Capítulo 34 - Hoseok
Primeiramente, peço desculpas no atraso das postagens. Infelizmente tive um período de bloqueio criativo bem forte no capítulo 35, o que me forçou a abandonar o planejamento que tinha dele e começar outro.
Mês passado minha rotina mudou MUITO, o que como uma pessoa autista, me desestabilizou ao ponto de não conseguir escrever ou dar notícias além dos poucos comentários que faço nos de vocês.
Quero agradecer com MUITO carinho os 13k, quase 14k, de visualizações. Quando comecei CB, nunca imaginei que poderia chegar sequer aos 1k, mas vocês me surpreendem a cada dia. Eu amo todos, e agradeço aos céus por tê-los como leitores. Vocês são incríveis! E continuem assim, viu?
Esse capítulo tem algumas explicações que espero não frustrar vocês, mas é o que planejei desde o capítulo um, então... espero que seja de seu agrado.
Boa leitura!
Hoseok caminhava de um lado para o outro na sala de estar, mordendo os cantos do dedo polegar enquanto era observado pelo homem sentado no sofá de coloração cinza, provavelmente pensando sobre o que se passava pela mente dele naquele momento.
— Não fique se remoendo dessa forma. Taehyung não acordará tão cedo — dissera Kim Won-Shik antes de servir-se com um pouco do chá de coloração escura, tomando um gole lento o bastante para não queimar a língua e rápido o suficiente para manchar um pouco da barba por fazer que criava-se na região de seu maxilar, forçando-o a limpar as gotículas com a manga do casaco que usava.
Hoseok o olhou, observando quão pouco do homem das fotografias ele tinha, embora os olhos e rosto firme continuassem ali, junto dos dentes pequenos que lhe lembravam os de Min Yoongi – menino este que se forçara a começar a tratar bem ao descobrir que fazia parte dos planos de Taehyung, temendo que suas emoções o controlassem. Mas tirando isso, era como se ele e aquele adolescente abraçado ao amigo, e que tinha no máximo quinze anos, não fossem mais do que completo estranhos – no máximo, parentes distantes, do tipo que não se contatavam a anos.
Jung se perguntava o que deve ter acontecido em sua vida para que a inocência que preenchia seus olhos sumisse, criando-a a imagem de um homem duro, e sem muitas paixões ao seu entorno. Mas ele guardou tudo aquilo para si temendo a resposta, ocupando o espaço vazio ao seu lado e apertando as próprias coxas de alguma forma tentando aliviar o estresse que o consumia, pensando se o amado estava bem, e relembrando de como teve pouco tempo para raciocinar o que tinha acontecido antes de Won-Shik o forçar a levar o andróide para o quarto, sendo posto na cama de casal quase como um menino cansado antes de voltar a sala, murmurando algo inaudível quando fora questionado sobre querer tomar uma xícara de chá.
Era óbvio que não tinha tocado na bandeja desde então, principalmente após o homem se recusar a lhe dar explicações até que o ser que era responsável despertasse – principalmente após Hoseok explicar o que tinha acontecido antes do adulto chegar, não entendendo o motivo do alvoroço entorno da conversa que os adolescentes tiveram, estando agora unicamente preocupado com a segurança daquele que já considerava seu namorado. Mas é claro que a ansiedade o consumia, imaginando mil e um motivos para tudo aquilo ter acontecido, e pensando se tudo ficaria bem no fim, pensando com pesar o quanto sua vida mudaria de forma ruim caso Taehyung sumisse dela, estando apaixonado em um nível que era impossível descrever. Amando-o tão ardentemente que parecia irreal um sentimento tão puro e genuíno o preencher, acreditando por anos que aquilo jamais aconteceria após infinitos corações partidos.
Mas infelizmente ele não tivera uma resposta para o que tinha dito, porque tudo mudou abruptamente após as palavras escaparem de seus lábios.
E agora, a ansiedade de revelar o que guardava em seu âmago alterado para a ansiedade de não saber o que viria a diante, sabendo que aquele desmaio continha mais coisas do que era capaz de raciocinar com seu cérebro jovem.
— Vai ficar tudo bem, ok? — Won-Shik disse após minutos de silencio, tomando a atenção de Hoseok para si. — Não é nada ruim, como deve estar pensando nesse momento. Sei que pode estar imaginando que o desligamento abrupto dele significa horrível, mas não. Infelizmente não posso te dar mais informações do que isso sem ele presente, mas... não se preocupe. Não trará consequência negativa nenhuma para você, pelo contrário. Daqui para frente, sua vida e a dele pode melhorar muito.
Hoseok assentiu, sem saber mais o que dizer.
— Agora tome um pouco de chá e coma alguns biscoitos, e não se preocupe que tudo será explicado quando ele despertar.
O garoto concordou novamente, começando a comer enquanto aguardavam ansiosamente por aquele que permitiria que tudo fosse relevado e, mesmo que Minhyuk gostasse disso ou não, Won-Shik não guardaria mais segredos.
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Ele já tinha tomado quatro xícaras de chá e comido oito biscoitos doces quando Taehyung entrou na sala, seu corpo curvado e os olhos levemente fechados enquanto coçava o cabelo escuro, olhando ao redor sem entender o que estava acontecendo. Hoseok levantou-se, caminhando até o outro para ver se estava bem ou não, sob o olhar curioso de Won-Shik, que bebia sua sexta xícara do líquido quente, pensando como eles ficavam bonitos juntos.
— Você está bem? Como está sua programação? Sua bateria está boa? Precisa recarregar? — questionou, observando todos os detalhes do andróide. — Vem, sente-se — disse, puxando o para o sofá e o deixando se apoiar no tecido cinza, ao lado de Won-Shik, que ainda os observava de soslaio.
— Estou bem, minha bateria está boa e não preciso recarregar — sua voz grossa soou lentamente, quase como se fosse um esforço falar. — Mas minha programação está meio ruim, então acho que levará um tempinho para estabilizar.
— Isso é b...
— Não vai estabilizar — Won-Shik disse antes de comer um cookie, chamando a atenção de Hoseok e Taehyung para ele. — Sua programação. Não vai estabilizar.
— E por quê? — Taehyung perguntou ao sentar-se de frente para o homem, deixando que sua coxa se apoiasse no tecido grosso de onde se sentava.
Won-Shik o encarou, observando os traços que sempre lhe traziam péssimas lembranças, embora também tivesse momentos bons cravados em sua mente, recordando-se de uma época em que tudo era mais fácil e menos trabalhoso, e onde ele tinha todos que amava perto de si. Ele tinha tanta saudade dos seus dezesseis anos, que se questionava quando aquele sentimento ruim sumiria de dentro de seu peito, sempre pronto para sufocá-lo.
Taehyung o olhou de volta, os olhos de corça franzindo-se e deixando mais evidente as sobrancelhas grossas e torneadas, lembrando-lhe de uma versão mais jovem de Minhyuk, embora ele também tivesse traços evidentes da senhora Song – uma lembrança perfeita e eterna de quem partiu a quarenta e dois anos.
— Won Shik?
— Porquê sua missão acabou, e não tem mais nada que te prenda a sua programação.
Ninguém sabia o que falar depois daquela revelação, Taehyung e Hoseok trocando olhares profundos e incertos antes de voltarem a encarar Won-Shik, que parecia calmo demais para alguém que tinha relevado algo como aquilo assim, do nada.
— Como assim minha missão acabou? Eu nem fiz nada.
— Você não precisava. Hoseok fez por você.
— Eu? — ele apontou para si mesmo, recebendo um aceno de concordância. — Como posso ter cumprido uma missão que nem é minha sem saber que cumpri?
— É uma longa história — ele fechou os olhos e respirou fundo, antes de coçar a pálpebra. — Mas basicamente, quando Song começou a planejar sua criação, você não era para ser um andróide governamental. Você existiu meio que para suprir algo que Minhyuk sentia, algo que ele precisava ter para sentir-se vivo novamente. Foi totalmente inútil, já que o que ele precisava não retornaria, então ele teria que viver com o que tinha, com quem era. Mas mesmo assim, ele gostava de ti, e continuou a te planejar. Ele tinha planos para ti, planos para que você não fosse o único andróide existente, e que seu projeto fosse algo que viria a ser algo criado em massa, e que outras pessoas poderiam usufruir: um robô que serviria para ser uma família, para alguém que perdera uma pessoa que amava — explicou, lembrando-se de como tudo que tinha acontecido naquela época. — Mas então o governo interferiu, e com medo de mudarem tudo que ele planejou, Song criou um ponto de escape em sua programação.
— Um ponto de escape?
— Sim — assentiu. — Uma frase não comumente usada, mas que dirigida especificamente para ti, faria com que sua programação reiniciasse, e toda atualização não pré autorizada pelo próprio Song seria excluída da sua lista de ''não importantes''. Então, a missão que ele colocara para você completar, deixaria de ser importante para ti, e a verdadeira começaria. E todo qualquer controle em você, vindo do governo norte-coreano, seria automaticamente bloqueado, junto do sistema de localização. Você seria incapaz de ser descoberto, não importa onde esteja e com quem, e nem mesmo o próprio Minhyuk saberá.
— E é por isso que minha programação está confusa?
— Porquê a palavra de escape foi usada — assentiu.
— E qual palavra seria essa? — perguntou confuso.
— ''Eu te amo'' — Hoseok murmurou ao seu lado, chamando a atenção de ambos. Ele encarava Won-Shik diretamente. — Foi essa, não foi?
Won-Shik o observou por segundos silenciosos que pareciam durar horas na visão do casal, antes de concordar. Taehyung suspirou cansado, enquanto Hoseok apertava os braços ao redor do corpo, sem saber como se sentir.
— Minhyuk sempre acreditou que adolescentes dizem essa frase sem ter noção dos próprios sentimentos, como se fossem qualquer palavra ao vento — explicou. — Ele disse que a coisa mais fácil seria alguém dizer que ama o Tae, sem de fato sentir. Unicamente por ser, fisicamente, um esteriótipo atrativo aos olhos. Então, Taehyung não se apegaria, e nem a pessoa, e ele não ficaria obcecado também por sua missão. Seria fácil. Mas levou quatro meses para alguém dizer que o ama, e... foi com sentimentos. E eu tenho certeza que você não vai querer desistir da missão, Tae.
— De jeito nenhum. Estamos perto de descobrir tudo.
— Bom, eu não o julgo — ele deu de ombros. — E como Minhyuk descobrirá por si mesmo o que aconteceu... continue investigando silenciosamente, e venha até mim quando tiver dúvidas.
— Tudo bem — Taehyung concordou, sem saber ainda como reagir a aquela revelação. Won-Shik assentiu novamente antes de se levantar, caminhando até seu quarto enquanto murmurava sobre precisar de um remédio para uma dor de cabeça chamada Song Minhyuk e uma boa noite de sono. Hoseok continuava calado. O andróide o olhou após minutos de silencio, chamando-o para sentar-se ao seu lado. — Você está bem?
— Sim — ele assentiu. — Só estou pensando sobre o que ele disse.
— Sobre? Seu ''eu te amo'' ter me desprendido daqueles idiotas ou sobre ele apoiar minha missão mesmo que Song não apoie? — perguntou, com um mini sorriso nos lábios bonitos.
— Sobre o que ele falou sobre adolescentes dizerem que ama alguém sem realmente sentir — explicou, vendo o sorriso do outro se fechar. — E penso... quantas vezes alguém já não disse que ama a outra pessoa sem amar de fato, para que esse tal Song pense que é algo comum.
— Mas é — respondeu, chamando atenção do outro —, só que isso não significa que eles fazem de propósito.
— Como assim?
— Bom — ele se mexeu na cadeira, antes de cruzar os braços e observar o filhotinho de cachorro que dormia no carpete. Fora uma sorte que Won-Shik não tivesse o rejeitado até então. — Uma coisa que aprendi vivendo na Coreia é que seres humanos não tem controle dos próprios sentimentos, e mesmo que pense que sintam algo... podem não ser reais, e estarem somente confusos. Então dizer ''eu te amo'' pode ser algo simples, quando não sentem de verdade.
— Eu entendo — respondeu, recebendo outro sorriso do robô —, mas eu fui sincero quando disse que te amava. Eu te amo tanto que meu coração parece que vai explodir quando te vejo, e talvez isso só seja a ocitocina fazendo efeito no meu cérebro, mas eu fui criado por um romântico nato e... eu sinto que é muito mais do que algo químico, entende? Senão... senão você nem teria se apaixonado por mim, se fosse.
— Eu sei. Por céus, Jung Hoseok, eu sei que você está falando a verdade — ele aproximou-se, unindo suas mãos em um entrelaçar enquanto a cabeça do adolescente era apoiada em seu ombro e seus olhos se uniam, sorrindo ao notar a forma que o humano o observava. — E eu prometo que, quando essa missão acabar, e eu me permitir compreender cem por cento o que sinto por ti, eu lhe direi. E com isso, serei o namorado que você merece.
— Você já é — sussurrou de forma doce, dando um beijo de leve em seu ombro. — Você já é o melhor namorado de todos, mesmo que nunca tenha me pedido de namoro.
— Achei que não precisava — explicou, ao ver Hoseok rir. — Achei que dizer o que sentíamos e ficarmos juntos já era um namoro.
— E é — assentiu, compreensivo. — Mas tem pessoas que se importam com pedidos de namoro.
Taehyung se ajeitou no sofá, de forma que a cabeça de Hoseok ficasse deitada em seu colo e tivesse mais facilidade para acariciar seu cabelo escuro, sob o olhar gentil do outro.
— E você é uma dessas pessoas?
— Se fosse outro momento, alguns anos atrás, sim — disse. — Mas agora? Contigo, aqui? Não acho que seja necessário.
— Ótimo, porque eu não faço ideia de como se pede alguém em namoro — murmurou, recebendo um riso mais alto do outro – que logo foi controlado ao se lembrar de Won-Shik adormecido.
Os braços de Hoseok se enrolaram ao redor da cintura de Taehyung, aproveitando o carinho enquanto observava o pequeno cachorro mordendo o pé da mesinha de centro, sorrindo ao notar quão pequeno ele era comparado ao móvel, e principalmente ao sofá que parecia ter o triplo de seu tamanho – e também o de seu dono. Ele questionava-se se Kim Yeontan cresceria muito com o tempo, e pensou no quanto de estresse ele poderia causar à família que agora era sua, rindo ao pensar na maneira que Taehyung usaria para controlá-lo. Seus olhos se fecharam ao sentir a unha curta puxar seus fios para trás, expondo sua testa limpa que rapidamente fora tocada pelos lábios carnudos, fazendo-o sorrir levemente.
Seus olhos se abriram, notando quão próximo Taehyung estava de si antes de tocar seu rosto com cuidado, seu coração acelerando ainda mais quando os olhos do mais velho se fecharam e ele permitiu que seus narizes se tocassem, antes de trazer os lábios rosados para os seus, unindo-os. Foi apenas um toque tenro, mas o suficiente para que os hormônios da felicidade trabalhassem em seu cérebro à alto nível, deslizando sua boca para o maxilar e a região do pescoço do mais alto, que suspirara pesado com o toque carinhoso e carnal em sua pele.
— Hobi... — ele sussurrou, antes de Hoseok se afastar para observá-lo.
— Sim? — os olhos de Taehyung se abriram, aninhando-se no contato que recebia em sua bochecha fina, observando a maneira que Hoseok o olhava, e se perguntando silenciosamente se o olhava daquela mesma forma. Não sabia a resposta, mas uma área de si sentia-se quente ao constatar se podia sentir mais do que acreditava ser capaz. E, ao mesmo tempo, aquele fato o aterrorizava.
— Nada — murmurou, balançando a cabeça em negação. — Deixa quieto.
— Tudo bem — assentiu compreensivo, antes de ser beijado novamente.
Hoseok o abraçou com força, deixando que o beijo se aprofundasse à medida que seus corpos se aproximavam mais e mais, e seus dedos tocavam com leveza os fios escuros e ondulados. As mãos grandes apertaram sua cintura, e ele aproveitou disso para inverter seu corpo e facilitar o contato entre ambos, ao invés da maneira que estavam anteriormente.
Sempre que se beijavam, se tocavam, ou conversavam calorosamente, uma parte do Jung se enchia mais e mais de sentimentos bons, pensando quanto tempo tinha desperdiçado anteriormente com garotos que jamais lhe deram o que Taehyung dava, e como isso era irônico de se pensar, sabendo de onde ele vinha e como se aproximaram. Mas ainda assim, aquilo nunca tinha feito tanto sentido. Como uma parte de si sempre estivera esperando para ser do Kim, não importava como fosse: sendo amigos, amante, ou um casal, a relação entre ambos sempre seria indescritível e distinta de qualquer outro relacionamento que tinha. Até mesmo com Namjoon, que era próximo desde a infância.
Nunca fizera tanto sentido. Como se o destino decidisse que sofrera o suficiente e agora merecia toda a felicidade.
E ele também se perguntava até quando duraria aquela paz que o preenchia.
Nada que era bom durava para Jung Hoseok.
Seus rostos se afastaram, permitindo que Taehyung abrisse um mini sorriso antes de puxá-lo para si, abraçando o adolescente com todo o carinho que poderia colocar no ato.
E talvez não demorasse tanto para Taehyung ter certeza do que sentia.
]~[
— E ele simplesmente desmaiou? — Namjoon perguntou, dando uma olhada nas anotações que Hoseok fazia desde o dia que encontrara Jimin na clínica. Eles estavam na casa do Kim, após Namjoon decidir que pintaria o cabelo e finalmente tiraria a cor púrpura, e ele aproveitou para levar tudo que tinha escrito e, finalmente, conversar sobre o que tinha acontecido na casa de Won-Shik dias antes. Namjoon sempre o ajudava a entender coisas que não notaria sozinho.
— Não foi necessariamente um desmaio — murmurou, observando as fotografias postas na sala de estar do amigo. Era visível a quantidade de imagens familiares em que Hoseok estava presente, e de alguma forma isso sempre o fazia se sentir amado. — Sabe quando seu celular superaquece, e ele reinicia sozinho?
— Isso sempre acontece com meu computador, por causa dos programas que uso em programação — assentiu, antes de erguer a cabeça para olhá-lo. Hoseok retribuiu o olhar. — E como ele está? Sobre a questão da missão.
— Ainda obcecado. E isso só vai passar quando o Park for preso.
— Acha que ele realmente será preso? — sua sobrancelha se ergueu, cético. — Ele é rico, e os deuses sabem que a Coreia não pode ser dita como um país legalmente ético. O dinheiro compra tudo aqui.
— Eu sei, Nam. Ele também sabe. Jimin sabe. Acho que... ele simplesmente ignora essa parte, provavelmente para não se decepcionar, entende? É a primeira experiencia humana dele, e acho que ele não quer decepcionar Jimin como um bônus.
— Mas ele vai, porquê é impossível suprirmos as expectativas de outras pessoas. Sempre decepcionaremos alguém.
— É, eu sei. Mas sinceramente, tenho medo do que ele é capaz de fazer para conseguir derrubar aquele homem, mesmo depois de finalizar a verdadeiramente missão dele.
— Eles exerceram a ele um trabalho que simplesmente deveria ser da justiça, e decidiram que ele só ficaria em paz quando concluísse — murmurou, completando anotações de Hoseok com suas próprias. — Me pergunto quão estúpido eles foram ao pensar que era só falar a verdade e ele desistiria, principalmente ao ver o estado que Jimin estava com o que o pai fazia. Foram ingênuos. Ele jamais abandonaria alguém que precisa de ajuda.
— Ele tem um desejo por justiça muito forte — concordou, lembrando-se de como o namorado agia quando não concordava com algo que faziam. Suas feições mudavam e ele parecia pronto para matar alguém só no soco. Era assustador e fascinante ao mesmo tempo.
— Me pergunto como será quando ele voltar para Coreia do Norte.
Hoseok o encarou, com a sobrancelha erguida e uma expressão indecifrável no rosto bonito.
— Ele não vai voltar.
— O que? Por que? — Namjoon o olhou, desviando o olhar das anotações escritas em um hangul bagunçado misturado com a escrita perfeita que combinava com a de Taehyung.
— O que você acha que vai acontecer quando ele voltar para lá? Ele saiu da programação dele, não tem como rastrearem sua posição, nem mesmo seu criador. Se ele voltar para Pyongyang, vão resetar ele. Vão apagar sua memória, apagar quem ele é, sua essência. É justo que ele tenha passado por tudo que passou aqui, para esquecer completamente depois? Não acho que seja — negou rapidamente. — Ele merece mais do que aquele fim de mundo, sem qualquer acesso ao exterior. E... ele também não gosta de lá, ele não quer voltar. Taehyung quer ser livre, e o mínimo... o mínimo é que eu dê isso a ele.
— E como você faria isso?
— Eu não sei, preciso pensar — admitiu. — Mas darei um jeito.
E aquelas palavras assustaram Namjoon mais do que qualquer coisa que Taehyung poderia fazer em qualquer outro momento.
— Tome cuidado, Jung Hoseok. Infelizmente você fez amizade com um garoto sem boas condições financeiras e não poderei pagar sua fiança.
— Se meus pensamentos estarem certos, você irá comigo para a cadeia — sorriu em resposta, que serviu para arrepiar ainda mais o corpo de Namjoon. Ele simplesmente não sabia se aquilo era ou não uma piada, mantendo-se calado temendo a resposta.
— Só... — pensou nas suas palavras, sob o olhar do adolescente que mexia com cartas de baralho que sua irmã deixara na mesinha de centro. — Não faça nada que eu não faria.
— Poxa — seus lábios se juntaram em um bico, antes de retirar uma carta curinga do montinho, pondo-o de frente ao rosto. — Isso diminui muito a minha lista.
— Eu sei, foi proposital.
]~[
Os Kim-Jung jantavam juntos naquela noite, e Hoseok não conseguia parar de pensar em como estava sendo as aulas daqueles últimos meses. Era inegável dizer quão sobrecarregado ele se sentia; a quantidade de aulas que tinha, a maneira que os professores agiam, e como tudo parecia confuso demais, principalmente ao relembrar a maneira como seus pais trabalhavam cada dia mais e mais, no desejo de pagar por seus estudos, que vinha piorando as notas por não conseguir se esforçar o suficiente. E sempre que aqueles pensamentos vinham, as memórias retornadas, ele relembrava da conversa que tivera com Kim Taehyung a pouco tempo, onde o mesmo o aconselhava a mudar de escola, e ir para uma onde as coisas poderiam melhorar.
Na época ele recusou, mas ao receber sua nota da aula de coreano, daquela professora que sempre o tratara mal, tudo fizera sentido. Ele jamais se adequaria à aquela escola, e aqueles professores jamais o aceitariam, então do que adiantava continuar em um lugar que o fazia mal cada vez mais? Do que adiantava voltar para a casa chorando, relembrando a maneira que os colegas o olhavam, se questionando o porquê de ele estar ali? Do que adiantava? Não achava que adiantaria.
— Hobi? Você está bem? — seu pai questionou, comendo um pedaço do porco agridoce que Hoseok ajudou a mãe a preparar.
O adolescente o olhou, desviando para a mulher sentada ao seu lado e em seguida para o irmão, que esbanjava os fios escuros – essa por sugestão do mais novo. Seokjin ergueu a cabeça, reparando a maneira que o pai observava o irmão e em seguida a mãe, concentrada em comer o arroz cozido e desviando o olhar silenciosamente para o marido, que observava o filho caçula.
Por fim, ele tomou coragem o suficiente para falar o que pensava, temendo as reações que teria.
— Eu quero sair da Huimang, e ir para uma escola pública — disse de uma única vez, abaixando em seguida a cabeça para seu prato, e ignorando os olhares que recebeu.
— Tudo bem — o mais velho disse —, se é isso que você quer.
— Já tem uma ideia de qual outra escola ir?
Ele ergueu a cabeça, confuso.
— Espera, vocês não estão bravos comigo?
— Por que estaríamos? — o progenitor perguntou, comendo mais da carne suína.
— Você nunca pareceu gostar da Huimang, Hobi. Só esperamos seu tempo para decidir se iria querer continuar ou sair — Seokjin deu de ombros, dando um gole do chá gelado. — E fico aliviado que você decidiu sair. Aquela escola claramente não te fazia bem.
— Acho que para ninguém que estuda lá, na verdade — a mulher completou. — Vocês viram o caso do estudante que processou a escola por negligência? O menino estava sofrendo bullying por ser bolsista e a escola não fez nada!
— E o que deu depois?
E eles começaram uma conversa que Hoseok claramente não estava interessado em participar, sentindo-se muito mais satisfeito para comer sua refeição, enquanto ouvia o debate a respeito dos cuidados com saúde mental que eram escassos no país de primeiro mundo. Mas ainda assim estava feliz, porquê sabia que, mesmo que seus pais tivessem dificuldade em entender suas dificuldades assim como as do irmão, ainda assim apoiavam eles, e preocupavam-se com sua saúde mental, diferente de outros pais da região. E aquilo era suficiente.
]~[
— Estive pensando, e acho que seria uma boa ideia tentarmos encontrar um meio de tirar Jimin da clínica — Yoongi sugeriu em um dos encontros na casa de Namjoon, sendo observado por todos os outros presentes que se tratava de Hoseok – após alguns pedidos de desculpa do casal burguês por tudo que aconteceu na época da escola –, Namjoon, Taehyung e Youngjae, que lia as anotações feitas pelos Kim's junto do Jung.
— Por quê? Jimin não está mais seguro lá do que fora da clínica?
— Por enquanto. Mas acho que o pai dele pode fazer algo contra sua vida se descobrir o que planejamos, e sabemos que há uma chance de ele descobrir.
— Não se pararem de me incomodar e permitirem que eu faça meu trabalho — Youngjae disse sem desviar os olhos do caderno, chamando a atenção dos presentes. Foi inevitável que ele erguesse os olhos dos papéis, encarando os adolescentes com uma expressão entre angústia e curiosidade. — Por quê me olham assim?
— Porquê queremos saber até onde você chegou com as pesquisas.
Aquele que tinha fala tinha vindo de Taehyung, que mexia despreocupado na dobra da camisa verde.
— A boa notícia é que eu descobri o sistema de segurança que Park usa na casa dele — disse, vendo os adolescentes abrirem largo sorrisos —, a má é que o sistema é tão complexo quanto o da polícia.
Foi inevitável as feições sorridentes não se fecharem em carrancas profundas, que o fez rir.
— E agora? — Jungkook perguntou, chateado.
— Eu invadi a polícia, não invadi? Vou conseguir invadir a do Park também. Só me deem tempo.
— Te deixaremos quieto para trabalhar, Youngjae. Só nos avise quando precisar de ajuda.
— Sim, claro. Também tentarei dar notícias recorrentes.
— Obrigado.
— Agora — Namjoon chamou, apoiando-se nas costas do sofá —, vamos falar sobre o que tem no cofre do Park.
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