Capítulo 25 - Taehyung
Era quatro horas quando Taehyung abriu a porta da casa do Kim, sem se importar se o responsável pela sua segurança no país estava ou não em casa antes de colocar os dois guarda-chuvas no armário e ir até o sofá de três lugares em passos lentos e arrastados, deitando-se nele.
Desde que tudo tinha acontecido uma hora e meia antes, Taehyung tinha a sensação de estar anestesiado. Ele não sentia tristeza, raiva, ou sequer medo de Hoseok contar para alguém o que ele descobriu, porquê uma parte de si sabia que poderia confiar sua existência nele. Taehyung sentia nada, era como se tivesse voltado para os tempos de Pyongyang, onde tudo que fazia era existir e responder perguntas, enquanto todo o mínimo de carinho que teve vinha de seu criador, Song Minhyuk.
Taehyung realmente não esperava que Hoseok reagisse bem. Ele não era ignorante, sabia o peso do que contou na vida de um humano, um humano comum de dezessete anos, e que tinha vivido o suficiente em um país conservador para entender que não, não era fácil de lidar. Nem Taehyung teria entendido, se estivesse no lugar dele, principalmente sem uma explicação plausível para justificar sua existência.
Eu teria reagido da mesma maneira, era o que pensou quando viu Hoseok correndo para longe de si, tentando diminuir a dor que crescia dentro de si.
Mas ainda doía.
Doía saber que tinha sido rejeitado, doía saber que o garoto pelo qual era apaixonado tinha fugido, por puro medo. Doía saber que não devia existir, principalmente por causa do que deveria cumprir primeiramente.
Doía saber que não tinha mais missão, porquê a conversa com Jimin o marcou o suficiente para desistir de tentar destruir sua vida, embora uma parte dentro de si dissesse que sim, deveria continuar, porquê o pai do garoto era um corrupto e deveria ser preso.
Mas ele também sabia que o pai de Jimin não ficaria muito tempo na cadeia porquê era rico, e dinheiro comprava vidas e liberdades. A liberdade de Jimin estava nas mãos dele, e se o pai do humano fosse solto... Ele temia o que podia acontecer com o garoto de saúde mental frágil.
E Min Yoongi e Jeon Jungkook também não estavam a salvos.
"Se não afetar Jungkook, não me importo com o que você faça para destruir aquele homem. Só não machuque quem amo, e está tudo bem."
Mas machucaria, porquê era impossível mexer com algo desse tipo sem que alguém saísse ferido.
Só que era o certo. Taehyung não podia deixar alguém sair impune, sendo que tinha provas o suficiente para iniciar um processo contra o mesmo. E provavelmente Jimin sabia, por isso o chamou para aquele encontro, porquê sabia que Taehyung tinha a habilidade de gravar tudo que ele dizia, como uma mini escuta.
O que Jimin faria se descobrisse que Taehyung quer prender seu pai?
"Só... faça o que for melhor para você. Está tudo bem ser egoísta às vezes."
Mas aquilo era mais do que um plano egoísta, eram vidas em jogos. Vidas destruídas por um governo corrupto, que o pai de Jimin fazia parte. Era justo que essas pessoas tivessem seu dinheiro roubado por um sistema ingrato? Era justo que, para o exterior, a Coreia era vista como uma potência mundial em crescimento, quando seu interior era coberto por ignorância e crimes desconhecidos do público? Era justo?
Taehyung não achava justo.
Para Taehyung, não importava o quanto Song dissesse que sua principal missão era descobrir sentimentos adormecidos... porquê aquelas vidas valiam muito mais que sua liberdade.
Ele estava confuso. Eram como uma mescla de sentimentos que Taehyung simplesmente não conseguia controlar, que o impedia de saber como prosseguir.
Era oficial: precisava conversar com Song. E se ele se recusasse, então o forçaria a tal.
]~[
— Precisamos conversar.
Foi assim que ele começou o diálogo no intervalo daquela segunda-feira, sentando na grama recém cortada do campus enquanto seus olhos se prendiam no casal deitado embaixo da árvore, como em todas as vezes que os observava.
Yoongi arqueou a sobrancelha, confuso com aquela aproximação repentina, enquanto Jungkook, que simplesmente estava cansado demais para discutir qualquer coisa que fosse, apenas se ajeitou nos braços do namorado, como um aviso para que Taehyung começasse a falar. Ninguém reparou a maneira como Hoseok os olhava do seu banco de pedra costumeiro, embora seus olhos estivessem mais presos em Taehyung do que em qualquer coisa – o casal não notou porquê estavam em choque demais para olhar ao redor, e Taehyung tinha desativado sua visão panorâmica, cansado de investigar a vida dos outros. Tudo que ele faria naquele momento era tentar acabar com o pai de Jimin, e claro, superar o que tinha acontecido com o Jung tempos antes.
Não era justo para o humano ter sua vida destruída por causa de um andróide, sendo que ele sabia nada quando começou tudo. Além de que Taehyung não sabia o que aconteceria quando chegasse junho, e temia a resposta.
— Sobre o que você quer falar? — Yoongi perguntou após alguns segundos de silêncio, antes de começar a arrancar folhas da grama. Jeongguk sorriu com carinho ao notar o que ele fazia antes de se aninhar ainda mais em seu peito. Taehyung notou que eles eram carinhosos demais para um casal homossexual sul-coreano, porquê ele sabia do conservadorismo do país, sabia do medo de muitas pessoas de se assumir – e uma grande parte dessas eram mortas em ataques homofóbicos.
Mas era quase como se eles não se importassem com o que pensavam deles.
— Vai ficar calado, hyung? — Jungkook questionou ao notar que Taehyung os olhava demais, e embora o garoto soubesse que ele e Yoongi eram um casal bonito, não queria o mais velho se sentindo desconfortável. Os dois mais velhos olharam para o caçula segundos depois, estranhando o uso do honorífico informal do mesmo. Não era como se o Kim se importasse com formas de tratamento, mas... não era acostumado. Ninguém nunca o tinha chamado daquela maneira. E Yoongi... ele só estava surpreso com a informalidade, uma vez que Jeongguk era conhecido pelo uso excessivo de "-ssi", junto de uma personalidade antissocial que o fez ter apenas dois amigos durante toda a vida. Jeongguk sorriu para o andróide, antes de segurar a mão de Yoongi com afeto. — Posso te chamar de hyung, Taehyung-ah?
— Sim, claro — assentiu, vendo um largo sorriso aparecer no rosto do garoto para depois notar que Yoongi também sorria, provavelmente gostando da imagem do namorado feliz. Era fofo, pensou. — Mas você também pode me chamar só de "Taehyung". Eu... não me importo com honoríficos.
— Tudo bem, mas eu gosto de "hyung. É uma palavra bonita — explicou, fazendo o andróide assentir em compreensão. — Mas você ainda não explicou o que faz aqui. Não que eu queira que você saia, nunca, mas você sempre fica com o Jung Hoseok, e–
Taehyung fechou a expressão, sentindo seus ombros pesarem enquanto as lembranças de alguns dias retornavam com mais força do que era esperado. Jungkook estava certo; por muito tempo, Hoseok foi sua única companhia, seu único amigo desde que tinha se mudado para Seul de Pyongyang, e ele conseguiu mudar sua rotina inteira, junto de seus sentimentos. Além de também ser um amigo querido, Hoseok tornou-se seu primeiro amor, sua primeira paixão, e trouxe consigo Namjoon – uma pessoa que gostava muito – que o ajudou a descobrir muitas coisas que não veria por estar preso em uma bolha. E agora... ele tinha perdido isso, porquê era algo inalterável. Taehyung seria para sempre um andróide, uma máquina, e se o Jung não conseguisse superar essa barreira... seria impossível resolver o que tinham.
— Você está certo — sussurrou, surpreendendo os garotos. Não era de costume de Taehyung demonstrar fragilidade, mas que escolha tinha? Estava cansado de mentir. — E eu vim aqui para falar sobre o Jimin.
— O Ji? — Jeongguk se levantou, ajeitando a própria postura enquanto Yoongi erguia a sobrancelha, confuso.
— Eu fui visitar ele na clinica, como Min me pediu — explicou. Taehyung notou quando eles trocaram um olhar surpreso. — E foi... estranho, mas bom.
— Vocês fizeram as pazes? — Jeongguk perguntou animado, o que não surpreendeu Yoongi. Era nítido para quem fazia parte do ciclo de amigos que o Jeon odiava que Jimin tivesse inimizades, ele fazia parte do grupo de pessoas ingênuas que acreditavam que todos deviam ser amigos, não importava as diferenças. Uma pura utopia, é claro.
— Eu não sei, Jeon — Taehyung admitiu. Yoongi notou quando os ombros do namorado caíram, desanimado. — Nós não conversamos sobre nós, e nossas desavenças. Foi algo mais... não sei descrever, entende? Foi bom, mas isso não significa que somos amigos.
— E o que significa? — Yoongi questionou, chamando a atenção do Kim.
— Significa que ele sabe sobre mim algo que mais ninguém sabe, e eu acho que posso confiar nele, pelo menos um pouquinho — explicou. — Mas acho que só. Ele não está bem psicologicamente e não faço ideia de como vai ser quando ele sair da clínica. Dependerá das ações dele.
— Eu entendo — Jeongguk sussurrou, desanimado, não afastando o namorado quando este acariciou seu ombro com carinho.
— Mas não é só isso — disse, voltando a chamar a atenção do casal. — Yoongi — desviou o olhar para o garoto, que o observava sério. — Você disse a alguns dias, quando me contou sobre a internação de Jimin, que eu poderia fazer qualquer coisa contra o pai do Park, se isso não afetasse Jungkook.
— Você o que? — o mais novo desviou a atenção para o namorado, que não demonstrava emoção enquanto olhava Taehyung, à espera da continuação.
— Min — chamou novamente. — Você disse que eu poderia fazer qualquer coisa que não afetasse Jungkook, mas e Jimin? Você se importa que ele seja afetado? Quanto?
— Eu me importo muito — respondeu, firme. — Jimin não tem culpa pelo pai que possui, assim como eu e Jungkook também não temos culpa pelos nossos. Por quê você acha que nós três ficamos amigos tão rápido? Por quê nossa amizade dura até hoje, sendo que nos conhecemos desde o primário? Porquê somos parecidos um com o outro — explicou, e Taehyung notou quando Jungkook abaixou abaixou a cabeça, chateado. — Passamos por coisas parecidas, sentimos o que o outro sente... E se um dia eu e Jun terminarmos, sabemos que continuaremos amigos, porquê Jimin só tem eu e Jk, assim como eu e Jk só temos ele. Somos nossa própria família, mas não sei se você compreende isso.
— Não, não entendo — falou, sentindo seus ombros caírem junto com aquela confirmação: ele não tinha família. Won-Shik era seu protetor no país, e portanto não sabia até a lealdade dele ia, e Song... era mais complicado ainda. Minhyuk o criou, mas qual finalidade de fato? Porquê tudo que ele o ensinou já não lhe fazia mais sentido. Nada que Song Minhyuk fazia tinha sentido, essa era a verdade. Além de que também existia Jung Hoseok, a única pessoa naquele país que descobriu seu segredo por sua própria boca, ao invés de ter descoberto sozinho. Pelo menos Taehyung não teria o peso da culpa de ter mentido até o último segundo. — Eu acho que nunca tive alguém por tempo o suficiente para considerar como família.
Mas se Taehyung não entendia Jungkook e Yoongi, eles também entendiam Taehyung. E diferente dos problema dos adolescentes, os do andróide não podiam ser ditos em voz alta.
— Por quê perguntou sobre o Ji? — Jungkook questionou, quebrando a linha de pensamento do robô.
— Eu tenho um plano, para... destruir o pai dele — disse, diminuindo a intensidade de sua voz para que ninguém os ouvisse —, mas não sei até onde Jimin pode estar aberto a isso.
— O máximo — Yoongi respondeu, calmo. — Ele odeia aquele homem.
— Sim — o menino ao seu lado concordou.
— É só que... ainda é o pai dele, e o herdeiro. Não sei as consequências que podem acarretar, e quão ferido Jimin ficaria. Ele tem família em algum lugar? Tios? Avós?
— Eu... não sei — Yoongi murmurou, demonstrando finalmente algo desde que começaram a falar sobre o Park: culpa. Taehyung o olhou, esperando s continuação. — Jimin não tem mais contato com a família desde que a mãe morreu, mas já ouvi algo sobre uma tia materna dele ter falecido quando era muito novo, antes mesmo da mãe partir. E acho que ele também nunca se interessou por procurar, talvez medo de serem piores que seu pai? — Taehyung ouviu quando Jungkook murmurou um "impossível" aborrecido. Aquilo o fez sorrir. — Mas posso procurar sobre, se desejar.
— Eu adoraria — quando o sinal tocou no prédio à distância, os três corpos sobressaltaram, assustados. Sem hesitar, Taehyung se ergueu, limpando a parte de trás da calça cor creme enquanto Jungkook fazia o mesmo e em seguida ajudava a erguer um Yoongi desanimado, que não parecia querer ir para a aula de física. — Podemos conversar melhor sobre após a aula?
— Sim, claro. Conversamos depois — O Jeon sorriu, antes de sair com o namorado, que só lhe dera um acenar de despedida.
Quando Taehyung se virou para sair, com a intenção de seguir o casal, o adolescente se assustou ao ver Hoseok ao longe, que lhe observava enquanto segurava as embalagens do costumeiro lanche que sempre trazia de casa. Os olhos do Jung não transpassavam emoção, como se estivesse em um limbo enquanto observava os traços do garoto que agora sabia não ser humano. Taehyung deu três passos para frente, talvez em uma atitude impensada de se aproximar e tentar conversar da mesma maneira que Hoseok tinha tentado no dia do banheiro, mas ele viu suas esperanças se esvaírem quando o humano arregalou os olhos assustados, rapidamente pegando suas coisas antes de sair correndo – da mesma forma que Taehyung fizera tantas vezes.
Era como se o karma estivesse agindo, e Taehyung não sabia se de forma ruim ou boa.
]~[
Taehyung observava o rosto de Kim Namjoon, esperando que ele dissesse o motivo para estarem ali, naquele café que tinha lembranças demais para que conseguisse se sentir confortável.
O adolescente deu um gole do café com leite, antes de devolver a xícara para a pires branca, ainda sem falar algo. O andróide cruzou os braços, movendo seu olhar para a fachada de entrada do pequeno estabelecimento no centro de Seul, onde tudo parecia caro demais para o valor que possuíam. Taehyung simplesmente não entendia como as pessoas gastavam seu dinheiro daquela forma, mas talvez fosse a questão de "prazeres momentâneos" que Won-Shik sempre lhe dizia quando o via estudando para sua missão e pedia que ele relaxasse um pouco, desvencilhasse sua mente daquele conteúdo difícil e entediante.
Taehyung não possuía prazeres momentâneos, e o mais próximo disso o odiava.
— Vai dizer nada? — Taehyung perguntou após um tempo, chamando a atenção de Namjoon para si pela primeira vez desde que chegara.
— Como? — o garoto perguntou confuso, largando a colher que usava para comer o doce que Taehyung desconhecia antes de focar seus olhos na paixão de seu melhor amigo, que parecia mais aberto a sua presença do que de costumeiro.
— É sempre você que começa os assuntos — explicou, calmamente. — Então... comece.
Namjoon pensou, esfregando o polegar com pressão na xícara de porcelana, pensando em tudo que tinha acontecido naqueles dias... aproximações de datas importantes, que ele não sabia se Taehyung tinha conhecimento sobre, ou simplesmente não se importava. Ele pensou, até erguer a cabeça e encarar o garoto que não sabia se poderia considerar um amigo, mas que via dessa forma.
— Como você está? — perguntou, surpreendendo o andróide. Ele esperava que Namjoon falasse sobre sua irmã, um tópico que notou ser o favorito do adolescente, ou de Hoseok, já que este não sabia que tinham brigado – sequer sabia se o garoto tinha conhecimento dos beijos trocados no quarto do Jung, ou do parque, ou de qualquer outro lugar. Taehyung não sabia até onde Hoseok falara de si sem sentir um constrangimento muito longo por saber estar apaixonado.
— Bem. Estou bem.
— Eu digo mentalmente — explicou. — Sei que esse é o período da sua escola onde todos começam a se preparar para os exames, e céus, Hoseok ficava insuportável nesse período, sequer queria sair porquê tinha na cabeça que precisava estudar até mais tarde. É exaustivo, entende? O padrão coreano de estudo é exaustivo — Taehyung assentiu, porquê se lembrava de como seus colegas agiam. E Hoseok... não conversavam o suficiente para saber como o outro se sentia. — Então... como está sua mente? Se alimentando bem? Dormindo a quantidade certa de horas? Não tem se forçado, não é?
— Eu estou bem, Namjoon — repetiu, abrindo um mínimo sorriso. — Não se preocupe.
— Mas de qualquer maneira — ele se ajeitou na cadeira, bebendo outro gole do café antes de devolvê-lo para a mesa. — Eu não vim para conversar unicamente sobre isso.
— Eu desconfiei.
— Eu vim conversar contigo sobre o Hobi.
— Hoseok? — murmurou. Namjoon assentiu. Taehyung apertou os braços com força, em claro sinal de desconforto enquanto seus olhos continuavam conectados nos do adolescente, temendo a continuação do assunto. — Aconteceu algo com ele?
— Eu não sei. Esse é o problema — admitiu, e Taehyung notou quão chateado o garoto estava. Isso o preocupou mais do que gostaria de admitir. — Hoseok não fala com ninguém a dias, Tae, exceto SeokJin. Eu fui na casa dele conversar e... ele me expulsou — explicou. — Sou acostumado com isso porquê ele gosta de ficar sozinho durante crises, mas dessa vez... não sei, parece mais grave.
— Gostaria de te ajudar, Namjoon-ah, mas eu sou a última pessoa que Hoseok quer ver no momento.
Namjoon assentiu, voltando a comer do seu doce e beber do café sem perguntar mais nada. Ele não ia perguntar o que aconteceu, porquê sinceramente, estava cansado de resolver os problemas do melhor amigo. Tinha dores de cabeça demais para lidar, por exemplo, sua avó que tinha seu estado de saúde piorando gradativamente a cada dia e hora que se passava.
— Eu sei, então não precise se preocupar — ele abriu um mínimo sorriso, que serviu para acalmar um pouco o robô. — De qualquer forma, SeokJin está cuidando dele. Sei que está. SeokJin o ama.
— Então por que ele fez o que fez? — questionou curioso, fazendo Namjoon suspirar, cansado. Aquele tópico era sensível demais para que o Kim falasse até mesmo com os irmãos Jung-Kim. Era como uma linha sensível que eles nunca atravessavam, temendo o que encontrariam do outro lado. — Me diga, Namjoon. Por que SeokJin disse o que disse para o Hobi?
— Porquê ele estava ferido, Taehyung. E pessoas fazem e dizem coisas estúpidas quando feridas — sussurrou, triste. — Faz parte de ser humano.
— Ser humano é terrível, não é? — Namjoon assentiu. — Talvez seja por isso que Hoseok me odeia.
Namjoon o olhou, confuso.
— O que aconteceu entre vocês, Tae?
Taehyung sorriu, brincando com seu anel enquanto desviava o olhar para a janela novamente, observando o movimento das pessoas lá fora.
— Peça para o Hobi te contar, porquê simplesmente não tenho mais forças para isso.
— É algo grave?
— Eu não sei.
Porquê ele realmente não sabia. Taehyung não sabia o que consideravam como algo grave, e por isso vivia com medo, medo de deixar as palavras saírem de seus lábios – porquê algo dito em voz alta se tornava real, e Taehyung não queria ver nos olhos de Namjoon o que viu nos de Hoseok.
— Eu vim te contar uma coisa — Taehyung falou após minutos de silêncio, chamando a atenção de Namjoon. — Vou contar para Hoseok sobre junho, ele sabe de coisas muito piores do que uma partida, então, quando der, vou contar sobre. Cansei de mentir sobre isso, Namjoon. E se Hobi for me odiar, que seja pelo combo completo, e não... por pequenas situações.
— Você tem certeza? — ele assentiu, e Namjoon se questionou o quanto Hoseok sofreria no fim de tudo. — Então diga, e se afaste, para que seja menos doloroso quando a data chegar.
— Eu vou — sussurrou, sentindo-se mal ao notar como o outro Kim parecia afetado. Não o julgava. Taehyung tinha um dom de machucar quem se importava com ele. — Me desculpe.
— Pelo o que?
— Por não ter sido um bom amigo para ele, e para você.
— Deixe disso, Taehyung — Namjoon balançou a cabeça em negação. — Você foi o melhor que podia ser naquele momento, e Hoseok sabe disso. Ele é muito grato.
— E ele me odeia agora, mas não posso o julgar.
— Eu sequer sei o que aconteceu, mas pedirei para ele me contar, ok? — Taehyung assentiu. — E... eu tentarei ajudar, como eu puder.
— Obrigado, Namjoon — murmurou, abrindo um sorriso ao ver que o outro também sorria. — Você é um bom amigo.
— Hm... disponha. De qualquer forma, eu preciso ir agora — ele se ergueu, e então Taehyung notou, pela primeira vez, como o homem era alto. Mais do que ele, na verdade. — Conversamos em breve?
— Se ainda quiser minha presença, é claro.
Namjoon sorriu, abrindo um largo sorriso com covinhas antes de se curvar em respeito. Em seguida ele saiu do estabelecimento, deixando-o sozinho.
Taehyung o viu sumir pela janela, pressionando suas costas contra a cadeira enquanto pensava em como tanta coisa tinha acontecido em tão pouco tempo. Ele se perguntou como teria sido se tivesse continuado em Pyongyang, ou se tivesse repelido Hoseok desde o início, porém com mais êxito.
Talvez não existisse uma perto dentro de si doendo, como acontecia naquele momento.
Talvez tudo seria mais fácil se ele tivesse continuado com seu papel de máquina, e ignorado qualquer interação humana com a sociedade.
Talvez tudo seria mais fácil, mas ele não seria mais Kim Taehyung. E ele estava cansado de ser o Projeto T4EH7UNG 3012.
Estava cansado de ser quem não era, mas também não sabia como se definir.
Talvez ele realmente precisasse de Song.
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