Capítulo XII

O sol e o seu brilho já haviam ido embora e deram o seu lugar no céu para as inúmeras estrelas, que assim como Phillips insinuou, brilhavam iguais à vários faróis de costeiras. O RMS Titanic seguia todo iluminado meio ao campo de gelo, com agora 22 nós rumando para Nova Iorque. Às 19h00min, a temperatura continua caindo e encontra-se agora em 6°C. Às 19h15min, o segundo oficial Charles Lightoller manda verificar se as escotilhas do castelo da proa estão fechadas, de modo que as luzes internas do navio não perturbem a visão dos vigias no cesto da gávea. Às 19h30min, o tempo está bom e o mar calmo. Já anoiteceu. A temperatura baixa rapidamente: 4°C. A queda indica aproximação de campos de gelo. Na Sala Marconi, o turno é de Phillips, mas Bride o substitui para que possa jantar. Ele ouve e anota a quinta advertência de gelo, expedida pelo cargueiro Californian, reportando a presença de três grandes icebergs ao sul de sua posição.

A mensagem é encaminhada à ponte. Aparentemente, quem a recebe não é Lightoller, mas o quarto oficial Joseph Boxhall, cuja reação é meramente burocrática: assinala os icebergs na carta náutica. O capitão não toma conhecimento, ele está no restaurante À La Carte, no convés B, onde será homenageado. Bruce Ismay, por sua vez, ainda se encontra no salão de refeições da Primeira Classe, jantando com o médico William O'Loughlin. Enquanto isso, Anne, Connor e Cole já se encontram no salão de jantar e sentados na mesa de Dorothy, onde nela se encontram: Molly Brown, Daphne Byrne, Isabella Byrne, Ruth Payne, Edward e Edmond Luvidgsen, Coronel Archibald Gracie IV, Hazel, Claire e Lionel Whitman, Marie Nourney, Felicite e Dean Cottam, e William Fuller. Todos esses jantando, conversando e desfrutando dos últimos momentos do Titanic.

Às 20h20min, Anne havia deixado o salão de jantar e dirigiu-se para o convés, onde se encontraria com o tal George. Porém, ela estava muito adiantada e obteve por esperar sentada num banco. Estava ansiosa e receosa, torcia para que o homem que se chamava George não fosse nenhum mandado por Dylan. Por falar em Dylan, já fazia algumas horas que ele não aparecia e nem ameaçava a família. Fazendo com isso, a desconfiança dos irmãos Peterson ficar bem grande. Enquanto ela esperava, às 20h40min, a temperatura é de 0,5°C e Lightoller manda vistoriar o suprimento de água doce do navio. Ordena também que sejam ligados os aquecedores no alojamento dos oficiais. Às 20h:55min, o capitão pede licença para ausentar-se da festa e visita a ponte. O quarto oficial Boxhall o informa sobre a posição do navio, tirada às 20h. Noite estrelada, sem lua. O capitão conversa com Lightoller sobre o tempo, a visibilidade e a navegabilidade nessa área crucial da travessia. O segundo oficial ignora que já chegaram cinco advertências de gelo – tampouco alerta o capitão – e comenta que, tendo chegado apenas uma, a do Caronia, às 9h, é possível que haja gelo pela frente, mas não muito. Acredita também que, se houver icebergs, serão vistos à claridade das estrelas, mas ambos convêm em que um obstáculo de certa magnitude pode ser melhor detectado através da arrebentação do que pela luz refletida pelas suas partes superiores. O mar, no entanto, plácido qual um lago, minimiza a arrebentação.

Às 21hrs, ela levantou-se do banco e alegrou-se quando avistou um rapaz vestido com um uniforme parecido com o de oficial. De primeiro, ela pensou que fosse apenas um oficial qualquer que estava fazendo uma ronda pelo convés, mas logo alegrou-se novamente ao ver o quepe de cor branca e o rosto que ela sempre admirara. Era Phillips. Vindo da sala do rádio indo entregar alguma mensagem ao capitão ou para algum passageiro. O coração da moça acelerou quando ela viu ele e assim ficou também o coração dele quando avistara ela. As mãos de Phillips suaram e ele sentiu um nervosismo o atacar, Anne estava lá, sorrindo e o observando. Ele parou e sorriu ao olhar nos olhos dela. Ela não soube o que dizer logo de primeira, mas soltou um suspiro fraco e criou coragem.

— Olá John, que prazer em lhe ver nesta noite gelada! — Anne sorriu e ele também fez a mesma coisa. — Como estás? Te procurei na tarde de hoje e não lhe encontrei!

— O prazer é todo meu e estou bem, tirando o cansaço de ter passado a maior parte do dia consertando aquele telégrafo! — Ele disse brincando com o pequeno papel em suas mãos. — E fora isso, eu estou bem!

Anne sorriu mais uma vez ao olhar para ele.

— Enfim, eu estava indo entregar essa mensagem para a senhora Rushton, se você quiser, pode me acompanhar até lá!

— Será um prazer em lhe acompanhar, senhor Phillips!

O telegrafista sorriu e ambos começaram a andar. Eles seguiram andando rumo ao convés C, na cabine 45. Passaram por diversos corredores, portas de cabines, passageiros, comissários e comissárias e entre outros. Eles conservavam e sorriam. Phillips contava para ela sobre vários casos de entrega de mensagens erradas, que muitas das vezes geravam até confusões a bordo dos navios. Eles finalmente chegaram e bateram na porta da cabine, esperaram por alguns segundos e finalmente a senhora Rushton abriu a porta. Enquanto Phillips entregava a mensagem e dizia alguma coisa, Anne ficou por ali quieta, mas sentiu que alguém lhe observava. Como se na próxima esquina de um corredor e outro estivesse alguém lhe vigiando, ela ficou desconfiada e olhava várias vezes para todos os lados daquele corredor. Temia que Dylan pudesse surgir de lá. Mas, por um breve momento, ela sentiu-se segura ao lado de John, pois segundo ele: “uma dama jamais deve andar sozinha quando estiver sendo ameaçada!”. 

Depois que entregaram a mensagem, eles saíram dali, seguiram mais uma vez para o convés dos botes. Enquanto refaziam todo o labirinto que haviam feito, eles conversavam e foi nesse momento que Anne acabou sendo descuidada, e disse que a lata do filme de Simbad estava escondida na cabine da senhorita Chambers. Porém, ela sentiu que não havia estragado tudo, pois não tinha ninguém no corredor em que eles seguiam. Isso era o que ela pensava. Escondido numa travessa de um corredor e outro, encontrava-se Dylan, ouvindo e vigiando tudo, e aquilo era tudo que ele precisava ouvir. Os dois jovens seguiram rumo ao convés, conversando, sorrindo e se admirando a cada fala, passo, gesto e entre outros. Eles estavam tão distraídos que não perceberam que saíram no convés A, perto da segunda chaminé do navio. Phillips ficou confuso, mas juntamente com Anne, ambos sorriram e gargalharam pelo erro que fora tão engraçado. Enquanto conversavam, John percebeu que havia algo na manga do vestido da moça. Algo que assemelhava-se a um papel de cor branca. Jack precisava saber sobre aquele papel ou iria explodir de curiosidade.

— Perdoe-me a intromissão e invasão de sua privacidade, senhorita Peterson! — Ele disse e eles se aproximaram do encostado do navio na proa no lado bombordo. — Mas, o que tem nesse papel branco escondido na manga de sua roupa?

Anne olhou para o papel e sorriu, retirou o mesmo da manga e olhou para Phillips.

— Uma pessoa me entregou isso ontem a noite e que se chama George! — Ela respondeu e entregou o papel para Jack. — Mas, o que eu não pude compreender era porque ele escreveu tudo em alfabeto de códigos Morse, e não no alfabeto normal!

Phillips sorriu ao ler o que havia no papel. Em seguida, olhou para ela com o mesmo sorriso.

— Talvez essa pessoa não teve coragem de lhe dizer pessoalmente o que sentia! — Jack olhou no fundo dos olhos dela. — Pois, temia que ela pudesse lhe desprezar por sentir amor por essa tal pessoa, que é tão linda em todos os aspectos e na personalidade!

Anne que ainda tinha o sorriso no rosto, desfez o mesmo e observou o rapaz com um olhar de curiosidade. O coração dela palpitou mais forte do que nunca ao olhar nos olhos dele. Sentiu que o mesmo pudesse pular para fora do seu corpo. As mãos dela ficaram geladas e trêmulas, o seu corpo estremeceu e arrepiou-se dos pés a cabeça. Tudo isso causado por Jack Phillips. Um simples telegrafista de um navio de passageiros da White Star Line.

— Pessoa essa que quer dizer que ama ela, mas teme do que pode vir depois! — ele completou. — Esse George quer dizer que ama muito essa pessoa que recebeu esse bilhete!

Anne abriu um sorriso fraco ao olhar no rosto do rapaz.

— E essa pessoa que recebeu o bilhete de George, responde que quer ficar com ele desde agora para todo o sempre e que nada neste mundo poderá separa-los! — eles se aproximaram um do outro. — Nada além da morte!

Phillips abriu um sorriso fraco. Em seguida, as mãos do telegrafista já se encontravam segurando a cintura dela e enquanto as dela, encontrava-se posicionadas abaixo das orelhas. Eles agora estavam próximos um do outro e os lábios do telegrafista finalmente se encontraram com os da moça de cabelos castanhos. Um beijo doce, calmo, romântico e cheio de desejo. As mãos dela agora desbravavam os cabelos castanhos e macios de John. Ela sentia-se livre com aquele ato, era como se a mesma fosse um passarinho e o beijo de Jack fosse a chave que libertasse esse passarinho da gaiola. Anne pôde finalmente realizar o sonho que tanto queria desde a primeira vez que vira Phillips a bordo do Titanic. Aquilo aparentava ser um sonho, mas não era. Era realidade pura. Quando eles se afastaram um do outro, as respirações de ambos estavam ofegantes e falhavam a cada puxada que o pulmão efetuava. As mãos dela se encontravam agora pousadas no peitoral dele, e as dele, posicionadas abaixo das orelhas dela.

— Agora temos um segredo, senhorita Peterson!

Ela abriu um sorriso fraco.

— Segredo esse que ficará guardado, senhor John George Phillips!

Ele sorriu e abraçou ela. O cheiro dela o acalmava de todas as maneiras, mas as voz dela, fazia o pobre telegrafista estar nas nuvens. Mas aquele abraço teve que ser encerrado, após ele lembrar que precisava voltar para a sala do telégrafo.

— Eu preciso ir ou Bride poderá me estrangular se eu demorar demais!

Anne sorriu ao olhar para ele.

— Podemos nos encontrar aqui de novo mais tarde, bondosa e fiel rainha do Palácio de Diamantes? — Disse Phillips curvando-se diante dela.

— Sim, se você não estiver ocupado, é claro que poderemos! — ela respondeu e ele sorriu. — Espero lhe ver aqui novamente!

Phillips pegou na mão da moça e beijou a mesma.

— Eu também espero, vossa rainha da Rússia!

Ela sorriu e ele se afastou dela ainda de costas, até que virou-se para frente e seguiu andando, até que encontrou a escada que levava ao convés do botes e ele sumiu quando havia subido a escada. Anne sorriu e guardou o bilhete no bolso, papel esse que havia pegado da mão do telegrafista. Em seguida, virou-se para trás e dirigiu-se rumo a sala de jantar do navio. Onde se encontraria com os seus irmãos, amigos e conhecidos.

Enquanto isso, às 21h20min, segue o capitão para seus aposentos, recomendando que o despertem se houver alguma dúvida sobre a navegação. Lightoller ordena ao sexto oficial James Moody que telefone aos vigias Symons e Jewell: estejam atentos aos icebergs e transmitam o aviso aos substitutos. A visibilidade é excelente, mas a vigilância, já se sabe, processa-se a olho nu. Às 21h30min, recebida do Mesaba, a serviço da Red Star Line, a sexta advertência de gelo, reportando vastos campos gelados e enormes icebergs. Atarefado com o tráfego e considerando que avisos semelhantes já são conhecidos, Phillips não a encaminha à sala de navegação, deixando-a numa bandeja em sua mesa, sob um peso de papel. A temperatura é de 0°C. O Titanic avança na máxima velocidade que até agora empregou: 22,5 nós. Às 21h38min, o telegrafista Stanley Adams, do Mesaba, envia nova mensagem: está à espera da notícia de que a advertência de minutos antes foi passada ao Capitão Smith. Phillips não responde. Ele continua enviando e recebendo os telegramas sociais dos passageiros, através da estação Marconi de Cape Race, na Terra Nova. O RMS Titanic seguia em meio ao campo de gelo, com mais de 2.220 almas a bordo. Todos esses que seguiriam para Nova Iorque. Alguns deles sobreviveriam e outros, perderiam a vida em algumas horas.

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