Capítulo XV
O grandioso transatlântico, RMS Titanic, da White Star Line, afundava lentamente nas águas geladas do Atlântico Norte, enquanto alguns navios já se deslocavam em direção a ele. Os passageiros estavam calmos, muito calmos – ainda – pois, quando de fato verem que a situação não é nada boa, um verdadeiro caos se formará a bordo do navio. Às 00h17min, foi lançada a nova mensagem do Titanic a todos os navios. Às, 00h18min, o código de emergência é ouvido pelo SS Ypiranga, da Hamburg-Amerika Linie*. O Frankfurt comunica que se encontra a 283km. Às 00h20min, Andrews é um altruísta, não é em vão que, dos oficiais aos carvoeiros, todos os tripulantes o estimam, e sendo o construtor do navio, mais aguda se torna sua angústia. Andrews pede que Etches o acompanhe ao convés C e confira cabine por cabine, avisando que os coletes salva-vidas se encontram na prateleira superior do roupeiro. Etches desce e no caminho vê o comissário McElroy em sua sala, cercado de homens e mulheres. São passageiros da Primeira Classe em busca de joias e valores em depósito. Entre esses passageiros encontra-se Hazel Whitman e sua família, Marie Nourney, Felicite e Dean e a senhorita Ruth Payne, acompanhada de seus sobrinhos. Todos estavam querendo as suas joias e brigavam com o comissário McElroy, quando Dorothy, Anne, Connor e Cole adentraram no local.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Laura confusa. — Porque todos eles estão assim?
— Pelo o que eu sei, estão querendo as suas joias de volta! — respondeu Cole olhando para a multidão. — Pois, deixaram aqui mais cedo!
Todos estavam raivosos ali naquele lugar, tanto que Ruth e Marie discutiram por causa de joias e coisas de valores, que ambas deixaram lá. Hazel – com a sua melhor expressão de que estava apavorada – afastou-se lentamente acompanhada de Lionel e Claire. Enquanto se afastava, ela chegara mais perto da senhorita Chambers, que naquele momento não estava mais tendo paciência com ela, desde que a mesma inventara mentiras sobre ela e James.
— Lionel, vamos nos retirar daqui! — Ela disse para o seu marido. — Eu não aguento essa gente ridícula brigando por causa de joias. Ridícula não, milhares de idiotas!
Após ouvir aquilo, Dorothy rapidamente enraivou-se com ela.
— Quem você pensa que é para chamar a todos aqui de idiotas? Sua velha patética! — gritou Edwina olhando para Hazel. — Você só sabe reclamar e reclamar, isso quando não está com esse idiota que é o seu marido!
A senhora Whitman ficou ainda mais horrorizada.
— Cale-se e se controle, senhorita Chambers! — Pediu Lionel, tentando afastar elas duas, mas pelo visto, aquilo estava falhando fortemente.
— Quem você pensa que é para me mandar me calar, sua bola humana! — Dorothy insultou o homem. — Você quer apenas me paquerar pra roubar a companhia de meu pai, como sempre quis. Você e a sua mulherzinha idiota, esnobe e tediosa! Só sabe dizer besteiras!
— Controlem ela, por favor, senhores! — Pediu Lionel aos gêmeos. — Ela está maluca!
— Seu idiota, maluca é a sua filha que insultou um rapazinho autista! — Dorothy gritou. — A sua filha é uma vadia para todo o sempre. E eu te odeio, Hazel!
Cole e Connor pegaram Edwina pela cintura e decidiram retirar a moça – que havia explodido de raiva. Dorothy tentou se livrar dos braços dos gêmeos, mas a sua tentativa foi em vão. Eles a retiraram dali e levaram para longe, onde ela se recompôs e se acalmou.
Enquanto isso, a tensão era grande no convés dos botes do Titanic, onde lá os oficiais gritavam e sinalizavam com as mãos para abaixarem os botes. Às 00h25min, no RMS Carpathia, da Cunard Line, navegando de Nova Iorque para Gibraltar e comandado pelo Capitão Arthur Rostron, o telegrafista Harold Cottam, ainda ignora o que aconteceu com o Titanic, e antes de desligar o aparelho e ir dormir, resolve alertá-lo que copiou mensagens de Cape Race. Nos minutos seguintes outros navios chamarão, mas, à exceção do Mount Temple, a 90km, estão distantes: o SS Birma, da Russian East Asiatic, 130km, o SS Virginian, da Allan Line, 315km, e o RMS Baltic*, da White Star Line, a 450km. O Titanic apresenta forte inclinação para frente e para bombordo, mas os passageiros, simplesmente, negam o que seus olhos veem. Se nem Deus consegue afundar este navio, por que um magote de gelo sujo conseguiria afundar um navio daquele tipo? Enquanto isso, o capitão Smith que anda fiscalizando e observando tudo, adentra no convés dos botes no lado estibordo, onde Lightoller, Wilde e Murdoch se aproximam.
— Senhor, os botes estão prontos para serem baixados! — avisou o primeiro oficial. — Agora podemos preenchê-los e baixá-los?
Smith pensou por alguns segundos, olhou fixamente para o chão e depois levantou a cabeça.
— Sim, podem baixá-los! — Ele respondeu enquanto estava em sua paralisia. — Mas, mulheres e crianças primeiro!
Murdoch assentiu e saiu, foi seguido por Wilde e depois Lightoller voltou ao seu lugar. O embarque de estibordo começa a ser coordenado pelo oficial Murdoch, o de bombordo, pelo segundo oficial Lightoller. Enquanto isso, na sala do telégrafo, Phillips ainda manda mensagens aos outros navios e é acompanhado por Bride, que organiza cada uma das mensagens escritas por Phillips. Ambos estão trabalhando duro para enviar os pedidos de socorro do Titanic aos outros navios. Até que às 00h26min, o quarto oficial Joseph Boxhall adentrou na sala com um papel nas mãos, aquilo chamou a atenção de Bride.
— Muito bem, rapazes! — Ele deixou o papel na mesa. — Aqui estão as nossas coordenadas!
— Obrigado, senhor! — Bride agradeceu e foi seguido por Phillips.
— Tenham um ótimo trabalho e continuem!
Bride assentiu e Boxhall fez um sinal com o quepe, em seguida, deixou o local.
— É terrível! — Disse Jack enquanto mandava uma mensagem para uma embarcação há 870km dali. — S.O.S. Precisamos de ajuda imediata. Estamos afundando pela proa. S.O.S!
— Como pode, um navio tão belo e incrível como esse estar afundando por causa de um pedaço de gelo? — Questionou Harold confuso e encostando-se numa parede. — É algo inacreditável!
— Até demais, Bride!
Às 00h30min, no convés C, os comissários McElroy e Barker ainda atendem ansiosos passageiros que exigem a devolução do que guardaram. Mais uma vez, o Californian tenta em vão contatar pela lâmpada Morse com o navio parado. No Mount Temple, de Antuérpia para Nova Iorque, o Capitão Moore ordena que o navio, em sua velocidade máxima de 11,5 nós siga na direção do Titanic. Às 00h:34min, Phillips faz contato com o RMS Olympic, comandado pelo capitão Herbert James Haddock*, a 926km de distância. Haddock desvia o curso, mas para chegar à zona do naufrágio precisa navegar 23 horas. Enquanto isso, o Carpathia está a 91km de distância. Sua velocidade de cruzeiro é de 14,5 nós. Mas, o capitão Rostron manda imprimir pressão total às caldeiras. A calefação é desligada, para que todo o vapor produzido se destine aos motores, e o velho navio agora avança à velocidade jamais experimentada de 17,5 nós. Contudo, não espera alcançar o Titanic antes das quatro horas da manhã. A mensagem fora mandada ao navio que estava afundando e foi recebida, anotada e entregada para Bride por Phillips.
— Entregue isso ao capitão, avise-o que o Carpathia está vindo na sua velocidade máxima de 17 nós! — Jack ordenou enquanto Harold averiguava a mensagem. — E chegará aqui em quatro horas!
Bride olhou assustado para Phillips.
— Quatro horas? Mas temos apenas duas horas!
— Foi o que eles disseram, Bride!
O assistente assentiu e saiu de lá rapidamente, deixando Phillips sozinho. Jack voltou a sua posição normal e enquanto ouvia uma outra mensagem do Olympic, acabara pensando na situação do navio e que ele tinha duas horas na superfície, e foi nisso, que Anne surgiu em sua mente. Ele estava preocupado com ela. “Onde ela está agora?”. Essa pergunta rodeava a sua cabeça e não o deixava trabalhar. Phillips estava preocupado, torcia bastante para que Anne estivesse bem e que nada de ruim acontecesse com ela. Enquanto isso, às 00h40min, Murdoch e Lightoller organizam o embarque na penumbra, sob a supervisão de Wilde. Não é permitido que os homens se aproximem. Os imigrantes compreendem, finalmente, que precisam abandonar as cabines e os pertences: a água avança. Quando começam a subir, encontram as portas dos conveses superiores fechadas e vigiadas por tripulantes que só permitem a passagem das raras mulheres e crianças que se apresentam. Aos homens, é assegurado que está vindo uma embarcação para socorrê-los. Às 00h45min, o primeiro oficial Murdoch, auxiliado pelo comissário McElroy, Ismay e pelo terceiro oficial Pitman, arria de estibordo o bote de número 7 com apenas 28 pessoas (16 homens e 12 mulheres = 03 tripulantes e 25 passageiros da Primeira Classe), sob o comando do vigia Hogg. Entre essas pessoas, a atriz de cinema, Dorothy Gibson e sua mãe.
Às 00h50min, em seu alojamento, o capitão Lord comunica-se pelo tubo com o segundo oficial Stone, na sala de navegação. Quer saber se o navio iluminado está mais perto. O outro informa que não e acrescenta que o mesmo está lançando foguetes, mas não responde à lâmpada e agora já se afasta. O capitão vai dormir. Às 00h52min, o mecânico Gill, no Californian, viu os primeiros foguetes e desconfia de que o navio tem problemas. Como é apenas um trabalhador da casa de máquinas, não lhe corresponde fazer observações marítimas e menos ainda comunicá-las ao capitão, guarda para si a suspeita. Às 00h53min, o quinto oficial Harold Lowe e Pitman tratam do embarque no bote de número 5. A operação é demorada, os tripulantes não têm familiaridade com os turcos e Ismay atrapalha com ordens absurdas.
— Lancem mais rápido, vamos! — Gritou o dono da companhia em um ataque de pânico. — Precisamos tirar toda essa gente a bordo. Mais depressa!
Lowe empurrou o homem para trás.
— Quer que eu lance o bote mais depressa? Quer que afogue a todos? — questionou o quinto oficial já sem nenhuma paciência. — Se você não atrapalhar, talvez eu possa fazer alguma coisa!
Ismay ficou abismado e afastou-se lentamente, sem dizer mais nenhuma palavra. Murdoch ordena que Pitman assuma o comando do bote 5. Às 00h55min, o oficial Lightoller arria de bombordo o bote de número 6, com 27 pessoas (03 homens e 24 mulheres = 02 tripulantes, 24 passageiros da Primeira Classe e um da Terceira Classe), sob o comando do timoneiro Hichens. O bote desce e, sete metros abaixo, na altura do convés C, Hichens grita, reclamando que precisa de um navegador. O Major Peuchen adianta-se e revela a Lightoller sua condição de iatista. O oficial, aferrado ao propósito de embarcar apenas mulheres, crianças e remadores, resmunga que se Peuchen é de fato um homem do mar, deve agarrar um cabo e descer por ele. Os 52 anos do major não se intimidam. Ele se pendura e desliza até o bote. É o seu 28º ocupante. Murdoch e Lowe arriam de estibordo o bote 5 com 39 pessoas (15 homens, 23 mulheres e uma criança = 03 tripulantes e 36 passageiros da Primeira Classe), sob o comando de Pitman.
Enquanto isso, o grupo formado por Anne, Dorothy, Cole e Connor seguiam caminhando em direção a escadaria da primeira classe. Eles passavam por diversos e diversos corredores, que nenhum deles nunca havia passado por ali antes. Naquele local se encontrava pessoas esnobes e que achavam que era apenas um treinamento de botes salva-vidas, outros já sabiam que o navio estava afundando e se encaminhavam para o convés dos botes. Enquanto outros, ainda perambulavam por ali. O grupo seguiu caminhando rapidamente em direção a escadaria, quando chegaram próximo dela, encontraram Daphne e Isabella correndo em direção a cabine de Dorothy. Mas elas pararam ao ver o grupo e se aproximaram rapidamente. A senhorita Byrne estava meio ofegante, enquanto Isabella tinha a testa molhada e estava ofegante.
— Oh Daphne, eu estive te procurando! — disse Dorothy abraçando a mesma. — Onde esteve durante esse tempo todo?
— Eu estive te procurando, quando eu escutei o barulho que o navio fez! — ela explicou, enquanto tentava se acalmar. — Eu estava chegando na cabine acompanhada de Isabella, mas retornei para a sala de jantar em sua procura!
Dorothy estava receosa e assentiu.
— Tudo bem! — Ela abraçou as duas meninas. — O importante é que agora estamos juntos!
Isabella sorriu ao olhar para a jovem Edwina.
— Dorothy!! — Gritou uma voz do andar de cima da escadaria. — Estou aqui!
Ela – toda confusa – olhou para o andar de cima e sorriu ao ver quem era. Era ele. O seu amado. O homem com quem viveria na Califórnia e que nada mais importava para ela. Esse rapaz, era James. O jovem de 20 anos, James Burton. Ele correu em direção a ela com um belo sorriso no rosto e quando saiu da escada, abraçou fortemente ele e eles se beijaram aos olhares felizes de Daphne, Isabella, Anne e os gêmeos. Em seguida, o rapaz se afastou e ambos se entreolharam com belos olhares de apaixonados.
— Onde estava? Estive preocupado!
— Eu precisei ir atrás delas! — Dorothy respondeu e James olhou para as duas damas atrás de Edwina. — Estavam perdidas!
James assentiu.
— Estão colocando mulheres e crianças nos botes! — Alertou James. — Precisamos ser rápidos!
Todos ali se entreolharam preocupados. Dorothy virou-se para eles, que tinha a expressão de preocupação estampada na face.
— Portanto, vamos ficar juntos e seguiremos em direção ao convés!
Todos ali assentiram e se entreolharam decididos.
— Vamos! — Respondeu Anne. — Estamos prontos para ir!
Em seguida, Isabella foi pega por Cole, que ficou em seus braços. Ela passou a mão por trás do pescoço do mais velho e segurou-se no casaco do rapaz. Eles se entreolharam pela última vez.
— Estão todos prontos? — Dorothy perguntou pela última vez. — Agora peço que não se separem por nada!
Eles assentiram. Em seguida, deixaram o local, todos estavam juntos e seguiram rumo ao convés dos botes, onde lá os botes estavam sendo abaixados e mulheres se despediam de seus maridos, e filhos se despediam de seus pais. Mal eles sabiam do que realmente os esperava horas mais tarde.
1* RMS Baltic foi um navio de passageiros britânico operado pela White Star Line que navegou entre 1904 e 1933. Com uma arqueação bruta de 23.876 toneladas, ele foi o maior navio do mundo até 1905. Ele foi o terceiro de um quarteto de navios chamados de Big Four, todos com mais de 20.000 toneladas brutas. Ele foi retirado do serviço em 1933 e desmontado em Osaka, Japão, no mesmo ano.
2* Herbert James Haddock foi um marinheiro britânico mais conhecido por ter sido o capitão do RMS Olympic no momento do naufrágio do RMS Titanic. Ele foi o primeiro capitão do Titanic, supervisionando o navio em Belfast de 25 a 31 de março de 1912. Nascido em 27 de Janeiro de 1861, em Rugby, Reino Unido e morreu em 04 de Outubro de 1946, em Southampton, no Reino Unido.
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