Capítulo 7 - Hoseok

#CodigoBinarioVhope

— Como alguém pode ser tão grosseiro? — Hoseok perguntou ao se afastarem consideravelmente do colega de turma do moreno, que ainda parecia irritado.

Namjoon revirou os olhos, puxando o capuz para esconder o cabelo antes de responder, entediado:

— Não o achei grosseiro. O achei sincero, só isso — deu de ombros, olhando ao redor na procura de uma nova barraquinha de bebida. Não se esqueceu do fato de Hoseok ter derrubado seu chocolate quente no chão. — O mal educado foi você, fazendo tantas perguntas...

— Foi você que perguntou do irmão dele — resmungou.

— Mas é claro, eu não queria que você tivesse sua imagem manchada — explicou. — Quem é aquele garoto, afinal? Nunca te vi com ele.

— Ele é o novato da sala — Hoseok suspirou, seguindo Namjoon até uma barraquinha onde vendia chocolate quente e o que parecia ser hotteok*. Sua boca salivou, aceitando quando Nam perguntou se ele queria. — Eu quero o meu hotteok de nutella.

— Você vai pagar o meu chocolate quente — o roxeado retirou o suficiente para pagar apenas um hotteok, recebendo um olhar assustado do melhor amigo.

— O quê? Por que?

— Porquê você derrubou o meu chocolate no chão na frente daquele desconhecido e eu tinha acabado de comprar ele, então você vai pagar, sim!

O mais velho bufou.

— Droga... — Hoseok retirou a carteira do bolso, arrancando o valor que faltava para pagar os pedidos. Ele entregou para o homem, que guardou as notas antes de começar o preparo. Jung cruzou os braços, fazendo um bico chateado enquanto encarava o melhor amigo de canto de olho, esperando que ele dissesse qualquer coisa. Namjoon revirou os olhos, cansado. Hoseok era tão dramático, que as vezes tinha vontade de chegar nos Kim e pedir pagamento para aguenta-lo; pelo menos aquela amizade lhe traria algum lucro se fizesse isso. — Você é mais rico que eu, isso é injusto.

— Se eu sou mais rico que você, é porque você está realmente no fundo do poço — sorriu, aceitando o copo de isopor e o copo de papel com a massa frita recheada dentro. Hoseok fez o mesmo com o seu, dando uma mordida na ponta antes de dar um gole do líquido quente e seguir Namjoon durante o trajeto até o bairro que vivia. — Por que você se importa tanto com o que aquele garoto faz da vida? — ele ressuscitou o assunto, comendo o hotteok lentamente para durar. Não era todo dia que sua mãe dava mesada, tinha que aproveitar certos luxos da vida proletariada.

— Ele é estranho — murmurou, dando outro gole da bebida quente que o aquecia por dentro.

— Estranho? De que maneira?

— Estranho como... Ele tem esse olhar estranho, Nam — ele parou de andar, olhando para o melhor amigo. Namjoon ergueu a sobrancelha, dando outra mordida no doce. — Você sabe que acredito na teoria de que nossos olhos são a janela da nossa alma, e...

— E...?

— E aí que eu olho nos olhos do Taehyung, e não vejo nada — explicou. — É vazio, oco... Não tem nenhuma alma ali. Não tem... sentimentos. É bizarro.

— Todo mundo tem sentimentos, Hoseok. O fato de Taehyung saber esconder, não significa que ele não tenha. Ele só... é um bom ator — deu de ombros. Ao ver que Hoseok não diria nada, ele voltou a andar, sendo seguido pelo moreno. — De qualquer forma, você pode tentar se aproximar dele.

— Como eu faria isso? — ele perguntou curioso, dando duas mordidas grandes na massa frita. Talvez se aproximar o ajudaria a descobrir mais sobre o garoto, né?

— Você disse que ele é novato, certo? — Hoseok assentiu. — Apresente a escola para ele, ajude na adaptação... Não é tão difícil, e você pode ficar amigo dele antes que o Park lá chegue primeiro e o faça te odiar.

— Jimin nunca ficaria amigo de Taehyung. Ele não se aproxima facilmente das pessoas e o Taehyung o olhou de uma maneira estranha bizarra ontem; não vai o querer por perto.

— Então você tem uma vantagem. Agarre-a.

— Vou pensar. Obrigado, Nam.

]~[

Quando Hoseok chegou em casa vinte minutos depois, ainda segurando o copo de isopor, a primeira coisa que fez foi jogá-lo no lixo ao lado da porta; em seguida os sapatos de couro e o casaco, que logo pendurou no armário. Seus ombros estavam caídos, seus cabelos escuros despenteados, e o Jung conseguia sentir as olheiras pesando em seus olhos, enquanto caminhava até a sala de estar, vazia naquele horário.

Seu corpo desabou sobre o sofá. Sua cabeça caiu sobre a almofada verde e a abraçou, enquanto a calça vermelha constrastava com o branco do tecido. Ele estava exausto, o dia já tinha começado péssimo; Hoseok acordou com uma grande dor de cabeça, que se intensificou no momento que descobriu que precisava apresentar um seminário na escola. Com menos de uma hora no ambiente escolar, Jimin atacou, jogando na cara de todos que seu grupo tinha sido o único a se planejar e por isso era o único que ganharia nota máxima de apresentação, o colocando novamente no topo dos com melhores notas enquanto os professores não faziam nada durante a pequena cena, e o Jung só desejando que tudo aquilo acabasse. Era deprimente; era deprimente acordar cedo, era deprimente ver a cara dos professores que não conseguiam esconder sua preferência por alunos que pagavam a mensalidade ao invés de ter bolsas de estudos, e era deprimente ver por horas pessoas sem personalidade alguma fazendo coisas erradas apenas para ter amigos, sabendo que aquilo era inaceitável.

Era patético como as pessoas se colocavam em certas situações apenas para serem aceitos socialmente.

Hoseok nunca entenderia aquilo. Não entrava na sua cabeça.

Ele nunca faria aquele tipo de coisa, era o que pensava enquanto mexia com as unhas cumpridas porque não tinha paciência para cortar.

— Oi — Seokjin o olhou de cima, deixando seus rostos próximos enquanto sorria. Hoseok virou a cara, ainda mais irritado. — Está com fome?

— Não. Saia daqui — grunhiu, movendo o corpo para o lado enquanto juntava os joelhos no tórax. — Você está estragando ainda mais meu dia.

— Hoseok, o que aconteceu?— perguntou preocupado, sentando ao lado do irmão que se desvencilhou de seu toque. — Hobi...

— Não me chame assim — pediu, fechando os olhos com força. Jin suspirou. — Eu odeio quando você me chama assim.

Seokjin apertou seus lábios um no outro até ficarem brancos, piscando repetidamente enquanto seus olhos brilhavam, pela quantidade de lágrimas ali acumuladas. O mais velho abaixou a cabeça, encarando as mãos apoiadas em suas coxas enquanto se lembrava da situação que destruíra completamente a relação dos irmãos Jung-Kim. Seokjin lambeu os lábios ressecados, limpando uma lágrima silenciosa que escorreu por sua bochecha direita antes de olhar para seu irmãozinho, aquele que foi seu bebê por anos.

— Como você quer que eu te chame então, Hoseok? — perguntou afoito, sentindo a falta de ar que sempre aparecia quando se estressava demais. — Só... me diga uma forma, uma forma de te chamar e... eu respeitarei. Por favor.

Hoseok ficou em silêncio, sentindo as engrenagens de seu cérebro trabalhando a todo vapor antes de suspirar, chateado demais. Cansado demais.

— Não... me chame de nada. Não me chame. Finja que não existo, da mesma forma que você fez por anos. Você é bom nisso, hyung — sua voz saiu em um sussurro afetado, se acolhendo ainda mais no sofá. Jin assentiu, soltando um soluço enquanto as lágrimas escorriam ainda mais por seu rosto perfeito. — Você é ótimo em agir como se eu fosse insignificante.

— Eu sinto muito, Hobi — sua voz saiu afetada. — Todo dia, toda hora... Sempre que te olho, eu lembro do que eu fiz, e eu me odeio um pouco mais por tudo que te causei, por todos a insuficiência que te fiz sentir... Me perdoa, por favor. Me perdoa por ter um sido um irmão de merda, me perdoa por ter tocado no seu ponto fraco da pior forma possível.

— Eu não posso aceitar suas desculpas agora, porque eu não consigo — Hoseok o olhou, fungando ao notar o estado do irmão mais velho. — Eu sei que está arrependido, mas eu não consigo te perdoar agora... E-Eu olho para você, e só me lembro das coisas ruins que você me fez, do que você fez no meu aniversário.

— Hobi... — ele soluçou, balançando a cabeça para os lados enquanto secava o rosto.

— Eu não confio em você, e não posso te perdoar agora... Eu não sei fingir que perdoei, e não quero te perdoar ainda tendo rancor de ti. Me desculpa, mas... eu não consigo. Não agora.

— Tudo bem — ele concordou, limpando o nariz que escorria. Hoseok voltou a observar a parede, sentindo seu corpo inteiro doer.

— Eu quero ficar sozinho agora. Me deixa sozinho.

]~[

E o dia seguinte foi pior que o anterior, e começou assim que Hoseok acordou. Sua cabeça doía como o inferno, ele vestiu o uniforme rapidamente e pendurou o blaser no ombro, rejeitando a ideia de comer algo porquê seu estômago o impediria disso. Duas pílulas de remédio para dor de cabeça foram o suficiente para o deixar relativamente sonolento, fazendo com que ele trombasse corriqueiramente da bicicleta enquanto pedalava pelas ruas de Seul, tentando forças suas pálpebras a ficarem levantadas, enquanto sua cabeça pesava.

Quando chegou no campus e prendeu a bicicleta por correias, ele não evitou o bocejo que teimava em querer sair a cada dois minutos, se agarrando ao corrimão enquanto subia até o segundo andar, onde teria aula de coreano.

A primeira coisa que ele notou quando entrou na sala foi que o Trio Amaldiçoado não estava ali, e a segunda... Era a presença de Kim Taehyung, que brilhava como o Sol devido à luz da janela na sua pele, tornando-a ainda mais dourada. Os cabelos, sempre cacheados, estavam presos para trás por uma bandada, impedindo os fios de caírem em seu rosto. A terceira coisa que Hoseok notou foi a cor do tecido: verde, mas não um verde claro, como folha, mas sim um verde escuro, musgo, que combinava com seus olhos grandes que sempre pareciam ter uma luz esverdeada quando o olhava, embora soubesse que era somente sua mente pregando peças.

— Sai da frente — Hoseok só reparou estar parado na porta encarando o novato quando sentiu seu corpo ir para o lado, notando os três amigos entrando na sala, como se nada tivesse acontecido. Bom, exceto por Min Yoongi, que o olhou como se confirmasse que o Jung estava bem, embora não utilizasse de palavras para perguntar. Hoseok sorriu, e aquilo foi o suficiente para o mais baixo suspirar aliviado e seguir os amigos até seus locais de sempre, que na verdade eram marcados.

Hoseok olhou novamente para Taehyung, notando ter sido observado por ele segundos antes desse virar o rosto, voltando a encarar a passagem lá fora. O moreno mordeu o lábio inferior com força, sentindo o gosto metálico antes de ir para seu lugar, retirando o casaco cinza de inverno e o pendurando na cadeira, sem em nenhum momento voltar a olhar para o garoto ao seu lado, que parecia mais concentrado em seus pensamentos.

— Meu pai disse que pretende fazer uma festa de Natal, apenas para amigos da família — Jimin sorriu, embora seus lábios não chegassem aos olhos. — É claro que muitas pessoas de Elite serão convidadas, já que ele planeja me apresentar à sociedade ano que vem... Será incrível, tenho certeza disso — sua voz soava doce e calma, embora seus olhos não entregassem exatamente essa sensação. Suas mãos estavam paradas em seu colo, enquanto a mochila tampava seus pés e, se Hoseok reparasse bem, seus cabelos escuros não pareciam tão bem penteados como de costume.

— Apresentar a sociedade? O que seria isso? — Yoongi perguntou curioso e ao mesmo tempo confuso, embora por dentro estivesse mais próximo do tédio. Ele odiava aquele tipo de conversa, aquilo de... política.

— É um costume americano, hyung — explicou. — É como... mostrar nossa importância para a nação, entende? Você sabe que meu pai construiu muitos edifícios importantes que hoje em dia fazem parte da política sul-coreana. Ele só quer que eu siga seus passos.

— E você quer isso? — Jungkook sussurrou, somente para os três, impedindo Hoseok de ouvir qualquer coisa antes do "isso".

Mas Taehyung ouviu, e abriu um mínimo sorriso enquanto mexia o anel que Song lhe dera entre os dedos, como um lembrete do porquê estar ali.

— Você sabe minha resposta, Jk — seu sorriso aumentou ainda mais quando apoiou a mão no ombro largo do mais novo, apertando-o entre os dedos pequenos enquanto seus olhos se fechavam consideravelmente. — É claro que quero. É meu sonho.

Então eles ficaram em silêncio, como um aviso de fim da conversa. Enquanto Hoseok parecia entediado, apoiando a cabeça na mão enquanto encarava o quadro, Taehyung estava no pico da adrenalina, sorrindo abertamente enquanto voltava a colocar o anel no dedo e virava a cabeça em direção a Hoseok, que parecia dormir com os olhos abertos. Taehyung também notou que Jimin estava mais quieto que o normal, de cabeça baixa enquanto seu cabelo criava uma cortina que impediam de ver seu rosto.

— Bom dia, Jung Hoseok — Taehyung sorriu, tendo finalmente a atenção do garoto calado em si. — Achei que era um costume sul-coreano dar bom dia quando se chega em algum lugar.

— Bom dia, Kim Taehyung — ele forçou um sorriso. — Dorniu bem ontem?

O sorriso de Taehyung morreu, porque aquela pergunta..., aquela pergunta era como um lembrete.

— Sim. Dormi — e ele virou o rosto, voltando a observar o Sol do lado de fora da sala de aula. Hoseok não disse nada, sabendo que o garoto mudava de humor rápido. Um dia de convivência era suficiente para isso.

Então a professora chegou, e a sala inteira se tornou silenciosa enquanto a mulher falava sobre literatura coreana. E Taehyung... Taehyung estava preso na própria mente, encontrando uma forma de oficialmente iniciar sua missão.

Ele não poderia enrolar mais.

Afinal, só tinha sete meses.

* Hotteok é uma panqueca coreana comumente recheada com mel. É uma típica comida de rua, e é extremamente barata por também ser funcional.

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