Waffle
Eu fitava aquele waffle à minha frente, no prato com a borda azul sobre a mesa. Era um comida, então eu deveria comer.
Deveria.
Tudo estava diferente naquele momento. O Sol estava estranho, brilhava diferente. E aquelas músicas sobre a Califórnia não saíam da minha cabeça; tive que aturá-las no percurso inteiro até uma lanchonete.
Nunca pensei que sairia do Alabama e acabaria morando na Califórnia. E eu odeio praia. Mas minha mãe não levou isso em consideração, ela tinha que aceitar aquele trabalho. Por isso, tive que fingir estar animado com aquele novo ambiente e aquele waffle com gosto estranho.
— Come, Olie. — falava a minha mãe. — Esse waffle está uma delícia! — ela falava também.
E eu tive que comer em silêncio.
Eu odiava ter que mentir. Ainda mais para a minha mãe, que sempre pareceu ser sincera comigo. Quer dizer, existe exceções... Como, por exemplo, o fato de ela ter ficado elogiando aquele péssimo waffle.
Depois de quase vomitar no banheiro, convenci minha mãe à seguirmos nosso caminho até a nova casa. Ela concordou. Então fomos eu e ela ouvindo The Neighbourhood durante o percurso. A Califórnia não era tão ruim, era bom sentir o vento no meu rosto enquanto o carro se mantinha acelerado. Mas, também... Eu estava na Califórnia! Só em pensar em todos os filmes que foram gravados ali eu já ficava animado. Era tão excitante e ao mesmo tempo deprimente e frustrante.
Era bom ter a minha mãe ao meu lado. Mas eu só tinha ela e ela só tinha à mim. Éramos uma dupla, melhores amigos. Cantávamos super mal e mesmo assim fazíamos um coro magnífico. Cozinhávamos também, mas sempre queimava ou ficava cru.
Às sextas contávamos sobre a nossa semana enquanto tomávamos sorvetes ou comíamos tortas ou pudim. Era um ritual para o começo do final de semana. Era bom rir das suas péssimas piadas e era bom assistir à um filme com ela. Era como se ela tivesse a minha idade.
Mamãe tinha dito que precisávamos recomeçar outra vez. Ela me contava que sentia falta do papai e precisava seguir em frente. E então surgiu Califórnia e as suas praias. Talvez eu gostasse da Califórnia e talvez eu pudesse simpatizar com a praia. Só talvez.
Eu estava enjoado, na quarta música: Sweater Weather. Sorri com o "Eu odeio a praia, mas eu permaneço na Califórnia, com os meus pés na areia". E logo quando o refrão chegou, implorei para a minha mãe parar o carro.
— Qual é, Olie? — ela bateu a mão no volante, enquanto diminuía a velocidade.
Antes mesmo de ela parar no meio-fio, abri a porta rapidamente e joguei o meu corpo para frente, esguichando o waffle com uma gosma nada agradável.
— Oh, Olie! — exclamou a minha mãe. — Você está bem? — massajou as minhas costas.
— Eu estava. Até comer esse maldito waffle. — grunhi, erguendo a cabeça.
— Esse... — ela ria. Não, gargalhava. Se contorcia de tanto rir. — ... Waffle... Ele realmente é uma porcaria.
Girei o meu corpo e fitei-a com raiva.
— Por que me fez comê-lo? — eu quis saber.
— Desculpa, filho. Mas você não comia há oito horas! Eu tinha que te fazer comer... — deu de ombros.
— Valeu de quê? Eu pus tudo para fora mesmo! — reclamei, fechando a porta da sua picape preta esportiva e esperando-a retomar o caminho.
— Vamos fazer um sanduíche quando chegarmos, sim? — ela fez cafuné na minha nuca e bagunçou o cabelo que se estendia até ali. — Sim, Olie?
— Tudo bem, mãe. — suspirei.
— Vamos, me acompanhe... — então começou a cantar a música.
Impossível não acompanhá-la.
Mas antes de chegarmos em casa, acabei por vomitar outra vez. E fui obrigado à gritar:
— Eu odeio o waffle da Califórnia!
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