Capítulo 2 - Taehyung
#CodigoBinarioVhope
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A sensação de despertar após muito tempo adormecido era estranha. Seu corpo endurecido, os olhos pesados; era como se, por muito tempo, tivesse existido um peso em cima de si, impedindo-o de se mover, ou raciocinar corretamente. Era estranho, de fato. Taehyung não se sentia como... Taehyung.
— Projeto T4EH7UNG 3012 — a voz de um dos cientistas chamou sua atenção, fazendo com que o androide erguesse a cabeça. — Está ativado?
— Sim — sua voz saiu rouca e profunda, diferente da maneira que soava em seus pensamentos. Ele não gostou daquilo, não parecia certo.
— Começaremos os testes finais — o homem ao seu lado respondeu. Taehyung notou que ele segurava uma prancheta cinza, junto de uma caneta preta de ponta fina. Seus olhos notaram a marca pequena impressa na lateral do objeto antes de voltar a observar a parede vermelha vinho a sua frente. — Pode nos dizer onde está?
Seus olhos se tornaram verdes esmeralda, enquanto observava todos os detalhes ao seu redor, na intenção de encontrar algo que o levaria a sua resposta. E achou. Sua cabeça se virou novamente para a parede, enquanto seu corpo mantinha a postura perfeita.
— Estamos em Pyongyang, Coreia do Norte, no Laboratório de Estudo de Inteligência Artificial, ou LEIA — sua voz saiu automática.
— Correto — ele assentiu, anotando algo. Taehyung o olhou, notando que ele escrevera: "O andróide sabe nossa localização. Isso pode ser algo bom ou ruim dependendo dos resultados da missão". Ele franziu o cenho. — Em que ano estamos, Projeto T4EH7UNG?
— 2022, senhor. 14 de novembro de 2022.
— Certo — concordou novamente. — Agora vamos para a última pergunta, T4EH7UNG, e mais importante: por que você está aqui e quem te criou?
Seu corpo travou, enquanto sua mente trabalhava na busca da resposta correta. Ainda encarando o cientista, seus olhos voltaram a ficar verdes, enquanto se lembrava de todas as conversas que ouvira enquanto adormecido.
— Fui criado como espião anti-capitalismo. Minha missão é se infiltrar na rotina de famílias de Elite e encontrar provas para que o governo sul-coreano desabe, uma vez que tem muita influência política no exterior, isso antes de eu precisar partir para os Estados Unidos da América, onde continuarei com mais profundidade no que eu nasci para fazer — respondeu mecanicamente, recebendo sorrisos confiantes dos homens que ajudaram na sua construção. — E eu fui criado por Song Minhyuk, um cientista norte-coreano.
— Perfeito — o do início sorriu. — Não há falhas.
— Ele está pronto, então? — o homem concordou. — Avisaremos Song, então começaremos a transferência.
Eles saíram da sala juntos, ignorando a existência de Taehyung quando fecharam a porta, deixando-o sozinho pela primeira vez desde que despertou. Sua cabeça ainda pesava, assim como seu corpo todo. Não parecia perfeito.
Seus olhos rodaram a sala do laboratório, notando cada detalhes que não reparara antes: não eram todas as paredes que eram vermelho vinho. A atrás de si, onde ele se apoiava, era cinza, além de grandes luzes verdes que o davam a sensação de estar embaixo do oceano. Nas paredes haviam inúmeros quadros de pessoas reunidas que datavam do início dos anos 70, junto de diplomas nos nomes de inúmeros cientistas que ele conhecia superficialmente os nomes, além de Song. Ele parecia ser o homem mais importante, talvez por parecer ser o mais velho – o ajhussi –, ou por ele ser aquele com mais prêmios, mais reconhecimento.
Não era atoa que ele era seu criador, pensou. Como um pai, talvez? Não sabia. Só sabia o significado de "pai" pego do dicionário.
— Tae? — a porta se abriu novamente, deixando à mostra Song, que carregava um largo sorriso. Taehyung franziu o cenho. — Fico feliz que te ativaram hoje, embora eu quisesse estar presente...
— Olá — murmurou. Minhyuk sorriu novamente.
— Como você está? Passou nos testes, não foi? — ele se aproximou, segurando o rosto magro enquanto observava cada detalhe do novo corpo robótico. Parecia tudo em ordem. — Não temos mais tempo para novos consertos... As coisas estão um pouco complicadas.
— Eles disseram que fui bem, Senhor. Não sei o que isso significa — seus olhos seguiam cada movimento do seu criador, que parecia agitado.
— Não queira saber, não queira saber... — ele balançou a mão, nervoso. — Fico preocupado contigo.
— Comigo? — ele franziu o cenho, não entendendo. Ele era um andróide, sim? Portanto, imortal. — Por que?
— Porquê você merece mais do que isso, TaeTae — ele sussurrou, juntando suas testas. Era como se o homem quisesse provar que sua obra estava ali, intacta... — Você merece mais do que uma...
— Song? Finalmente — a porta se abriu pela terceira vez segundos após Minhyuk se afastar, ainda encarando o rosto perfeito e imerso em sua própria mente. — Estive te procurando por muito tempo.
— O quê aconteceu, Choi? — sua voz saiu fria, diferente da maneira que conversava com o andróide antes.
— Im está perguntando quando poderemos enviar T4EH7UNG para a missão.
Minhyuk olhou para o andróide, que se mantinha na mesma posição. Ele suspirou.
— Hoje — o homem arregalou os olhos. — Eu já consegui o visto dele, e tenho conhecidos na escola onde eles estudam. Não teremos problemas com uma bolsa. Além de que o Kim já está em Seul, apenas esperando por ele. Não tem mais porquê demorar tanto.
— Kim? Você usará o Kim? — o homem franziu o cenho, enquanto repuxava seus lábios em desgosto. Minhyuk arqueou a sobrancelha, não entendendo.
— Algum problema, Choi? Não estou entendendo o porquê de tanto estresse — ele sorriu, irônico. — Kim é nossa opção perfeita; ele tem o visto sul-coreano, além de que já possui casa e uma carreira no país. Ele não precisa fingir mais nada, e tampouco lutar do zero para se adaptar... ele vai fingir que o Tae... T4EH7UNG é seu irmão de Daegu e pronto. Vai dar tudo certo.
— Eu torço para que sim, Song. Não aceitarei mais falhas, principalmente vindo de você.
— T4EH7UNG é um projeto meu — respondeu, rude. Como aquele dongsaeng tinha coragem de falar assim contigo? — Saiba seu lugar e não interfira no que crio. Eu sei exatamente o que fazer.
— Como queira, ajhussi... — grunhiu, insatisfeito. — Não irei discutir sobre.
— Faça isso — rugiu. O homem observou o cientista e a máquina antes de sair, batendo a porta com força. Song sobressaltou, assustado com o impacto, mas não se abalou. Já era acostumado com aquele tipo de pessoa, por isso que preferia a tecnologia. — Vai dar tudo certo, Tae — ele olhou o andróide, que não se movia, como aprendeu. — Eu prometo.
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O aeroporto internacional de Gimpo estava lotado naquela tarde. Era final de dia, um grupo de turistas atravessaram o saguão e conversavam animados, enquanto carregavam uma grande quantidade de malas e seus rostos eram escondidos por máscaras escuras devido à epidemia de gripe naquele lado da cidade. Taehyung observou a movimentação juvenil, estranhando a maneira que sorriam, falavam alto e se empurravam, enquanto gargalhavam de alguma piada interna que com certeza ele não entenderia.
Taehyung achara aquilo muito estranho. Não era do tipo que falava muito, tinha sido criado para observar tudo silenciosamente e sorrir quando necessário, embora não o fizesse sempre. Nunca, na verdade. O laboratório era muito quieto e todos pareciam viver sobre pressão, tentando encontrar uma perfeição que não existia, tentando resolver problemas que não lhe pertencia.
Era entediante, acreditava.
— Taehyung? — um homem se aproximou, carregando um largo sorriso enquanto suas mãos estavam escondidas dentro do grande sobretudo cinza grafite. O robô o observou: cabelos longos pretos, os olhos puxados castanhos e o rosto fino, além de que ele devia ter em torno de 1.80 e parecia ser relativamente forte. Era bonito, pensou. — Oi. Eu sou Kim Won-Shik, trabalho para Song Minhyuk.
Então Taehyung o reconheceu da imagem que Song lhe mostrara.
— Eu sou o Projeto T4EH7UNG 3012. Por favor, cuide bem de mim — e se curvou em noventa graus perfeitos, como Minhyuk lhe ensinou.
— Não precisa de tanta formalidade — ele riu baixinho quando Taehyung voltou ao normal: a postura perfeita, com os ombros para trás, e os olhos fixos para frente, embora ele soubesse que o andróide conseguia enxergar a trezentos e sessenta graus.
Won-Shik notou que, diferente dos norte-coreanos que conhecera, os cabelos de Taehyung eram cacheados, caindo sobre sua testa em ondulações perfeitas e tampando as orelhas presas pelo dispositivo que o permitia se contatar com Song disfarçado de brinco. O Kim também notou que ele vestia roupas simples: um casaco azul pastel que cobria os braços robóticos escondidos por pele artificial e blusa social branca acinzentada, além da calça jeans preta e os sapatos abertos pretos. Era uma obra perfeita, de fato, parecia quase humano se não fosse o olhar vazio, sem nenhum resquício de humanidade.
Era interessante como a tecnologia funcionava.
— Vamos. Eu te levarei para o lugar que vivo, e então planejaremos a história que você contará.
— Tudo bem — assentiu, enquanto o seguia. Taehyung arrastava as duas enormes malas com facilidade, como se tivessem o mesmo peso que duas penas. Era engraçado de assistir, de longe. — Está chovendo — o som da água preencheu seus ouvidos biônicos, fazendo-o olhar na direção da enorme janela que mostrava o céu escuro e a chuva que caía pesada, batendo com força no piso do lado de fora. Seu corpo se contorceu, em desconforto.
— Sim — o homem concordou, porquê de fato havia uma tempestade. — Eu comprei os maiores guarda-chuvas da loja, além de que eu estacionei em uma área fechada, então não há chances de você se molhar.
— Bom — sussurrou, ainda olhando a imensidão de água. Ele não sabia que era possível cair tanta água do céu. — Bom.
— Está com fo... Esquece. Isso foi grosseiro — ele balançou a cabeça, se lembrando da informação mais importante sobre um robô. Taehyung sorriu minimamente, achando graça da reação do homem.
— Está tudo bem, ajhussi — o homem sorriu. — O que eu deveria dizer se outra pessoa me perguntasse isso?
— Diga que você já comeu, portanto não está com fome.
— Algo mais?
— Se ficarem questionando mais... — ele pensou. — Responda que você não consegue comer fora do ambiente familiar.
— É uma boa desculpa.
— Aqui — o Kim empurrou grandes portas de vidros, deixando à mostra a passarela fechada que levava ao estacionamento coberto. Taehyung conseguia as mínimas gotículas de água batendo em sua roupa enquanto atravessava o corredor, seguindo o homem até o Hyundai Tucson cor chumbo. Era um belo automóvel, pensou. — Eu moro em Myeong-dong. É bem perto do local onde você estudará.
— Conseguiram a bolsa então? — Taehyung olhou para o homem antes de entrar no banco do passageiro e prender o cinto.
— Uh... Não exatamente. Eles disseram que você precisará estudar um mês pagando a mensalidade para, depois, entrarmos na papelada para a bolsa.
— E quem pagará?
— O laboratório tem um fundo só para isso — ele olhou o "adolescente". Os olhos do menino continham uma luz azul esverdeada, que o Kim sabia se tratar da sua programação trabalhando a todo vapor. Aquilo poderia ser um problema. — Para cumprimentos de missões.
— Isso é legal.
— Sim — concordou, fazendo tudo que era necessário antes de sair de sair do estacionamento. Como o carro era automático, o Kim não se preocupava em mudar a marcha, dirigindo calmamente pelo trânsito caótico de Seul. — Seu nome agora é Kim Taehyung, você nasceu trinta de dezembro de dois mil e cinco e tem dezessete anos — Taehyung o ouvia atentamente. — Eu sou seu irmão mais velho, você foi adotado quando eu já tinha mais de trinta anos por nossos pais, que já faleceram de velhice. Nossa prima te criava em Daegu até que ela precisou fazer uma viagem para o exterior e nunca mais voltou, fazendo com que você se tornasse minha responsabilidade. Temos uma relação boa, porém a diferença de idade afeta na nossa ligação. Não temos nada em comum, e isso é um pouco deprimente às vezes.
— Sou natural de Daegu? — o homem lhe olhou, confuso. — Você disse que sou adotado... Sou de Daegu?
— Não — ele negou. — Você nasceu em outra cidade que nunca descobri qual, mas foi enviado para Daegu logo após o seu nascimento.
— Isso é interessante. Acho que todos vão acreditar.
— Esperamos que sim. Esperamos que sim — murmurou. — Porque você terá aula amanhã e não temos mais tempo para criar uma nova história.
— Sim, senhor.
Quando Won-Shik parou no sinal vermelho, ele se virou para o banco de trás, retirando de cima dela uma sacola vermelha bordo que jogou no colo do andróide antes que o sinal abrisse. Taehyung não hesitou em retirar o conteúdo ali presente, notando ser um uniforme padrão coreano: uma camisa branca lisa, sem manchas, que ia até um pouco acima de seus ombros, um blaser azul marinho com a logo da instituição Huimang é uma calça social cor creme; além dos sapatos sociais pretos engraxados. Taehyung também notou uma pilha de livros escolares dentro da sacola de compras. Quando se virou para o banco de trás, uma mochila preta ficou visível, o que fez confirmar que tudo que era necessário.
Ótimo, pensou.
— Malditos colegiais que andam com essas bicicletas na chuva — o andróide ouviu o Kim sibilar, mas estava concentrado demais na visão das gotas no vidro para ativar sua visão trezentos e sessenta graus e entender o que ele via.
Parecia que tudo estava se encaminhando corretamente para o início da sua missão.
Taehyung não sabia se gostava ou não daquilo.
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