Capítulo 20
Quando encontrou Augusto, porém, ele estava na sala de interrogatório conversando com um agente. Sendo assim, ele não teria tempo para ouvi-la, não por enquanto. Então resolveu ir para a sala dos analistas conversar com Isabela, e quem sabe descobrir algo a mais sobre Igor.
— Tudo o que descobrimos é que ele já estava perto dos seus 50 anos e....
— Espera, espera. Cinquenta? Não confundiram, não?
— Não, Mackey. Ele se chamava Igor Rezende, serviu o exército até seus 40 anos como sniper, mas perdeu a perna e foi aposentado.
— Perdeu a perna?
— Sim, usa.... Usava uma prótese e até mancava, não percebeu?
— E como é que eu ia reparar? Isso não me interessava.
— Desculpe, senhorita estressada.
— Tá.... Continua.
— É isso. Ele não parecia ter a idade que tem porque tinha um problema na glândula pituitária, isso faz com que ele não envelheça, portanto parecia apenas um rapaz.
— Engraçado. Não me lembro dele quando eu servia o exército! – Disse Mackey pensativa.
— É porque ele saiu antes que você entrasse.
— Bom, isso explica muita coisa. Eu.... Eu preciso ir, ainda tenho que falar com Augusto.
— Claro. A gente se vê. E Mackey.... Tome cuidado.
— Tomarei. – Respondeu virando as costas, porém se lembrou de algo e virou-se novamente – Isa, tem como conseguir um carro para mim?
— Um carro? Mas não é só uma secretária?
— Pare de desprezar essa profissão, Isa. Eu preciso para um negócio.
— Não estou desprezando, eu.... Só.... Ah, está bem. Passe aqui depois e te providencio um.
— Obrigada.
— Disponha.
Subiu para a sala de Augusto e explicou suas suspeitas sobre um agente duplo e deu sua ideia de supostamente desviar sua missão, o que Augusto achou excelente.
Não conversaram muito, porém, pois Mackey estava extremamente ansiosa para voltar para casa. O dia passara e ela nem mesmo percebera, quando viu já passava das 18h00min. Não conseguiu ir muito longe, pois encontrou com Keyla no corredor.
— Que tal irmos para uma balada. Garanto que faz tempo que não vai em uma! – Disse Keyla já com más intenções
— Tem toda razão, preciso sair. O que estamos esperando? Eu quero dançar, ora! – Respondeu Mackey se prontificando rapidamente.
Se aprontaram e pediram um táxi. Chegando ao local fizeram questão de pedir uma área vip, a noite prometia e muito, Mackey queria aproveitar o máximo, já que no dia seguinte voltaria à sua monotonia da missão.
O lugar era um grande salão com um palco no fundo, acima da porta de entrada ficavam as áreas Vips separadas umas das outras por paredes de vidros, uma escada do lado esquerdo da porta levava até lá.
Pagaram na entrada mesmo e subiram para um dos "quadrados" de vidro, ali ficavam uma mesa com duas poltronas grandes, uma de cada lado, onde cabiam três pessoas, tudo de couro vermelho e preto, além disso o lugar permitia as pessoas dançarem em um pequeno espaço ali.
Logo pediram uma bebida, Keyla Vodca e Mackey Gim. Conversaram sobre os mais variados temas, dispensaram alguns homens que chegaram e até dançaram um pouco. Quando perceberam a mesa estava quase repleta de copos e garrafas.
— Eu não estou bem. – Disse Keyla se jogando na poltrona.
— Fraca! – Acusou Mackey – Eu ainda posso mandar bem mais para dentro!
— Eu não tenho tanta certeza disso, Mackey, sua voz está engrolada.
— E daí? A noite é uma criança.
— Esse não é o ponto. Vamos embora?
— Vai você! Eu quero ficar mais, amanhã tudo isso acaba para mim.
— Tudo bem. Tem certeza que vai conseguir colocar a chave na fechadura, ou ao menos acertar seu apartamento?
— Se eu não conseguir, pago o taxista e durmo no carro mesmo.
As duas deram altas gargalhadas e nem ao menos entenderam porquê. Apenas estavam alegres demais para se reprimirem. Keyla chamou o táxi, e em questão de meia hora Mackey estava sozinha naquele lugar. Resolveu sentar e pedir mais alguma coisa para beber, dessa vez tequila, já que estava tudo girando era melhor que aproveitasse e fizesse girar mais um pouco.
Continuou sentada olhando para o nada durante quinze minutos, perdida em seus pensamentos. Não era isso que havia planejado para sua vida aos quinze anos, apenas queria terminar o colégio, cursar biomedicina e exercer sua profissão dignamente, levando uma vida tranquila. Riu diante da ironia quanto à tranquilidade.
"Bom, pelo menos a Biomedicina eu cursei".
Ainda não entendera como conseguira entrar no exército, ser recrutada para a A.N.I.I e ainda fazer faculdade. Talvez houvesse se dividido em duas. Ou naquela época não tinha tantas missões para cumprir e não tinha obrigação de se apresentar no exército, pois estava emprestada para o serviço secreto. Sim, talvez fosse isso. De qualquer forma, Sargento Mackey nunca mais voltara para o exército, e não voltaria tão cedo, mesmo que ainda tivesse a patente.
— Chega até ser um pecado uma linda mulher estar sozinha. – Soou a voz do lado tirando-a de seu devaneio.
Ela virou a cabeça e encontrou os olhos verdes de Khan, que provavelmente também estava bêbado, bem menos que ela com certeza, mas não estava em posse de sua lucidez também. Portanto ele já devia estar ali fazia algum tempo. Incrível como ele sempre a achava, parecia sentir seu cheiro.
— Uma linda mulher não é o título de um filme? – Questionou ela.
Ele riu se sentando à sua frente e respondeu com seu tom roco de voz:
— Claro que é, mas duvido que a atriz do filme chegasse a seus pés.
— Essa é a pior cantada que você poderia dar. – Respondeu gargalhando.
— Dá um desconto, foi o melhor que pude pensar. Meu cérebro já não está me ajudando mais.
— Sei.
Um silêncio se seguiu enquanto ela terminava outra garrafa que havia pedido. Khan com certo interesse o quebrou.
— Então, como andam as coisas da missão?
— Se eu falasse.... Eu teria que te matar.
— Sem falas clássicas de filmes, por favor.
— Sério mesmo que quer falar sobre isso?
— Bom, ou é isso, minha vida ou sobre nós?
— Nós? Que nós?
— Por isso mesmo que não escolhi esse assunto. O "nós" deixou de existir, não é, Mackey?
— Não exagera! Você nunca reclamou antes.
— É porque você sempre esteve por perto, agora foi para longe. – Respondeu ele se inclinando sobre a mesa, o rosto a centímetros do dela, os olhares um dentro do outro.
Uma música agitada, menos que as outras, mas ainda assim tinha uma boa batida, começou a tocar. Primeiramente o vocalista, depois os outros instrumentos entraram. Ela deu um sorriso meio torto e se levantou puxando Khan pela mão.
— Vem, eu quero dançar.
— Agora? Por quê?
— Porque essa música nos descreve exatamente do jeito que somos.
Desceram a escada e foram em direção à pista lotada se misturando aos outros que dançavam ali.
Ela levantou os braços, fechou os olhos e começou a balançar vagarosamente, ele se posicionou à sua frente, o corpo colado ao dela e o olhar intenso.
"Baby, serei seu predador essa noite
Te caçarei, te comerei viva
Como animais, animais, animais
Talvez você pense que pode se esconder
Mas consigo sentir seu cheiro de longe
Como animais, animais, animais"
Sim aquela música os descrevia muito, Khan sentia o cheiro de Mackey de longe. Ela abriu os olhos, levantou para o rosto dele e começou a cantar:
"O que está tentando fazer comigo?
Não conseguimos parar, somos inimigos
Mas nos damos bem quando estou dentro de você..."
Mais algumas batidas adiante Khan também entrou no embalo e cantou de volta:
"Mas não consegue ficar longe de mim
Ainda ouço você fazendo aquele som
Acabando comigo, rolando no chão..."
Mais adiante quando o cantor imitou o uivo de um lobo, Khan em todo o seu atrevimento levantou a cabeça fechou os olhos e por sua vez também imitou um lobo uivando enquanto Mackey continuava a cantar com todo o ar que existia em seus pulmões.
Ele olhou para ela de volta, tentando falar mais alto do que o som da música:
— Vem comigo!
Pegou Mackey pela mão e saíram da boate. Já passava das 04h00min da manhã, e nenhum táxi se encontrava na porta, resolveram ir andando até encontrar um já que não tinham condições de dirigir e muito menos fazer uma ligação. A chuva era torrencial e em segundos ensopara os dois. Mackey tirou os saltos carregando-os nas mãos e cambaleando vez ou outra, amparada por Khan.
— Para onde vamos? – Perguntou ela.
— Para casa.
— Qual?
— O que você acha? – Respondeu ele parando à frente dela.
Mais uma vez os corpos se aproximaram, dessa vez até estar colados um ao outro de forma que pareciam um só. Os olhares que trocavam eram muito mais intensos e diziam mais do que palavras poderiam.
Ela se desviou e continuou seguindo em frente dizendo:
— Eu preciso de um bom banho.
Sem esperar, Khan agarrou o pulso de Mackey e trouxe para perto, colando sua boca na dela com certa urgência. Há quanto tempo não faziam aquilo? Alguns dias talvez, mesmo assim era urgente. A chuva deixava o beijo ainda mais molhado, porém não diminuía o calor dele. A mão livre de Mackey subiu pelo abdômen reto e rígido de Khan, que a apertara com mais força.
Por fim se desprenderam, se continuassem aquilo ia sair do controle, ia fugir totalmente do controle. Ali na rua, embora estivesse deserta, não era o melhor lugar para isso. Por sorte um táxi estava subindo a rua, Khan avistou e deu sinal para parada, o taxista estacionou e abaixou o vidro enquanto Khan perguntava:
— O senhor ainda está de serviço?
— Claro. Para onde vão?
Eles entraram no carro e deram a direção do prédio onde iriam. Durante todo o caminho tiveram que se reprimir, nem mesmo a chuva havia eliminado o calor dos dois. Depois de pagarem o taxista, entraram no prédio onde Khan morava, cumprimentaram o porteiro do turno noturno da melhor forma que puderam, tentando parecer "normais", mas sabiam que suas expressões os entregariam.
Entraram no elevador e assim que ele fechou as portas trocaram olhares novamente, dessa vez nada de se segurar, Khan apertou o botão do andar desejado e ali mesmo atacou Mackey. Entraram no apartamento e a urgência de saciar a fome natural que tinham era maior do que a de se secar ou pelo menos tirar as roupas molhadas. Se bem que isso eles com certeza fariam.
Depois de tudo ficaram deitados olhando para o teto e em silêncio. Mackey suspirou pensando que mais uma vez fugira do controle, aliás, como sempre fugira do controle.
Se levantou e pegou a primeira camisa de Khan que viu para se vestir.
— Aonde vai? – Perguntou ele se apoiando nos cotovelos.
— Fazer um café, minha cabeça está me matando.
— Ah não, fica mais um pouco! Está cedo ainda.
— Khan, já são 07h00min da manhã! Eu ainda preciso ir para minha casa arrumar as coisas. Tenho quatro horas de viagem pela frente.
— Então aproveite o tempo que lhe resta antes de viajar.
Ele fez menção de se levantar, mas ela esticou o braço à frente do corpo levantando o indicador.
— Não! – Respondeu – Você continua deitado, e com.... Tudo isso bem longe de mim. Enquanto não apagar esse fogo seu não saia daí.
— Mas....
— Mas nada, eu estou cansada.
— E desde quando você se cansa....
— Pelo amor de Deus! Não!
— Tudo bem! – Respondeu se deitando novamente na cama, emburrado.
— Melhor assim!
Mais tarde ela se despediu de Khan com um rápido beijo e o deixou ainda deitado.
"Um capítulo para a Mackey relaxar um pouco e se preparar para o que está por vir!! Aguardem! Obrigada pela leitura. Beijos!"
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