Capítulo VI

A tarde passou-se vagarosamente e às 18h30min, o navio a Cherbourg. Suas dimensões não permitem que se aproxime do pequeno cais e ele ancora ao largo. O transporte entre o porto e o navio está a cargo de barcaças da White Star Line, que também segregam as classes sociais, no SS Nomadic, Primeira e Segunda Classes, no SS Traffic, Terceira Classe e malas postais. Na próxima hora e meia, desembarcam 20 passageiros da travessia Southampton-Cherbourg e embarcam 274 novos passageiros. Entre os passageiros, embarcou a tão famosa Margaret Brown, ou conhecida apenas como “Maggie” ou “Molly”. Ela está seguindo para Nova Iorque, onde se encontrará com o seu neto que está doente. Molly era uma das 2.200 pessoas a bordo do Titanic. Às 19h00min, muitos dos vários passageiros já encontravam-se seguindo para o salão de jantar, entre esses passageiros Anne, Connor e Cole, ambos vestindo belos trajes. A moça vestia um belo vestido azul claro, com alguns detalhes brancos nas mangas e usava uma tiara que brilhava. Muito diferente de seus irmãos, que vestiam smokings e usavam belos sapatos de cor preto e brilhantes, já a irmã deles usava sapatinhos que brilhavam debaixo do vestido, que ia até os pés. Quando os Peterson desceram a luxuosa e mágica escadaria da Primeira Classe, encontraram diversos e ilustres passageiros do Titanic.

— Me sinto Amália no Palácio de Diamantes! — Comentou Anne enquanto caminhava calmamente ao lado dos seus irmãos. — É realmente mágico aqui!

Os gêmeos sorriram.

— A única diferença de você para Amália, é que o Palácio de Diamantes fica em terra firme e esse aqui é sobre a água! — Connor disse. — Então, esse aqui seria o Palácio de Diamantes flutuante!

Anne sorriu. Amália era uma curta/animação da companhia dos Petersons, que fora produzida em parceira com a Albatross Animations Ltd. O curta contava a história de uma adolescente de 17 anos, a mesma se chamava Amália, mas um dia acabara caindo da cama e parando em outro lugar, em um mundo encantado e lá havia várias criaturas divertidas e alegres. Entre eles, John, um rapazinho que morava no tal mundo encantado. Mundo esse que era belo e extraordinário para Amália e nele, encontrava-se o Palácio de Diamantes do rei Titto. A animação foi feita em 1909, com o roteiro da própria Anne, com a direção geral de Albert. Enquanto isso, perto do salão, há um homem observando os irmãos, ele está posicionado no andar de cima da escadaria e os observa, tal homem esse que estava os observando desde o começo da manhã. O que ele queria observando os irmãos Peterson?

Enquanto isso, Anne acabara avistando uma jovem de cabelos castanhos e que vestia um belo vestido de cor vermelho, com alguns detalhes pretos. Além disso, estava acompanhado de uma mulher e de uma garotinha, que aparentava ter dos 4 aos 6 anos. Aquela mulher de vestido vermelho era a velha amiga da família Peterson, ela era Dorothy Edwina Chambers, a herdeira da companhia de navegações “Chambers Line”. Anne quando viu a senhorita Chambers, não hesitou em ir atrás dela e assim se fez.

— Senhorita Chambers, que prazer em vê-la por aqui!

A mulher sorriu.

— Anne, querida, o prazer é todo meu! — Dorothy disse olhando para os olhos castanhos da mesma. — Como está a sua família?

— Estão todos bem e como está sua mãe, Lilian?

Dorothy sorriu.

— Presumo eu que ela esteja bem! — Ela sorriu. — Acredito eu que você ainda não conhece a minha amiga, Daphne Byrne, e a sua filha, Isabella Byrne!

— Prazer em conhecê-las, senhoritas Byrne! — Anne sorriu amigavelmente ao olhar para a mulher e a criança. —Bom, esses são os meus irmãos, Connor e Cole!

Daphne sorriu para eles. Cole olhou para Isabella e acenou com o dedo pra ela, que escondeu-se tímida atrás de sua mãe.

— Prazer em conhecê-los, rapazes!

Os gêmeos sorriram.

— Bom, vamos, os levarei a classe alta desse navio.

Os irmãos Petersons sorriram e seguiram atrás da senhoritas Chambers e Byrne. Eles atravessaram quase todo o salão luxuoso, até que Dorothy avistou uma mesa onde estavam os Payne/Luvidgsen's, Margaret Brown, Felicite e Dean Cottam, Bruce Ismay, o projetista do navio Thomas Andrews, os Whitman's e o Coronel Archibald Gracie IV. Algumas dessas pessoas naquela mesa eram famosas a bordo do Titanic, principalmente Andrews, que havia projetado o navio desde a quilha ao último toque final do navio.

— Boa noite, cavalheiros e damas! — cumprimentou Dorothy sentando-se em uma das cadeiras e fora acompanhada por seus convidados. — Bom, acredito eu que alguns de vocês conheçam a família Peterson, famosa por fazer incríveis desenhos e filmes. E esses aqui são Anne, Connor e Cole, filhos de Albert, o dono da companhia que morrera no ano passado!

Eles sorriram.

— Essa aqui ao meu lado é minha amiga, Daphne Byrne, e aquela garotinha é sua filha, que se chama Isabella!

Todos ali sorriram para os convidados, menos um rapazinho que mantivera os olhos focados num livro. Rapazinho esse que se chamava Edmond Luvidgsen, de 17 anos e era um Autista – que na época, era considerada uma doença.

— Prazer em conhecê-los! — disse Ismay com um sorriso no rosto. — Estamos honrados por tê-los em nossa mesa!

Os irmãos agradeceram com um belo sorriso no rosto. Assim fez também Daphne e Isabella.


Às 20h00min, com os novos passageiros já estão instalados e os barcos retomam ao porto. O restaurante À La Carte abre suas portas para quem o prefira ao salão de refeições do navio. Permanecerá à exclusiva disposição da Primeira Classe até as 23h00min. Dez minutos depois, às 20h10min, o Titanic levanta âncora, soa o seu apito três vezes, seu maquinário fora ligado a todo vapor e o navio zarpa rumo a Queenstown, na Irlanda. Vai atravessar novamente o canal da Mancha e contornar a costa sul da Inglaterra. Enquanto isso, prossegue o incêndio na carvoeira.

Nesta aproximada hora, no Atlântico, menos de 200 km ao norte da rota do Titanic, o vapor francês SS Niagara bate num iceberg, que lhe deforma o casco abaixo da linha d'água, e emite pelo radiotelégrafo a mensagem de CQD. As sequelas do acidente não são fatais para o navio, que demanda ao porto antes da chegada de socorro. É a primeira de uma série de colisões com gelo nos próximos dias. O inverno nas latitudes setentrionais não foi muito severo. Grande quantidade de gelo se desprendeu da calota polar e, à deriva, segue para o sul. O Titanic seguiu rumando para a Irlanda, onde chegaria na manhã seguinte.

Enquanto isso, após o jantar, Anne decidiu se retirar de lá, pois sentia leves dores de cabeça e precisou ir ao convés, na tentativa de aliviar a dor. Os gêmeos decidiram que iriam para as suas camas, onde tentariam descansar. Mas, no convés dos botes no lado bombordo do navio, a moça andava calmamente enquanto observava as inúmeras estrelas que brilhavam naquele céu escuro daquela noite. Porém, o seu coração acelerou ao ver o telegrafia chefe do Titanic observando o oceano, enquanto brincava com o seu quepe. Anne respirou fundo e sentiu que deveria ir pedir desculpas pela paralisia mais cedo, algo que para ela, foi uma vergonha muito grande. Ela recompôs a sua postura, passou as duas mãos no vestido, provavelmente para tirar a suposta “sujeira” que ela imaginava ter. Vagarosamente aproximou-se do rapaz e encostou-se na mureta de cor branca, que se estendia do último bote da proa ao primeiro da popa.

— Olá! — Ele a cumprimentou com um sorriso fraco no rosto. — Como estás? Tens melhorado da paralisia que te atacou mais cedo?

Anne sorriu meio nervosa.

— Creio eu que sim! — Ela respondeu e ele sorriu. — Bom, perdoe-me pelo o que eu fiz hoje mais cedo, eu nem me apresentei para você e acabei ficando igual a uma estátua!

O telegrafista sorriu.

— Bom, eu sou Anne Peterson, prazer em revê-lo, senhor Phillips!

O telegrafista parou por alguns segundos enquanto encarava a moça. A sua memória o levou para uma lembrança bem distante, tão distante que foi parar em Godalming e no ano de 1906, quando ambos se viram pela primeira vez. Depois, a sua memória trouxe a lembrança a bordo do Teutonic em 1907 e no porto de Liverpool, onde ele pegou o chapéu dela e ela sorriu para ele. Era como se o destino estivesse colaborando com o encontro de ambos, como se ele estivesse certo de algo que acontecesse no futuro. 

— Oh sim e outra, pode me chamar de John! — Phillips sorriu. — Mas eu prefiro que me chamem de Jack ou de Phillips!

Anne sorriu para o telegrafista.

— Está bem, Jack!

Ele sorriu e fora acompanhado por ela, mas o sorriso dela desapareceu e surgiu uma face de preocupação. Ela sentia que alguém estava lhe observando, alguém que ela já vira antes. Olhou para todos os lados do navio e até para as chaminés, mas não havia ninguém. Mas ela sentia que ele estava ali. Phillips percebeu que ela estava preocupada com alguma coisa, mas não sabia o que de fato era o que tanta lhe trazia preocupação.

— O que houve? Você está bem? — ele preocupou-se com ela. — Aconteceu alguma coisa?

— Não nada, mas senti a sensação de estar sendo observada! — ela respondeu olhando de um lado para o outro. — De como se mais alguém estivesse aqui entre nós!

Philips olhou para todos os lados e seguiu até perto de um bote, fiscalizou tudo e não encontrou ninguém. Depois, ele retornou para perto da moça.

— Fique tranquila, eu estou aqui! — Ele disse olhando para os olhos dela. — E nada irá lhe fazer mal, está bem?

Anne sorriu ao olhar para os olhos brilhantes dele.

— Está bem!

Eles se entreolharam com os olhos brilhantes. As horas se passaram e às 22h30min, o Titanic ainda seguia rumando para Queenstown quando passou pelo SS Aramian, da Chambers Line. Naquela hora, Phillips não estava mais na sala do telégrafo e havia deixado Bride sozinho lá, tanto que o telegrafista assistente mandou que o quinto oficial Harold Lowe fosse chamá-lo no convés, assim se fez.

— Phillips, Bride lhe chama na sala do telégrafo, pois segundo ele, já é troca de turno!

Phillips assentiu sério e pensativo. O oficial Lowe retirou-se dali e dirigiu-se para a ponte de comando.

— Enfim, eu preciso ir, agora começa o meu turno! — Disse Jack olhando para ela. — Então, podemos nos encontrar aqui amanhã, quando eu estiver na troca de turno?

Anne sorriu.

— Sim, adoraria lhe encontrar novamente! — ela disse e ele sorriu. — Creio eu que você passará a noite inteira trabalhando, não é mesmo?

— Talvez sim! — Ele respondeu afastando-se dela. — Enfim, eu preciso ir, até amanhã, senhorita Peterson!

Ele sorriu ao olhar para ela pela última vez.

— Até amanhã, John!

Ele caminhou de costas e depois virou-se para frente, com um belo sorriso estampado no rosto. John seguiu em direção a sala do telégrafo, enquanto Anne, seguiu em direção a sua cabine. Mas, mal sabia ela que o homem que a observara na escadaria, estava ali o tempo todo. Esse era nada mais e nada menos do que Harris, Dylan Harris. O mesmo rapaz que ameaçou vingar-se da família e pelo visto, não iria demorar muito. Dylan estava disposto a fazer o inferno da vida dos Petersons a bordo do Titanic, coisas que nem os seguranças do navio poderiam imaginar. O jovem havia embarcado sobre o nome de “Alfred McDonald” e iria para Nova Iorque, mas no meio do caminho, iria se encontrar com um homem chamado Hector Fitzgerald.

Enquanto Anne seguia em direção a sua cabine, o telegrafista Phillips seguia pelo corredor que levava a sala do telégrafo, mas quando fora girar a maçaneta da porta, lembrou-se da jovem, do sorriso, da voz, das características e o olhar pertencentes a ela. Ele abriu um sorriso bobo e adentrou na sala, onde viu Bride anotando alguma coisa numa folha de papel e os fones do rádio estavam nos ouvidos. O rapaz aproximou-se e tocou suavemente no ombro de Bride, fazendo com que o telegrafista assistente tivesse arrepios.

— Pare com isso, John! — Harold ordenou meio mal-humorado. — Quer me matar de susto?!

Phillips sorriu.

— Isso era apenas para testar o seu coração! — Disse o telegrafista, colocando o quepe em cima da mesa. — Enfim, já é meu turno!

Bride olhou para o relógio sobre a parede.

— Até que enfim, pensei que esse meu turno não tivesse mais fim! — Disse Harold levantando-se da cadeira e retirando os fones do ouvidos. — Afinal, você está mais de cinco minutos atrasado, Phillips!

Jack sentou-se na cadeira, colocou os fones e começou a ter contato com algum navio vindo do oeste.

— Está bem Bride, tentarei ser pontual na próxima vez!

— Assim eu espero! — Disse o assistente desabotoando o colete do uniforme. — Enfim, eu vou descansar e tenha um ótimo turno!

— Bom descanso, Harold!

O assistente passou por uma porta e puxou uma cortina de cor preta, de trás daquele pano, ficava uma beliche – onde Phillips dormia na cama de cima –, um guarda-roupas e um pequeno sofá. Bride deitou-se na cama debaixo e lá descansou. Enquanto isso, Jack continuou no trabalho até que recebeu uma mensagem de um pesqueiro chamado “Queen Anne”. O nome do pesqueiro fez com que ele voltasse a lembrar da moça novamente. A jovem que fazia o coração dele palpitar mais forte do que nunca, tanto que nenhuma das mulheres que ele se apaixonou fez com que o coração dele palpitasse mais rápido. Phillips logo percebeu que estava apaixonado por ela, sentiu que as suas mãos ficavam nervosas quando ele ouvia o nome ou a voz dela, sentiu também que ele ficava nervoso quando via ela. Mas aqui entre nós, será que esse amor irá durar depois de 15 de abril de 1912? Eis a questão que fica por aqui.

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