Capítulo 14
A semana seguinte foi basicamente para observação, Mackey sabia que estava perdendo tempo, mas precisava de alguma maneira descobrir o que o chefe e a outra secretária segredavam, por isso colocou escutas por todos os lugares que passava, inclusive na sala de monitoramento, nunca se sabe o que até mesmo os seguranças falam. Foi assim que descobriu que eles sempre bebiam café no meio da madrugada, isso poderia ser de alguma utilidade afinal.
Em uma quarta-feira quando voltava do almoço, escutou Galhardo conversando com Iolanda em seu escritório.
— Espero você aqui na segunda, Iolanda. Não se esqueça de que é muito importante que mantenha segredo absoluto sobre isso.
— Mas é claro, pode confiar em mim, senhor.
— Ótimo, vou deixar isso guardado e é melhor que se certifique de que ninguém o descubra.
— Sim, senhor.
O que quer que Galhardo tivesse escondido, ela teria de encontrar e sua oportunidade surgia na noite seguinte, por isso quando foi almoçar na quinta, trocou o açúcar dos seguranças por calmante, era o melhor plano que poderia fazer sem chamar atenção. Qualquer um pode dormir no meio da madrugada.
Ficou de tocaia do lado de fora até ver os seguranças da guarita beberem o café, em questão de minutos caíram no sono, o que significava que os da sala de monitoramento também dormiam tranquilos. Colocou as luvas e prendeu o cabelo em um coque para não desmanchar e depois caminhou para dentro.
Passou sem grande dificuldade pela segurança, entrou na sala de monitoramento e apagou as gravações dos últimos minutos, além de desligar as câmeras e os alarmes.
Rumou direto para a sala de Galhardo e lá começou a revistar tudo o que podia. Computador, gavetas, estante, e até um arquivo com várias pastas. Não achara nada muito exposto o que era de se esperar, então começou a procurar por fundos falsos ou algum cofre ali, ou quem sabe pudesse achar alguma senha de um cofre no banco, era de se esperar que Galhardo fosse bem precavido.
— Eu sabia que você não era quem transparecia. – Soou a voz de Iolanda atrás de Mackey.
Por alguns segundos ela ficou sem reação e continuou de costas para a mulher. Só havia três opções, ou virava Iolanda contra Galhardo, ou prendia ela, ou....
— Tenho certeza que desconfia de qualquer um que pise no território sagrado do seu chefe. – Respondeu se virando.
— Sim, mas se tratando de você eu sempre soube que escondia algo. Só não conseguia descobrir o quê. Agora já sei o que é, você é uma espiã.
— O filhote de ser humano descobriu o fogo. – Ironizou.
— Quem foi que te mandou aqui? Algum concorrente? Você trabalha para a Franz?
— Por que não? Vocês têm um agente lá dentro.
— A única diferença, Aurora.... É esse mesmo o seu nome? Claro que não! A única diferença é que ele não foi descuidado. – Disse a mulher puxando o canivete.
"Que merda, eu não queria usar a arma. Mas não acredito que seja necessário" pensou Mackey.
— Vai se arrepender de ter atravessado o nosso caminho.
— Nosso caminho? Por favor, Iolanda! Você não passa de um cachorrinho obediente do Galhardo. – Disse Mackey logo depois imitando um latido.
— Me chamou de quê?
— Isso que escutou. Você sempre esteve ao lado dele, fazendo de tudo, sendo solícita.... Sempre fora apaixonada por ele....
— Eu não....
— E o que recebeu em troca? Só um salário. E era isso o que queria?
— Cala a boca! – Gritou a mulher avançando com o canivete em direção à Mackey.
— Você sabe que é verdade. E ainda vai continuar apoiando-o?
Mackey se desviou a tempo e tentou tomar a arma da mão da mulher, mas ela foi mais rápida e puxou a mão enquanto com a outra acertava o rosto da agente.
O golpe surpreendeu Mackey que reagiu com outro golpe, a mulher continuou investindo com muita precisão nos golpes e na fúria.
"Tudo bem, ela não vai se virar contra ele, prendê-la vai ser difícil, ela sabe lutar bem, além disso, ela já me irritou o suficiente, então acho que vai ser a terceira opção".
Levou a mão ao coldre, mas Iolanda acertou sua mão fazendo a arma voar longe. Mackey revidou com outro soco que jogou a oponente no chão e correu para pegar arma, Iolanda agarrou seu tornozelo a derrubando e ela reagiu com um chute.
Mais uma vez Iolanda pulou em cima da agente e a enforcou com o braço, Mackey acertou o cotovelo nas costelas da oponente duas vezes até se soltar, se levantou, virou e acertou o plexo solar da mulher que já estava de pé também. Iolanda investiu uma vez mais com o braço procurando acertar o abdome de Mackey, mas esta deu um salto para trás, então Iolanda recuou a mão e rasgou a camiseta e a pele da barriga da agente.
Mackey soltou um gritou abafado e chutou a faca para longe, tentou correr para pega-la, mas foi derrubada por Iolanda que caía por cima dela, se esticou, mas não conseguiu alcançar a faca. Por fim jogou a cabeça para trás e acertou o nariz da outra, se levantou pegou a faca. Iolanda tentou atacar com um peso de papel, mas Mackey foi certeira, com um passo estava colada à mulher encarando-a com os olhos cinzas inexpressivos, enquanto a outra sufocava um grito e arregalava os olhos até quase saltarem das órbitas.
Quando se afastou viu a faca cravada no peito que jorrava sangue, não teve outra reação a não ser cair em agonia no chão.
— É bom sabermos com quem lidamos. – Falou Mackey ironicamente.
A mulher desmoronou de vez com os olhos ainda esbugalhados. Mackey não se importou muito com isso, continuou procurando por seja lá o que for que Galhardo havia escondido. Por fim, achou a agenda que Iolanda sempre levava de um lado para o outro da fábrica, e ainda mantinha como se fosse um tesouro.
Abriu e procurou pelo mês que estavam – maio – e a semana também. Havia dois compromissos, um na noite seguinte, sexta, e outro na segunda-feira como havia mencionado, o compromisso tinha o nome de "O evento do ano", porém não tinha horário marcado, e a intuição de Mackey dizia que esse "evento" não seria nada bom.
No entanto o compromisso de sexta chamou sua atenção. Estava marcado como "Conversa com Pietra", o nome riscado e substituído por um outro que era impossível ler.
"Pietra? Eu sabia que havia algo ali. Com certeza irá se encontrar com o novo dono do negócio. Preciso descobrir onde vai ser esse encontro".
Não encontrou mais nada de interessante que pudesse ajudar. Então decidiu que já era hora de sair dali, se certificou de que a outra secretária estava realmente morta, colocou os dedos na jugular, mas não sentiu nenhuma pulsação ali. Por fim, fechou os olhos da falecida e partiu.
Chegou no pequeno apartamento e foi tratar do ferimento, tirou a camisa e entrou embaixo do chuveiro, o corte ardeu em contato com a água quente e apesar do golpe no rosto, nenhuma marca ficara ali. Pegou os primeiros socorros e passou uma pomada, o corte não havia sido fundo então não precisaria de sutura. Constatou que depois de tudo deveria entrar em contato com Augusto como sempre fazia durante toda a sua estadia ali, mas dessa vez ela precisava vê-lo pessoalmente, aquilo já estava ficando pesado demais.
Deitou e tentou relaxar, imaginou como seria chegar no "serviço" e se deparar com o cenário de horror que ela mesma havia construído. Ela teria de usar um pouco da sua habilidade de atriz.
Durante a noite teve alguns sonhos estranhos, ela estava deitada em uma cama de hospital, a visão estava embaçada, mas ela sabia que havia alguém a seu lado. Moveu a cabeça para a direita e encarou aquela silhueta estranha que começou a conversar com ela:
— Mackey, consegue me entender?
Mas ela não tinha força alguma para responder, todo seu corpo parecia amortecido e até mesmo respirar estava difícil.
— Jamais deveria ter admitido que fizessem isso com você. - Continuou a pessoa.
— Não se preocupe, ela se recuperará bem. - Disse uma segunda pessoa que entrara no quarto.
— Bem? Olha o estado que ela está!
— Se acalme, Augusto. Ninguém nunca reagiu da mesma forma que ela está reagindo. Será um sucesso!
Então era Augusto que estava ali, mas a segunda pessoa, que ela identificou sendo um homem, estava irreconhecível.
Logo a visão terminou de escurecer e tudo se tornou um grande escuro vazio.
Mackey acordou um pouco incomodada com o sonho, tinha sido estranho demais, e aquela sensação horrível de já ter vivido aquilo a fazia ficar mais pensativa ainda. Mas resolveu deixar o assunto de lado e voltou a dormir.
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