Capítulo 1 - Hoseok

#CodigoBinarioVhope

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Três meses depois...

O som do despertador tocando, enquanto sua cabeça doía como se cinco mil facas estivessem encravadas nela, era como um castigo divino. Uma provação, de fato.

Sua mão desligou o aparelho, sabendo exatamente onde tocar, antes que seu corpo virasse para o lado, na intenção de voltar ao seu delicioso sonho, onde seu corpo inteiro reagia aos beijos fervorosos de Leonardo DiCaprio, e ele conseguia sentir a ereção crescendo entre duas pernas.

Ao se cobrir com o edredom pesado, Hoseok apertou o volume, imaginando o Léo de Titanic distribuindo beijos por seu peito desnudo, até que chegasse na sua virilha. O Jung se imaginava gemendo, jogando a cabeça para trás, enquanto seus dedos seguravam os filhos castanhos e o impulsionava a...

- Hoseok! Hora de levantar!

Nada.

A sensação se perdeu, fazendo com que o adolescente grunhisse frustrado, pensando em como seria uma punheta feita pelo seu ator preferido. Deveria ser deliciosa, sim. Mas ele nunca saberia porquê sua mãe o impediu disso.

- Anda, garoto! Você tem aula em meia hora. - as três batidas pesadas na porta o fez grunhir de insatisfação, o fazendo lembrar do porquê de sentir tanta dor de cabeça logo às sete da manhã.

Maldito soju. Maldito Namjoon que não o impediu de beber tanto.

- Anda, menino!

- Estou indo, inferno - sua voz saiu como um sussurro afetado, o corpo de frente para o teto enquanto o braço esquerdo caía despreocupadamente por seu rosto, impedindo a luz de bater em sua pele. Estava exausto. - Merda...

Quando o segundo despertador, que tocava dez minutos depois, soou, Hoseok sabia que estava atrasado. O adolescente jogou as pernas para fora da cama e se levantou, indo até a roupa pendurada no cabide. Olhar aquele uniforme padrão coreano era a confirmação que o seu inferno continuava por mais um dia.

Ele odiava escola.

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Seus pais pareciam bem concentrados no café da manhã quando chegou na cozinha cinco minutos após um se arrumar apressado, ajeitando o blaser azul marinho que caía sobre seus ombros. Odiava aquele tipo de casaco, era mais adepto a roupas leves, como bermudas e regatas. Além de que ele também odiava o fato de manter o cabelo preto por conta das regras de etiqueta, enquanto seu irmão mais velho, SeokJin, explanava o cabelo loiro prateado na mesa.

Mimadinho.

- Sente, Hoseok. E coma rápido para não se atrasar.

- Sim, omma - murmurou ao ocupar a única cadeira vazia, servindo seu bowl com arroz, aproveitando para colocar um filé de peixe em cima dele. Estava faminto; a ressaca contribuía para isso.

O adolescente comia rapidamente, chupando o que sobrava do jeotgarak* antes de continuar, ignorando a conversa que rolava na mesa porquê sabia que nunca o envolvia. Ele era como uma sombra para os Jung-Kim; o fato de não ser o filho biológico de sua mãe contribuía para isso.

Ela sempre preferiria SeokJin, era um fato.

- SeokJin te levará para a escola hoje - ele ergueu a cabeça, encarando seu pai que parecia calmo demais -, vai chover.

- Não virei um ser de açúcar para isso. Um pouco de água não me matará.

- Hoseok, não discuta - a mulher interviu, fazendo-o revirar os olhos e dar outra mordida no peixe frito. SeokJin se manteve calado, bebendo do leite de banana que roubara da prateleira de Hoseok.

- Preciso ir, antes que me atrase - ele se levantou, irritado demais para comer qualquer coisa. O fato de não ter se tocado ao acordar duro era estressante demais, doloroso demais, para aguentar discussões. - Vejo vocês no jantar.

Sabendo que eles retrucariam, porquê ele era o único que não podia responder ali, Hoseok caminhou até a porta de entrada, pegando o guarda-chuva pequeno e a cópia de suas chaves, guardando na sua mochila. Não choveria naquele momento, provavelmente a tempestade se iniciaria em uma hora, no máximo duas.

A garagem onde ficava sua bicicleta era úmida, principalmente por causa da infiltração, que manchava as laterais da parede com mofo. O único carro da família, que se tratava de um Hyundai Avante branco, estava parado no centro do local bagunçado por inúmeras caixas e quinquilharias que passaram por gerações, embora Hoseok não fosse apegado a elas e facilmente colocaria fogo em tudo, se não poluísse o meio ambiente.

Seus olhos rodaram o local, até achar sua bicicleta no canto, preso pelas correntes. O veículo se tratava de uma bicicleta dos anos 90, composta por um banco de couro marrom e a pintura verde pastel, além do guidão preto com fitas coloridas escapando do mesmo, que ele se lembrava de estar ali desde, bem... desde sempre, na verdade. Hoseok retirou as travas e guardou na mochila também, sem se importar com a possibilidade de sujar seus livros enquanto arrumava a marcha, que sabia ser o principal.

- Por quê não quer ir à escola comigo? - a voz fria, mas ao mesmo tempo confusa, de SeokJin assustou Hoseok, que sobressaltou nervoso antes de voltar a arrumar sua bike, ignorando completamente o meio-irmão. - Estou falando contigo, Hoseok. Responda seu hyung.

- Porque não vejo necessidade - explicou, mal humorado. - Você provavelmente arrumará algo o que fazer e vai esquecer de me buscar, como sempre fazia quando eu estava no ensino fundamental - seu tom era despreocupado, mas por dentro Hoseok estava com raiva. Era como se pudessem saber seu humor por seus poros, que expiravam irritação. - Então não, não vou contigo.

- Algum amigo não poderia te trazer?

A pergunta do irmão fez com Hoseok risse, achando aquela a melhor das piadas. Hilário, pensou, secando uma lágrima invisível enquanto SeokJin lhe olhava, confuso.

- O quê...?

- Eu não tenho amigos naquela escola, hyung - o honorífico saiu de forma debochada. - E nem quero ter. São um bando de riquinhos mimados que nunca sentiram fome na vida, ou frio. Eu não me interesso por esse tipo de pessoa, tampouco desejo perto de mim.

- E aquele menino estranho que sempre vinha aqui? Namjoon?

Hoseok pensou como o melhor amigo ficaria se ouvisse seu irmão o chamando de "estranho". Talvez chateado, decepcionado... Hoseok se lembrava da paixão platônica do melhor amigo por seu meio-irmão quando tinham catorze anos. Era engraçado, na verdade; embora também tivesse uma vergonha alheia envolvida pelas falhas declarações de amor.

- Namjoon estuda no Palan Haneul, praticamente do outro lado da cidade, e ele não teria tempo de me buscar e voltar para casa - Hoseok sentiu um mínimo de felicidade ao lembrar do melhor amigo. Tinha um grande carinho pelo garoto. - Além de que ele ajuda no asilo onde a halmeoni dele está internada.

- Oh... - ele travou, encarando o nada enquanto sua mente trabalhava. Hoseok o olhou, confuso. - O quê ela tem?

- Alzheimer em estado avançado - respondeu, seco. Era uma pessoa muito propensa a mudanças de humor ligeiras. - Eu adoraria continuar a conversa, mas preciso ir. Não posso chegar atrasado.

- Vai lá - murmurou, retirando o controle do portão do bolso. Hoseok subiu na bicicleta e apoiou os pés no pedal antes que as portas se abrissem, e então ele saiu em alta velocidade, sem olhar para trás.

Não gostava de olhar para o irmão. SeokJin tinha uma beleza que cegava, o que era um tanto frustrante.

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A Huimang School poderia ser considerada a maior escola de elite do país, conhecida por pegar filhos de pessoas ricas e colocá-los ao mundo, transpassando os ensinamentos de geração a geração. A Huimang tinha cerca de quatro prédios, divididos entre os três primeiros anos do Ensino Médio coreano, e aquele onde os formandos passavam a maior parte de seu tempo, se preparando para o vestibular. Era a chance de provarem que não eram burros, e que tampouco o investimento de uma vida não tivesse sido em vão.

Se o ensino para um coreano comum, de classe média, era pesado, imagine para um possível futuro residente daquela nação... Chegava a ser insuportável, ao ver do Jung.

Diferente de noventa por cento dos estudantes da Huimang, Hoseok não nascera em berço de ouro. Ele era um garoto comum, que teve uma vida inteira simples, até que um incidente em sua antiga escola - onde estudava com Namjoon - abrira portas para que ele tivesse novas oportunidades. Foi em uma reunião com uma psicopedagoga que fora sugerido aos seus pais que Hoseok fosse colocado em uma escola de Elite, onde ele teria mais chances de mostrar suas habilidades e a inteligência adormecida dentro de si. Os Kim ficaram em choque; seu primogênito, SeokJin, estudara a vida inteira em escola pública e conseguiu uma vaga na Yonsei, onde se formou em jornalismo. Parecia irreal a ideia de um filho deles estudar em uma instituição privada que com certeza não era barato, mas prometeram pensar no assunto.

Bom, no fim de tudo, eles aceitaram. No final do nono ano, Hoseok fez a prova para conseguir uma bolsa parcial - o máximo que a instituição permitia - e conseguiu, mas sua mãe precisou arrumar um segundo emprego para pagar metade da sua educação. Jung odiou aquele investimento; foi como se tivessem colocado um peso sobre seus ombros, e ele não poderia falhar para não decepcionar sua família, mesmo que odiasse a ideia de conviver por horas com pessoas que acreditavam ser melhores que si, só porquê seus pais recebiam trezentos mil dólares por dez minutos de trabalho.

Era injusto, sabe? Hoseok considerava tudo aquilo extremamente injusto, e desumano.

Ok, talvez ele tivesse se desfocado do assunto...

A questão era que a Huimang era gigante, e a cada passo que Hoseok dava até o prédio do segundo ano, ele se sentia cada vez menor; como uma barata, entre gigantes. E aquele uniforme apertado porquê ganhara peso no último mês também não ajudava. Nenhum pouco.

- Merda... - resmungou, estalando a língua no céu da boca ao retirar o casaco e pendurá-lo no ombro enquanto arrumava a camisa social branca. Diferente do uniforme feminino, os garotos não usavam a gravata.

Graças a Buda.

Quando Hoseok estava preparado para entrar no prédio, e talvez aguentar o Mr. Kim por duas horas, o som de um carro andando em alta velocidade quebrou seu passo, fazendo-o automaticamente engolir os ombros. Foi como um adicionar de sessenta quilos sobre suas costas, afundando-o gradativamente, até que desabasse.

Quando as vozes se tornaram agitadas e o carro estacionou a poucos passos de si, Hoseok não se surpreendeu ao ver o Trio Amaldiçoado  - como o adolescente gostava de chamá-los - sair do veículo, caminhando até o mesmo prédio que ele iria. Os sorrisos largos, os acessórios de luxo constrastando com o uniforme relativamente simples... eram os tipos de pessoas que não possuíam problemas na vida.

O nariz de Hoseok se contorceu em desgosto, cruzando os braços enquanto observava o "liderzinho" jogando os cabelos escuros como a noite para trás, abrindo um daqueles sorrisos que sabiam que faria qualquer um se interessar, antes de saber quão podre ele era. Além de que, junto dele, estavam os dois seguidores sem vontades próprias que faziam tudo que ele queria.

- Babacas - sibilou, ajeitando a camisa antes de dar às costas pros três idiotas e ir até sua sala, sabendo que tinha coisas melhores para fazer.

Park Jimin, Jeon Jungkook e Min Yoongi não mereciam seu tempo.

- Jung Hoseok! - a voz do inspetor o fez paralisar, forçando um sorriso antes de olhar o homem que parecia sério demais. Aquilo não era um bom sinal; não mesmo.

- Oi, senhor Kwan - se curvou respeitosamente, apoiando os braços atrás das costas. Ele odiava aquele padrão de educação coreano. Era tão forçado. - Como o ajhussi está hoje?

- Sem forçar. Nós dois sabemos que você não é tão educado assim - o adolescente se segurou para não revirar os olhos. - Por quê não está na sala de aula?

- Estava indo para ela, ajhussi.

- Sua aula começou faz dez minutos, Sr. Jung. Você não deveria estar aqui.

- Uh... - concordou, solenemente. - Faz parte, né? Mas não se preocupa, estou indo para a aula agora mesmo - e deu de costas, caminhando rapidamente até o segundo andar, onde teria a maldita aula de matemática.

Céus... ele odiava exatas com todas suas forças.

- Engraçado que ele só briga comigo. Vai os riquinhos chegarem atrasados; eles não fazem nada! - murmurou para si mesmo enquanto subia degrau por degrau com desconforto, devido ao peso da sua mochila. - Inferno...

- Olha a boca, Jung. Você não vai querer que o inspetor brigue contigo novamente... quer? - o sorriso irônico e o tom falsamente amigável do Park fez com que Hoseok crispasse os olhos antes de ignorá-lo completamente. Ele sabia exatamente o que Jimin queria, e não daria isso a ele. - A sua educação medíocre te impede de me responder, Jung? Eu sempre soube que pobres não educavam direito seus filhos... No final, saem crias como ti.

A risadinha que Jeon e Min que deram fez o rosto de Hoseok se esquentar, em cólera. Era incrível como aqueles três eram mais novos que si, mas não se davam ao trabalho de chamá-lo da maneira correto.

- Eu estou falando contigo, Jung! - o tom de voz de Jimin aumentou quando o Jung o ignorou novamente.

- É hyung - pela primeira vez Hoseok não viu o sorriso irônico que Jimin carregava por aí. - O termo certo é hyung. Sou mais velho que você.

- E quem se importa com isso? Você pode ser mais velho, mas eu sou mais importante - ele sorriu, não parecendo afetado pelo o que o mais velho disse. - Meu pai construiu essa escola; se não fosse ele... você nem estaria aqui, recebendo uma educação que no fim das contas você não merece. Você deveria me reverenciar, e não agir como um perdedor que nós sabemos que você é - Jungkook e Yoongi trocaram um olhar nervoso, sabendo que o melhor amigo estava se estressando.  - Eu não preciso andar na linha para perder uma bolsa de estudos, não preciso vir para a escola de bicicleta... não preciso passar fome para meus pais pagarem meus estudos... Você realmente quer falar de honoríficos, Hoseok?

Hoseok observou os olhos castanhos brilhando em ira, sem saber o que dizer. No fim das contas, ele só deu de costas e saiu, indo em direção a sua sala de aula.

- Acho que você pegou pesado, hyung... - a voz soou a distância.

- Calado, Jk.

O coração acelerado, as mãos tremendo enquanto suavam desesperadamente... aquilo tudo era um sinal de que Hoseok acreditava nas palavras de Jimin, e se odiava um pouco mais.

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