04
Novembro de 1984
A noite chegou na cidade de Hawkins, e parecia que a atmosfera do Halloween ainda não havia sumido totalmente, mas Eddie obviamente não deixou aquilo o abalar. Voltando de mais um ensaio com sua banda, seguido de uma partida um pouco mais curta que o normal de Dungeons & Dragons, tudo o que ele queria naquele momento de cansaço era ver Florence.
Apenas olhar para a mulher o deixava mais tranquilo, até porque ele estava quase reprovando na escola, o que acabaria com suas chances em uma faculdade, e também o deixaria mais um ano preso no que ele chamava de inferno. Por todos os dias de todos os meses, ele ia até o trailer de Florence na parte da noite, quando ela voltava do trabalho na loja de instrumentos, e ficava ali, ou até que ambos adormecessem, ou até que Florence o colocasse para fora.
Ao chegar, viu que o Impala preto da mulher já estava ali, o que era estranho, já que ela demoraria mais uns trinta minutos para chegar. Ele nem sequer entrou em seu próprio trailer, já caminhou diretamente em direção à porta dela. Deu sua única e combinada batida, pela qual Florence já saberia que era ele. Porém dessa vez, não obteve resposta. Eddie franziu as sobrancelhas e tentou de novo. Nada.
— Florence? — Ele chamou, e tentou olhar pela janela, mas viu que estavam todas fechadas e cobertas pela cortina.
Ele bateu mais uma vez, começando a ficar preocupado, e quando estava prestes a testar a maçaneta, a porta se abriu abruptamente, mas não completamente. Florence apareceu, apenas com a cabeça para fora, mas o que mais chamou a atenção dele foi sua expressão cansada, extremamente tensa e talvez nervosa. Ele viu algumas gotículas de suor em suas têmporas, e ver o estado dela apenas o deixou mais aflito.
— Você tá bem? — Ele perguntou, tentando entrar e chegar mais perto.
— Ótima. — Ela respondeu, curta e grossa, diferente de como ela costumava tratá-lo.
— Você claramente não tá bem, o que aconteceu? — Ele tentou entrar de novo, mas Florence mais uma vez o barrou.
— Não é uma boa hora, Munson. — Sua voz soava tão tensa quanto seu rosto. Nesse momento ela se moveu, e Eddie pôde ver uma coloração vermelha em seus dedos.
— Isso é sangue na sua mão? Florence, o que tá acontecendo? — Sua preocupação aumentava, e o comportamento dela não ajudava.
— Me cortei fazendo a janta, tá tudo bem. Por favor, vá embora. — Ela pediu, já tentando fechar a porta, mas ele a segurou com uma das mãos.
— Não vou embora até ter certeza de que está bem. — Ele disse, e novamente tentou entrar, mas ele não esperava nunca a resposta dela.
— Eu não quero você aqui, Eddie. — Ela disse com a voz relativamente alta. — Porra, não tem nada melhor pra fazer do que encher meu saco? Tipo, focar na merda da sua graduação? Que eu saiba está indo muito mal, não? — As palavras o atingiram em cheio. — Vai embora.
Ele nem ao menos teve reação para impedi-la de fechar a porta com força. O som da voz dela ecoava em sua mente, e as palavras machucavam seu peito com certa intensidade. Florence não era daquele jeito, ele sabia que algo estava acontecendo, e que provavelmente ela jamais teria dito aquelas palavras, mas mesmo assim não o deixava menos chateado.
Ele caminhou até seu trailer ainda sem reação. Foi até seu quarto, e nem ao menos sua guitarra o animaria no momento. Então, ele apenas colocou uma fita da Metallica no rádio e deitou-se em sua cama até adormecer.
(...)
No dia seguinte, Eddie passou um tempo maior fora de casa. Não queria voltar tão cedo e ver Florence chegando, ainda estava chateado, e sabia que se a visse, provavelmente deixaria sua irritação ir pelos ares, algo que seu orgulho não gostava. Por esse motivo, queria chegar depois dela, e não iria nem fazer menção em ir até seu trailer.
Porém, ao chegar, viu que o Impala 80 preto não estava ali, e as luzes do trailer estavam todas apagadas, o que era estranho. Eddie se preocupou de novo, mas lembrou-se da noite anterior, e apenas caminhou até seu próprio trailer. Estava sozinho, já que seu tio costumava trabalhar todas as noites. Ele pegou sua guitarra, e começou a praticar os solos de suas músicas favoritas.
Não durou tanto tempo, já que no primeiro intervalo para água que fez, ouviu batidas na porta. As exatas batidas que ele costumava fazer no trailer de Florence. Mas não seria ela, seria? Ela nunca havia ido ao encontro dele, era sempre ele indo até ela, e ainda depois da noite anterior... Não seria ela, então Eddie resolveu ignorar.
Mas as batidas se fizeram presentes mais uma vez. No mesmo ritmo. Ele revirou os olhos e caminhou até a porta, abrindo-a com certa irritação. Ver Florence ali fez com que seu peito se apertasse, ao mesmo tempo que um frio em seu estômago se fazia presente. Era uma sensação contraditória, um pouco desconfortável, mas uma grande parte de Eddie estava aliviado por vê-la.
— Oi.
Foi a única coisa que ela disse, forçando um sorriso tímido e erguendo um fardo de cervejas em uma das mãos, assim como ele havia feito no ano novo. Eddie não respondeu em palavras, mas deu passagem para que ela entrasse, e caminhou em silêncio de volta até sua guitarra. Florence entrou e fechou a porta atrás de si, logo colocando as bebidas no balcão da cozinha, um pouco bagunçado.
— Estava tocando Rainbow In The Dark antes? Ótima escolha. — Ela disse, recebendo um aceno positivo com a cabeça por parte dele, ainda em silêncio.
Ele fingiu afinar a guitarra, apenas esperando mais alguma palavra vinda dela. Ele sentia o peso do olhar de Florence sobre ele, e tentava ao máximo não ceder à tentação de olhá-la também. Ele mordeu o lábio inferior, logo tomando ar para começar a falar.
— Agora não quer que eu vá embora? — perguntou, com o tom de voz sarcástico, mas não a encarou. Florence suspirou, e Eddie engoliu em seco com isso.
— Eu nunca quero que vá embora. — Ela respondeu.
— Jura? Não foi isso que ouvi ontem. — Só então a buscou com o olhar. Ela fechou os olhos por alguns segundos, e suspirou mais uma vez.
— Eu sinto muito. — Ela envolveu o próprio corpo com os braços. — Não quis dizer nada daquilo, eu só... Só precisava de um tempo sozinha. — Ela fez uma pausa. — Você nunca enche meu saco. Na verdade, eu espero todos os dias pela sua batida boba na minha porta. — Ela sorriu, ainda sem olhá-lo.
Ele apoiou a guitarra no sofá, e caminhou na direção dela em passos lentos, até que ficassem bastante próximos. Ele inclinava a cabeça para baixo, e ela para cima, por conta da diferença de tamanhos, mas que não os incomodava. Ele teve que fazer um esforço imenso para não jogar tudo pelos ares e simplesmente abraçá-la e beija-la. Até porque eles ainda nunca tinham chegado nesse nível de intimidade.
— Prove. — disse ele, com a voz baixa e rouca, algo que ele já havia percebido que mexia com ela, já que ela tensionava o maxilar e mexia levemente a cabeça.
— Provar o que? — Ela perguntou, só então alcançando os olhos do garoto com os seus.
— Que você não quis dizer nada daquilo... E todo o resto. — Ele completou, erguendo um pouco o queixo, mas sem desviar o olhar.
— Como vou provar isso? — Eddie ergueu os braços e os ombros com a pergunta, afastando-se dela, mas ainda sem quebrar contato visual.
— Me surpreenda, Florence Jones.
Eddie não estava esperando muita coisa, ele já tinha perdoado ela, apenas estava fazendo uma brincadeira. Queria ver o que ela faria naquele momento. Florence balançou a cabeça de um lado a outro, mas um sorriso entretido se fez presente em seus lábios. Em um movimento rápido, ela voltou a se posicionar bem próxima do garoto.
Eddie franziu as sobrancelhas, mas aquilo não foi nada comparado a surpresa que teve com a próxima ação da mulher. Erguendo o corpo para cima, e puxando o rosto de Eddie um pouco mais para baixo com uma das mãos, Florence colou seus lábios nos dele sem nem ao menos hesitar.
Ele fechou os olhos, demorando um pouco para relaxar seu corpo, ainda em choque pelo que acontecia naquele momento. Florence, por sua vez, estava tão calma como nunca, e após alguns segundos, ergueu sua outra mão até o pescoço de Eddie e o envolveu. Ele logo se tocou que o momento era real, e puxou Florence um pouco mais para perto pela cintura, em um gesto gentil, porém necessitado.
Ela afastou seus rostos por um momento, colando suas testas e a ponta dos seus narizes. Ambos ainda tinham os olhos fechados, e Eddie precisou controlar sua respiração para conseguir focar em algo.
— É uma... Uma ótima prova. — Ele gaguejou levemente, ainda na mesma posição.
— Só quis pegar meu presente de ano novo que você me devia, Eddie Munson. — Seu nome de novo na voz dela, seu cheiro, seu corpo, tudo ao mesmo tempo fez com que uma energia maior percorresse o corpo de Eddie.
— Porra, você me tira do sério.
Dessa vez ele buscou os lábios dela, e não obteve nenhuma resposta negativa. Dessa vez o beijo foi aprofundado, e Eddie se derretia no gosto maravilhoso de Florence. Ela enroscou os dedos nos cabelos da nuca do garoto enquanto ele apertava mais ainda sua cintura, como se pudesse fundir seus corpos em um só.
Eddie sentia-se entorpecido. Não queria sair daquele momento nunca mais e sentia que ainda existia muito de Florence que ele gostaria de descobrir. Ela inteira o intrigava e o excitava. Seu jeito, seu corpo, seus olhos, seu sorriso, e agora seu gosto... Aquele sim seria o melhor dia de sua vida.
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Autora: OOOIII MEUS ANJOS!! mais um capítulo aqui pra vocês, bem fresquinho! espero mto que gostem!
gente, só pra atualizar caso não tenham percebido, estamos mais ou menos na MESMA época da segunda temporada, pós Halloween!!
oh, a música que a Flo disse que o Eddie tava tocando é essa aqui oh:
Rainbow In The Dark - Dio
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
foi issoooo, não esqueçam da estrelinha e dos comentáriossss, amo os surtos de vcs
BJIN PROCÊIS❤️🔥
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