Capítulo XXIII

O inquérito sobre o naufrágio havia iniciado no dia 19 de abril de 1912, sob a presidência do Senador William Smith, foram ouvidas 82 pessoas. Entre eles, os oficiais: Lowe, Lightoller, Boxhall e Pitman e além deles, o telegrafista Bride. Sydney traumatizado recorda-se de Phillips e contém as lágrimas, pois sente saudades do amigo que conhecera a bordo do Titanic. Enquanto isso, um repórter do New York Herald, desgostoso com William Sloper, publica que ele conseguiu salvar-se porque se vestiu de mulher. Não é verdade, mas o corretor passará o resto de seus dias a defender-se da vil calúnia. Enquanto isso, naquele dia no cais da White Star Line, os funcionários trabalham afanosamente nos botes resgatados, lixando o nome Titanic. No dia 21 de abril, a White Star Line freta o SS Minia, da Anglo- American Telegraph Co., para o resgate dos corpos, onde ajudará o Mackay-Bennett no resgate de corpos. Enquanto isso, em Nova Iorque, os gêmeos estão eufóricos pela estreia de Simbad no próximo dia, algo que eles esperam desde o começo do mês.

— Por incrível que pareça, eu ainda não acredito que Simbad vai estrear amanhã aqui na América! — Comentou Cole com os seus sapatos brilhante que ganhara dias antes numa doação. — Papai deve está muito feliz por isso!

Connor e Anne sorriram.

— Sim, ele deve está! — Anne sorriu ao olhar para os gêmeos. — Enfim, espero que não ocorra nada de ruim amanhã!

Phillip e Dean estranharam.

— Nada ruim? — Connor indagou confuso. — O que você quer dizer com isso, Anne?

Laura ficou sem saída. Eles não podiam saber que Dylan estava vivo e que estava atrás deles.

— Bom... E-eu digo assim... Q-que não ocorra nada de ruim do tipo de chover amanhã! — ela disse e eles assentiam. — Porque nós podemos chegarmos encharcados ao cinema!

— Entendi! — Connor disse dobrando o velho smoking que também ganhou numa doação. — Eu estava pensando que era outra coisa!

Laura estranhou e franziu o cenho.

— Outra coisa... Tipo?

— Dylan atrás da gente! — Ele gargalhou e Anne ficou nervosa. — Mas todos nós sabemos que aquele miserável morreu no Titanic, então, estamos em paz agora!

Anne assentiu nervosa. Porém, mal sabia os gêmeos que Harris estava vivo e que já sabia onde eles estavam hospedados, mas, não sabiam quando, onde e em que horário ele iria atacar. E que não demoraria muito.

As horas se passaram rapidamente e finalmente chegou o dia 22 de abril de 1912, o dia da estreia de Simbad, o Marujo nas Bahamas, e quando a noite caiu, uma gigantesca fila formou-se no quarteirão onde ficava o cinema. Várias pessoas novaiorquinas estavam lá presentes, entre elas, Dorothy Chambers, Daphne Byrne e Isabella Moody estavam na fila, mas saíram quando foram chamadas para serem os convidados especiais dos Peterson. Às 20hrs, chega no cinema, Anne e os gêmeos e lá são recebidos por repórteres e fãs do Simbad. Anne estava feliz por ver o sonho do seu pai se tornando realidade, mas ela estava de fato deslumbrante, na qual vestia um vestido de cor azul claro e tinha alguns detalhes brancos nele, além de uma tiara e de um colar. Já os seus irmãos vestiam smoking preto e usavam reluzentes sapatos pretos. Eles adentraram no cinema e encontraram-se com Dorothy, Daphne e a pequena Isabella, que cumprimentou gentilmente os amigos da senhorita Chambers. Os mesmos ocuparam a primeira fileira e quando todos daquela sessão estavam dentro do cinema, não demorou muito e logo o logotipo com o personagem Simbad se mostrou e nele estava escrito: “Peterson Animations & Company presents” e logo em seguida, o título do filme apareceu e todos aplaudiram e vibraram.

Os irmãos se entreolharam com belos sorrisos estampados no rosto, pois sabiam que aquela conquista era fundamental para a história da Peterson Animations. Depois de mais de uma hora assistindo o filme – que finalmente havia sido encerrado –, os irmãos encontraram-se do lado de fora do cinema e lá deram entrevistas para diversos jornais e tablóides daquela época. Nunca algo tão majestoso e belo havia sido exibido naquele cinema, pois Simbad atraiu uma imensa multidão que nunca Leslie havia visto em toda a história do seu cinema. Tanto que a animação da Peterson foi escalada para a próxima sessão de exibições. Depois que tudo acabou, os irmãos decidiram ir andando para o hotel onde arrumariam as suas coisas e partiram no dia 27 de abril, a bordo do SS Bornsville, da Chambers Line.

Não se passava das 23h20min, quando eles caminhavam perto do cais da North German Lloyd. A rua estava deserta e fria, Anne sentiu a sensação de estar sendo observada, mas relevou e seguiu caminhando, mas tudo ficou pior quando algo mexeu atrás de uma lata de lixo. Porém, poderia ser um rato ou um gato de rua. Então, eles seguiram andando calmamente pela calçada, enquanto observavam a lua e os navios partindo e chegando pelo rio Hudson. Mas, tudo piorou quando alguém agarrou Cole e colocou uma pistola na cabeça do rapaz. Anne ficou assustada e Connor ficou sem ação. Eles ainda não estavam raciocinando nada, porém, quando reconheceram a voz eles puderam perceber que aquilo não era nenhuma brincadeira e sim era coisa séria. Era ele. Dylan Chester Harris. O mesmo que vem ameaçando os irmãos desde quando fora despedido da companhia deles. Dean queria e tentou fugir, mas Dylan era forte demais e o impedia de escapar.

— Solte ele, Dylan! — Connor ordenou aproximando-se do homem. — Por favor, não o machuque e solte-o!

Dylan afastou mais um pouco segurando Cole e apontou a arma para os dois irmãos.

— Parados bem aí! — ele os ameaçou. — Mais um passo e eu estouro os miolos dele!

Cole ficou em silêncio, porém, o seu semblante mostrava que ele estava em um perfeito caos. Anne não soube o que dizer e apenas obedeceu Harris.

— O que você quer, Dylan? — Phillip indagou confuso. — Porque não nos deixa em paz? Porque não some das nossas vidas?

Chester olhou para eles e soltou um sorriso maléfico.

— Achas que eu sumirei assim tão fácil? Desde que fui demitido, eu nunca mais consegui arranjar um emprego! — ele disse em um tom de ódio. — Tudo por causa de vocês, que me exporão no jornal e depois disso, ninguém mais quis me contratar!

Connor e Anne entreolharam-se preocupado e não disseram nada. Porém, Phillip deu um passo a frente.

— Afaste-se, Connor! — Dylan apontou a arma para ele e depois para Dean. — Ou o Cole não verá o amanhecer!

O mais velho dos gêmeos não sabia mais o que fazer, se aproximasse, mataria o seu irmão mais novo e se afastasse, estaria dando espaço para Dylan fugir. Eles estavam em apuros.

— Por favor, solte-o, Harris! — Anne disse depois de algumas horas em silêncio. — E ninguém aqui vai sair machucado!

O ex-desenhista da Peterson, olhou com indignação para Anne.

— Vá pra o inferno, sua maldita!

— Primeiro você vai e depois quem sabe, eu também irei!

Depois disso, ele enfureceu-se e apontou a arma para Anne. Tanto que colocou o dedo no gatilho, porém, não sabe-se o que houve, mas dois tiros foram ouvidos por eles e Dylan começou a perder as forças, tanto que soltou Cole e a arma que estava em suas armas. Ele ficou cada vez mais fraco e um último tiro foi ouvido, em seguida, o mesmo caiu de bruços no chão gelado, sujo e cheio de pedrinhas da calçada novaiorquina. Aquele poderia ou não, ser o fim de Dylan Chester Harris. Mas, os irmãos ficaram maravilhados quando avistaram Dorothy Chambers e um homem que estava com uma arma na mão. Edwina olhou para os gêmeos e depois para o homem.

— Muito obrigada pela ajuda, Will!

O rapaz guardou a arma na cintura.

— Não há de quê, Edwina! — Respondeu William Fuller, um grande amigo de Dorothy. — Estarei a disposição de qualquer favor que seja seu!

Dorothy assentiu. Em seguida, ela decidiu aproximar-se dos irmãos.

— Estão todos bem?

— Sim, estamos! — Anne respondeu em lágrimas. — Muito obrigada Dorothy por nos salvar, e eu não sei nem como lhe agradecer direito!

Dorothy sorriu.

— Não precisa me agradecer! — Ela disse e em seguida, foi abraçada pelos irmãos. — Mas, creio que agora ele não irá mais infernizar ninguém!

Em seguida, Connor aproximou-se do corpo de Dylan, que estava deitado de bruços e com os olhos arregalados. Phillip abaixou-se e com as mãos fechou os olhos de Harris, depois, com a ajuda de Will, eles o colocaram deitado sobre a calçada do píer da North German Lloyd. Depois, eles o cobriram com um lençol branco que roubaram de um varal de um edifício ali perto. Mais tarde, eles seguiram para os seus hotéis. Porém, naquela noite, Phillips visitou os sonhos de Anne e mais uma vez ela pôde senti-lo novamente bem pertinho.


“Ela estava caminhando sobre um jardim florido, onde nele tinha margaridas, orquídeas, rosas brancas e vermelhas e diversas outras flores. O vento batia suavemente contra o seu rosto, e fazia os seus cabelos castanhos esvoaçarem e se bagunçarem com o vento. Porém, tudo ficou mágico quando Anne avistou ele, correndo em sua direção, com um belo sorriso no rosto e com os braços apertos – em sinal de que queria abraça-la – e assim se fez quando ele chegou. Sim, ele. John George Phillips. Estava de volta e abraçando ela, depois, selando um beijo doce e calmo em sua boca. Depois, eles se separaram e entreolharam-se apaixonados.

— Eu sinto a sua falta, Anne! — Ele disse meio tristonho. — Eu não sei se conseguirei viver sem você! .

Laura passou a mão nos cabelos castanhos do mesmo e sorriu carinhosamente para ele.

— A vida é feita de coisas difíceis e ruins de se superar, Jack! — ela olhou no fundo dos olhos dele. — Mas, não importa como, eu sempre lhe amarei e nunca lhe esquecerei!

John a olhou preocupado.

— Promete?

Ela sorriu carinhosamente mais uma vez.

— Eu prometo!

Ele sorriu e em seguida, eles selaram os seus lábios e formaram um beijo doce, calmo e cheio de saudade. Porém, Phillips acabou desaparecendo suavemente com o vento e deixando Anne sem nenhuma explicação. Jack se foi pelo ar e deixou Laura sozinha para todo o sempre!”


Anne acordou bruscamente da cama e sentou-se nela, estava ofegante e suava bastante. Passou a mão direita na testa e retirou um pouco do suor, em seguida, olhou para o relógio numa pequena cômoda ao lado de sua cama, no qual marcava 02h20min. Hora exata em que o Titanic havia desaparecido da superfície do Atlântico Norte. Ela deitou-se na cama novamente e encostou a cabeça no travesseiro, em seguida, começou a chorar e a chamar por Phillips, que sempre desaparecia e a deixava sem respostas e sem um último “adeus”. Ele nunca foi esquecido por ela, quem o chama de “querido”, “herói” e “meu amor”. Foi apenas alguns beijos, que pareciam ser inúmeros beijos. Foi apenas algumas horas, que aparentavam ser dias e dias sem fim. Laura chorou e chorou por ele, até que finalmente adormeceu em sua cama quentinha e confortável, porém, com a lembrança de Jack em sua mente.

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