Capítulo 11
Ficou confinada no quarto o domingo todo, apenas comendo besteira e estudando, tirou um tempo para pesquisar sobre a empresa, sabia que ter conhecimento de sua história era de suma importância e poderia gerar uma vantagem sobre os outros candidatos. Talvez eles fizessem o mesmo, mas ela tinha uma carta na manga. Aquele emprego era seu e ponto final.
No fim da tarde resolveu sair para caminhar pelo bairro, sua memória era boa e ela sabia exatamente de onde tinha vindo e para onde deveria voltar, passando apenas uma vez pelo lugar. Como se na sua cabeça houvesse um mapa sendo traçado. Voltou para a pensão quando já estava escuro e novamente teve de enfrentar uma fila para usar o banheiro. Depois de tudo arrumou suas coisas, roupas, sapato, um currículo que havia levado por precaução e uma escuta que colocaria na própria roupa, assim tudo o que acontecesse na entrevista poderia ser ouvido por Augusto ou algum analista. Deitou-se na cama, mas demorou para pegar no sono, o maior desafio por incrível que pareça, não era espionar Henrique Galhardo, mas sim entrar em sua empresa. Esses empresários costumam ser exigentes, portanto deveria impressioná-lo da melhor maneira possível.
Levantou-se o mais cedo que pode para poder usar o banheiro primeiro, e deu sorte de certa forma, o chuveiro novamente demorou a esquentar, mas ela já estava se acostumando com isso. Saiu e colocou a roupa que sinceramente achou que a deixou ridícula, prendeu os cabelos e fez a melhor maquiagem que pode, no fim nem parecia que tinha levado uma surra dois dias atrás. No entanto a marca no tornozelo ainda persistia e para esconder ela escolheu uma sandália de tiras largas que ajudou e muito. Colocou os óculos de grau - que na verdade não possuía grau algum - a escuta por dentro da saia e saiu apressada. Pediu um táxi e enquanto esperava aproveitou para mandar mensagem para a agência avisando que estava a caminho do local. A entrevista era às 10h00min, então estava na hora certa, por mais que não gostasse de ingleses, possuía a pontualidade de um.
O lugar era um pouco afastado da cidade, ao redor se podia ver as várias árvores ali plantadas, uma estrada de cascalho se abria entre aquela mata e uns 300 metros adiante ficava a fábrica. Eram dois galpões, um ao lado do outro, no maior podia-se notar que ficava a produção, no outro, no entanto, não se podia ter certeza do que era. Adentrou em uma pequena porta do maior e se deparou com algo totalmente diferente do que era do lado de fora, a sala era tão branca que quase chegava a brilhar, um balcão com uma atendente ficava logo à frente, duas pequenas árvores decoravam o lugar e uma estátua de mármore se erguia imponente. Não teve muito tempo para ficar observando tudo porque uma mulher baixa de cabelos castanhos chamou sua atenção:
- Com licença, você veio para a entrevista?
- Ah, sim. Onde eu posso encontrar o senhor Galhardo?
- Venha comigo, por favor - Respondeu meio ríspida entrando no elevador, para logo depois consultar o tablet em sua mão - Suponho que seja Aurora.
- Sim, sou eu.
- Só faltava você chegar. Todos já estão aqui.
- Mas... Eu estou adiantada.
- Estar adiantada não é o suficiente, garota.
Elas saíram do elevador e se dirigiram a uma pequena sala no fim do corredor acarpetado e pintado de cinza. Impressionante, logo na entrevista ela já falhava. Quem poderia culpa-la? Nunca estivera em uma! Como ia adivinhar que os outros chegariam tão cedo quando ela mesma estava uma hora adiantada?
A antessala era pequena, pintada de creme com um pequeno sofá vermelho e uma mesa de madeira maciça onde provavelmente a secretária sentaria.
- Bom dia, como sabem quem vai entrevistar vocês, é o próprio Sr. Galhardo. Então peço que aguardem até que ele chegue. - Avisou a mulher.
Demorou até que o patrão chegasse, e Mackey se distraiu lendo o jornal do dia que estava em cima de uma pequena mesinha de centro, enquanto esperava.
Uma notícia em especial lhe chamou atenção. A Franz Indústrias químicas iria promover um grande evento em dois meses, era aberto ao público e direcionado para os estudantes. Aquilo era bem interessante, Mackey gostava muito de química, era uma boa oportunidade de incentivar os mais jovens a estudar. Talvez isso colocaria mais juízo na cabeça deles, mais juízo do que ela teve ao aceitar entrar para a A. N. I. I, depois que fez aquela besteira, sua vida passou a ser uma teia de mentiras e risco de vida, e o pior de tudo é que ela gostava disso, gostava e não conseguia ficar longe do perigo.
Henrique Galhardo chegou e logo deu início às entrevistas, e como ela fora a última a chegar consequentemente ficou por último. Já passava do meio dia quando entrou em sua sala, era cinza com uma grande mesa em tom escuro de marrom. A cadeira de encosto alto era de couro preto e o computador parecia ser o último lançamento, atrás da mesa ficava a janela virada para o telhado do outro galpão, alguém poderia muito bem sair por ali.
- Sente-se. - Ordenou o ruivo em sua cadeira.
Mackey obedeceu e colocou um sorriso forçado no rosto.
- Bom dia! - Disse ela.
- Muito bem. - Começou o homem em seu tom grave - Seu currículo é muito bom, senhorita Aurora.
- Obrigada.
- É de família inglesa?
- Sim. Eu sou.
"Mentira".
- Seus pais vêm de lá?
- Ah, não. Meus avós são da Inglaterra.
"Mentira".
- Bom. Há quanto tempo está formada? - Disse ele voltando para o currículo nas mãos.
- Há três anos.
"Mentira!".
- Já trabalhou em alguma empresa antes?
- Sim. Mas não era de grande porte como esta.
Ele ergueu somente os olhos a fim de encará-la por um momento.
- E acha que consegue trabalhar e dar conta do serviço daqui?
- Sem dúvida alguma.
"Isso é verdade".
- É confiante. Gostei disso. Aqui diz que você tem inglês fluente, fala mais alguma outra língua?
Mackey ponderou por alguns segundos, só havia o inglês em seu currículo, mas ela sabia falar muito mais do que apenas aquele idioma, e poderia usar isso a seu favor, essa era a sua carta na manga. Bom, Augusto disse para conseguir esse emprego a qualquer custo, então.... Por que não?
- Sei.
- Quais?
- Qual o senhor deseja?
Dessa vez ele levantou a cabeça encarando-a com curiosidade, uma sobrancelha elevada e aquela cicatriz no lado esquerdo franzindo de leve.
- Me diga quais sabe falar.
- Espanhol, Alemão, Francês, Italiano e Russo.
- Está falando sério?
- Pergunte alguma coisa que provo para o senhor.
- Uma qualità? (Uma qualidade?) - Perguntou em italiano.
- Sono efficiente. (Sou eficiente).
- Ein Fehler? (Um defeito?) - Alemão.
- Ich habe es eilig, die Dinge zu ordnen. (Tenho pressa de resolver as coisas).
- ¿Y si no sabes algo? (E se não sabe algo?) - Espanhol.
- Aprendo fácil.
- Вы готовы ко всему? (Vy gotovy ko vsemu? -Você está pronta para qualquer coisa?) - Russo.
- все (vse -Tudo).
Vendo aquele olhar do empresário, algo entre admiração ou perplexidade, Mackey se sentiu satisfeita consigo mesma e não conseguiu esconder um sorriso. Por fim, viu que ele se deteve um pouco em seu decote, por mais comportado que fosse o homem parecia não se importar. Em seu treinamento ela havia aprendido que deveria usar de toda e qualquer forma ou arma para conseguir alcançar seu objetivo, então aquela era uma brecha que ela deveria aproveitar. Cruzou as pernas uma em cima da outra e inclinou-se levemente pare frente. Encarando-o com intensidade.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top