Capítulo XXII

Passou-se o dia 19 de abril de 1912 e logo a noite caiu sobre a cidade americana de Nova Iorque, fazendo as ruas ficaram iluminadas e alguns moradores se recolherem em seus apartamentos e casas. Entre esses, estavam os Petersons, que estavam hospedados no hotel que ficava de frente para o cais da Compagnie Générale Transatlantique, ou mais conhecida como French Line. Onde o seu quarto tinha uma varanda que dava vista ao rio Hudson, onde navios e barcos partiam e chegavam. Às 22h50min, Anne encontrava-se a observar o céu e a rua da cidade, onde vestia uma camisola branca e mantinha as luzes do seu quarto apagadas, mas, ao olhar para o céu, avistou a estrela da magia, na qual fazia ela ver Phillips toda vez que fechava os olhos. Porém, ela sentiu saudades dele. Do abraço, do beijo, do toque, do sorriso, da voz e do cheiro dele, em que todos esses eram únicos para ela. Desde quando ele faleceu, a visita dele nos sonhos dela tem acontecido com bastante frequência. As vezes, nos sonhos dela, ele falava com ele e em outras vezes, sorria ou apenas aparecia indo embora de costas.

Mas na noite anterior foi diferente, ele não apareceu e isso não trouxe nenhuma preocupação para ela. Porém, durante a tarde, a voz dele chamando pelo nome dela foi ouvida dentro do quarto no momento em que ela estava no banheiro. Anne estava ficando enlouquecida por causa de Phillips. Mas, ela o conhecia bem pouco, porém, decidiu que se ele voltasse em seu sonho, ela falaria com ele e o pediria para parar de aparecer durante o dia. E às 23h40min daquela mesma noite, ela ainda estava presente na varanda do seu quarto, observando as estrelas e quando olhou para a estrela que brilhava no alto do céu, ela fechou os olhos e mais uma vez a mágica aconteceu, ele, Jack Phillips, estava lá sorrindo. Porém, ele desapareceu quando a mesma abriu os olhos e procurou mais uma vez pelo rapaz, que não estava lá. Anne ainda não havia superado a morte de Jack e em quase todas as noites, chorava pela perda dele. Ela queria que o mesmo voltasse, mas isso era impossível. E ali, naquela varanda, ela chorou pela morte dele e ao olhar para a estrela, chorou mais ainda.

— Ouça querido, mandei o vento dizer... — Ela fechou os olhos, enquanto algumas lágrimas caíam dos mesmos e fez uma pausa. — O quanto eu amo você!

E depois daquilo, o corpo dela estremeceu e sentiu calafrios, como se ele estivesse por ali ou ao lado dela. Porém, ela não o via. Laura ainda sofria por ele e chegou até mesmo a cogitar suicídio, mas lembrou-se de Simbad, dos seus irmãos e do seu próprio pai que morrera atropelado em sua frente e que lhe dera a companhia para ela. Portanto, não podia desistir e nem quebrar a promessa que fizera a ele. Então, ela decidiu continuar com a sua vida.

Passou-se a madrugada e logo amanheceu o dia 20 de Abril de 1912, onde na cidade de Nova Iorque, nasceu o sol belo e maravilhoso e iluminando toda a cidade americana. Mas, alguém ainda encontrava-se deitada em sua cama, enrolada com diversos cobertores. Sim, era ela. Anne Laura Peterson. A herdeira e presidente da Peterson Animations & Company. Que logo despertou do seu sono e observou os primeiros raios de sol iluminarem o quarto, depois, olhou para a janela e admirou-se com alguns passarinhos cantando no corrimão da varanda. Com um sorriso fraco, sentou-se na beirada da cama e esfregou os olhos, depois levantou-se e saiu da cama, espreguiçou-se e caminhou por alguns metros até ver um cartão branco perto da porta. Ela franziu o cenho e abaixou-se pegando o papel – que por sinal estava dobrado como se fosse um bilhete ou carta. Ela abriu o mesmo e começou a ler o que nele estava escrito:

“Pensas que eu morri no Titanic, mas estás muito enganada. Aviso-lhe que eu estou de volta e não terá nada que possa me parar!”

Logo após ler aquelas palavras, os olhos dela ficaram arregalados e ela não acreditava no que havia lido. Mas, a mesma ficou confusa por causa daquilo. “Quem pode ser?” essa foi a primeira questão que veio em sua mente. Porém, quando recordou-se quem era o homem que lhe mandou aquilo, acabou levando um grande susto e quase desabou ao chão.

— Dylan!

Os olhos dela estavam arregalados e a mesma ainda não acreditava que ele estava vivo. Anne pensavas que Dylan havia morrido e que o seu corpo fora perdido, mas não, ele sobreviveu. Para o terror da família Peterson começar. Tudo aquilo aparentava ser um perfeito pesadelo, mas infelizmente, era real.

Mais tarde naquele dia, Anne e seus irmãos deixaram o hotel Buena Vista e seguiram com a lata do filme de Simbad escondida debaixo do braço, ainda por baixo do sobretudo preto que a mesma vestia. Laura ainda não havia contado a Cole e Connor sobre Dylan, mas também tentou não esboçar nenhuma reação de medo ou receio. Mas Phillip estranhou o modo dela está muito quieta, algo que era quase comum, mas não para Connor. Porém, o rapaz decidiu guardar essa suspeita para si. Eles seguiram calmamente pelas ruas novaiorquinas, enquanto o sol brilhava no alto do céu e o vento suave e fresco vinha do norte. Mas a caminhada foi parada quando avistaram uma loja de doces e eles resolveram parar. Os irmãos ficaram encantados com a vitrine da loja, que guardava diversos doces de todas as cores, tamanhos e formas. Então, eles adentraram na loja e foram bem atendidos.

— Bom dia, o que vocês desejam?

Anne olhou para a vitrine cheia de doces.

— Eu vou querer três caramelo! — Ela respondeu não tirando os olhos de uma pequenina bengala de caramelo. — E eles vão querer dois alcaçuz!

O homem do outro lado da vitrine assentiu, pegou os três doces e entregou para a moça num saco de papel marrom. Ela pagou e eles se afastaram. Antes de sair da loja, eles já estavam com os doces na boca e saboreando os mesmos. Em seguida, saíram da loja e seguiram calmamente pela calçada. Porém, do outro lado da rua, um casal estava passando e conversando, mas quando Connor olhou para a moça, as mãos dele ficaram frias e ele estremeceu-se dos pés a cabeça. Era ela. Mabel Swire. Caminhando calmamente acompanhada de um rapaz de cabelos castanhos, magro e meio alto, ele meio parecido com Connor. Mas tudo piorou quando ela olhou para ele e ambos se encararam sem dizer nada, Phillip não acreditava que ela havia se encontrado com Alfie. E que nem ele tinha vindo para encontrar-se com ela. Aquilo tudo que ele viu, fez com que o coração do rapaz doesse bastante, a ponto de fazer ele segurar o choro tampando a boca com a mão direita. Depois, ela sumiu em meio as pessoas na rua. Eles nunca mais viram e nem se falaram. Tanto que Connor não soube de mais nada sobre ela. Mas sabe-se que Mabel ficou grávida de Alfie em 1916, mas o filho acabou morrendo de meningite aos dez meses de idade, porém, no ano seguinte, ela perdeu o seu marido, quando o mesmo morreu baleado no conflito da Primeira Guerra Mundial. Ela viveu depressiva pelos anos da década que se passou, na qual contraiu pneumonia no final de 1919, mas morreu em maio de 1920, após definhar-se numa cama por vítima da tuberculose.

Os irmãos seguiram o seu caminho rumo ao cinema de Leslie Mason, considerado um dos maiores cinemas de Nova York. O cinema ficava há menos de quatro quarteirões da loja de doces, então, os irmãos teriam que caminhar bastante até chegarem lá. Enquanto isso, eles conversavam sobre diversas coisas e até mesmo soltavam altas risadas no meio da rua, fazendo algumas pessoas ricas olharem incrédulas para aqueles irmãos, que vestiam roupas doadas e aparentavam ser de terceira classe, mas não eram. Eles aparentavam serem pobres e que passavam fome, mas estavam felizes, mesmo estando no fundo do poço ou no fim do mundo. Quando finalmente avistaram o cinema, eles apressaram mais os passos e logo chegaram na portaria. Em silêncio, olharam para cima e avistaram o letreiro do cinema.

— É aqui... Chegamos! — Disse Anne olhando agora para a bilheteria do cinema. — Então, vamos fazer Simbad ser visto por toda América?

Os gêmeos sorriram e olharam pra ela.

— Vamos!

Laura sorriu. Em seguida, eles subiram os degraus que levavam a portaria do cinema. Chegaram na bilheteria, onde havia um rapaz e que estava lendo um livro, que estavam tão interessante que ele nem percebeu que do lado de fora do vidro, havia três irmãos inquietos de ansiedade.

— Bom dia!

— O que desejam? — Perguntou o rapaz sem tirar os olhos do livro.

— Queremos falar com o senhor Leslie Mason! — Anne respondeu e o rapaz continuou lendo o livro. — Temos algo pra apresentar a ele!

O rapaz continuou lendo o livro.

— Vocês são desenhistas?

— Não! Somos distribuidores da Peterson Animations! — Respondeu Connor e o rapaz continuou lendo o livro, porém, ele decidiu olhar para os irmãos.

— Vocês são distribuidores daquele desenho do marujo?

— Sim, somos! — Cole respondeu. — Porque?

O rapaz que estava lendo o livro sorriu.

— Aquele marujo é considerado um dos melhores desenhos já exibidos aqui! — ele disse e os irmãos alegraram-se. — Tanto, que na parede da fama, tem um quadro exclusivo com o desenho do marujo!

Os irmãos Peterson sorriram mais ainda.

— Muito bem, eu vou chamar o senhor Mason! — ele levantou-se da cadeira. — Eu não demorarei muito!

Anne assentiu. O rapaz saiu da cabine e seguiu até a sala do presidente do cinema. Enquanto isso, os irmãos pulavam de alegria e felicidade. Seria aquela a oportunidade de fazer a Peterson brilhar novamente? A resposta não demorou muito quando as portas principais do cinema foram abertas e delas, surgiu o rapaz do livro e Leslie Mason.

— São eles, senhor... Os distribuidores daquele desenho!

O senhor Mason olhou para eles e soltou fumaça do seu charuto. Ele os encarou dos pés a cabeça. Porém, os seus olhos bateram certos na lata de filme que estava nas mãos de Anne e nela estava escrito: “Simbad, o Marujo Nas Bahamas” e então, ele sorriu.

— Vocês são responsáveis por esse desenho?

Anne assentiu em silêncio. Enquanto isso, Mason olhou bem para Anne e aparentava que ele a conhecia de algum lugar.

— Espere, você se chama Anne Laura Peterson? — ele indagou olhando para os três. — E vocês se chamam Connor Phillip e Cole Dean, não é mesmo?

— Sim! — responderam os três.

Leslie sorriu de orelha a orelha.

— Meu Deus! Olha só como vocês cresceram! — disse o presidente sorrindo. — Há quanto tempo eu não os via? Venham comigo!

O presidente seguiu entrando no cinema e foi acompanhado pelos irmãos. Porém, enquanto seguiam em direção a sala do presidente, eles observavam as paredes que portavam quadros e do lado direito tinha as melhores animações da casa, entre elas, Simbad e do lado esquerdo do corredor, tinha os quadros com as fotos dos presidentes das animadoras e donos daqueles desenhos. Entre esses presidentes, encontravam Albert Peterson. A foto dele era uma das melhores que estava lá, onde nela, Alber apresentava o seu melhor sorriso para as câmeras. Anne olhou para a foto e bateu continência e sorriu para o seu pai. Em seguida, eles prosseguiram.  Quando os irmãos chegaram na porta da sala de Leslie, Anne fez sinal para que os gêmeos esperassem lá e assim eles fizeram. Ela entrou primeiro e Mason entrou logo depois, em seguida, fechando a porta. Laura sentou-se numa cadeira de frente pra mesa do presidente e ele sentou atrás da mesa em sua cadeira.

— Por onde Simbad andou? — Perguntou Leslie com um grande sorriso. — Há quanto tempo eu não via mais a risada desde marujo travesso!

Anne sorriu e olhou para a lata em suas pernas.

— Ele esteve sempre comigo, desde quando foi criado até a morte de meu pai! — ela disse com um sorriso fraco no rosto e ainda olhando pra lata. — Apesar da companhia quase falir, nós sempre estivemos lutando junto com ele!

Ela olhou para Leslie, que também sorriu.

— Seu pai foi um grande homem, ainda mais por criar um personagem tão amável pela América! — Leslie soltou a fumaça do seu charuto. — Mas enfim, vamos fazer esse marujo voltar para as telonas?

Anne sorriu orgulhosamente.

— Vamos, senhor Mason... Vamos sim!

O presidente sorriu.

Depois de quase três horas de conversa, Anne finalmente foi liberada e quando saiu da sala foi recebida com olhares e perguntas receosas. Ela olhou para os gêmeos e em seguida sorriu, simbolizando de que tudo havia sido acertado.

— Simbad vai brilhar novamente nas telas no dia 22 desse mês!

Os irmãos vibraram de alegria. Finalmente Simbad estava voltando com as suas aventuras. Eles se abraçaram e vibraram mais ainda. Uma objetivo já havia sido passado, agora, o que de fato eles queriam, era mesmo voltar pra casa. Para o solo britânico. Onde era o lar deles. Tudo estava saindo como eles planejaram, porém, mal imaginavam que tinha mais um objetivo para se passar e que ele poderia até mesmo, custar a vida de um deles.

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