Capítulo 32 - Hoseok
Hoseok encarava o papel de parede do quarto, lembrando-se de tudo que conversara com Jimin alguns dias antes.
As coisas estavam confusas desde que voltara para casa, se encontrou com Jin, levando Taehyung junto – tendo o combo da conversa ainda mais estranha que os três tiveram -, e depois retomando para casa, após cair no sono nos braços do namorado no parque que tanto apreciavam.
Sua mente estava confusa nos últimos tempos. Tudo bem que Hoseok não poderia ser considerado uma pessoa com muitos neurônios funcionais – devidamente não era -, mas tudo que descobrira nos últimos tempos, com o que viria a acontecer no futuro, e a possibilidade de alguma maneira perder Kim Taehyung para um povo que odiava porque foi crescido para odiar... era confuso, e o consumia de dentro para fora, sem saber até mesmo como reagir a coisas que já fora acostumado.
Ele ainda não tinha falado com seus pais desde que Taehyung lhe trouxera para casa, "carregando-o'' pelas ruas de Seul enquanto sua mente ainda não tinha se reorganizado, perguntando-se o porquê de não estar dormindo como estava poucos minutos atrás, odiando a forma como seu corpo era forçado a andar até a casa dos Kim, ouvindo a maneira como os pés do garoto ao seu lado pressionavam o chão, e o vento que balançava suas vestes e as faziam tocar seu corpo, causando-lhe arrepios. Era como se sua mente estivesse em um limbo entre sonhos e realidade, até que eles chegaram e ele ouviu o garoto mais velho conversando com os seus responsáveis por alguns segundos antes de se despedir.
E tudo isso tinha acontecido a menos de uma hora.
Era como se ele não soubesse mais o que era real ou imaginário, sonho ou realidade.
Quão louco estava?
— Eomeoni me pediu para ir na padaria do Sr. Choi comprar pães e trouxe isso — Jin começou ao entrar no quarto, fazendo com que Hosoek desviasse o olhar da parede para ele, notando o pacote em suas mãos. Ao ver que tinha a atenção do irmão, ele abriu o saquinho de papel orgânico e tirou de dentro dele um croissant. — Chocolate. Seu preferido.
— Obrigado, hyung — murmurou, antes de voltar a se ajeitar na cama, juntando suas pernas em um cruzamento, de forma que pudesse apoiar suas mãos na coxa.
Jin sorriu, antes de retirar outro croissant do mesmo pacote, começando a comer. Hoseok sempre ficava surpreso com o quanto Seokjin e seus pais comiam: eles faziam uma refeição e facilmente poderiam comer mais meia hora depois, enquanto Hoseok era alguém que simplesmente não conseguia digerir muita coisa de uma vez, principalmente após um chá de tarde como tiveram na companhia de Taehyung.
Por conta disso, ele apenas deu uma mordida no doce, sob o olhar do irmão mais velho.
— Por que você está assim, Soleil?
— Apenas cansaço, hyung — ofereceu um sorriso, antes de morder mais um pedaço do croissant que até que era bom. Melhor que o do senhor Park, pelo menos.
— Que tipo de cansaço? — questionou, com um olhar preocupado.
Hoseok não o julgava pela forma que o olhava. Sempre que o caçula dos Kim-Jung estava perto de uma crise, ele sempre se fechava para todo mundo, apenas dizendo que estava ''cansado''. E depois, ele ficava de cama por dois dias, sem conversar com ninguém.
— Me sinto sobrecarregado, mas não é nada grave, ou uma crise — ele sorriu, tentando passar confiança. — É só que... acho que recebi muita informação em pouco tempo, então meu cérebro está um pouco cansado, ou confuso. Mas vai passar, hyung. Só preciso dormir um pouco.
— Tudo bem — o adulto assentiu, antes de acariciar seus cabelos escuros que começavam a passar quase em seu queixo, devido ao motivo de eles crescerem absurdamente rápido. — Só termine de comer, ok? Para que não precise levantar depois.
— Tudo bem, hyung.
Ele voltou a acariciar os cabelos do irmão, enquanto assistia Hoseok terminar de comer seu doce enquanto fazia o mesmo.
A verdade era que, após tudo que tinha acontecido com Hansol e o afastamento entre eles, Hoseok tinha perdido mais de sete quilos, por simplesmente não se alimentar e ficar o dia todo na cama, pensando no que fizera de errado para ser sempre rejeitado. Aquilo destruiu o mínimo de autoestima que tinha época, e combinado com tudo que passava com Park Jimin... fora um combo para o garoto simplesmente desistir de fazer o que gostava antes, aceitando unicamente a presença de Namjoon em sua vida enquanto se via sem saber o que fazer consigo mesmo.
Quando terminou de comer, sentindo-se mais cheio do que antes, Hoseok deitou-se na cama e permitiu que o irmão mais velho o cobrisse, acariciando seus cabelos que precisavam de um novo corte enquanto as palavras ''descanse, Soleil'' lhe traziam um certo conforto.
E ele dormiu, entrando em sonhos calorosos que não se lembraria ao despertar.
]~[
Hoseok nunca soube a diferença entre amor e paixão, mas acreditava que o que sentia por Kim Taehyung estava acima de qualquer sentimento que você tem por alguém durante sua adolescência, e o fato de agora saber tudo que o amado escondia só alimentava ainda mais os sentimentos bons que sentia, sabendo que os segredos sumiam pouco a pouco, e a união entre eles se intensificava.
Hoseok odiava que mentissem para ele, mesmo que mentisse às vezes para sua autoproteção. Mas quando Taehyung mentia, não era raiva que sentia; era preocupação. Era preocupação do que Taehyung poderia estar passando, guardando tudo para si até o motivo em que explodiria em sua cara. Era preocupação de pensar que o amado poderia partir para o outro lado da fronteira – e isso era outra coisa que uma parte de Hoseok não tinha entendido ainda - e ele jamais saberia como ele estava, se estava seguro, ou seu caráter seria alterado por pessoas horríveis que poderiam moldar seu jeito de agir por uma nova vez, fazendo-o esquecer quem era.
Hoseok tinha medo de ser esquecido. Mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Era por isso que ele convivia pouco com a família, era por isso que ele se aproximara tanto de Namjoon e de seus pais, vendo-os também como figuras paternas, e por isso que sofrera como se tivesse perdendo também uma parte de si quando Kim Namsoon se foi, deixando dois filhos e aquele que considerava como um de coração.
Por isso que ele não conseguiu apoiar Namjoon no dia do funeral, assistindo o amigo partir-se em pedaços enquanto sequer conseguia segurar os frangalhos de sua alma em suas próprias palmas, assistindo a forma como Seokjin ajudara o melhor amigo, pensando que, talvez, o mais velho não fosse tão ruim quanto seu cérebro tentava acreditar, que talvez, só talvez, ele pudesse se importar verdadeiramente com alguém. Mesmo que, no fim, não fosse com ele. Mesmo que, no fim, ele sempre fosse a última opção.
Mas pela primeira vez em muito tempo, ele não era a última opção de alguém. E que existia sim pessoas que o amavam, então por que não demonstrar todo seu amor de volta? Por que guardar para si coisas boas, enquanto o mundo parecia ruir em desgraças que se alastravam por cada canto daquele planeta mal habitado, onde todos lutavam por poder? Por que não?
Era por isso que ele caminhava naquele momento em direção a casa de Taehyung, segurando a caixa que encontrara a pouco jogada próximo ao mesmo local em que seu melhor amigo e o garoto que amava se viram pela primeira vez. Pequenos sons saíam do embrulho, porém ele os ignorou enquanto evitava os olhares tortos direcionados para si, sabendo quão suspeito poderia parecer naquele momento.
Ao atravessar a rua cheia de pessoas e virar na primeira á esquerda, ele já sabia ter chegado ao bairro tão pouco conhecido, cuidando para não trombar em ninguém enquanto seus olhos desviavam poucas vezes a caixa que segurava, confirmando que estava tudo bem dentro dele. Hoseok esperava sinceramente que o presente fosse do agrado, embora um tanto... precipitado.
Mas bom, Taehyung o conhecera impulsivo e Hoseok continuaria impulsivo porque já fazia parte de si, então ele que lutasse para se acostumar, pensou ao sentir o peso das outras coisas que comprara na mochila que carregava no ombro, sorrindo abertamente ao notar que estava próximo da rua familiar, pensando se o Kim gostaria do que lhe entregasse, embora estranhasse por um tempo.
Por fim, ele apenas agarrou-se ao embrulho, continuando a caminhar como se sentisse o maior do mundo.
]~[
Taehyung caminhara até a porta sentindo-se levemente exausto, após passar tanto tempo revisando as lembranças da conversa que tivera com Jimin na clínica, junto de todas as informações que Youngjae lhe passou, ao contar que as informações dadas sobre as posições das câmeras foram deveras úteis para que se acostumasse com o sistema de segurança e o ajudasse a encontrar o melhor meio para invadi-las sem que o Park descobrisse.
Quando saiu do quarto após a conversa com Song, Won-Shik disse que sairia para resolver algumas coisas e sumiu desde então, deixando-lhe sozinho para continuar resolvendo suas coisas, pensando quando o protetor voltaria para contar o que tinha conversado com o criador. Era uma pena que ele não estivesse ali para ler suas anotações, como fez nas outras vezes ao parar de ver suas lembranças como fazia nas suas primeiras semanas em Seul.
Era como se a relação deles crescesse dia a dia, fortalecendo-se e, de alguma forma, transpassando o que significava ser apenas uma obra e seu cuidador. E, só talvez, isso tivesse haver com os sentimentos que cresciam dentro de Taehyung, moldando-o, e fazendo-o entender, como disse a Song, o que era estar verdadeiramente vivo.
Mas continuava aterrorizante.
A campainha tocou pela terceira vez, o que fez os passos de Taehyung se apressarem antes de alcançar a maçaneta, virando a chave para a direita e assim destrancando a porta, abrindo-a.
Ele só teve tempo de ver uma sombra passando por si antes de Jung Hoseok entrar na sua casa, com um enorme sorriso em seus lábios bonitos com formato de coração e uma caixa de papelão nas mãos grandes e pálidas, empurrando rapidamente com um movimento de cabeça os fios longos de seu cabelo que insistiam em cair em seu rosto visivelmente com falta de vitamina D.
— Desculpa chegar assim — ele teve a decência de dizer —, mas eu estava lá na praça e vi algo que pensei: poxa, o hyung vai amar! Aí eu vim — Hoseok sorriu, antes de sentar-se no chão e fazer um sinal para que Taehyung o acompanhasse. E ele o fez, trancando rapidamente a porta antes de ocupar um espaço do piso sem carpete e confuso com o que acontecia.
Hoseok retirou a mochila que carregava nas costas, deixando-a cair no chão com um barulho que era alto demais para os padrões comuns de coisas que o Jung carregava de um lado para o outro e fez outro sinal para que Taehyung aproximasse seu rosto antes de abrir a caixa com pequenos furos em sua tampa, deixando a mostra um cobertor cinza furado que parecia ter algo amontoado em seu meio, embora o androide não pudesse dizer exatamente o que tinha ali.
— E então? — Hoseok o encarou, com um sorriso enorme de quem sabia que tinha um bem precioso em mãos.
— O que é isso? — o robô questionou, confuso, antes que Hoseok empurrasse a mantinha com delicadeza para o lado e deixasse visível um pequenino cachorrinho que não parecia ter mais do que quatro meses de vida.
Ele era pequeno e pretinho, seu busto coberto por pelos cor de bronze e branco, que combinava com a cor ébano do restante de seu corpo. Seu focinho era pequeno e pontudo, embora não fosse muito evidente pelo fato de sua pata, que parecia ser menor do uma bola de tênis, estar cobrindo metade de seu rosto, enquanto este parecia preso em doces sonhos pela maneira que suas pálpebras pouco tremiam, parecendo confortável no espaço maior do que seu corpo tão pequeno.
Ele era lindo.
— Por que você está com isso? — Taehyung perguntou, trocando o olhar do bichinho para o garoto á sua frente, que parecia extasiado.
— Eu estava na praça. Decidi passar lá porquê é por aquela região que tem os melhores hotteok's, e queria comprar alguns para Namjoon. Ele está em um momento ruim e tal — começou. — Aí quando eu noto, tem uma caixa de papelão jogada embaixo de um dos bancos e dela vêm sons estranhos demais para ser qualquer outra coisa senão um cachorrinho. Quando eu vi, perguntei para uma moça que estava ali se tinha visto algo de estranho, e foi quando ela me contou que tinha visto, a menos de cinco minutos, uma mulher com um garotinho largando a caixa ali e indo embora sem olhar para trás. E quando eu vi o filhote, a primeira coisa que pensei que ele era perfeito para ser seu, então o trouxe! Gostou?
— Ele é lindo — um mini sorriso apareceu nos seus lábios antes de se aproximar do filhote, retirando-o de perto do tecido e segurando-o próximo ao rosto, notando quão pequeno ele parecia em suas mãos. E que mesmo com todo o movimento que faziam, ele ainda dormia. — Qual o nome?
— Bom, você decide. Ele é seu.
— Meu? — Taehyung o olhou, enquanto a cabeça do cachorro era apoiada em seu peito. Aparentemente o filhote gostara do lugar, porque logo voltou a soltar pequenos sons enquanto os dedos de Taehyung acariciavam seu pelo curto, sem saber exatamente o que fazer.
Naquele momento, Hoseok o achou extremamente fofo
— Seu. Escolha o nome que quiser.
Taehyung o observou, mordendo o lábio carnudo antes de erguer novamente o cachorro em frente ao rosto, não evitando um sorriso quando o mesmo abriu os olhos pequenos e o encarou, suas pupilas escuras brilhando como carvão em brasa enquanto pequenos resmungos saíam de sua boquinha, o escuro de seus olhos observando o novo dono sem entender o porquê de estar na posição que estava, só desejando voltar a dormir contra seu corpo. Seus olhos abriram e fechavam, antes de fechar-se de vez e voltar a dormir, trazendo mais sentimentos mesclados para dentro de Taehyung.
— Yeontan.
— Yeontan? — Hoseok repetiu, antes de sorrir. — Eu gosto. Kim Yeontan.
— Eu também — ele sorriu, deixando que a respiração densa batesse em seu pescoço quando o abraçou, como se fosse a coisa mais preciosa de sua vida.
E o amor que Jung Hoseok sentia só crescia dentro de si.
— Eu te amo.
As palavras escaparam de seus lábios, antes que pudesse criar um filtro entre seu cérebro e sua boca. Kim Taehyung desviou o olhar do filhote que segurava para o garoto que gostava, seu sistema não processando ainda as palavras ouvidas quando seu cenho franziu-se, em confusão tenra.
— O que disse?
— Eu te amo, Kim Taehyung — repetiu, assistindo os olhos do outro arregalaram quando o pequeno filhote escorregava por seu corpo antes de pousar em sua coxa. — E sinto muito por ter demorado para notar.
— Hobi...
Mas a frase não foi concluída, porquê os olhos de cervo castanho como amêndoas tornaram-se um tom profundo de verde esmeralda quando seu corpo enrijecia, antes de tombar para o lado e caindo sobre o piso de madeira no mesmo momento em que suas pálpebras se fechavam e a porta se abria, deixando um Kim Won-Shik tendo suas feições alterando de confusão para pânico quando seus olhos desviavam de um Jung Hoseok em pânico absoluto para Yeontan ainda caído em cima de seu novo dono para Kim Taehyung, que parecia tão humano quanto fosse possível na posição de fragilidade que nenhuma outra vez durante todos os meses que viviam juntos fora visível.
A porta rapidamente fora fechada e o trinco virado para a esquerda antes que seus olhos fossem para a única pessoa capaz de dizer qualquer coisa condizente ali, embora fosse óbvio quão confuso o adolescente parecia estar com todas as mudanças de acontecimentos em um espaço tão curto de tempo.
— O que acabou de acontecer?
E ninguém sabia se aquelas palavras vieram de Won-Shik ou de Hoseok.
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