Capítulo XIII
Não se passava das 22h00min, quando o céu estava claro, sem nuvens, mar sereno. A temperatura é negativa: menos 0,5°C. No comando, Lightoller é substituído por Murdoch e lhe transmite o curso e a velocidade. Conversam sobre a possibilidade de encontrar gelo e concluem que talvez isso aconteça dentro de mais ou menos uma hora. Boxhall diz a Moody que tome seu lugar na sala de navegação. Antes de se recolher, inspeciona alguns conveses. No timão, Olliver é substituído por Robert Hichens. No cesto da gávea, Frederick Fleet e Reginald Lee que são avisados da provável ocorrência de gelo. Eles não dispõem de nenhuma proteção para o rosto e continuam sem binóculo. Há outros três a bordo, dois para os oficiais na sala de navegação e um terceiro para os práticos dos portos, mas ninguém cogita de ceder este último aos vigias. Às 22h30min, do outro lado do campo de gelo, o pequeno cargueiro da Leyland Line, o SS Californian, apaga os motores e para em meio a um pesado campo de gelo de aproximadamente 47 km de comprimento por 4 km de largura. Sua tripulação vê ao longe as luzes de um navio. A temperatura da água cai severamente: menos 2°C. A temperatura do ar é de menos 1°C. Às 22h45min, o Titanic mantém a velocidade. No Californian, o Capitão Lord conversa com o engenheiro. Mostra-lhe o navio que avistou minutos antes e o convida para ir à Sala Marconi saber das novidades.
Do outro lado do campo de gelo, o RMS Titanic seguia rumando para Nova Iorque. Mas agora estamos nos direcionando para a sala do telégrafo, onde dois rapazes estão ouvindo e mandando mensagens para a Base Marconi em Cape Race, Newfoundland. Phillips está no rádio e envia mensagens de passageiros para a base, mas havia um sorriso bobo no rosto do telegrafista. Sorriso esse que aparentava ter visto algo muito divertido. Bride estranhou tudo aquilo desde quando Anne se escondeu de Dylan lá, pois ele havia se preocupado com ela. Algo que ele nunca tinha visto em Jack. Havia uma porção de mensagens sobre uma bandeja, onde uma outra porção de papéis prendiam as mensagens que iriam ser enviadas. Enquanto Phillips abria sorrisos bobos, Bride andava de um lado pro outro com papéis e procurando mensagens que deveriam ser enviadas urgentemente.
— Eu não sei o motivo de tantos sorrisos, Phillips! — Disse Bride vendo algumas mensagens. — Parece que encontrou e beijou a Cinderela!
Jack sorriu mais uma vez.
— Bom, se a Cinderela for quem eu estou pensando, eu beijei foi a Imperatriz da Rússia!
Bride sorriu e revirou os olhos.
— É cada uma, John! — Harold disse e andou até uma bancada onde tinha uma caneta e um papel. — Enfim, vamos continuar o trabalho ou nunca mais iremos parar de mandar tantas mensagens!
Phillips assentiu.
— Bride, se quiser descansar e depois da meia-noite assumir o turno, pode ir! — Disse o rapaz enquanto o assistente continuava escrevendo alguma coisa no papel. — E pode deixar que eu cuido de tudo aqui!
Bride parou de escrever e olhou para o jovem de 25 anos que estava sentado na cadeira e com os fones no ouvido.
— Tem certeza, Jack?
— Tenho a total certeza, Harold!
Bride deu de ombros.
— Muito bem! — ele disse colocando o quepe sobre o cabide de pé. — Até mais tarde!
— Até!
O assistente entrou para o cômodo ao lado da sala, fechou a porta com a cortina de cor preta e deitou-se na cama. Phillips continuou mandando mensagens e recebendo, enquanto pensava na doce e meiga Anne Peterson.
No salão de jantar, muitos passageiros ainda se encontravam jantando, conversando e outros já não estavam mais lá, alguns estavam em suas cabines e outros na sala dos fumantes, onde jogos – como o baralho, por exemplo – era o mais jogado por lá. Na sala dos fumantes da primeira classe, Cole, Dean, Edward e William jogavam baralho na companhia da senhorita Dorothy Gibson. A atriz estava ganhando de Cole e Dean, que haviam feito apostas de uma pequena quantia em dinheiro. Enquanto Edward e William apenas observavam e vez ou outra, jogavam algumas cartas. Tudo estava bem divertido, até que Cole olhou para a porta de saída da sala dos fumantes e avistou uma dama, que o olhava bastante, ele a observou e quando se deu conta, afirmou para si mesmo que já viu ela com alguém. Mas ele não se recordava de quem ela estava acompanhada. A moça o olhou e em seguida, fez um sinal com a mão chamando ele. O rapaz assentiu.
— Enfim pessoal, eu vou ter sair! — ele avisou a todos que ficaram confusos. — Edward pode assumir o meu lugar e jogar com Dean?
Eddie sorriu.
— Eu posso sim, Cole!
O jovem Peterson levantou-se e o jovem Luvidgsen assumiu o lugar dele. O rapaz seguiu até a moça e quando vira quem era, ficou confuso. Era Mabel. A mesma moça que ele viu andando e conversando com Connor mais cedo. Ela estava meio séria e aparentava estar receosa com alguma coisa. Mas Cole não sabia o que era.
— Em que posso lhe ajudar, senhorita Swire?
Ela brincou um pouco com os dedos da mão, mas logo parou antes de dizer alguma coisa.
— Você viu o Connor em algum lugar? — Mabel olhou para o irmão gêmeo dele. — Eu já procurei em todos os lugares e não o acho!
O mais alto abaixou a cabeça pensativo e depois levantou para olhar para ela.
— Já procurou por ele na cabine?
Mabel assentiu. Cole pensou mais um pouco.
— Bom, procure por ele na proa no convés abaixo da ponte de comando! — Ele respondeu e ela abriu um sorriso fraco. — Provavelmente ele possa estar lá!
— Muito obrigada, Cole! — Mabel abriu um grande sorriso. — Muito obrigada mesmo!
O mais alto sorriu mais uma vez.
— Disponha, senhorita Swire!
Ela sorriu mais uma vez e deixou o local calmamente. Cole pôde ver que ela estava euforia quando ele disse onde o seu irmão possivelmente estaria, e rapidamente desapareceu em meio a tantas pessoas naquele convés. Mabel dirigiu-se ao convés e quando chegou lá, o frio rondava pelo local, não havia quase ninguém lá e sob passos apressados, seguiu em direção a proa onde viu Connor pela última vez. Quando ela chegou perto da ponte de comando, encontrou uma escada e desceu por ela, andou alguns passos e avistou um homem de 1.80 de altura, vestia um smoking preto, fumava um cigarro enquanto observava o escuro oceano. O vento era gelado e bagunçava os cabelos castanhos do homem. Ele aparentava estar triste e estava em silêncio. Tanto que nem se importou ao ouvir passos se aproximando dele.
— Espero que não tenhas ficado aborrecido por causa de mim!
O rapaz soltou um suspiro forte e pesado, em seguida, virou-se calmamente em direção a moça. No rosto do rapaz, um sorriso fraco se mostrou.
— Não, eu não estou aborrecido por causa de você e muito menos de ninguém! — Ele respondeu e ela andou até ele. — Estou apenas remoendo alguns pensamentos!
Mabel abriu um sorriso fraco.
— Entendo! — Ela olhou para o oceano. — No que pensas?
Connor abaixou a cabeça e portava um sorriso fraco no rosto.
— Em coisas que irei fazer daqui pra frente! — Ele respondeu agora olhando para o mar. — Coisas que poderão mudar drasticamente a minha vida!
Mabel assentiu. Em seguida, ela pousou a sua mão sobre a mão esquerda do rapaz. Mas quando ele sentiu aquele toque, o seu corpo estremeceu e arrepiou. Connor nunca havia sentido isso em nenhuma garota que ele já namorou ou teve relações. Algo novo e surpreendente para o rapaz. Eles se entreolharam e ambos agora ficaram de frente um para o outro, coração dela dizia que sim, mas a mente negava ela a fazer o que queria. Eles foram se aproximando um do outro, até que finalmente os lábios dos mesmos se tocaram, formando um beijo calmo, doce e cheio de desejo. Mas logo ela se afastou e ele ficou confuso.
— Não... Eu não posso fazer, Connor! — Mabel disse se afastando dele. — Eu não posso trair o Alfie, eu não posso.
Agora, a tristeza já fazia parte da expressão de Phillip naquele momento. Ele a olhou triste, enquanto ela – com os olhos marejados – se afastava lentamente.
— O meu coração diz que eu quero ficar com você, mas a minha mente responde que não! — ela disse e uma lágrima solitária caiu do rosto dela. — Perdoe-me Connor, mas eu não posso!
Em seguida, ela quis acenar para ele, mas não conseguiu e simplesmente virou-se para trás e seguiu sob passos calmos. Mabel chorou enquanto saía dali, deixando o pobre rapaz para trás. Connor encostou-se na grade de proteção, olhando para o oceano e uma lágrima desceu do olho esquerdo do rapaz, que limpou rapidamente. Ele não estava acreditando no que havia acabado de ouvir e por isso, recusava-se a aceitar que ela não podia ficar com ele.
Na ponte de comando do RMS Titanic, o silêncio e a escuridão dominavam o local. Os oficiais Murdoch, Moody e Boxhall andavam por ali de um lado para o outro. O sexto oficial manteve-se em seu lugar perto da casa do leme, onde o timoneiro Robert Hichens estava em seu turno. Não se passava das 23h00min da noite de 14 de abril de 1912, o mar estava com algumas placas de gelo e calmo. Ainda naquela mesma hora, foi recebida uma mensagem do Californian – que estava parado do outro lado do campo de gelo. Não havia nenhuma luz se quer na frente do navio, a não ser a das estrelas que brilhavam no alto do céu. Os vigias do cesto da gávea na proa do navio, não conseguiam distinguir a linha do horizonte com o final do céu acima da água, pois a escuridão e o reflexo das estrelas na água gelada faziam com a visão e a mente que vem avistasse, ficasse confusa. Os oficiais haviam recebido ordens para manter a velocidade de 22 nós, algo que era perigoso de se fazer em meio a um campo de gelo.
— 22 nós, isso é uma loucura! — Disse o quarto oficial Boxhall após ver o medidor de velocidade. — Não estamos apostando nenhuma corrida!
— Nós temos ordens do presidente, senhor Boxhall!
— Que se dane o Ismay, ele é um velho caquético!
Moody e Murdoch riram.
— Tome cuidado com o que diz ou será mandado para o olho da rua, Boxhall! — disse Lightoller adentrando na ponte de comando com uma xícara de chá nas mãos!
O quarto oficial havia tomado um susto, riu um pouco e depois ficou meio zangado.
— Não faça mais isso, Lightoller!
O segundo oficial sorriu.
— Vocês dois são iguais a duas criancinhas! — disse Moody saindo do seu lugar. — E outra, vocês ouviram o boato de que Ismay quer que chegamos em Nova Iorque na terça-feira a noite?
Ismay adentrou no local com um sorriso esnobe no rosto e com uma taça de vinho na mão.
— Não é boato e sim pura verdade, senhor Moody! — ele disse. — Iremos fazer isso, pois a White Star Line oferece luxo, rapidez e segurança. Muito diferente da Cunard!
Os oficiais assentiram.
— Enfim, continuem com o trabalho e boa noite, rapazes!
— Boa noite! — Responderam os oficiais.
Quando o presidente saiu, Moody revirou os olhos em sinal de tédio e eles continuaram com o trabalho.
Enquanto isso, Phillips está trabalhando incansavelmente na sala do radio telegrafo sem fio do Titanic. Lá, ele manda, recebe e ouve mensagens de outros navios distantes, pertos e até mesmo da Base Marconi em terra firme em Cape Race. O telegrafista está com o contato sólido na base, enquanto envia algumas mensagens de passageiros importantes como: John Jacob Astor – o homem mais rico do navio –, Coronel Archibald Gracie IV, Dorothy Gibson, Joseph Bruce Ismay, Benjamin Guggenheim e da própria Molly Brown, que manda uma mensagem para Cape Race com o destino em Nova Iorque. Tudo estava indo bem, as mensagens iam e eram recebidas, o contato estava excelente. Até que o telegrafista Cyril Evans – do Californian – manda uma mensagem ao Titanic, que era um aviso de gelo. Mas, o navio estava muito próximo do Titanic e com isso, a mensagem foi muito alta nos ouvidos de Phillips que arrancou os fones dos ouvidos e os largou na mesa.
— Meu Deus! — disse ele assustado. — O que foi isso?
Ele rapidamente colocou os fones nos ouvidos meio mal-humorado e começou a manipular o rádio.
— Afaste-se, afaste-se. Está atrapalhando o meu sinal com Cape Race. — Ele disse enquanto mandava a mensagem. — Cale-se. Você está bloqueando o meu sinal! Afaste-se!
A mensagem do Californian – que devia ter sido passada para a ponte de comando – não fora nem se quer anotada e o telegrafista Evans, por sua vez, não retruca e, durante a próxima meia-hora, irá distrair-se ouvindo o incessante tráfego do Titanic. Às 23h15min, Phillips manda uma mensagem no Titanic para Cape Race dizendo: “Desculpe. Bloqueado. Repita, por favor”. A comunicação continuou, enquanto o navio seguia viagem rumo a Nova Iorque.
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