Memorável
Eu estava ansioso para saber em que raios de lugar Sky iria me levar. Mas eu estava tentando lembrar-me que não era nada de mais.
Eu já estava meio nervoso. Não só pelo lugar misterioso, mas também pelo fato de eu ter ido ao clube e ninguém estava lá. Eu estranhei aquilo, e senti-me sozinho. Por isso, fiquei no campo lendo um livro qualquer, iluminado pelo Sol poente.
Estava cansado, e com sono. E pensei na possibilidade de aquilo ter sido apenas uma invenção, ou que ela esqueceu de mim. E quanto mais eu pensava, mais triste eu ficava.
— Comeu fruta podre, Kennedy? — era a Sky, e ela vinha com os cabelos ao vento e a mochila nas costas.
Parecia ainda mais bonita, com a sua calça jeans, uma blusa branca de algodão escrito "Califórnia" numa ótima fonte e o tênis surrado. Sorria para mim, e eu tive que sentar-me no chão para vê-la melhor.
— Não comi nenhuma fruta hoje — disse eu, estendendo os braços para ela.
— Que folgado! — riu e me puxou, ajudando-me a levantar. — Desculpa pela demora, Jesse inventou de discutir o relacionamento logo hoje. Ah, deixe suas coisas na Terra do Nunca, Olie!
— Na... Por quê? — perguntei, caminhando ao seu lado.
— Eu vou dormir aqui. Será que você pode me fazer companhia? — ela pediu, e eu fitei-a.
Sky não olhava para mim, e sim para os próprios tênis amassando a grama, cujas depois eram reerguidas pelo vento. O cabelo caía em seu rosto, mas eu sabia que não havia malícia nele. E aquilo me deixava muito feliz, então abri um sorriso.
— Claro que sim, Sky. Somos amigos! — doeu até dizer aquilo. Mas eu não sabia o porquê de eu ter falado aquela última parte. O "Claro que sim, Sky" já era o suficiente. Mas eu sempre gostei de ser exagerado, e isso parece até tortura, comigo mesmo. Um tipo de automutilação emocional e sentimental.
— Unhum... — concordou com a cabeça. Quando chegamos na casa, largamos nossas mochilas em qualquer lugar e fomos pegar o ônibus. Mandei uma mensagem para a minha mãe, avisando tudo. Ela me fez mil e uma perguntas, e eu respondi apenas com "sim" ou "não".
Quando estávamos no ônibus, e eu ameaçava dormir, um toque me despertou os sentidos e quase tive um ataque cardíaco. Sky segurava a minha mão, mas parecia distraída demais para notar aquela ação. Eu sorri de modo fraco, e fiquei olhando para as ruas. Ainda não estava acostumado com a Califórnia, mas eu já me sentia bem ali, só por ter amigos e.. Sky, obviamente.
No mesmo instante, eu quis chorar. Sério. Porque mais uma vez eu estava me jogando para um buraco negro, e nem oxigênio eu tinha direito (com uma maravilha daquela ao meu lado!). Mas... Era algo mais complexo. Eu gostava de Sky. De verdade. Mas eu estava mentindo para ela, e isso doía em mim demais. E quando ela apoiou a cabeça em meu ombro, eu senti que poderia realmente estar gostando de verdade de uma garota.
E isso é maravilhoso... Se eu não fosse gay.
✖️✖️✖️
— Olá, Sky! Ele está de bom-humor hoje... — cumprimentara uma mulher simpática, na recepção do asilo.
— Você vai conhecer o meu avô, Olie! — ela sussurrara para mim — Boa tarde, srt. Lance!
— Boa tarde, querida. Quem é o seu amigo? — a mulher sorriu para mim.
— Me chamo Oliver — sorri.
— Oh, Oliver... Legal... Sou Sandy Lance! — apertei a sua mão.
— Vamos entrar, Olie! — Sky me puxou, e depois olhou para trás, para Sandy. Escutei uma risada abafada e pensei se tratar de comentários escondidos de mim. Virei-me para trás e vi Sandy acenando para nós. — Ela disse que você é um gatinho. Mas eu falei que você é gay e ela fez uma cara de triste — Sky fez o trabalho de me contar.
— Ela é mais velha que eu! — noto.
— Sandy é uma tarada! — exclamou — Ela quer arranjar alguém para mim.
— Mas e o Jesse?
— Ela não gosta do Jesse. — me contou, mas eu não tornei a mencionar algo similar.
— Jude, onde está o meu avô? — perguntou Sky para uma moça dali.
Ela me olhou de cima a baixo, e depois respondeu para mim:
— No xadrez — como se fosse eu quem tivesse perguntado.
Sky me puxou, e eu fiquei confuso. Perguntei se ela me puxaria para todos os lugares, e ela me respondeu que não precisaria fazer isso se eu não fosse tão distraído.
— Eu não sou distraído! — me defendi.
— E eu sou uma alienígena — abriu uma porta.
O alienígena mais lindo que já vi...
Naquela sala, obviamente, só havia idosos jogando xadrez e discutindo entre si. Claro, era um pequeno caos. Mesmo assim, era xadrez.
— Mas que droga, Martin, como consegue ser tão bom? — falou um senhor com cabelos grisalhos e uma camisa azul.
— Prática, Bob. Prática. — escutei a resposta de um cadeirante.
— Olha só, Martin, quem chegou! — exclamou uma mulher, olhando-nos.
O senhor na cadeira de rodas virou-se para nós e eu pude ver os seus olhos claros e o cabelo branco. Mesmo com rugas, parecia-me ser familiar e simpático. Não aparentava ser ranzinza, como muitos por ali.
— Vovô Martin! — exclamou Sky, indo abraçá-lo. Após os cumprimentos fraternais, o avô de Sky finalmente notou a minha presença e perguntou o meu nome.
— Chamo-me Oliver. Sou amigo de Sky — apertei a sua mão.
— Pode me chamar de Martin — ele me disse — Veio para nos ajudar no Baile?
— No... Baile? — eu fiquei confuso.
— Só um instante, vovô Martin — Sky segurou a minha mão e ambos nos afastamos um pouco — Vai ocorrer um baile hoje aqui. Eu vou ajudar a organizar. Por isso te chamei aqui. E podemos ficar para presenciar o evento. Vai ser legal. Você vai querer?
— Oh, ótimo! Terei o prazer! — eu estava feliz em poder contribuir, embora Sky não tenha me dado muito poder de escolha.
Não que eu não quisesse ajudar. Eu queria. Mas já estávamos ali, e caso eu não quisesse, não faria nenhum sentindo porque eu teria que voltar para casa e Sky ficaria um pouco decepcionada comigo. De qualquer modo, eu gostaria, sim, de ajudá-la.
— Sky! — uma senhora apareceu e lhe dirigiu a palavra — Estamos confeccionando pulseiras e colares para o baile. Irá nos ajudar?
— Claro! Venha, Oliver! — e eu a segui pelos corredores, até entrarmos numa sala bastante iluminada onde senhoras enfiavam pedras em fios escuros de algum material irreconhecível por mim.
— Sky, minha querida... Veio nos ajudar? Como está Loolie? — uma senhora perguntou.
— Sim, Christine. Ahn... Ela está um pouco irritada com os programas dos dias de hoje, mas está bem. — Sky respondeu.
Sentou-se numa mesa vazia, onde havia os mesmos materiais em cima dela. Então começou a separar algumas coisas e começar a fazer um colar.
Eu ia me sentar com ela, mas a moça me chamou.
— Ei, mocinho! Porque não fica aqui e me ajuda?
— Sim, senhora. — eu segui naquela direção e sentei-me ao seu lado. — Terei o prazer em te ajudar!
✖️✖️✖️
— Ela é linda, não é? — ela ergueu o colar, já pronto, mas na direção de Sky. E ela estava distraída, fazendo o terceiro colar enquanto cantarolava.
— Sim. Demais. — eu respondi.
— Eu estava falando da pedra! — Christine chamou a minha atenção, e eu ri de nervoso.
— Bem, eu já sabia. Inclusive, eu estava falando dessa magnífica pedra. — peguei o colar de sua mão e avaliei o nosso trabalho.
— Hm... Você gosta dela, sim? — a mulher me fitou.
— Da pedra? Sim, claro que sim. — estava eu me sentindo deslocado.
— Estou falando da garota. Sky. — tomou o colar da minha mão — Aquele namorado dela não presta. Mas você parece ser decente.
Eu não sabia se aquilo era um elogio ou não.
— De qualquer modo — engoli em seco e brinquei com as pedras que haviam em cima da mesa —, é ele quem sai com ela para os lugares, que segura a sua mão e a beija. Não sou eu. E talvez nunca seja.
— Você quem faz disso verdade, garoto. — Christine pousou a sua mão em cima da minha.
— Eu sou... — fechei os olhos e respirei fundo. Ela havia descoberto a verdade, então seria inútil mentir.
O pior daquilo, é que saiu automaticamente. Eu menti tanto para as pessoas, que esqueci de contar a verdade para mim mesmo: eu não era gay.
Pois bem. Era um tanto estranho, confesso. Aliás, Oliver, o que foi aquilo na festa? Eu não estava pensando em Alec. Eu não devia pensar nele. Eu gostava da Sky, e gostava de acreditar que a equação Oliver + bebida + Alec = insanidade + beijos, fora apenas um deslize. Apenas um deslize.
— Ela acha que sou gay — contei, por fim.
— E você é? — me perguntei se Christine já fora psicóloga ou algo do tipo.
Até eu tinha aquela dúvida. Porque eu dancei com Ben, e nos beijamos e eu gostei. Algo em mim ressuscitou quando aquilo aconteceu, e seria um erro se houvesse Round 2.
— Não sei.
— Como não sabe? Por que tanta confusão nessa cabecinha jovem?!
— Isso não importa agora. Ainda estou em processo de construção, e talvez eu entenda isso depois. — disse eu.
Ficamos em silêncio por um tempo, fazendo outro colares e nos ajudando.
— Entregue para ela — me estendeu o colar — Brilhante... Assim como Sky.
— Obrigado, Christine. Te vejo no baile! — peguei o colar. Ela sorriu para mim, e eu sorri de volta ao percebê-lo sincero e puro. Eu conseguia ver esperança em seus olhos claros, e aquela cena seria marcante.
Em seguida, me levantei e fui até Sky.
— Oliver! — Christine me fez virar — Não seja bobo!
— Pode deixar. Serei o bobo mais idiota do mundo! — continuei sorrindo, e ela riu.
— Fez amizade com a Christine? — notou Sky, quando estávamos saindo da sala.
— Sim. E fiz algo para você! — disse eu. Mostrei o colar e Sky sorriu. Tinha uma pedra laranja e cintilante, era realmente muito bonito.
— Obrigada, Oliver! — me abraçou rapidamente e virou-se para eu colocar em seu pescoço. Quando afastou o seu cabelo, eu consegui colocá-lo e sorri quando ela virou-se de frente para mim. — Você é um amor! Muito obrigada mesmo! — abraçou-me outra vez — Vamos. Temos de decorar o salão, pois logo começará! — e ela me puxou, outra vez.
✖️✖️✖️
O salão realmente estava muito bonito. Tinha um lustre no centro do teto, e o chão era de madeira. Em cada extremidade tinha uma mesa com comida, e eu estava faminto. Flores decoravam as mesas e nas paredes tinham fitas e balões. Estava tudo muito brilhante e especial. O trabalho realmente valeu a pena.
E vê-los felizes entrando no salão, nos elogiando e se surpreendendo com tudo; muito gratificante. Embora eu estivesse cansado, com sede e fome. Tudo que eu queria era estar em casa, assistindo um desenho animado enquanto bebia limonada com pipoca doce. Mas era muito melhor trazer alegria aos "esquecidos pela sociedade".
— Bom trabalho, Oliver! — um senhor alto viera me cumprimentar. Muitos já sabiam o meu nome. Eu havia feito amigos.
— Obrigado! — agradeci, com um sorriso feliz.
— Sabe... Você me lembra John... — dizia ele.
— Por favor, sr. Matthew, hoje é para se divertir, não para se aborrecer. O senhor fez tanto progresso...! — disse Sky, levando-o para o outro lado do salão.
Quando voltou, suspirou fundo e disse:
— Bem... — pigarreou — O filho dele... Nunca o visitou. Nem uma só vez. Então ele é meio... Traumatizado, vamos dizer assim. Fica muito abatido por conta disso.
— Então foi um erro eu ter vindo, não?
— Não, Oliver. Qualquer garoto o lembra John. É complicado... — disse ela.
Silêncio.
— Então... Não vai ter música? — perguntei.
— Jesse vem para ser o Dj. — ela olhou para o seu relógio e soltou um palavrão — Ele está atrasado uma hora.
— Bem, eu posso ser o Dj. É só me dizer do que eles gostam...
Seus olhos brilharam e eu senti algo estranho dentro de mim. Algo virando, algo crescendo, algo que estava me tirando todo ar. De uma maneira boa, mas ao mesmo tempo perigosa. Eu apenas queria abraçar Sky porque ela estava bonita e era tão bom estar com ela e especialmente quando sorria daquele jeito para mim.
— Oliver, você não precisa fazer isso. Não tem que me agradar ou algo do tipo. Isso não vai me fazer gostar mais de você — foi a sua resposta.
— Olha, Sky Blank — eu escutava o meu coração, e estava implorando para que ela não viesse me abraçar para não senti-lo sair do meu peito —, se eu fosse fazer isso por reputação, eu já estaria em casa, porque não valeria a pena. Faço, mas não por você, e sim por eles. Porque merecem.
Sky concordou com a cabeça, e eu fui até a parte de Dj no canto do salão. Como eu não sabia do gosto deles, eu coloquei uma música antiga. Hungry Heart de Bruce Springsteen. Na verdade, essa música sempre teve espaço em meu coração. Porque meu pai sempre gostava de escutá-la e convidava mamãe para dançar com ele. Devia estar dormindo, mas eu sempre assistia-os no momento feliz deles, e sorria quando a minha mãe pisava no seu pé, e subia quando as coisas ficavam quentes. E até eu tive um momento nostalgia ali, e me sentia o Matthew ao vê-lo dançando igual aos meu pais, com uma outra senhora. Sorri, mas tristemente dessa vez.
— Olá, Oliver! — uma voz conhecida soou ao meu lado. Virei-me e me deparei com Christine. Dessa vez, estava arrumada e maquiada. Vestia um vestido vermelho de bolinhas brancas, o cabelo arrumado e uma sapatilha vermelha também. Estava realmente muito bonita. E burlando a ideia de que só os jovens que são belos.
— Você está incrível! — disse eu, indo abraçá-la.
— Obrigada. Eu sei muito bem disso! — ela me respondeu — Agora larga essa máquina chata aí, e vem dançar comigo! — segurou a minha mão e me puxou para o centro, me fazendo repensar sobre o quão forte pode ser.
Eu dancei com ela, mesmo eu sendo horrível. Ela me ensinou alguns passos e disse-me para chamar Sky para uma dança. Eu falei que não, mas ela disse que eu ia "ficar na merda a vida toda se assim não fizer". Eu me assustei com o seu tom, mas eu ri. Depois Christine ficou criticando a roupa das outras senhoras e eu falei que isso é errado.
— Errado é sair com cabelo desses! — foi a resposta dela — E esse sapato horroroso!
Eu ri.
— Ela se sente bem com aquele sapato! — disse eu, olhando para a vítima de Christine.
— Ah, super... — Christine foi sarcástica, e eu ri. Porque era legal escutar algo do tipo vindo de uma voz cansada e meio trêmula, comi a dela. — Eu posso te contar um segredo? — já estava no final da música, e eu girei Christine por conta da minha animação.
— Conte quantos quiser, irei guardá-los! — respondi.
— Eu gosto do Martin. Mas ele sempre vive chateado comigo porque ele aparentemente ainda gosta de Loolie. Eu sinto muito por isso, mas a Loolie não suportaria ele por muito tempo e a relação dos dois já estava morta. Mas ele nunca superou, e adora quando Sky fala sobre ela. Ele não sabe, mas isso não o ajuda muito. O que você acha?
Nesse momento, a música parou.
— Acho que Martin deve passar a página. Deve seguir em frente. Certas coisas nunca vão voltar, porque existem mudanças permanentes. Se eu fosse ele, tentaria enxergar o presente. É a única coisa que importa.
Mas eu não sabia que sem a música o salão iria ficar tão silencioso, a ponto de todos escutarem a minha fala. A ponto de fazer Martin olhar surpreso para mim. Então eu me afastei de Christine e fui até o aparelho, e escolhi qualquer música para cobrir aquele clima repentino e estranho que se formou. A música eu nunca tinha escutado, mas eu pude perceber que todos gostaram e voltaram a dançar. Martin saiu, e eu fiz o favor de seguí-lo.
— Eu não queria me intrometer na sua vida — me expliquei — E também não quero que fique chateado comigo.
— Não estou chateado com você, Oliver — ele continuou acelerando a cadeira, até ir parar no jardim — Estou chateado comigo. Porque você tem razão.
— Não, eu não tenho o mínimo de...
— Não seja modesto, garoto! — disse-me — Eu só nunca me acostumei com tudo isso. Eu preciso ficar um pouco sozinho.
— Ok. — me afastei dele, entrei de novo e voltei para o salão.
Eu fiquei na mesa de comida por um tempo, e só saía para mudar a música. Comi bastante, mas não o suficiente. Eu continuava com fome, mas eu não podia comer a comida toda. E eu via Sky indo de um lado para o outro, cumprimentando as pessoas e sorrindo para elas e sendo gentil. Uma vez ou outra ela se virava para mim e sorria, acenava ou dizia "Eu adoro essa música!".
Até que coloquei Only You de Alison Moyet e me aproximei dela.
— Com licença, eu posso roubá-la por um tempo? — perguntei para o grupo o qual ela estava conversando e segurei a sua mão — Quer dançar comigo, Sky?
— Claro que sim! Só um momento, Jane. — e deixou-se ser guiada por mim pelo salão. Não estávamos com roupas para o evento, mas portávamos nosso melhor sorriso.
Eu dancei com ela, e foi uma dança de verdade. E eu quis sair dali, para que pudéssemos fugir para qualquer lugar e ser felizes por aí. Ela fazia comentários, e ambos ríamos. Eu não sabia dançar, mas ela sabia uma coisa ou outra. Mesmo assim, eu estava divertindo-a e vê-la sorrir era muito melhor. Eu a girei, e a puxei para perto. Seu sorriso diminuiu, mas seu olhar estava no meu. E eu me senti atraído por ela. Me senti tão atraído, que me inclinei para beijá-la.
Afinal, quanto tempo eu estava esperando aquilo? Quanto tempo eu estava almejando aqueles lábios?
Não obstante, eu havia percebido que seria um erro. Eu poderia ser qualquer coisa, mas para Sky, eu era gay. Eu não podia simplesmente beijá-la, senão ela iria se afastar, se assustar e nunca mais tornaria a olhar para a minha cara. E ela havia dito que gostava de mim, e eu não queria decepciona-la ou machucá-la. Ela já me considerava um bom amigo, e aquilo já era o suficiente.
Por conta disso e mais mil motivos, eu mudei o meu objetivo e inclinei-me até a sua bochecha. Depositei um beijo sincero e amável em seu rosto e depois me afastei, olhando-a nos olhos.
— Você é maravilhosa — contei.
— E você é mais ainda! — fora a resposta.
E quando a música acabou, e eu tive que largar Sky e mudar a música, eu vi Martin voltar e ir conversar Christine. Eu sorri com aquilo, e continuei o meu trabalho. E quando eu ia olhar para Sky, ela também estava olhando para mim, e desviava o olhar assim que notava a minha atenção. Sorri sozinho por conta disso, e concluí que eu estava sorrindo demais para um único dia.
✖️✖️✖️
Sky estava animada no ônibus, contando sobre o dia e rindo comigo sobre algumas coisas. Quando voltamos para a Terra do Nunca, eu estava exausto e me deitei no sofá. Sky havia ido ao banheiro, mas eu não sabia que demoraria tanto. Então me levantei e fui à cozinha, ver o que tinha para comer.
Ainda tinha as nossas compras daquele dia louco. Tirei duas pizzas da geladeira e as coloquei no forno para assar. Assim que voltei, Sky estava sentada no chão escolhendo um filme para assistirmos entre tantos DVDs que ali tinha.
— De quem era essa casa? — eu perguntei.
— Do vovô Martin. Ele a comprou quando se desentendeu com a minha avó. Antes de ir parar lá. Depois a deu para mim. — contou ela, e só aí fui notar que ela estava de pijama. Uma blusa regata e um short preto um pouco folgado. O meu ar foi embora, e eu quase que não respondia:
— Ah, sim... Vamos assistir um filme?
— Sim, sim. — me respondeu.
Sentei ao seu lado e a vi escolher um filme. Família Addams 2. "Um filme épico", julgado por Sky. "Digno de boas risadas", dissera ela.
— Pensei até virar uma psicopata depois desse filme... — comentou.
— Que legal. Qual seria a sua primeira vítima? — sentei no sofá, já que o filme havia começado.
— Acho que se eu virasse uma agora, seria você. — sentou-se ao meu lado.
— E se eu virasse um psicopata também?
— Seria você do mesmo jeito. — disse-me — Não se assuste.
— Você não me assusta, Sky Blank.
— Bem... Como vai você e Alec?
Ah, sim...
— Bem, acho. Não estamos namorando.
— Hm... Legal. — ficou assistindo o filme.
— Legal?
— Eu digo... Interessante. É uma escolha sua, sim?
— Claro. Ah, a pizza está pronta! — me levantei e fui tirá-la do forno. Trouxe as fatias num prato e sentei ao lado de Sky.
— Você já gostou de alguma menina, Oliver? — Sky me perguntou, antes de dar uma mordida na sua pizza.
Eu gosto de você.
— Acho que... Não. Mas se eu não fosse gay, acho que eu iria gostar de você.
— Por quê? — ela esticou as pernas sobre as minhas, e eu tive que comer metade da minha fatia de uma vez só.
— Eu não sei. Você é especial. — respondi, depois de pensar muito sobre isso.
— Você também é, Oliver. Tem algo em você... Algo que me faz pensar que você... É diferente, sei lá. Não é como Cass ou Taylor. É apenas você. E eu vejo desespero em seus olhos, não sei o porquê. Mesmo assim, você tende a deixar um pedaço de si em todos os lugares. Memorável. Sim! É isso mesmo, Oliver, você é memorável!
Eu sorri.
Meu Deus, será que eu estou amando essa garota?
— Está dizendo que se lembrará de mim daqui à uns... Vinte ou cinquenta anos? — ousei perguntar.
— Não me esquecerei de você nem por um dia. — ela já sabia que não seríamos Oliver & Sky para sempre. Ou ela queria que fosse assim.
— Promete? — perguntei.
Ela pegou a minha mão e a ergueu.
— De dedinho. — apertou o seu dedo mindinho no meu, e sorrimos um para o outro.
✖️✖️✖️
Era madrugada, não sabia qual o horário. Estávamos deitados na cama, ambos de barriga para cima e olhando para o teto. A janela estava aberta, trazendo uma brisa fria e suave. Sky segurava a minha mão, e eu não me permitia soltar. O rádio do avô dela pegava USB, e ela colocou para tocar uma música.
Olivver The Kid - 4 AM.
E ela estava linda naquele pijama.
E ela sussurrava a letra, e acariciava a minha mão. E eu queria beijá-la muito porque eu sentia que a amava. Pelo menos só naquela noite, naquele dia, eu a amava demais. Queria poder ficar com ela para sempre, queria eu ser o seu mar.
— E seu eu mudasse o meu nome para Sea? — perguntei.
Sky riu aquela risada gostosa.
— Por quê?
— O romance impossível: céu e mar... — virei a minha cabeça na sua direção.
— Temos um amor impossível?
Eu concordei com a cabeça.
— Nos declaramos mais cedo. Está com amnésia?
— Aquilo foi uma declaração?
Eu ri e não respondi. Fitei o teto outra vez.
Eu a tinha naquela noite, ela estava ali comigo e aquilo já era o suficiente. Talvez Sky gostasse realmente de mim, pois estava comigo e não com ele. Porque eu sou memorável, e ela esqueceria seu nome daqui à uns vinte ou cinquenta anos. E mesmo quando ela esquecer de que o namorou na adolescência, eu estarei na sua memória. Como O Memorável, Unicórnio, Olie, Amigo Gay ou Garoto Especial; tanto faz. E talvez ela não se lembre do meu rosto ou como eu era, mas ela lembraria de alguém especial que deixou um pedaço dele nela.
Eu ergui o meu corpo e virei-o para Sky. Eu não fiquei com o corpo em cima do seu, havia uma certa distância entre nossos corações. Mas os meus joelhos estavam afastados, e ela estava entre. Ela afastou os lábios para dizer algo, mas eu apoiei minhas mãos ao lado da sua cabeça e me inclinei para beijá-la no rosto. Não nos lábios, mas nas bochechas e testa. E eu beijei-a nas mãos e acariciei o seu rosto. Sentia sua pele contra os meus lábios. E aquilo era muito bom. Eu me sentia bêbado, mas eu estava sóbrio. Até demais.
— Eu te amo, Sky — disse eu, voltando para o meu lugar, ao seu lado, e olhando para o teto, outra vez.
Soltei um suspiro.
Depois senti um movimento incomum ao seu lado, em seguida Sky virou-se de lado e deitou a sua cabeça em meu peito. Pousou a mão em minha barriga e me respondeu:
— Eu também te amo, Oliver — fitou-me com aqueles olhos lindos. Piscou algumas vezes, e depois abaixou a cabeça, respirando fundo e me abraçando melhor.
A envolvi pelos ombros e acariciei o seu cabelo. E quando eu lutava para me manter acordado, o sono veio e despencou naquele momento único que estávamos tendo. E eu espero que não tenha sido um sonho ou eu estava imaginando, mas eu escutei-a, antes de ser vencido pelo sono, sussurrar:
— E esse é o problema.
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