Capítulo VII

Às 06hrs da manhã do dia 11 de abril, diariamente acontece abertura da piscina térmica, no convés F, so¬mente para homens. Após as 9h:00min, para ambos os sexos. Atualizam-se os instrumentos de navegação. De madrugada, o capitão fez exercícios com o navio, avaliando sua capacidade de manobra. O dia começa a clarear com o belíssimo e radiante sol, que começava a reinar no alto do céu azul. Com o passar das horas, alguns passageiros despertam e seguem para o convés ou para outro lugar do navio. Às 08h30min, começa o desjejum até 10h30min. Os passageiros aproveitam o bom tempo para caminhar e conhecer o navio. Alguns da Primeira Classe descem ao tombadilho, mas não conversam com aqueles que viajam nos conveses inferiores, nada têm a dizer a pessoas de inferior condição. Eles frequentam aquela área aberta aos pobres tão só para passear com seus cachorros. Enquanto isso, um dos tripulantes do transatlântico está completando 25 anos de vida, esse tripulante é o telegrafista chefe Jack Phillips, o jovem que fora parabenizado por Bride e outros passageiros, começa a sair do seu turno.

— Bom, tenha um ótimo turno, Bride!

Harold sorriu sentando-se na cadeira e colocando os fones do rádio nos ouvidos.

— Obrigado Phillips, tenha um ótimo dia! — Bride ligou o rádio. — E mais uma vez, feliz aniversário!

— Obrigado, Harold!

O assistente assentiu. Phillips colocou o seu quepe na cabeça e saiu da sala, deixando Sydney sozinho. Jack seguiu caminhando pelo corredor e logo encontrou a porta que dava acesso ao convés dos botes. Ele abriu a mesma e chegou ao convés, onde alguns passageiros caminhavam, liam livros sentados nas espreguiçadeiras e alguns tripulantes trabalhavam em algumas partes do convés. O telegrafista olhou para a proa e para a popa, avistando apenas passageiros, mas quando olhou para a proa, viu que o sexto oficial James Moody seguia em sua direção.

— Olá Jack, feliz aniversário!

— Obrigado, Moody! — O telegrafista sorriu. — Jimmy, me responda uma coisa?

O sexto oficial ficou intrigado e assentiu.

— O exercício de barcos está programado para qual dia?

Moody pensou e pensou por alguns segundos.

— Bom, pelo o que eu sei, para a manhã do dia 14! — Respondeu o sexto oficial. — Porque você me perguntou isso?

Phillips abriu um sorriso fraco.

— Apenas por curiosidade!

Moody assentiu com um sorriso no rosto.

— Enfim, eu preciso voltar ao trabalho, te vejo outra hora! — disse o oficial indo em direção a popa. — E feliz aniversário, John!

— Bom trabalho e obrigado, Jimmy!

— Não me chame de Jimmy! — respondeu o oficial quase gritando.

— Tentarei, Jimmy!

Moody revirou os olhos e seguiu andando, enquanto Jack sorria e gargalhava.

Enquanto isso, no salão de jantar da primeira classe, os irmãos Peterson, a senhoritas Chambers e Byrne e sua filha e os irmãos Luvidgsen estavam todos reunidos numa mesa, onde tomavam o café da manhã. Cole – como sempre foi divertido – olhava para Isabella e fazia algumas pequenas caretas e sinais com as mãos, fazendo a pequena garotinha sorrir. Edmond mantinha os olhos enfiados no livro que ele tanto gostava, mas sempre, atraía a atenção de Anne, Dorothy e Daphne. Edward e Connor conversavam sobre os melhores navios para se cruzar o Atlântico Norte, entre eles se encontravam o RMS Olympic*, RMS Mauretania* e RMS Lusitania*. Estava tudo ocorrendo bem, até que a jovem Peterson sentiu que alguém estava lhe observando, pessoa essa que estava vigiando ela na noite passada. Anne olhou para todas as mesas ao redor daquela mesa, na tentativa de procurar a tal pessoa. Mas não encontrou. Enquanto ela procurava, Connor prestou atenção nela e ficou desconfiado.

— O que houve, Anne? — Ele perguntou confuso e depois bebericou um pouco do café. — Está tudo bem?

Ela abriu um sorriso fraco no rosto.

— Está tudo bem, Connor! — ela bebericou um pouco do café. — Foi apenas uma alucinação!

O mais velho dos gêmeos abriu um sorriso fraco no rosto. Anne bebericou mais uma vez o seu café e estava completamente certa, pois, havia sim uma pessoa lá a observando e ele era nada mais e nada menos do que Dylan. O desenhista anotava exatamente tudo que os irmãos Peterson faziam, desde a horário de ida ao salão de jantar a retirada para a cabine.

Às 10h30min, foi feita uma inspeção do capitão, acompanhado do engenheiro-chefe Joseph Bell, do comissário-chefe McElroy e do camareiro-chefe Latimer. Também inspecionam o navio Andrews e os técnicos do Guarantee Group. A tripulação cumprimenta o telegrafista Phillips, que está de aniversário. Simulada uma situação de emergência com um sinal de sino e o fechamento das portas estanques. Pouco depois, aproxima-se o navio-guia e transfere-se para bordo o prático do porro de Queenstown. Uma hora depois, às 11h30min, o navio lança âncora em Queenstown, a quatro quilômetros do porto. É a última escala antes da travessia oceânica. Enquanto isso, Bruce Ismay discute com o engenheiro Bell, quer sua anuência para que o navio, já na segunda-feira, empregue a velocidade máxima, de modo que possa chegar a Nova York na terça-feira, dia 16. Se a pressa se relaciona com o recorde da travessia, é um despropósito. A possibilidade de que o Titanic venha a superar a marca de 1909, pertencente ao Mauretania, da Cunard, é igual a zero.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico às 12h00min, zarpa de Nova Iorque o RMS Carpathia, da Cunard, rumo a Gibraltar e sob o comando de Arthur Henry Rostron. Às 12h30min, foi servido o almoço até 14h30min. As barcaças America e Ireland trazem sete passageiros da Segunda Classe e 113 da Terceira, além de 1.385 pacotes de correspondência postal. Desembarcam sete da Primeira Classe: o seminarista jesuíta Francis Browne e seis membros de uma família. Um fornalheiro, John Coffey, natural de Queenstown, esconde-se numa das barcaças e deserta do navio. Entre passageiros e tripulantes, encontram-se a bordo 2.227 pessoas. Jornalistas vêm conhecer o Titanic e um deles fotografa o Capitão Smith e o comissário McElroy. O convés A é visitado por comerciantes e Astor adquire para Madeleine uma joia no valor de 800 libras. Quando os comerciantes se retiram, ocorre algo inusitado: um fornalheiro com o rosto negro de fuligem olha para eles da boca da quarta chaminé, que é falsa. Algumas mulheres interpretam a aparição como um mau presságio.

Enquanto isso no convés, Cole está caminhando pelo mesmo e segue observando o belíssimo céu azul, onde algumas nuvens brancas são levadas lentamente pelo vento. Ele está tão distraído que não se depara com uma garotinha vindo correndo em sua direção, a mesma não parava de olhar para trás. A mocinha tombou com Cole e acabou caindo no chão.

— Desculpe-me garotinha, você se machucou? — Disse ele se abaixando e ajudando a mesma a levantar-se. — Espero que não!

A garotinha sorriu limpando a suposta “sujeira” que havia no vestido.

— Está tudo bem e eu não me machuquei!

— Que bom! — o rapaz sorriu ao olhar para a garotinha, que logo ele pôde a reconhecer. — Espere, você é a filha da senhorita Byrne, amiga da senhorita Chambers, não é mesmo?

A menininha de quatro anos sorriu timidamente e assentiu.

— Você é a Isabella, não é?

— Sim e você é o senhor Cole Peterson, não é? — ela perguntou com um jeito meigo.

Ele assentiu.

— Não me chame de senhor, afinal, eu não sou um homem de mais de trinta anos! — Ele sorriu e fez a mesma dar risadas. — Me chame apenas de Cole!

Isabella assentiu. O jovem levantou-se e recompôs a sua postura ao ver um oficial correndo na direção dele. Oficial esse que a garotinha conhecia muito bem. Ele usava o uniforme de oficial tradicional da White Star Line, mas tinha cabelos castanhos, olhos castanhos e uma pele clara, media cerca de 1,80 de altura. Aquele marinheiro trazia um ar de tranquilidade e paz ao olhar para ele.

— Finalmente eu te encontrei, Isabella! — Disse o oficial parando em frente a menininha e abaixando-se. — Tome muito cuidado ao correr por esse navio, pois há homens maus e desconhecidos!

— Maus? — Ela perguntou ingenuamente. — Desconhecidos?

— Sim, homens que pegam crianças e os colocam em sacos de batatas! — Alertou o oficial. — Depois, ele irá te aprisionar e te vender como batatas, por isso, tome muito cuidado!

Isabella assentiu.

— Mas, nem todos são maus, o Cole é muito bondoso! — ela respondeu e fez o rapaz sorrir. — Ele me ajudou e me perguntou se eu estava bem!

O oficial sorriu e em seguida, levantou-se ficando cara a cara com o jovem Peterson.

— Espero que ela não tenha lhe amolado, senhor?

— Peterson, Cole Peterson! — Ele sorriu mais uma vez. — E não, ela não me amolou e muito menos me perturbou!

— Oh sim, ela é uma garotinha muito educada! — respondeu o oficial. — Aliás, eu sou o sexto oficial Moody, é um prazer lhe conhecer senhor Peterson!

Moody e Cole efetuaram um aperto de mão amigável.

— O prazer é todo meu, oficial Moody!

O oficial sorriu.

— Muito bem, eu te levarei até a sua mãe, senhorita Isabella! — disse James Moody pegando na mãozinha da garotinha. — Vamos!

Isabella pegou na mão do oficial e seguiu andando. Mas virou-se para trás e acenou para Cole, o rapaz sorriu e também acenou para a garotinha, que seguiu andando sendo levada pelo sexto oficial.

Enquanto isso, na escadaria da primeira classe, o telegrafista Phillips segue descendo pela mesma e observa a cúpula de vidro no teto da escadaria. A cúpula era toda feita de vidro e deixava a luz solar iluminar l salão, ele nunca havia visto isso nos outros navios nos quais trabalhou. Nem mesmo no RMS Mauretania e RMS Lusitania – ambos navios que eram considerados luxuosos na época. Assim como insinuou Anne, aquilo era quase a mesma coisa em Amália no Palácio de Diamantes. Por falar na moça, ela estava indo em direção ao convés procurar o seu irmão quando avistou o telegrafista olhando para cima. Anne abrira um sorriso e seguiu na direção dele sob passos leves e calmos.

— Não sonhe tanto, Jack! — ela sorriu chamando a atenção do rapaz. — Ou acabará se perdendo nos contos de fadas!

Phillips olhou para ela e sorriu.

— Tentarei não ficar preso nos contos de fadas, senhorita Peterson!

Ela sorriu mais uma vez.

— Me confirma uma coisa, John! — ela o ordenou. — É verdade mesmo que hoje é o seu aniversário?

Phillips sorriu e abaixou a cabeça em sinal de timidez. Mas logo levantou a mesma.

— Sim, hoje eu estou completando vinte e cinco anos de vida!

— Tenha os meus sinceros parabéns, Jack! — respondeu a jovem com um ar de bondade. — Que o seu dia venha ser um dos melhores em toda a sua vida!

Ele sorriu.

— Mas já está sendo, primeiro por ter lhe visto mais uma vez! — Jack respondeu e ela sorriu. — Por ter a honra de lhe ver sorrir!

— Obrigada pelos elogios, Jack!

O telegrafista sorriu mais uma vez.

— Enfim, eu vou procurar o meu irmão, até mais tarde, John!

Phillips fez um sinal de cumprimento com o quepe.

— Até, senhorita Peterson!

Ela sorriu e eles seguiram caminhos opostos. Porém, quando ela seguia para o convés, sentiu que o seu coração acelerou ao relembrar do sorriso dele. Sentiu as suas mãos suarem, sua boca ficar seca e suas pernas ficarem bambas. Anne estava completamente apaixonada por ele. Isso ela não podia esconder e nem negar.

Às 13h15min, o seminarista Francis Browne, na barcaça, tira uma fotografia do Capitão Edward John Smith debruçado na amurada da asa da ponte: é a última do comandante. Também são de Browne as raras fotos tiradas a bordo e a derradeira do navio. Além disso, ele tirou a única foto da sala do telegrafo do Titanic onde nela, o telegrafista Harold Bride apareceu sentado e de costas para o seminarista. Na popa, o irlandês Eugene Daly, da Terceira Classe, despede-se de seu país tocando a canção Lamento de Erin em sua gaita de foles. Meia-hora depois às 13h30min, o Titanic levanta âncora rumo a Nova Iorque e é seguido por um bando de gaivotas, atraídas por restos de comida despejados no mar pelos dutos de esgoto.

Minutos depois, breve parada para o transbordo do prático. Retomando o curso, passa tão perto de um pesqueiro francês que os pescadores são banhados pelas ondas do sulco da proa. Eles acenam e o navio responde com um apito. Nas horas seguintes, navegando a 19,5 nós, ultrapassará o Old Head of Kinsale* e, a menos de dez quilômetros da costa, pelo canal São Jorge, será visto por inúmeras pessoas, imagem que jamais esquecerão. Mas logo o navio inclina-se ligeiramente para bombordo, por obra da grande quantidade de carvão retirada do depósito de estibordo, na tentativa de apagar o incêndio. Comentários dos fornalheiros indicam que as mangueiras d'água têm pouca pressão. Enquanto isso, na ponte de comando, o capitão Smith adentra na mesma acompanhado de Ismay, na qual ambos discutem sobre velocidade.

— Capitão, precisamos chegar em Nova Iorque na terça-feira a noite, com isso, isso todos ficaram impressionados com tamanha a velocidade do Titanic! — Sugeriu o dono da companhia. — E esse ocorrido, fará com que a sua carreira seja fechada com chave de ouro!

Smith soltou um suspiro pesado e abaixou a cabeça meio pensativo.

— Vou analisar isso e ver o que eu posso fazer!

Ismay sorriu.

— Muito bem, comandante!

O dono da companhia deixou a ponte de comando, onde nela encontrava-se o oficial chefe Henry Wilde, o primeiro oficial William Murdoch e o terceiro oficial Herbert Pitman, além deles, o timoneiro Alfred Hogg assumia o seu turno no timão. Smith estava decidido do que iria fazer, ele tinha que fazer aquilo ou não teria mais nenhum minuto de sossego.

— Muito bem, leve-o para o oceano, senhor Wilde! — Ordenou o capitão ao oficial chefe. — Ou eu nunca mais terei paz e sossego a bordo deste navio!

— Sim senhor, comandante!

O oficial manipulou o telégrafo de velocidade e a ordem foi mandada para a sala das máquinas e sala das caldeiras, onde o engenheiro chefe Bell e o foguista chefe Frederick Barrett comandavam as salas. As máquinas foram colocadas a todo vapor e as caldeiras começaram a serem alimentadas com mais carvão. O Titanic agora locomovia-se com mais força e potência rumo a Nova Iorque, onde a bordo encontram-se mais de 2.200 vidas a bordo.

— Vinte e um nós e meio, comandante!

— Muito bem, mantenha assim até a minha próxima ordem, Wilde!

— Sim senhor!

O oficial chefe deixou o local e seguiu de volta para o convés, onde conversava com o oficial Lightoller. Smith era um homem que muita das vezes se calava por motivo nenhum, tanto que as ordem que ele mandava eram passadas para o oficial Murdoch ou Wilde, que ambos passavam adiante.

— Aqui está o seu chá, senhor!

O comandante pegou a xícara das mãos do quinto oficial Lowe com um sorriso amigável no rosto.

— Obrigado, senhor Lowe!

O quinto oficial assentiu e deixou o local. Smith deixou a ponte e se prontificou na asa da ponte de comando no lado estibordo do navio, onde de lá observou a proa e o imenso oceano. O primeiro oficial o seguiu e parou ao seu lado.

— Espero que não ocorra nada de ruim nesta viagem! — comentou o primeiro oficial. — E nem mesmo colisões na chegada, assim como ano passado no Olympic!

Smith bebericou um pouco do chá.

— Igualmente, William!

O oficial sorriu. O RMS Titanic seguiu rumo ao horizonte na velocidade de 21, 5 nós, onde a bordo as almas que seriam perdidas em poucos dias, aproveitavam para desbravar o imenso navio. Na qual, Connor o apelidou de “Labirinto Flutuante”, por conta dos mais de bilhões de corredores a bordo. O navio seguiu a sua primeira e última viagem pelo imenso Atlântico Norte.

1* O RMS Olympic foi um navio de passageiros britânico operado pela White Star Line e construído pelos estaleiros da Harland and Wolff em Belfast. Lançado em outubro de 1910, foi a primeira embarcação da Classe Olympic de transatlânticos, seguido pelo RMS Titanic e o HMHS Britannic e sendo o primeiro da classe a fazer a sua viagem inaugural, que ocorreu em junho de 1911. Ele foi retirado do serviço em 1935 e demolido no mesmo ano.

2* O RMS Lusitania foi um navio de passageiros britânico operado pela Cunard Line, ele foi lançado em 1906 e foi a primeira embarcação detentor da Flâmula Azul e, brevemente, o maior navio de passageiros do mundo até a conclusão de seu navio irmão, o Mauretania. O seu triste fim foi sendo torpedeado perto de Queenstown na tarde de 7 de maio de 1915, na qual, 1.998 vidas foram perdidas.

3* O RMS Mauretania foi um navio de passageiros britânico operado pela Cunard Line e construído pelos estaleiros da Swan Hunter & Wigham Richardson. Projetado por Leonard Peskett, sua construção começou em 1904, sendo lançado ao mar em setembro de 1906 e realizando sua primeira viagem em novembro de 1907. Foi detentor da Flâmula Azul e teve o seu triste fim em 1935, quando foram demolido junto com o Olympic.

4* O Old Head of Kinsale é um promontório perto de Kinsale, no condado de Cork, na Irlanda. Um castelo está no promontório desde pelo menos o século III, com a iteração atual construída em 1223. Um farol antigo foi estabelecido aqui no século 17 por Robert Reading. Próximo dali, encontra-se os destroços do RMS Lusitania.

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