18
Laboratório de Hawkins 1979
Florence acabara de voltar de mais uma missão de três dias, a qual provavelmente alguém teria saído morto ou muito machucado, ela sabia disso, mas se não fizesse, ela própria seria torturada, e isso a destruía por dentro. Mas ela não poderia fazer nada, apenas queria voltar para os braços do cara que amava e sempre estava lá por ela.
Porém, quando chegou, foi recebida por alarmes e uma atmosfera extremamente caótica. Luzes piscando e falhando, e o pior: corpos espalhados por todos os corredores. Florence encostou em uma das paredes, encarando um dos funcionários completamente sem vida. O corpo era um amontoado de carne e ossos quebrados, como se fosse apenas um saco cheio. Ela levou uma das mãos a boca, e apenas sentia as lágrimas arderem em seus olhos e garganta.
Conforme ela andava pelos corredores, em busca de One e torcendo para que ele não fosse uma das vítimas, sentia seu estômago revirar, e muitas vezes teve que se controlar para não colocar tudo para fora. Em algum momento, ela corria pelos corredores, e apenas parou quando viu uma sala com a porta arrancada. 010 estava lá, também inteiro quebrado e sem vida. Além dele, Papa também se encontrava.
Ela segurou o garoto pelos braços, agora sem mais controlar nenhuma lágrima. Seu coração doía como o inferno por ver seus "irmãos" todos mortos, sem excessão. Sua mente vagou até Eleven, e torceu para que a menina estivesse ainda viva, já que não havia visto seu corpo pelos corredores e quartos. Ela abraçou o corpo de 010 e o apertou contra si, como se pudesse trazê-lo de volta a vida e concertar todo seu corpo.
Após alguns minutos, ela olhou para Papa, e percebeu que ele ainda respirava, então apenas não se importou em ir até ele. Voltou sua busca pelos corredores, sempre atenta, mesmo que o som dos alarmes a desestabilizasse e a assustasse. Finalmente ela teve a ideia de ir até a sala onde ficavam todos os mais novos. Ela abriu a porta de forma lenta, e o que viu terminou de destruir qualquer resquício de coração que ela ainda possuía.
One estava lá, ela havia finalmente o achado, mas constatara que ele era o verdadeiro culpado de todo aquele caos e de absolutamente todas as mortes que viu. E naquele momento, ele levitava o corpo pequeno e frágil de Eleven, pronto para quebrá-la por inteiro, assim como havia feito com os outros. Florence se desequilibrou e bateu as costas na porta que havia se fechado atrás de si, levando uma das mãos a boca.
— Flor, que bom que chegou. Junte-se a mim. — One comentou. Seu olhar era psicótico, assustador, intenso. Zero sentiu a ânsia consumir seu estômago e um frio subir pela sua espinha.
— Por que está fazendo isso? — Ela perguntou, em um fio de voz.
Algo na mente de Florence gritava para que ela usasse seus poderes e livrasse Eleven de tudo aquilo. Pelo menos uma pessoa ela precisava salvar, mas a maior parte do seu corpo e das suas sensações a mantiveram simplesmente parada no lugar, sem conseguir fazer nada que não fosse encarar a cena com medo e angústia.
— Depois de todos esses anos de tortura, e você me pergunta por quê? — Ele respondeu, ainda levitando Eleven.
— Essas crianças não fizeram nada pra você, Henry, por favor, deixe ela ir. — Florence ajoelhou no chão, com a voz embargada pelas lágrimas e desespero.
— Vamos acabar com isso, Zero, junte-se a mim agora, ou você será a próxima.
Ele finalmente levou seu olhar até ela, e quando se encontraram, Florence sentiu um peso gigantesco em sua alma. Como estaria ouvindo aquelas palavras do cara que amava? Ou melhor, que dizia amar ela? Como ele teria coragem de matá-la? E aquele olhar, com certeza era o que mais assustava e mexia com ela no momento.
— Você mataria quem você ama? — Ela perguntou, em uma última tentativa. One soltou uma risada nasalada, sarcástico.
— Amar? Ora, por favor, Zero...
— NÃO ME CHAME ASSIM, MEU NOME É FLORENCE. — Ela berrou de volta, ainda sentindo as inúmeras e incessantes lágrimas escorrerem pelo seu rosto, e agora também sentindo raiva.
Raiva por ter sido tão idiota. Aquilo era só uma farsa, como tudo naquela merda de laboratório, como toda sua vida foi até o momento. Memórias e lembranças falsas de uma vida miserável. Ela sentiu vontade de se estapear por ter se deixado levar, mas como não deixaria? Ele era gentil com ela desde que eram crianças. Por que ela não se apaixonaria por ele? Mas ele, por sua vez, só a usou, e para que? Nem ela mesmo sabia.
— Última chamada, Flor...
A frase de Henry foi interrompida, mas não por Zero e sim por Eleven, que de algum jeito havia conseguido se livrar dos poderes do homem e tomar o controle para si novamente. A garotinha o jogou pelo espelho que existia no cômodo, revelando uma sala a mais e o prendendo a parede branca, tão forte e tão intensamente que ele não conseguia se soltar.
Florence viu que Eleven tinha o controle agora, e iria simplesmente acabar com ele, então ela apenas saiu pela porta. Seu coração, em frangalhos, quase não batia tão intensamente quanto antes, e sua alma, destroçada, havia perdido o brilho que já era pouco. Enquanto ela caminhava para a saída, viu um dos corpos dos funcionários e usou seus poderes para que ele se transformasse nela. Uma cópia perfeita para enganar qualquer sobrevivente que tenha existido daquele lugar horrível e doente.
Chegando na saída, viu a mochila que havia vindo com ela no chão. Ela jogou o objeto quando viu o caos ao chegar no laboratório e por sorte ainda estava lá, com algumas roupas e alguns trocados no interior. Seria o suficiente.
(...)
Algumas semanas haviam se passado. Florence havia se alojado em um casebre abandonado que sabia que existia nos cantos da cidade, onde eram menos povoados. Usando seus poderes, ela conseguia transformar sempre seu último dólar em uma quantia maior para que pudesse conseguir o que comer e algumas roupas.
Ela sempre odiou fazer isso, sem contar que a deixava sempre um pouco fraca quando usava seus poderes, então, em um certo dia, ela resolveu mudar o jeito que estava vivendo, ou melhor, sobrevivendo, e foi em busca de um emprego.
Não seria um trabalho fácil, já que os poucos contatos com outros seres humanos que ela tinha eram em missões, além de não estar psicologicamente ou emocionalmente bem para fazer qualquer coisa. Nessas semanas que se passaram, Florence podia contar nos dedos quantas noites ela conseguiu dormir mais de quatro horas seguidas. As imagens do massacre no laboratório a assombravam e a angustiavam.
Além disso tudo, tinha Henry, que apenas fingiu sentir algo por ela para que pudesse concluir seu plano idiota, e pior, um plano que consistia em matar todos ao seu redor. Era certo que Florence odiava Papa e o laboratório, mas jamais desejou suas mortes, principalmente aos pequenos jovens que vieram em seguida.
Outra pessoa que não saía de seus pensamentos: Eleven. Ela havia deixado a garota lá simplesmente para morrer ou para permanecer a vida inteira trancada em um quarto, seguindo estúpidas regras, passando por testes desumanos e horríveis só para que Brenner tivesse o poder em suas mãos. Florence sentia a culpa a corroer completamente.
Corroía todos os seus sentidos e todas as suas emoções, porque além de não fazer nada para impedir Henry, ela não conseguiria nem se quisesse. Ela nem sequer sabia o que havia acontecido com ele ou com Eleven, e tinha medo demais de usar seus poderes para ver. Na cabeça dela, ela era uma completa covarde, uma inútil, tão assassina quanto Henry por simplesmente não ter tido a força de tentar pará-lo, afinal, ela o amava.
Florence espantou mais uma vez os mesmos pensamentos que a assombravam para poder focar na busca por um novo emprego. Ela caminhou pelo centro da cidade, com muita cautela para que ninguém do laboratório a reconhecesse. Ela passou na frente de inúmeras lojas, sem sentir atração por nenhuma até ver a última. Uma loja de música brilhava aos seus olhos, e quando ela olhou do lado de dentro pela vitrine, sentiu como se estivesse de frente para o céu.
Música sempre a acalmava, e o talento que ela havia descoberto só a ajudava cada vez mais. Ela nem sequer pensou duas vezes antes de entrar no estabelecimento e caminhar até o primeiro funcionário que viu.
— Olá, estão contratando?
Hawkins 1983
Quase quatro anos haviam se passado desde o massacre do laboratório e desde que Florence conseguira o emprego na loja de instrumentos, e dois anos desde que conseguira comprar seu tão amado Impala 80. Durante esses anos, ela dividiu uma quitinete com uma de suas colegas de trabalho. Não era ruim, a garota era uma boa pessoa, mas quando a tragédia do desaparecimento de Will Byers aconteceu no ano anterior, Florence se viu necessitada de ter um espaço só para si, onde poderia finalmente usar seus poderes para ajudar alguém, já que a culpa de quatro anos atrás ainda a seguia como uma sombra.
Foi então que ela finalmente encontrou o Forest Hills Trailer Park, onde um dos inúmeros trailers felizmente estava à venda. Ela não demorou em fechar negócio, usando seus poderes a contra gosto para que tivesse o dinheiro necessário. No primeiro dia de mudança, ela deixou algumas caixas no interior e outras em seu carro, sem tempo para arrumar ou desempacotar, já que estava no horário de serviço.
Naquele dia, ela jamais imaginou que conheceria o cara que iria mudar toda a sua vida. Quando ela viu Eddie pela primeira vez, ficou curiosa com o jeito expressivo e caricato dele de ser, e não se segurou para entrar em sua mente e dar uma vasculhada nos pensamentos do garoto. Foi quando ela viu a enorme admiração que Eddie teve para com ela desde a primeira vez que a viu, e isso apenas despertou um interesse maior dela.
Com o passar dos anos, conforme ambos se aproximavam e criavam uma intimidade maior, Florence sempre teve a vontade quase insana de contar toda a verdade para ele, porque de algum jeito, ela se sentia confortável na presença de Eddie, o suficiente para tentar se abrir o máximo que fosse... Porém, ela lembrava de tudo o que fez, desde quando era apenas um bebê que assassinou seus próprios pais, até o momento que simplesmente fugiu, deixando inúmeras vidas em risco.
Ela carregava a vergonha nas costas, e na cabeça dela, tinha certeza de que Eddie jamais iria querer olhá-la nos olhos após saber de tudo. Isso Florence não ia aguentar. Só o pensamento de não ter Eddie em sua vida a assustava e a preocupava. Aquele garoto estranho e com ótimo gosto musical havia conseguido entrar no coração de Zero de forma incisiva, bruta e certeira, e como ela jamais se sentiu antes, precisava da presença dele. Apenas por isso se manteve por baixo dos panos, ajudando o grupo de Eleven como podia... Apenas por Eddie.
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Autora: MEU DEUS GENTE VOLTEEEEEI!!! oiiii, tem alguém aqui lendo ainda???🥺🥺🥺 não desistam de mim por favor!!
passei por uns momentos complicados na minha vida pessoal, que só me deram um bloqueio criativo enorme, MAS, com fé nos orixás, EU VOLTEI!! a segunda parte de como tudo aconteceu na vida de Florence... no próximo capítulo voltaremos onde estávamos, no trailer do Eddie, depois de ela contar essa história toda pra eles!
gente, se tiver alguém aqui ainda, comenta pra mim o que estão achandoooo, me ajuda demais além de me inspirar... não esqueçam da estrelinha tbm, desde já obrigada aos que continuam aqui!
Bjin procêis❤️🔥
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