Capítulo 31 - Taehyung

Em comemoração aos 10k visualizações, posto esse capítulo em agradecimento a todos que acabaram de chegar, e a aqueles que estão aqui desde o início.

Adoro todos! 💜

— Fiquei surpreso quando Hoseok sugeriu desse encontro, embora eu esteja muito feliz por te conhecer oficialmente, Kim Taehyung — Seokjin começou apoiando-se na poltrona escura da casa dos Kim-Jung, um sorriso brincando em seus lábios bonitos enquanto segurava a caneca de porcelana que fazia parte da coleção de tapeçarias de sua mãe. Seus olhos foram para o outro lado da pequena sala de estar, onde Hoseok e Taehyung sentavam-se juntos no sofá claro, estando este primeiro segurando uma xícara com chá enquanto o adolescente ao seu lado mexia nas mangas de seu casaco, sem saber o que dizer exatamente. — Hoseok me falou muito sobre você.

— Espero que tenham sido coisas boas, então — murmurou, sabendo que Hoseok não tinha contado a Jin o que ele era. O único que sabia era Namjoon, e no momento era o suficiente para ambos e para o envolvimento, que provavelmente enlouqueceria por saber tantos segredos deles. Talvez até mesmo se questionasse onde errou na vida para acabar como amigo dos dois idiotas.

— Bom, Hoseok não é de falar muito, então não se preocupe com o conteúdo da conversa. Ele só me disse o básico, e foi o suficiente para saber que vocês são, de fato, muito próximos. Fico feliz por isso, Hoseok merece boas companhias.

— Eu... fico aliviado, de verdade — o andróide sorriu, antes de se ajeitar no sofá de forma que ficasse mais próximo de Hoseok, que o olhara de forma gentil. E é claro que tal ato não passou despercebido para Seokjin, que anotou mentalmente de falar sobre aquilo com Namjoon quando tivesse oportunidade.

Mesmo que tivesse largado a profissão de jornalista quando tudo dera errado, ainda assim o senso investigativo o perseguia.

— Hobi-ssi me contou que você trabalhava como jornalista, mas largou a profissão — Taehyung começou recebendo um olhar nervoso de Hoseok, que passou despercebido pelo garoto animado por ter algum assunto com o... ''cunhado''. Ainda não sabia como definir sua relação com Jung Hoseok, e precisava descobrir logo. — Em que área você trabalhava?

— Hm? — Seokjin murmurou, antes de raciocinar a pergunta feita pelo parceiro do irmão. — Oh. Eu ficava mais na área de investigação de grandes empresas, sabe? Corrupção, às vezes em casos de envolvimento do governo em crimes organizados. Estes não são muito comuns porque eles sabem esconder bem, mas você ficaria surpreso com a quantidade de empresas que já fecharam por desvio de dinheiro. É assustador.

— Parece uma área perigosa.

— E é, completamente. Você precisa de muito preparo psicológico para o que pode receber, as consequências são muito graves quando você tenta trazer justiça ao mundo. São poucos que aguentam a pressão, mas é recompensador saber que está permitindo que as pessoas aprendam sobre o lado podre de empresas que eles vangloriam tanto. Sair da bolha que vivem. Não é justo permitir que as pessoas mantenham uma venda aos olhos, quando você tem tudo para arrancá-la e permitir que a luz entre.

— Sente saudades? — questionou, ignorando o remexer desconfortável de Hoseok. Taehyung não sabia o que tinha acontecido para que Seokjin desistisse da profissão, e o homem a sua frente não parecia se importar enquanto bebia do chá quente e pensava na resposta para o questionamento do adolescente.

— Um pouco, acho. Não das ameaças de morte, obviamente, mas era interessante. Eu nunca ficava sem um caso, e... meus colegas eram legais. Mas gosto também do meu trabalho atual, então não sei se voltaria algum dia.

— Você está trabalhando, hyung? Desde quando? — Hoseok perguntou confuso, antes de comer um cookie.

— Não é um trabalho grande, ou algo do tipo — explicou. — Eu tenho feito alguns serviços freelancer, para algumas empresas menores e tudo mais. Não é nada sério, mas me permite juntar dinheiro o suficiente para quando me mudar com JinYoung.

— Quem é JinYoung?

— Você não desistiu disso?

Taehyung e Hoseok perguntaram ao mesmo tempo, trocando um olhar antes de desviarem para Jin, que se servia com mais da bebida quente fumegante. Ele riu, bebendo um pouco do líquido antes de responder.

— JinYoung é meu melhor amigo desde a infância, Taehyung. Nos conhecemos na pré-escola e estudamos juntos todos os anos, até nossa formatura. Fizemos faculdade juntos, mas ele trabalha em uma área bem distinta da minha, como âncora em um jornal. E não, Hobi, eu não desisti. Já tenho quase trinta anos, não posso continuar morando com nossos pais para sempre. É importante para mim retomar minha independência, e acredito que me mudar da casa dos Kim-Jung ajudará muito nisso, e eu adoraria que você compreendesse. Sei que recém estamos nos reaproximando, e acredito também que isso facilitará para nos tornarmos mais próximos, como éramos no passado.

— Tudo bem, hyung — Hoseok concordou, sabendo que não tinha outra escolha. Não queria quebrar a confiança que conquistara com o irmão, e sabia que ele precisava da liberdade que viver solo – ou com o melhor amigo – poderia lhe proporcionar.

— Agradeço

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— Você está chateado? — Taehyung questionou enquanto caminhavam para fora da casa de Hoseok, após o chá da tarde que tiveram com o irmão do mais novo. Suas mãos estavam escondidas dentro do sobretudo claro, dando passos lentos enquanto seus olhos estavam fixos no adolescente ao seu lado, que parecia preso em seus próprios pensamentos. Aquilo já não era tão incomum, por isso manteve-se calado por tanto tempo enquanto aguardava o menino expor o que pensava, porquê era óbvio que o que Seokjin dissera o afetara de alguma maneira. Preocupava-se com o que Hoseok sentia sobre rejeição e abandono, não importava de quem fosse.

Sentia medo do que aconteceria caso ele realmente fosse para a Coreia do Norte em três meses.

— Por quê eu me chatearia? — questionou, devolvendo o olhar que era direcionado a si. Era visível em seus olhos quão abalado estava pelo o que acontecia atualmente, talvez nem tudo envolvendo o irmão. — Ele está certo.

— Está?

— Sim — assentiu, antes de abaixar a cabeça e observar os all-star pretos surrados que contrastavam com os coturnos que o mais alto usava. — Jin ficou muito abalado depois do que aconteceu, sabe? Ele perdeu tudo que tinha: a casa que vivia, o emprego dos sonhos, e amigos. Ele foi de um dos jornalistas mais importantes do momento, que crescia em pesquisas de crimes, para alguém odiado por todos. Por causa de um erro. E um erro que nem era dele. Quer dizer, que culpa ele tinha de que um grupo de hackers invadiu o banco onde ele guardava tudo e fez que a empresa falisse após roubar mais de um bilhão de dólares? — dizia, com raiva preenchendo o desânimo em seus olhos. Era visível como aquilo o chateava profundamente, e Taehyung não sabia o que falar. — E A imagem que deveria ser vinculada ao caso era do banco envolvido, e não dele! Mas então começaram a falar como ele era imaturo, que era um jovem e que não merecia o apoio que recebia... e acreditaram. O jornal onde ele trabalhava o demitiu porquê sua imagem ruim estava influenciando na popularidade, ele já não tinha mais dinheiro para manter o carro que possuía e o apartamento - então precisou vendê-los por um preço ridículo -, e também teve que desistir do financiamento que estava tentando conseguir para fazer seu doutorado na Alemanha. Além disso, amigos com quem ele contava muito deram para trás, porquê eram aqueles tipos de pessoas que só estavam por perto para ter algo em troca, então o único que se manteve foi o JinYoung. Ele foi de um adolescente amado por todos para um adulto odiado, e renegado.

— E você? Como estava na época?

— Normal, acho. Tínhamos brigado, então não nos falávamos muito. Descobri o que aconteceu bem depois, porquê ouvi uma conversa de nossos pais, já que Jin não queria que eu soubesse. Ele estava com vergonha, vivia no quarto e raramente aparecia para as refeições. Foi nessa época que ele começou a pintar compulsivamente o cabelo, e perdeu mais de dez quilos. Os médicos disseram que ele quase entrou em depressão, então ele se recuperou rápido quando começou a fazer terapia, mas ele a largou já — explicou, enquanto Taehyung segurava seu braço com cuidado ao atravessarem a rua. — Quem surtou foi o Nam. Ele já era apaixonadinho pelo meu irmão, então ele vivia em um impasse de ajudá-lo ou não porquê tinha medo de mostrar o que sentia. Era engraçado para falar a verdade, embora eu sentisse muita pena, porquê ele nunca teve coragem de falar o que sentia.

— Jin não sabe o que ele sente?

— Eu não sei — admitiu. — Jin hyung fala dele de uma forma muito carinhosa e gentil, e quando dou sinais de ter algo mais envolvido, ele dá para trás. Além disso, quando meus pais comentam sobre ele ter algum relacionamento amoroso, Jin fica muito desconfortável, e diz que não tem interesse nisso. E o Nam também não sabe esconder, entende? É tão óbvio que me pergunto se Seokjin realmente precisa ir em um oftalmologista, para não entender o que está bem na cara dele. Além de que Jin também sabe de coisas dele que nunca foram ditas na sua frente, o que deixa a entender que eles já se encontraram sozinhos antes. E também, ultimamente Namjoon está mais triste que o seu normal, e não acho que seja cem por cento por causa da avó dele. Tem muito mais coisas por trás, mas ele não me diz e devo respeitar seu tempo.

— Acha que ele vai te contar? — Taehyung questionou ao atravessarem o portão de entrada do parque que já fazia parte da história deles, caminhando com o adolescente –para onde eles se beijaram pela primeira vez no natal.

— Sim. Ele não vai conseguir esconder de mim por muito tempo, Namjoon é muito óbvio com os próprios sentimentos. Só preciso esperar ele ficar pronto mesmo.

— O importante é ele estar confortável — Hoseok assentiu, em concordância.

Por fim, eles sentaram-se perto do lago, no mesmo banco onde Hoseok contara-lhe sobre Seokjin e a relação deles se desenvolvera. O vento estava agitado naquele dia, permitindo que Taehyung sentisse seu cabelo voando para trás enquanto ao seu lado era visível os fios caírem nos olhos de Hoseok, que lutava para afastá-los. Era difícil não rir da imagem do rosto emburrado do adolescente enquanto tentava tirá-lo do rosto, principalmente quando comparado ao Kim que continuava extremamente bonito com o seu cabelo puxado em algo que lembrava um topete.

— Aqui — o androide retirou do bolso do casaco a boina que usava quando foi na casa de Hoseok, preferindo guardá-la quando aceitou se sentar para conversar com Seokjin. Hoseok se virou para olhá-lo, seus olhos se iluminando ao sentir seu cabelo sendo puxado para trás e escondido pelo tecido preto com pequenos detalhes prata, permitindo que o vento não o bagunçasse mais. — Está melhor agora?

— Sim, obrigado. Eu esqueci minha touca em casa — respondeu ao tocar o tecido de feltro, sentindo seus dedos se roçarem nos de Taehyung, que permanecia lhe observando com algo entre carinho e paixão. — E você? Está bem?

— Sim, eu não sinto frio.

— Ok. Essa é uma habilidade que eu queria ter — ele admitiu com um muxoxo, enquanto Taehyung ria da forma que ele se encolhia dentro do casaco pesado antes de puxá-lo para si, abraçando-o calorosamente. — O que mais você pode fazer? — questionou ao apoiar a cabeça em seu peito, sentindo seu corpo de aquecer nos braços do mais velho.

As mãos do homem deslizavam por suas costas, sentindo a textura macia de seus dedos tocando o tecido de seu casaco enquanto mantinha-se em silêncio, provavelmente pensando na resposta que não demorara para vir, prendendo Hoseok nas palavras que saíam de forma doce por meio de sua voz grossa, que sempre o fazia se arrepiar.

— Meus olhos podem funcionar como detectores de presença, como certos insetos tem; meus dedos podem saber de qual matéria é certo produto unicamente por tocá-lo, consigo carregar mais de quatrocentos quilos com os dois braços. Cada um aguenta duzentos e vinte quilos, por aí. Agilidade, minha memória perfeita... Tenho uma área no meu abdômen onde posso guardar objetos também, mas não é muito útil. Acho que só — deu de ombros. 

— ''Só''? — repetiu incrédulo, enquanto Taehyung abria um sorriso mínimo nos lábios carnudos. — É muita coisa!

— Bom... acho que sim — respondeu, incerto. — Eu sei que existem vários tipos de inteligência artificial em construção no momento, porém não sei se eles possuem ou não as mesmas habilidades que eu. Acho que não, na verdade. A maioria dos andróides criados pelo Japão foram feitas para uso doméstico, e bom, eu fui feito para espionagem governamental.

— E você gosta? — Hoseok questionou, distanciando-se para olhá-lo diretamente. Taehyung retribuiu, confuso com a pergunta. — De ser um andróide espião. Você gosta?

— Não — respondeu, sem hesitar. Hoseok piscou surpreso, antes de esperar a explicação dele. — Eu odeio.

— Odeia? — repetiu, com um sussurro.

— Muito — disse, convicto. — É perigoso demais, estressante demais... é angustiante não saber o que acontecerá no fim de sua missão, ou se terá um fim, porque tudo pode dar errado no meio do caminho — explicou. — E também tem coisas envolvendo o Song, o meu guardião, sabe, o Won-Shik... É complicado.  Nada envolvendo isso é comum, simples de explicar.

— É complicado — Hoseok repetiu, antes de voltar a apoiar a cabeça no ombro do outro, sentindo as carícias em suas costas voltarem. Era tão bom o movimento dos dedos longos em suas costas, junto com a refeição que acabara de ter na companhia do irmão e da sua paixão, que ele sentia que poderia cair no sono a qualquer momento.

— Hobi? — Taehyung chamou com um sussurro, parando o toque antes de erguer o rosto do adolescente, de forma que pudesse observar suas feições cansadas.

— Sim? — murmurou em resposta, enquanto suas pálpebras tremiam devido à falta de sono das duas noites anteriores.

— Não durma — pediu, antes de sua mão começar a acariciar o cabelo escuro, criando pequenas ondulações. — Se quiser, te levo para casa.

— Não. Acabamos de sair de lá — negou rapidamente, antes de voltar a fechar os olhos e sentir o vento em seu rosto.

Taehyung suspirou, voltando a acariciar o cabelo escuro do outro enquanto pensava se chamava alguém para ajudá-lo a levar o adolescente para casa, mesmo que este fosse contra, ou simplesmente ficaria ali, observando-o adormecer pouco a pouco, mesmo que estivessem em um lugar público.

Ao observar seus cílios se baterem antes de cair no sono de fato, Taehyung o ajeitou para que sua cabeça ficasse apoiada em sua coxa, optando pela segunda opção no fim.

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A tela do computador vibrava, tentando entrar em conexão com a pessoa do outro lado. Taehyung ajeitou-se no sofá de três lugares, tendo seus olhos fixos no aparelho enquanto suas unhas esfregavam-se na palma de sua mão, aguardando qualquer que fosse a decisão da outra pessoa enquanto sentia a textura firme na espessura da derme artificial.

Ele não tinha sido estúpido daquela vez. Ele sabia que o motivo para o qual Song Minhyuk rejeitar suas ligações era por saber que era ele, então encontrou outro meio: usaria o nome de Won-Shik para falar com ele, sabendo que Song jamais negava suas ligações.

Seus dedos tocaram a caneca que segurava, imaginando-se bebendo o líquido dentro dela, imaginando qual sabor teria, e como seria consumir algo pela primeira vez, embora soubesse que não fora feito para isso.

— Atende... Atende... — murmurou para si mesmo, enquanto encarava o visor com a foto em miniatura de seu criador.

Então, a ligação foi aceita, deixando a mostra um homem de cabeça abaixada enquanto mexia em alguns papéis espalhados pela mesa em que estava apoiado.

— Won, desculpe a demora para atender! Eu estive resolvendo algumas coisas, e... — sua frase foi parada na metade quando ergueu a cabeça, deixando seus olhos se encontrarem aos de Kim Taehyung. Seus olhos se arregalaram, engolindo em seco. O homem estava claramente nervoso, e Taehyung poderia notar isso só de olhá-lo. — Tae... por que me ligou? Won-Shik s-sabe que você está usando o computador dele?

— Sabe. Foi ele que disse para eu ligar por seu computador — respondeu, raspando a unha na escrivaninha de madeira. — Won-Shik me suportou por muito tempo, sabe? Perguntando sobre você, sobre tudo... Acho que chegou em um momento em que ele só queria que eu te perguntasse diretamente, já que realmente duvido que ele saiba tanto assim. Won-Shik é mais do tipo que finge que sabe, provavelmente para não chatear ninguém, e nem a si. Faz sentido o que disse?

— Sim — o homem assentiu cansado, antes de esconder o rosto com as palmas da mão que começavam a criar marcas de velhice. Era óbvio quão cansado ele estava de tudo aquilo, e Taehyung simplesmente não conseguia julga-lo. — Tae... existe um motivo para eu nunca ter te contado sua missão.

— Qual? Porque eu estou exausto de ficar com uma venda em meus olhos, com as pessoas mentindo para mim o tempo todo — questionou. — Sabe, eu fui criado acreditando que os seres humanos eram a espécie mais evoluída da pirâmide alimentar e, portanto, eu deveria me esforçar para sobressair a vocês, para provar que sou melhor que vocês. A nova espécie evoluída, que todos deveriam vangloriar — sorriu, achando irônico daquelas palavras que simplesmente não condiziam mais com o que acreditava. — Mas eu sou espião. E ninguém me vangloriaria porque ninguém deve saber quem sou. E as únicas pessoas que conhecem meu segredo são meu namorado e o meu melhor amigo — ele ignorou o olhar chocado e animado que passou pelo rosto de Song antes que se transformasse em cansaço novamente —, e... Eu não me vejo mais como alguém superior. De trinta e seis anos de existência, eu só vivi quatro meses. Pessoas desconhecidas e de vida limitada sabem mais da vida do que eu, e nem precisam de uma cota gigantesca de informação em seus cérebros para que isso aconteça. Porque tudo que eles aprenderam na vida, foi com experiência. Eles sabem como agir, quando agir, de que maneira mostrarem conhecimento... Eles não precisam ser gênios para serem aceitos, ou amados. Porque humanos não veem rosto ou conhecimento para amar alguém, eles só... amam. E isso é assustador, Song. É assustador como humanos mudam quando deixam seus sentimentos lhe controlarem.

— Mas é bom, não é? — Song sorriu ao completar o que Taehyung pensava, provando mais uma vez o quanto o conhecia. — Sentir, saber que há alguma coisa dentro de si que mexe contigo, ter algo a perder. É bom, mesmo que assustador.

Taehyung assentiu, sem saber como reagir.

— Porque Tae, isso significa estar vivo. E essa é uma das melhores coisas que uma pessoa, um ser, pode ter. Uma vida. Amar incondicionalmente sem ver a quem. Saber que se importa com o bem estar do outro, e deixar aquela pessoa saber que você está ali por ela, não importa o que aconteça — Song concluiu. — Isso é viver, Taehyung. E você está vivo. Você ama.

— Eu não sei o que é amar — admitiu, sentindo-se irrevogavelmente triste por isso. — Eu não sei se meu sistema é forte o suficiente para suportar algo assim.

— Mas você amará um dia... e eu saberei.

Taehyung franziu o cenho confuso, mas não respondeu.

Eles conversaram por mais um tempo, até que Taehyung notou algo no fundo da sua chamada de vídeo.

Sob uma penteadeira com alguns perfumes de uma marca desconhecida e outros utensílios domésticos, Taehyung notou com sua visão perfeita um porta-retrato que lhe parecia muito familiar, embora não tivesse cem por cento de certeza de onde.

— O que você está olhando, Tae? — Song questionou ao notar que ele parara de falar e olhava para algo profundamente, seguindo seu olhar até a fotografia que parecia ser a única coisa sem poeira naquela penteadeira que lhe fora fornecida ao conseguir o cargo que tanto detestava. — Oh — foi a única coisa que conseguiu dizer, enquanto lembranças de o único momento que fora feliz vagavam por sua mente envelhecida.

— Como vocês se conheceram? — Taehyung questionou ao desviar da imagem para o homem que criara, não percebendo as emoções que cercavam seu rosto que parecia ter no máximo quarenta e cinco anos do que cinquenta e sete anos.

— Crescemos juntos. Nossas famílias eram vizinhas, então sempre fomos próximos. Crescemos juntos - já que nascemos no mesmo ano -, estudamos juntos, e fomos para a faculdade juntos. Nunca... — ele engoliu em seco. — Nunca nos separamos, senão fosse necessário. Éramos irmãos.

— Eram? — franziu o cenho, lembrando-se de Namjoon e Hoseok. — Vocês brigaram?

— Não, Tae — ele suspirou. — Nunca brigamos. Só... crescemos, e as coisas mudaram. Faz parte da vida adulta.

— Eu não gosto da vida adulta.

Song riu.

— Ninguém gosta.

Eles ficaram em silencio por um momento.

— Song? — chamou, recebendo a atenção do homem que o olhou esperando que ele falasse. — Você sente saudades de Won-Shik?

Song Minhyuk o encarou, provavelmente pensando na resposta enquanto sua mente viajava para longe dali, enquanto Taehyung aguardava por algo que não sabia se seria positivo ou não.

— Eu sinto saudades de quem eu era quando adolescente — ele admitiu. — Era tudo mais simples, e eu tinha quem amava. Won-Shik é uma parte do todo, então... sim, eu sinto.

— Eu sinto muito, Song.

— Está tudo bem, Tae. E sabe, você pode me chamar de... — sua voz falhou, antes que completasse com um sorriso mínimo. — Ajhussi. Pode me chamar de Ajhussi.

— Tudo bem, Ajhussi — disse com um sorriso, vendo Song retribuir o ato. — Mas se quer saber, eu adoro seu sobrenome.

— Obrigado — ele riu, gostando do elogio. Fazia muito tempo desde que falaram de seu sobrenome de forma boa, e não como ofensa. — Tae, infelizmente eu preciso ir agora. Tenho que resolver algumas coisas no laboratório. Mas prometo que, a partir de agora, entrarei em contato mais frequentemente contigo, principalmente para saber como tem sido sua missão. Porque pelo que vejo, ela não demorará muito para ser concluída.

— Tudo bem — assentiu, sabendo que não tinha outra opção. — Conversamos quando você tiver tempo.

— Certo — o homem sorriu. — E diga para Won-Shik... — ele parou, pensando no que falaria a seguir enquanto Taehyung o encarava, aguardando. Por fim, ele sorriu. — Quer saber? Não diga nada. Depois falo com ele.

— Tudo bem. Tchau, Ajhussi.

— Tchau, Tae. Se cuide.

E a ligação fora encerrada, após o homem acenar com um sorriso nos lábios bonitos e cheios.

Foi a primeira vez que Taehyung notou que o homem tinha uma pinta embaixo do nariz.

E enquanto pensava nisso, ele não reparou quando Won-Shik afastou-se lentamente da porta semi-aberta, andando em passos lentos até a sala enquanto pensava em tudo que tinha ouvido desde que a ligação começara.

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