Capítulo XI
Anne estava confusa e questionava-se a todo minuto, sobre quem poderia ter mandado uma mensagem codificada para ela. Bilhete esse que ninguém entendia, pois tinha pontos, traços e barras. Era literalmente um enigma e somente quem soubesse o alfabeto do código Morse, poderia traduzir o que dizia naquele aviso. A moça andava de um lado para o outro naquela cabine, enquanto os seus irmãos tomavam o café da manhã no salão. Estava confusa e pensativa. Não sabia o que exato fazer naquele momento. Mas o que ela mais temia, era se o tal George fosse um homem que trabalhasse para Dylan, e que queria levar ela para uma emboscada, roubar a animação da companhia e se vingar da família Peterson. As únicas pessoas que poderiam traduzir aquele bilhete, era Phillips e Bride. Mas eles não iriam parar de trabalhar para traduzir um bilhete que nem importante seria.
Anne estava muito curiosa para saber sobre aquele bilhete, mas já era a hora da celebração no salão de jantar e ela precisava ir, então, colocou um chapéu preto cheio de penas brancas e azuis – chapéu esse que era preso com um grampo, para não cair da cabeça. Vestiu um vestido cinza acompanhado de um casaco e saia da mesma cor, sapato preto e usava luvas brancas igual as nuvens do céu. Ela guardou o bilhete na entrada da luva da mão direita e deixou a sua cabine, onde direcionou-se rumo a sala de jantar da Primeira Classe. Chegando lá, encontrou Dorothy, Daphne, Isabella, Cole, Connor, Ruth e Marie sentados numa única fileira de cadeiras. Havia um lugar vago entre os gêmeos, que ambos haviam guardado para ela. A mesma passou por todos naquela fila e sentou-se na cadeira vaga. Sendo observada pelos gêmeos e por alguns passageiros de outra fileiras.
— Porque demorou tanto para chegar?
— Eu me encontrei com um conhecido, Connor, foi por isso que eu demorei! — Ela respondeu inclinando-se um pouco na direção do rapaz. — Então, já vai começar a celebração?
— Eu ouvi dizer que sim!
Em seguida, a jovem Mabel Swire entrou na fileira onde estava Connor e ao lado dele, havia apenas uma única cadeira vazia. Quando o jovem avistou a mesma, os olhos dele brilharam e ele sentiu as suas mãos ficarem geladas. Ela sentou-se ao seu lado com uma grande timidez tomando o corpo dela, Connor sorriu meio tímido e finalmente criou coragem para olhar nos olhos dela.
— Eu me atrasei ou não?
Connor sorriu.
— Nem um pouco! — Ele respondeu e ela sorriu. — Aliás, você deve estar seis minutos adiantada!
Mabel sorriu ao olhar nos olhos esverdeados do rapaz.
Logo depois, a celebração começou e começaram a cantar hinos como “Hallelujah” (Aleluia) e “Eternal Father, Strong to Save - For Those In Peril on the Sea” (Pai Eterno, Forte para Salvar – Para Aqueles em Perigo no Mar). Hinos esses muito cantados a bordo dos navios nas décadas de 1900 a 1970. A celebração foi feita pelo padre Alfred Lyons, que teve a ajuda do capitão Edward Smith. Todos os ilustres passageiros estavam reunidos no salão de jantar, onde a missa era celebrada. As horas se passaram e às 11h40min, foi recebida uma mensagem do SS Noordam, da Holland America Line, a segunda advertência de gelo, que relata a presença de muito gelo aproximadamente na mesma posição da relatada pelo RMS Caronia – da Cunard Line. Ao meio-dia, ocorreu o
almoço festivo no salão de refeições da Primeira Classe. Também naquela mesma hora, foi conferida a posição do navio em relação ao sol, com o sextante: fez 878,6 km desde o meio dia de sábado. A velocidade subiu para 21,5 nós. Os preparativos para pôr em ação as cinco caldeiras auxiliares de um só terminal indicam que tanto o engenheiro Joseph Bell como o Capitão Edward Smith cederam à pressão de Bruce Ismay, e a ideia é imprimir ao navio, talvez ainda hoje, sua velocidade máxima.
Às 13h00min da tarde do dia 14 de abril de 1912, o segundo oficial Charles Lightoller afixa na sala de navegação a mensagem do RMS Caronia, recebida quatro horas antes, após mostrá-la a Murdoch. Às 13h42min, comandado pelo Capitão Joseph Ranson, o SS Baltic da White Star Line envia a terceira mensagem recebida pelo Titanic avisando sobre icebergs e grande quantidade de gelo, 450 km à frente do Titanic. A mensagem é entregue ao Capitão Smith, que ao invés de mandar afixá-la na sala de navegação, entrega-a a Ismay, com quem está a almoçar. O dono da White Star lê e, sem nada dizer, guarda-a no bolso. Posteriormente ele a mostraria para alguns passageiros. Poucos minutos depois, às 13h45min, o SS Amerika, da Alemanha, é o navio mais próximo de Cape Race, Newfoundland, envia a quarta mensagem sobre o alerta de campos de gelo. Talvez a mensagem mais importante recebida, ela relatava a presença de dois grandes icebergs observados no mesmo dia. Enquanto isso, na sala do radio telégrafo, os dois rapazes estão em serviço, ouve e enviam mensagens para outros navios. Bride está sentado na cadeira e com os fones nos ouvidos, onde contata com o Amerika, enquanto Phillips está encostado na mesa e olhando pensativo para o chão. Até que algo deu errado com o telégrafo, que não transmitiu mais nenhuma energia nos alfinetes.
— Maldição, maldição! — Disse Bride tentando mandar alguma mensagem. — Eu acho que quebrou de novo!
Phillips olhou para o jovem telegrafista.
— Mas que coisa? Quebrou outra vez? — Jack tentou manipular o rádio e não houve nenhum sinal. — Pelo visto, vamos ter que consertar logo ou estaremos encrencados!
Bride assentiu. Os rapazes decidiram consertar o rádio e assim se fez, os dois telegrafistas retiraram peças, verificaram fios e os alfinetes. Todos na tentativa de fazer o telégrafo voltar a funcionar. Enquanto isso, às 14h00min, o oficial chefe Henry Wilde assume seu turno na ponte de comando. Onde lá, o primeiro oficial William Murdoch já se encontra cumprindo o seu turno. Os oficiais discutem sobre a possibilidade de encontrar gelo e concordam num ponto: o perigo tem hora marcada, entre 20h e 1h.
No convés dos botes, encontra-se alguns passageiros caminhando por ele, entre elas tinham crianças, adolescentes e adultos. Crianças essas que brincavam de bonecas, liam livrinhos infantis e brincavam de pintar alguns livros de desenhos. Isso era o passatempo de Edmond e Isabella, que em determinada hora, estavam no convés, no salão de jantar ou em suas próprias cabines pintando e desenhando diversos desenhos. Já alguns adultos brincavam de shuffleboard* no chão do convés, onde até mesmo adolescentes e jovens estavam participando. Entre esses jovens, Connor que está lá brincando. Mas a atenção do rapaz se desvia do jogo para a moça que passou por ele num exato momento, moça essa que encantou o rapaz no primeiro encontro e olhar. Era ela. Mabel Swire. Que quando avistou o jovem abriu um sorriso tímido e ambos se olharam tímidos. Connor deixou tudo que estava em sua mão nas mãos de um marinheiro e seguiu até a moça, que caminhava em direção ao convés A da proa.
— Olá, como estás? — Disse o rapaz após alcançar ela. — Te procurei por todo o convés e não lhe achei!
Ela sorriu mais uma vez.
— Precisei ir para a sala de leitura, pois devolvi o livro que peguei emprestado em Queenstown! — Disse ela agora caminhando com mais calma. — Percebi que você adora aquele jogo, não é mesmo?
Connor sorriu e passou a mão na nuca. Depois, ajeitou a franja que estava um pouco bagunçada.
— Sim, eu gosto muito de jogar aquele jogo! — Ele respondeu e ela assentiu. — Todas as vezes quando eu, minha irmã e o meu falecido pai íamos para Nova Iorque, eu jogava esse jogo!
Mabel sorriu e assentiu. Eles chegaram até a escada que levava ao convés A, desceram por ela e chegaram no mesmo, andaram por alguns metros e chegaram até onde queriam estar. Local esse que ficava abaixo da ponte de comando. A moça chegou até o corrimão, segurou firme no mesmo, olhou para a proa, fechou os olhos e respirou fundo. Sentindo o vento frio e um pouco gelado tocar a sua pele macia. Enquanto Connor a admirava.
— Vamos, senhor Peterson! — ela disse sorrindo. — Sinta e ouça o assobio do Atlântico Norte em sua pele.
Connor sorriu e fez a mesma coisa. Ele sentiu que agora ela o observava, sentiu também que ela estava admirando os seus movimentos e sua respiração. O jovem sorriu e ela também sorriu. O vento assobiou nos ouvidos dele, a sua franja se bagunçou e sua pele sentiu o frio ficando cada vez mais forte.
— Agora, imagine que esteja voando acima do oceano! — Mabel ordenou fazendo agora a mesma coisa que ele. — Esqueça todos os problemas e viaje rumo a terra encantada de Peter Pan!
O rapaz sorriu mais uma vez.
— Ou então, indo em direção ao reino encantado de Amália! — ele completou. — Onde ela se encontrará com o seu Príncipe encantado, lá, no Palácio de Diamantes!
Mabel sorriu. Mas acabou sendo surpreendida com algo tocando a sua mão. Ela abrira os olhos e pôde ver que a mão do rapaz estava pousada sobre a sua. Ele ainda permanecia de olhos fechados, e nisso, apertava suavemente a mão dela. A senhorita Swire sentiu seu corpo estremecer dos pés a cabeça, o coração dela começou a bater mais forte, como um tambor num desfile de escolas do Brasil. Sentia também que ele estava apaixonado e que não conseguia negar isso. Mas ela não podia ficar com ele, pois o seu namorado estava aguardando ela em Nova Iorque. Mabel tentou dizer algo, mas não conseguia dizer nada além de “Connor, eu te amo e quero ficar com você por toda a minha vida!”. Ela respirou fundo e criou coragem para dizer algo.
— Bom, eu preciso ir, pois estou atrasada para um compromisso que marquei ontem com a Condessa de Rothes! — Disse ela tirando a sua mão debaixo da mão do rapaz, que ficou confuso enquanto ela se afastava lentamente. — Até a vista, Connor!
O jovem Peterson abriu um sorriso fraco ao ver ela se afastando.
— Até, senhorita Swire!
Ela sorriu e virou-se para frente, caminhando em direção ao lado estibordo do navio. Ela sentiu que ele estava triste e também que o seu coração estava se quebrando aos poucos. Mabel não queria machuca-lo, mas não conseguia escolher nenhuma opção. Pois, se ficasse com Connor, trairia Alfred e se ficasse com Alfie trairia o pobre Connor. Ela estava presa em uma situação que estava a deixando louca. Enquanto isso, o jovem Phillip Peterson observava o oceano com um olhar triste e deprimido, olhar esse de que estava com o coração partido.
Enquanto isso, Anne estava confusa e pensativa com o bilhete que estava em suas mãos. Desde a noite anterior não parava de pensar em quem pôde ter mandado isto, sentia que era algo bom, mas ao mesmo tempo, um pouco ruim. Ela pensava em Phillips, mas ao mesmo tempo, Bride aparecia em sua cabeça. O que seria aqueles códigos? O que diziam eles? Respostas essas que somente Jack Phillips ou Harold Bride podiam dizer. Anne queria ir até a sala do rádio telegrafo e perguntar pessoalmente para os dois rapazes, o que de fato aqueles códigos significavam. Então, decidida, ela levantou-se do banco no convés dos botes em que estava sentada e marchou rumo a sala do telégrafo. Mas parou, com muito receio de ser alguma mensagem que pudesse ser uma ameaça. Porém, ela precisava saber ou poderia acontecer algo que pode ser até surpresa para ela. Ela deixou o receio para trás e seguiu em direção a sala, abriu uma porta e adentrou no corredor, caminhou calmamente por ele até chegar numa porta onde dizia: “wireless room”. Verificou se não havia ninguém seguindo ela e bateu três vezes na porta, esperou por alguns segundos e Bride abriu a porta, onde ficou surpreso com a visita dela.
— Perdoe-me senhorita Peterson, mas o rádio está quebrado no momento! — Avisou o telegrafista assistente. — Volte daqui há uma hora, que provavelmente ele possa está consertado, está bem?
Ele tentou fechar a porta, mas Anne impediu e ele abriu de novo.
— Isso não é o motivo da minha visita por aqui, senhor Bride! — Ela disse e retirou o bilhete da manga do vestido, que havia colocado enquanto estava vindo para a sala. — Quero que traduza isto para mim. Se você puder é claro!
Anne entregou o bilhete e Bride analisou.
— Deixe-me ver! — Ele disse indo até a cadeira que ficava de frente para a mesa do rádio. — Entre, senhorita Peterson!
A moça adentrou calmamente e fechou a porta, enquanto Harold lia a mensagem e verificava tudo.
— Bom, conseguiu entender o que diz nessa mensagem?
Bride terminou de ler, olhou para a moça e sorriu.
— Olha, esse bilhete aqui é algo muito bom para você!
— E o que diz nele? — Anne perguntou curiosa. — Estou louca para saber o que diz nele!
Bride assentiu e pegou o bilhete de volta, lendo o mesmo.
— Bom, receio que você não saiba quem sou eu, mas ficará chocada quando descobrir. Sempre te olhei com outros olhos e sinto uma coisa dentro de mim, que no momento não consigo explicar. Me encontre hoje no convés às 21hrs. Venha sozinha. E não tenhas medo de mim. Assinado: George! — Disse Bride após ler a mensagem. — Se for o George no qual eu estou pensando, vale a pena ir atrás dele!
O telegrafista entregou o bilhete para Anne, que ficou pensativa.
— Você tem certeza disto, Bride?
— Absoluta, senhorita Peterson! — Respondeu Harold enquanto testava os alfinetes do rádio.
— Está bem, onde John está?
— Ele foi na sala dos geradores verificar se um dos daqui estavam prontos para serem usados! — Ele respondeu e a moça assentiu. — Caso ocorra alguma emergência e falte energia elétrica no navio!
Bride deu uma risada e Anne acompanhou.
— Enfim, eu já vou indo e diga a Phillips que ele tenha um ótimo trabalho! — disse Anne indo em direção a porta. — Até a vista, Bride!
— Pode deixar e até a vista, senhorita Peterson!
Quando a moça saiu, o rádio havia voltado a funcionar e havia milhares e milhares de mensagens dos passageiros acumuladas. Pois, horas antes, eles estavam recebendo e enviando mensagens dos passageiros para a Base Marconi em Cape Race, Newfoundland, no Canadá. As horas se passaram e às 16hrs o chá da tarde fora anunciado, diversas mulheres já se encontravam no salão e lá tomavam chá e conversavam sobre vários assuntos. Às 17h30min,
a temperatura começa a cair. Às 17h50min, o capitão Smith altera ligeiramente o curso para o sul, supostamente uma precaução contra os campos de gelo, mas não reduz a velocidade. Ao contrário, o navio faz agora 22 nós. Ismay interpela Andrews, alegando que a mudança de curso, possivelmente, resultará em atraso na chegada a Nova York. Às 18h00min, foi anunciada a janta. O segundo oficial.Charles Lightoller assume seu quarto na sala de navegação, substituindo Wilde. No timão, Arthur Bright. No cesto da gávea, George Hogg e Alfred Evans, dois dos seis vigias do navio. Eles alcançam o cesto por uma escada no interior do mastro da proa e vão cumprir um plantão de duas horas. Enquanto isso, o RMS Titanic cruza majestosamente o oceano rumando para Nova Iorque, onde atracará na terça-feira a noite. O sol – que agora se encontrava com os raios alaranjados e avermelhados – iluminava o navio e deixava a sua marca temporária nas partes brancas do navio. Aquilo foi a última vez que o Titanic viu a luz do dia, pois depois das 02h20min do dia 15 de abril, passou a conhecer e conviver com a imensa escuridão.
1* O shuffleboard é um esporte individual de precisão e estratégia cujo objetivo principal é lançar discos, com o auxílio de um taco, de forma que deslizem sobre uma pista e parem dentro da zona de pontuação triangular (com subdivisões) ao final da pista.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top