Capítulo 33

Abriu os olhos novamente e se sentia extremamente desconfortável com sua posição, os braços estavam amarrados acima da cabeça, presos por uma corrente, os pés também estavam presos por correntes, mas eles não tocavam o chão. Ela estava suspensa no ar.

Tentou se mexer para verificar se conseguia se soltar, mas foi em vão.

- Até que não demorou tanto para acordar. - Disse Galhardo se aproximando - Esse é o doutor Swan. Um ótimo médico, confio nele para tudo... Mas ele também sabe causar dor quando quer.

O homem desconhecido, de mais cedo, se aproximou de Mackey e lhe deu um sorriso que para muito poderia parecer simpático, mas a ela não escapou que, na verdade, aquele era um sorriso sádico. Ele estava adorando aquilo.

Galhardo retomou:

- Você acabou estragando os planos de aposentadoria dele. Ela tinha alguns investimentos comigo e por causa da sua interferência, pôs tudo a perder.

- Eu sinto muito, doutor. Mas deveria ter pago a caderneta de poupança. - Debochou ela.

Galhardo lhe deu um murro no rosto, o que fez o sorriso dela se desfazer na hora.

- Tudo bem, Galhardo. Pode deixar comigo agora. - Disse Swan - Muito bem, agente. Não está sentindo nada?

- Vai me torturar ou me dar uma consulta? - Perguntou ela.

- Você é bem abusada. Não tem medo de morrer?

- Medo eu tenho de ficar sem bebida. Morrer todos nós vamos mesmo. - Aquilo escapou dos lábios de Mackey com muita facilidade, e ela percebeu que isso não era normal. - Você me drogou? De novo? É sério isso? Que falta de originalidade!

- Droguei o suficiente para te manter acordada e te fazer falar o que quero. Onde está o caderno?

- Vai ter que se esforçar mais.

- Sabe que se não falar, terei que utilizar outros métodos. e meus brinquedinhos estão logo ali, estou doido para utilizá-los.

- Sabia que você parece um tarado falando isso? Sério! Isso teve total duplo sentido.

O médico riu debochadamente e respondeu:

- Você é uma das pessoas mais difíceis que tive que lidar. Isso me fascina!

- Não são muitas pessoas que me admiram.

Galhardo e Paulo, que estavam em um canto, não puderam discordar daquilo.

Mackey não pôde deixar de notar a ausência das mulheres ali, talvez aquilo fosse demais para elas. Ótimo! Ela estava presa em uma sala suja, com três homens!

Aquilo tinha jeito de piorar?

Ela se arrependeu amargamente de ter se questionado sobre isso, quando Rute entrou na sala. De todos ali, a mulher era a que mais parecia furiosa com Mackey.

- O que deu a ela? - Perguntou Rute.

- Pentotal sódico. - Respondeu o médico - Está demorando um pouco, mas dentro de alguns minutos ela deve começar a falar.

- Isso não vai funcionar com ela.

- Como sabe?

- Eu conheço essa garota mais do que ela mesma.

- O que quer dize com isso? - Perguntou Mackey, desconfiada.

- Alexia Mackey... - Continuou a mulher, andando ao redor dela - Filha de Eloá Mackey, irmã de Lana. Estudou em colégio militar até os dezessete anos. Com um histórico de comportamento violento e rebelde. Era agressiva na escola e insubordinada. No entanto, as notas eram as melhores. Péssimo histórico familiar e comportamental, excelente histórico escolar. Capacidades autodidatas e memória eidética. Facilidade em utilizar produtos químicos, produzindo bombas ou utilizando ácido. Exemplo de soldado.

- Eu não sou soldado. - Rebateu ela.

- Não? Tem certeza?

- Então... Por onde começamos, agente? - Interrompeu o médico, pegando uma espécie de agulha muito fina e comprida.

- Por onde você quiser, desde que não enfie essa coisa no meu...

Ela não teve tempo de completar a frase, Galhardo lhe acertou outro murro no rosto, esbravejando:

- Eu me cansei das suas gracinhas.

- Tudo bem, Galhardo. Não se preocupe, logo ela irá deixar o sarcasmo de lado e implorar para morrer. - Respondeu o médico tranquilamente.

- Eu quero ouvir ela gritar, Swan.

Ao ouvir aquilo, Mackey se sentiu mais obstinada a permanecer de boca fechada e não dizer o que eles queriam.

Rute e Galhardo se afastaram, deixando o médico "trabalhar" e ele logo largou a agulha e pegou um soco inglês, que possuía pontas afiadas. Depois disse:

- Então vamos começar com algo mais bruto.

Ele se aproximou de Mackey e acertou um soco no estômago, ela sentiu a falta de ar vir acompanhada da dor de ter a pele perfurada por aquelas pontas. Reprimiu um grito de dor e continuou quieta.

- Não via falar? Muito bem, então, vamos continuar.

O médico acertou outros sete murros forte, fazendo sangue começar a escorrer e manchar a camiseta de Mackey, além de fraturar uma costela.

Ela respirou fundo novamente e engoliu, procurando molhar a garganta seca.

- Ela não está falando, Swan. - Reclamou Galhardo.

- Mas ainda nem começamos!

Mackey ainda não tinha reparado, mas na sala havia dois seguranças de Galhardo. ao receber o sinal de Swan, um deles se dirigiu para trás dela. Ouviu o barulho de correntes e logo percebeu que estava sendo puxada para cima.

As correntes presas nos pés se esticaram e a puxavam pra baixo, desse modo, Mackey sentia todos os músculos do corpo esticarem até parecer que eles iriam arrebentar.

O outros segurança se aproximou com uma mangueira e a abriu, o jato de água foi forte o suficiente para fazer a pele arder ao ser atingida, a temperatura baixa da água fazia parecer que pequena agulhas adentravam o corpo, e quando o jato atingiu seu rosto, foi o suficiente para fazer a água entrar pelo nariz.

Quando o homem fechou a mangueira, Mackey mal teve tempo para respirar, Swan se aproximou com um aparelho na mão e então ela sentiu uma onda de choque percorrer todo o corpo. as correntes de metal e o corpo molhado pioravam tudo.

- Então, está pronta para falar? Onde está o caderno?

Mackey ainda tentava controlar o grito de dor, quando explodiu em uma gargalhada histérica, ela simplesmente não conseguia se controlar.

O médico estranhou a reação dela e perguntou, irritado:

- Qual é a graça?

- Vocês estão tão desesperados! - Respondeu ela em meio ao riso - Estão tão desesperados que sequer cogitaram a hipótese de estarem me procurando, e quando nos encontrarem todos saberão que morreram como ratos no esgoto.

- Você já está acabando com minha paciência! Diga de uma vez onde está o caderno e te dou uma morte rápida.

Mackey encarou Swan seriamente e devagar respondeu:

- Lambe o meu traseiro.

Ele a eletrocutou novamente e quando parou fez um sinal para que a abaixassem, desse modo, Mackey ficou um pouco mais confortável e agora seus pés tocavam o chão.

Enquanto Swan escolhia um novo instrumento de tortura, Rute, que até então estava calada, se aproximou de Mackey e apertou sua bochecha, dizendo:

- Está enganada se pensa que vão te achar. Tirei o chip que você tinha na nuca. - Quando Mackey arregalou os olhos, a mulher continuou - Surpresa? Não sabia do chip? Isso prova que sei muita coisa sobre você, agente, inclusive sobre sua irmã.

- Sua desgraçada, não encoste nela! - Agora Mackey parecia furiosa, se debatia tentando se soltar enquanto a mulher lhe dava as costas.

Ela nem mesmo percebeu que o médico se aproximava dela, coma mesma agulha de antes. Swan agarrou a cabeça de Mackey e levantou o objeto.

- É melhor ficar bem quietinha se não quiser ficar cega.

Galhardo se manifestou do outro lado e disse:

- É melhor gerar muita dor agora, Swan. Tenho coisas para resolver, mas não vou sair daqui até ouvir os gritos dessa vadia.

- Deixa comigo.

Lentamente o médico aproximou a agulha do olho esquerdo de Mackey e a afundou entre a sobrancelha e a pálpebra. Bem embaixo do osso.

Mackey tentou resistir no começo, mas era impossível. Não conseguiu suportar e gritou de dor, enquanto fechava os olhos com força. Galhardo deu um sorriso satisfeito e saiu da sala, junto com Paulo, a deixando somente com Swan, Rute e os dois seguranças.

Quando o médico retirou a agulha, Mackey abaixou a cabeça, procurando esconder a lágrima que saiu sem permissão.

- Está vendo, agente? Eu sei exatamente o que fazer para causar dor, então é melhor nos dar a informação que queremos. Você mesma pode acabar com sua agonia. - Quando ela não respondeu, Swan continuou - Entenda que no momento eu tenho o controle do seu corpo nas minhas mãos, posso fazer a dor parar ou posso fazê-la aumentar.

- E calar a boca, você pode? - Perguntou ela com a respiração pesada - Porque nenhuma tortura é pior do que te ouvir falar.

O médico riu e respondeu:

- Não! Eu irei continuar a falar e te torturar.

- Então fale enquanto pode, porque quando eu sair daqui, vou cortar sua língua fora e assistir você se afogar no seu sangue.

- Você sair? Duvido muito.

- Duvidaram de mim muitas vezes, doutor... E eu sempre provei que estavam errados.

Eles se encararam pelo que pareceu uma eternidade, até Swan falar:

- Responde onde está o caderno.

- Já tentou procurar no meu bolso?

Ela a acertou com uma faca dessa vez, ela nem sabia de onde aquilo tinha vindo, na verdade não se importava.

Entraram em uma sequência de tortura que poucos aguentariam. Swan intercalava entre agulhadas, socos, choques e jatos d'água, mas Mackey não abria a boca, pelo contrário, se mostrou obstinada a continuar quieta.

No entanto, aquilo não era difícil, cada vez mais a voz de Swan ficava distante, sua imagem era desfocada e em poucos minutos tudo não passou de escuridão e silêncio.

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Mackey estava em um campo totalmente aberto, não se via nada ali além de gramado e algumas árvores solitárias.

Era extremamente calmo e a paz reinava ali, o que a fez estranhar o lugar. Não estava acostumada com aquilo e mesmo que aparentemente não houvesse nenhum perigo, todos os seus sentidos estavam em alerta. Havia alguma coisa errada.

- Olá, Alexia. - Soou uma voz muito familiar atrás de si.

Ele se virou rapidamente, pronta para o que viria, mas ao invés de ser um inimigo, era alguém mais familiar do que ela pensava. E aquilo a desestabilizou completamente. Era Eloá Mackey, sua falecida mãe.

- Ah, merda! - Disse Mackey - Pronto... Estou morta.

- Você não está morta, Alexia. - Respondeu a mulher.

- Ah, não estou? Eu estou vendo uma morta, conversando com uma morta, mas eu mesma não morri? Então devo estar em um nível de mediunidade no qual visito o plano astral para conversar com espíritos. Descobri meu novo dom.

- Seu deboche não irá ajudar aqui.

- Me deixa debochar. É a única forma de eu lidar com o que está acontecendo aqui.

- Não precisa se desesperar. Eu sou só um produto do seu subconsciente.

- Quer dizer que no momento que eu estou morrendo, no meu subconsciente eu desejo minha "querida mãe". Isso sim é irônico. Não tem a menor chance disso acontecer.

- Já disse que você não está morta e nem morrendo. E sei que não fui a melhor mãe do mundo...

- Você foi a pior mãe do mundo. Deixou cicatrizes que eu jamais fui capaz de curar. E não estou falando das cicatrizes físicas.

A mulher se calou por alguns instantes deixando Mackey refletir, por fim disse:

- Tem que voltar, Alexia.

- Não acabou de dizer que eu não estava morta? - Quando Eloá não respondeu, ela prosseguiu se sentando em um tronco no chão - Te peguei, não é mesmo? Então eu morri, ou estou quase morrendo. Então me resta sentar aqui e esperar que o "portal", ou o que quer que me ligue com o outro lado, feche. Então vou ficar nessa paz, meu corpo vai ser encontrado em decomposição em um rio e a Lana vai ficar sozinha... Ela vai ficar sozinha.

Mackey abaixou a cabeça refletindo o que acabara de dizer, ouvir da sua própria boca aquela última frase, foi como um choque. Não queria que a irmã sofresse.

- Então é assim? - Perguntou Eloá a desafiando - Vai desistir fácil?

- Não tem mais o que fazer. Acabou para mim.

- Só vai acabar se você decidir que acabou. Alexia, as pessoas precisam de você lá.

- As pessoas vivem muito bem sem mim. Nem sabem que eu existo.

- Certo. Então faça isso mesmo... Desista. Desista de lutar para sobreviver e não via haver ninguém que posso denunciar o que aqueles crápulas estão fazendo. Como você disse, seu corpo vai ser encontrado em decomposição no rio e ninguém vai saber o que te aconteceu. Aqueles merdas vão continuar com o plano deles e quando o governo descobrir o que estavam tramando, já vai ser tarde demais. Muito sangue inocente já vai ter sido derramado... Porque você desistiu.

- Está dizendo que a culpa vai ser minha?

- Não, só estou dizendo que você tem o poder de mudar isso.

- Só o tempo que passamos aqui conversando foi o suficiente para meu corpo parar de funcionar.

- O tempo daqui é diferente do tempo de lá. - Eloá continuou mais brandamente - Alexia, você é uma Mackey. Os Mackey jamais desistem, jamais se deixam abater. Olha a história da nossa família! Olha o quanto fomos humilhados e pisoteados. Já ouviu falar que um de nós desistiu?

- Não.

- Pois bem! Você jamais desistiu, Alexia. Eu a conheço e embora eu tenha sido uma péssima mãe, sei que você sobreviveu aos seus piores dias e nunca deixou que te parassem. Nunca deixou que inocentes pagassem.

- Está tentando me comover?

- Estou apelando para seu senso de justiça. Porque agora tudo depende você. Vai deixar que te matem ou vai lutar e acabar com isso?

Mais uma vez o silêncio reinou ali, nenhuma das duas se atreveu a falar. Alguns longos segundos se passaram até que Eloá deu a cartada final:

- Seu tempo está acabando. Em poucos minutos seu coração vai parar e não vai haver volta. O que irá fazer?

O que será que acontecerá com Mackey?

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