmente a atravessou, confere por favor.
Keyla virou a mulher e constatou outro buraco nas costas.
— Afirmativo. – Respondeu.
— Então deve ter parado em algum lugar por aqui.
Procurou por todo lugar, olhou na "casinha" que havia ali e que dava para uma escada que adentrava o prédio abaixo, finalmente encontrou um rombo na parede, analisou melhor e viu o projétil cravado ali.
— O palpite estava certo. – Constatou pegando a bala – Pelo menos temos algo para analisar.
— Ok, e o que vamos fazer com ela?
Mackey desceu do prédio primeiro para depois responder:
— Deixa aí, alguém vai achar. Além disso, ela tinha mais serventia viva.
— Às vezes acho que você não tem sentimento nenhum, Mackey. – Disse Keyla encarando Mackey com olhar divertido.
— Só falei o óbvio.
— Tudo bem. Acha que foi um cliente insatisfeito? Que talvez tenha tido o segredo revelado?
— É pouco provável. Negócios desses tipos exigem uma discrição imensa, e pelo tanto de clientes que ela tinha devo constatar que ela sabia ser muito discreta. O que nos resta agora é levar essa bala para análise e ir para casa.
E assim foi feito, caminharam para o carro e voltaram para a agência. Mackey trocou os carros novamente, deixou o projétil na análise e partiu para casa. Chegando tratou de cuidar dos ferimentos no rosto. Um roxo havia se formado embaixo do olho esquerdo, tirou a blusinha e constatou que no peito um avermelhado enorme havia se formado por causa do chute de Pietra. O tornozelo direito que fora preso pela corda estava em roxo tão escuro que quase chegava ao preto. Que droga! Aquilo iria doer bastante depois.
Pegou duas bolsas de gelo, uma colocou no olho que estava um pouco inchado e outra no tornozelo. Na madrugada silenciosa ela se lembrou que por muito pouco ela não voltaria para casa, talvez se aquela corda não existisse agora a polícia estaria no local onde seu corpo todo quebrado se encontraria.... Ou talvez só a encontrassem pela manhã. É incrível como as vezes temos djavus.... Há alguns anos ela esteve nessa situação quando fora passar alguns dias na casa de sua mãe, no feriado quando as aulas no colégio militar estavam suspensas. Ela tinha tentado pegar sua boneca de pano que caíra no telhado da varanda, que ficava bem embaixo da janela de seu quarto, no entanto ela inclinou muito o corpo para fora e acabou caindo no telhado e deslizando para baixo, por sorte o fio da antena enrocou-se no pé e não a deixou de encontro ao chão. Quando pediu ajuda para a mãe foi chamada de todo tipo de nome e quando a mulher iria tira-la do telhado o fio acabou rompendo e ela de fato caiu, por pura sorte novamente, a roseira do quintal amorteceu a queda, mas deixou vário arranhões pelo corpo e pelo rosto, o que resultou em sua mãe a trancando no porão escuro pelo resto do dia, no meio de pó e mofo. E aquilo para uma garota de nove anos foi aterrorizante. Ali ela não tinha ninguém para lhe defender e foi ali que ela ficou trancada outras vezes mais. Mackey resolveu deixar as lembranças de lado e voltar para o presente para relaxar um pouco, sendo assim não demorou muito para que dormisse, um sono bom que levava embora toda a exaustão.
Acordou com uma dor imensa no corpo e percebeu que havia adormecido do jeito que estivera, nem mesmo colocou o pijama. Jogou as bolsas de gelo – agora apenas água – de lado e apoiou os pés no chão, ao se levantar o pé direito reclamou quase levando-a ao chão.
"Porra! Sabia que isso aconteceria."
Sentou-se na cama de novo e respirou fundo. "Ok, vamos tentar mais uma vez". Se levantou mais uma vez, tentando não colocar o peso no pé, deu alguns passos mancos, ainda doía, mas era suportável. Foi para o banheiro e repetiu todo o processo dos outros dias. Para ir para a agência vestiu uma calça jeans e uma camiseta preta colada e para completar um tênis. Não pensou em esconder o olho roxo, quantos outros chegavam piores do que ela na agência? Ninguém repararia nela. Pegou um taxi até o local, não iria conseguir dirigir e ir andando estava fora de cogitação. Augusto ainda não havia chegado, então ficou na sala dos analistas fazendo o relatório da noite anterior. Será que deveria incluir a parte vergonhosa quando ficou de cabeça para baixo? Decidiu que esse fato era irrelevante. Estava quase terminando quando Isabela se aproximou.
— A noite foi boa, não foi? Ao estilo Mackey! – Disse em tom de deboche.
— Você não faz ideia do que aconteceu! – Respondeu sem tirar os olhos da tela do computador.
— Não mesmo! Você é uma caixinha de surpresas.
Mackey olhou para Isabela com um olhar monótono, puxou a gola da camiseta um pouco para baixo, o suficiente para mostrar um pouco do vermelho arroxeado que havia se formado ali.
— Uh-uh que surra! O aconteceu? Perdeu seus poderes?
— Eu perdi minha dignidade apanhando de uma mulher de 40 anos. – Respondeu voltando ao relatório.
Isabela riu da indignação e da situação da agente que não costumava chegar assim no serviço, sempre chegava com uma missão bem-sucedida, um prisioneiro, resultados e principalmente inteira.
— Vamos pensar que ela teve mais tempo para treinar. É mais experiente.
— É. Não tem mais.
— O que você fez, Mackey? – Perguntou Isa parando de rir e se tornando séria.
— Eu não fiz nada. Que conste que o que aconteceu com ela não teve nada comigo.
— Perdeu os sapatos, Cinderela? – A voz de Khan alcançou elas.
— Não acredito que guardou! – Disse Mackey se virando para ele.
— Depois de um tempo que você saiu eu resolvi ir atrás para ver se precisava de alguma coisa, mas só achei suas sandálias, então guardei para te devolver.
— Obrigada.
— Não por isso. Bom, agora preciso ir, tem uma senhorita me esperando. – Disse virando e saindo, as costas largas faziam ele parecer ainda maior.
— Boa sorte, James Bond. – Gritou Mackey.
Khan deu meia volta e um rápido sorriso torto exibindo mais uma vez os dentes brancos e perfeitos, logo retomou seu caminho quase se esbarrando em Augusto que chegava com uma expressão nada boa.
— Parece que o chefe quer falar com você. – Sussurrou Isabela.
— Isso porque ainda nem terminei meu relatório. – Respondeu Mackey resmungando.
— Boa sorte.
Isa saiu enquanto Augusto chegava mais perto. Ele parou em frente Mackey, olhou-a por um segundo e depois disse:
— Pode me acompanhar até minha sala, por favor?
— Claro, senhor. – Respondeu se levantando.
Percorreram todo o caminho até a sala em um silêncio de morte. Pareciam pressentir o que estava por vir.
Entraram a sala e Mackey logo se acomodou na poltrona à frente da escrivaninha, Augusto, no entanto não se sentou, apenas contornou a mesa até ficar de frente para a agente. Apoiou as mãos espalmadas na mesa e começou:
— Pode, por favor, me explicar o que aconteceu? O que foi que eu te disse? Queríamos ela viva e você só nos trouxe uma bala!
— Senhor, quero que fique claro que eu nada tenho com a morte de Pietra. Quando achamos ela, já estava morta. Pode perguntar para Keyla. E com todo respeito, por muito pouco não teriam que trazer o meu corpo também.
— Como assim? – Sua expressão se tornou interrogativa.
— Eu tentei convencer Pietra a vir comigo me passando por uma cliente, mas ela não acreditou e fugiu, fui atrás e acabamos lutando, mas ela me jogou do andaime. Vai estar tudo especificado no relatório.
— E como não se machucou pior do que isso?
— Uma corda me segurou, Keyla também chegou para me ajudar e quando fomos procura-la, a achamos morta em um beco. Alguém atirou nela quando saiu pelo telhado do salão que estávamos....
— E não fazem ideia de quem atirou. – Completou Augusto.
— Exatamente, senhor. Por isso trouxe o projétil para analisar.
Ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos.
— Nada de estranho antes disso?
— Na boate antes de sairmos ela negociava com um homem ruivo, senhor. Não dei muita importância por achar que era apenas mais um cliente.
— Entendo, mas agora é melhor identificarmos esse homem. Por mais que Pietra fosse a chefe da quadrilha, ela com toda certeza tinha alguém de confiança que poderia assumir o lugar dela.
— Um negócio lucrativo como esse não poderia ser abandonado porque a chefe morreu. – Constatou Mackey.
— Exatamente. Bom, a análise do projétil já está pronta.
— Um sniper, presumo.
— Exato, o calibre era 7,62. Algumas armas usam desse calibre, cabe a nós descobrir qual, pode ser... L96A1, Walther WA 2000....
— Heckler & Koch PSG-1. – Interrompeu Mackey.
— Preciso que vá até o prédio de onde partiu o tiro e procure pelas imagens das câmeras de segurança, vamos pegar o desgraçado. Também quero que dê a descrição do homem que viu negociando com Pietra, para um analista. Precisamos manter os olhos nele, talvez saiba algo.
— Sim, senhor.
— Mantenha contato caso descubra algo.
— Com certeza.
Mackey se levantou a cadeira e acabou se esquecendo do pé machucado, mais uma vez quase foi ao chão ao se apoiar nele. Por sorte ainda estava perto da mesa o suficiente para se apoiar nela.
— Está tudo bem, Mackey?
— Sim, senhor. Não se preocupe, foi só um imprevisto. Com licença.
Se equilibrou de novo e partiu mancando pelos corredores.
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