Capítulo 27

Eu machuquei a mim mesmo hoje
Para ver se eu ainda sinto
Eu me concentro na dor
A única coisa que é real

...

Eu uso essa coroa de espinhos
Sobre meu trono de mentiras
Cheio de pensamentos quebrados
Que eu não posso consertar

Sob as manchas do tempo
Os sentimentos desaparecem
Você é outra pessoa
Eu ainda estou bem aqui

O que me tornei
Meu mais doce amigo?
Todos que eu conheço vão embora
No final

E você poderia ter tudo isso
Meu império de sujeira
Eu vou te desapontar
Eu vou fazer você sofrer

Se eu pudesse começar de novo
A milhões de milhas daqui
Eu me salvaria
Eu acharia um caminho

Hurt - Johnny Cash.

Logo terminaram o serviço libertando aquelas pessoas e Mackey desceu da plataforma. Na hora de ir embora ela percebeu que havia algo errado, ouviu alguns sons estranhos vindo de baixo do galpão, ela não poderia ignorar aquilo. Começou a procurar a origem do ruído e logo achou uma porta escondida atrás de alguns caixotes de madeira, arrastou-os e abriu a pequena porta. Sacou a pistola que carregava nas costas e entrou, sempre em posição de alerta, seguiu pelo corredor mal iluminado e logo sentiu um cheiro extremamente desagradável, aquilo poderia ser associado facilmente com urina... Ou comida podre.

Empunhou a arma à frente do corpo e virou à esquerda, pronta para o que viria, mas o que encontrou a desestabilizou.

Ali estavam mais pessoas, e pareciam piores do que as outras dos containers, na verdade eram bem mais jovens, adolescente e crianças. Todos a olhavam muito assustados e ela logo guardou a arma, dizendo:

— Tudo bem, não precisam ter medo. Não vim fazer mal, vim tirá-los daqui. – Eles ainda pareciam meio céticos, quando ela acrescentou – Venham comigo!

Lentamente alguns se levantaram e foram em direção à saída, se encolheram um pouco ao passar por ela, pareciam com medo de que ela lhes fizesse algum mal... Mais mal do que já haviam feito. Foi então que ela se lembrou dos corpos do lado de fora, não poderia deixá-los ver, seria traumatizante. Então ela logo gritou:

— Esperem! – Eles pararam e se encolheram no chão, Mackey nunca pensou que pudesse sentir tanto ódio dos seres humanos como sentia naquela hora. O que fizeram com essas crianças? Deixando esse pensamento de lado, ela se dirigiu para o primeiro da fila e disse – Há algumas coisas lá fora que eu não gostaria que vocês vissem, então vou pedir para fecharem os olhos, está bem?

O menino balançou a cabeça em concordância e fechou os olhos.

— Os outros façam o mesmo e coloquem a não no ombro de quem estiver na frente. – Continuou Mackey – Vou guiá-los para fora daqui.

— Como podemos confiar em você? – Perguntou uma adolescente que estava no fim da fila.

— Não posso te dar garantia do que não sou uma deles, só posso dizer que vim ajudar e já dei um jeito nos sequestradores... Preciso que confiem em mim.

A mocinha acenou com a cabeça e se virou para um canto escuro do lugar, dizendo:

— Vem, Anne, nós vamos sair daqui.

Mackey seguiu o olhar da menina e avistou uma criança encurralada no canto. Ela parecia assustada e os olhos castanhos revelavam muito medo. Lentamente a agente se aproximou da criança e se abaixou na frente dela, dizendo:

— Não precisa ficar com medo, eu vim te ajudar a sair daqui. Não vou te fazer mal. – A menina ainda parecia desacreditada, então ela continuou, estendendo a mão – Muito bem, vamos nos conhecer, se isso te ajuda. Pode me chamar de Mackey. Qual seu nome?

— Ela não fala. – Respondeu a adolescente – Parou de falar assim que fomos trazidas para cá.

— Trazidas? Não são daqui?

— Não, somos de uma cidade no interior. Nós só queríamos um emprego para nos sustentar, mas nos enganaram.

Um peso se acumulou no peito de Mackey e de repente ela sentiu uma vontade enorme de socar Galhardo até sua morte. Eram crianças que só estavam tentando sobreviver! Ela se voltou para a pequena e com a voz branda, disse:

— Se você vier comigo, eu prometo te ajudar a achar um lugar melhor, ou quem sabe achar sua família. Eu só quero ajudar vocês. – Se lembrando de quando era criança, estendeu o dedo mínimo para a menina e completou – Promessa de dedinho.

A pequena abriu um pequeno sorriso e enroscou o pequeno dedo no da agente. Mackey então pegou a menina no colo, e arrastou sua irmã até que ela fosse a primeira da fila.

— Fecha os olhos e segura na minha camisa. – Disse.

A adolescente fez o que ela pediu e a pequena enterrou a cabeça no pescoço de Mackey. Saíram dali e ela foi devagar, guiando as crianças e os adolescente para fora daquele local horrendo que agora era banhado no sangue.

Em frente ao galpão um ônibus, que Augusto havia mandado, esperava para levar aquelas pessoas para abrigos e localizar suas famílias.

E recebendo os olhares gratificantes daquelas crianças, Mackey enfim sentiu que seu trabalho estava concluído, e nada no mundo poderia pagar aquela sensação de poder fazer bem. Devolver a vida que havia sido tirada de inocentes.

Quando tudo estava acabado, Keyla, que também estava ali, logo disse:

— Bom, parece que tudo está se resolvendo agora.

Mackey não conseguiu responder, avistou um último sequestrador que ainda estava vivo, provavelmente havia se escondido. Ela até tentou avisar a colega, mas o homem foi rápido o suficiente para atirar nas costas de Keyla, que por puro azar tinha tirado o colete. O Tiro a atravessou e a agente caiu sem nenhuma resistência no chão. Sentindo uma raiva subir, Mackey sacou a pistola e descarregou-a no peito do homem, para logo depois correr em direção a colega que estava no chão sangrando.

Mackey até tentou tampar o buraco no peito de Keyla, por onde a bala havia saído, tentando conter o sangramento, enquanto isso os outros agentes chamavam uma ambulância com urgência.

Keyla apenas observava Mackey, que tinha um olhar fixo no ferimento e tentava a todo custo estancar o sangue que não parava de sair, parecia determinada a salvar mais uma vida ali, mas não havia muita coisa a ser feita.

A agente que estava agonizando pegou na mão de Mackey, fazendo-a a olhar, as duas travaram uma batalha de olhares, Keyla parecia dizer para que deixasse, e Mackey rebatia insistindo em salvá-la. Nenhuma palavra foi dita, foi uma despedida silenciosa, mas cheia de significado. Logo a agente percebeu que sua colega tinha parado de respirar e seus olhos não possuíam mais o mesmo brilho, Mackey tirou as mãos do ferimento, mas continuou de cabeça abaixada tentando controlar a respiração que agora estava acelerada por causa da raiva que sentia.

Ela queria gritar para colocar para fora tudo que sentia, mas a voz simplesmente não saía, olhou ao redor, para aqueles homens horrendos e sentiu nojo, tudo o que acontecera foi por culpa deles, mas observando melhor, Mackey percebeu que não era muito diferente, ela havia agido covardemente e os matado.

O que ela havia se tornado?

Depois que a ambulância chegou e levou o corpo de Keyla, Mackey voltou para a van onde Isabela estava, e perguntou para a analista:

— Consegue me arrumar um atestado de óbito?

— Para você?

— Sim, Paulo e Galhardo ainda não sabem se eu sobrevivi ou não, se pensarem que estou morta poderei continuar com meu plano. Além disso, podemos colocar uma matéria nos jornais também.

— O que está tramando, Mackey?

— Vai me ajudar ou não.

— Tudo bem, eu consigo.

— Ótimo.

E assim o plano para prender Paulo foi posto em prática.

"Olha, confesso que não foi fácil escrever esse capítulo! Me deu uma dor no coração, mas enfim as coisas parecem que vão começar a se acertar. Vamos torcer para que Mackey consiga resolver tudo. E fiquem atentos porque semana que vem sai um capítulo com uma revelação... "Bombástica" por assim dizer hahahahahah. Aguardem! Beijos e obrigada pela leitura!" 

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