6 - Caça

Um misto de choque e incredulidade rodava dentro de Igor enquanto ele via sua moto e a ladra avançarem pela avenida, costurando os veículos e desaparecendo no meio do trânsito noturno.

— Porra!

Idiota. Idiota. Idiota!

Tinha se deixado levar pela ideia de uma garota bonita em perigo e acabara baixando a guarda.

Se seu pai ficasse sabendo sobre sua falha...

Igor agitou a cabeça, o rosto vermelho de raiva.

Mas aquilo não ia sair barato.

Sinalizou para os táxis que passavam, o sangue correndo rápido e irritado pelas veias. Estava há anos no ramo tático, militar e estratégico. Ninguém, absolutamente nenhum ser que treinara com ele, tinha sido capaz de enganá-lo. Até aquela garota dissimulada cruzar seu caminho.

Atrás dele, na escuridão da praia, o mar estourava em rugidos e ondas pesadas.

Bufando, Igor entrou no primeiro táxi que parou para ele, aguardando que o aplicativo em seu celular se conectasse com o rastreador da moto. Ainda bem que tinha aceitado instalá-lo no dia da compra.

Se aquela ladra caísse com a sua Ducati...

Ah, era melhor nem pensar nisso.

— Para onde, senhor? — o taxista perguntou.

Um ponto de localização surgiu na tela do celular.

— Siga em frente. Eu te falo onde você deve virar.


*****************


O modo como o vento assoviava e atravessava seus cabelos fez Maju se sentir selvagem e imponente em cima daquela moto sensacional. O motor rugia a cada vez que ela acelerava, inflamando e incitando a rebeldia nata de seu sangue.

Não conseguiu segurar um sorrisinho travesso; imaginava que o dono daquela belezinha deveria estar furioso.

Mas era só um empréstimo.

Com certeza, aquela moto importada deveria ter um rastreador.

Maju virou à esquerda, sempre checando os espelhos, para se certificar de que não estava sendo seguida.

A sensação que sentira na praia...

Era como se alguém estivesse vigiando seus passos, sondando cada um de seus movimentos.

O trabalho com o submundo dos agiotas a fizera desenvolver um tipo de percepção tátil para aquela situação. Era uma questão de pura sobrevivência. Tinha que estar sempre atenta, ou poderia acabar com uma faca enfiada no pescoço.

E na praia...

Maju se arrepiou outra vez.

Não era possível que Víbora já tivesse mandado gente atrás dela.

Talvez eu esteja pirando, assim como meu pai. Assim como minha irmã.

Pensar em Maria Lúcia fez seu estômago se contrair.

Enquanto sua irmã estava internada sabe-se lá onde, em como, ela estava ali, pronta para assumir sua identidade, fingindo ser altruísta enquanto tudo o que queria era salvar o próprio rabo.

Quis gritar.

Mas tudo o que fez foi fazer a moto acelerar ainda mais.

Quando tudo acabasse, quando despistasse Víbora e o agiota não fosse mais um problema, iria descobrir onde Malu estava internada. E, quando a irmã perfeita acordasse, a faria desistir de continuar seguindo os planos obcecados do pai.

Isso.

Era isso o que faria.

Parou com a moto uma quadra e meia antes do hotel onde se hospedara com o pai. Estacionou a Ducati com cuidado, deixando a chave camuflada sobre ela, para evitar que outra pessoa a roubasse.

Se sua letra não fosse tão horrorosa por causa da dislexia, deixaria um bilhetinho de agradecimento para o dono da moto.

Antes de se afastar, Maju passou a mão mais uma vez no banco de couro preto.

Bem que gostaria de ter uma daquela.

Mas o meu dinheiro já está envolvido em outros planos.

Ela se virou, deixando a moto para trás enquanto andava rápido pelo quarteirão, passando por entre as pessoas sem erguer o rosto.

Perto da entrada do hotel, aquela sensação estranha e obtusa de estar sendo vigiada voltou a pairar sobre ela.

Não era possível. Tinha praticamente voado com aquela moto, se misturado no trânsito e se afastado da praia. Se havia alguém na sua cola, o sujeito teria sido despistado.

Maju apertou o passo.

Teve a impressão de ouvir passos se apertando atrás dela.

Ou era sua imaginação?

Droga, poderia ser qualquer pessoa correndo ou caminhando.

De repente, os passos não estavam mais lá.

Não ousou olhar para trás.

Maju andou ainda mais rápido.

Quase correu.

O ar era um assovio doloroso em seus pulmões quando ela cruzou as portas de vidro do hotel.

— Maju! — seu pai vociferou, vindo em sua direção. — Onde diabos você estava?! Achei que...

Ela agarrou o braço do pai, puxando-o para o elevador, evitando a todo custo olhar para trás.

— Maju...

— Não fale nada. Não faça perguntas. Vamos voltar para o quarto.


***************


— Ali — Igor falou para o taxista. — Pare ali.

Antes que o homem pudesse manobrar e estacionar o táxi, Igor abriu a porta e pulou para fora do veículo.

Enfiou o celular no bolso. Não foi difícil localizar sua Ducati vermelha, estacionada entre outras motos. Intacta. Sem nenhum arranhão. Sem nenhuma imperfeição.

Soltou o ar lentamente e passou a mão pelo banco de couro, o coração ainda descompassado.

A chave estava ali, esperando por ele.

Igor não entendeu porque alguém roubaria uma moto como aquela, apenas para largá-la para trás.

Bom, já tinha deixado de tentar compreender a mente das pessoas há muito tempo.

Só tinha certeza de uma coisa.

Era melhor que aquela garota nunca — nunca mais — aparecesse na sua frente.

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