Garota
Aquela escola já estava me matando. Na verdade, qualquer escola que eu fosse me mataria. Acho que existe alguma lei que obriga todas as escolas à serem chatas e deprimentes. Talvez essa seja a única explicação óbvia para a escola ser tão tediosa.
O melhor era o clube, quando eu saía daquele inferno. O sinal tocava, e eu achava o último toque o mais lindo de todos. Há quem diga que é o mesmo som, mas o toque da saída soava como música aos meus ouvidos.
Na real, eu saía que nem um maluco da escola, com uma barra de chocolate nas mãos e um sorriso no rosto. Um dia, fomos todos juntos ao clube.
Sky estava linda, como sempre. O único fato era que usava o gorro de Styles, sua calça jeans azul dobrada, o tênis preto de cano alto e uma blusa branca. Sem contar naquele fabuloso loiro caindo sobre os seus ombros, cujo eu ficava hipnotizado quando ela os jogava para trás e formava uma certa onda com as suas mechas.
Finalmente eu pude ver Styles melhor, e eu nunca havia notado que tinha cabelos longos. Acho que ele o escondia no gorro, então naquele dia ele havia ficado aos ventos.
Foram todos de skate, menos o Alec e Cass, cujos estavam com suas bicicletas. Eu estava a pé, pois não tinha nem skate e tampouco bicicleta. Cass fingia estar querendo me atropelar, e eu confesso que fiquei um pouco assustado em alguns momentos.
— Sabe andar de skate, Oliver? — perguntou-me Styles.
— Querido, eu mal sei andar com os meus pés direito. Estou me matando aqui. — fui sincero e ao mesmo tempo dramático.
Cass riu, e ameaçou me atropelar outra vez. Lancei um olhar enfurecido para ele, e Cass apenas falou:
— Que 'meda... — ergueu as mãos e balançou as no ar, como se estivesse assustado, mas depois voltou a segurar o guidom da bicicleta.
— Quer tentar? — Styles parou o seu skate e deixou-o no chão.
Eu não quero morrer, eu quis responder. Mas me lembrei que talvez nunca tivesse uma oportunidade como aquela e decidi aceitar.
Eu subi no skate e tentei me manter equilibrado. Styles segurou-me pelo braço e tronco, guiando-me pela rua. Eu ria, pois aquilo estava sendo divertido.
— Vê se não se espalha no Styles, Oliver! — advertiu Cass.
Eu continuei rindo, pois sabia que ele estava brincando.
— Agora ande sozinho. — Styles disse.
— Não, eu vou cair. — respondi, e confesso que estava nervoso. Eu já estava em movimento, e se Styles me largasse com certeza seria o meu fim.
— Não, vai, não. Confie em si mesmo. Vou te soltar. — e assim ele fez.
Inicialmente, tudo estava bom. Estava bom demais.
— Eu estou conseguindo! — exclamei e Sky riu.
— Parabéns, Oliver! — ela me elogiou.
Como eu falei, inicialmente. Pois depois as coisas começaram a acontecer. Como, por exemplo, eu começar a me desequilibrar e gritar por socorro em uma língua estranha e desconhecida até por mim. Pois bem, deveria ser um pedido de socorro. Styles até que percebeu e veio correndo até mim, mas foi tarde demais. Eu caí no chão como chuva e me senti um inútil ali no chão.
— Ai, droga. — foi o que consegui dizer. Ou era isso, ou era um choro infantil na frente da Sky. E eu já havia pagado mico demais numa tarde só.
— Você está bem? — Taylor me perguntou.
— Será que morreu? — era a pergunta de Cass.
✖️✖️✖️
— Eu não estou de brincadeira, eu vi a morte. — eu contava, enquanto Sky colocava um curativo no meu cotovelo esquerdo ralado.
— Que drama. — Taylor disse.
— Ele podia ter morrido mesmo. — concordou Alec. Eu olhei para ele e ambos rimos.
— Prontinho. — Sky avisou, sorrindo para mim e me levando à Lua por alguns gloriosos segundos.
— Oliver, eu preciso testar uma tinta nova. Você será o meu modelo. — Cass veio com uma caixa de tinta na mão.
— Uma o quê? — perguntei, incrédulo.
— Tinta. Vamos, levante-se. — fez um gesto para eu seguí-lo e eu olhei para o resto do pessoal. Eles me olhavam como se tivessem pena de mim, e confesso que até eu naquele momento estava com pena de mim.
Entrei no banheiro e deixei Cass lavar o meu cabelo e aplicar a tinta. Eu não sabia de que cor era, mas eu havia visto na embalagem algo sobre castanho escuro. Não era uma cor exagerada, eu poderia mudar depois.
Daí Sky apareceu no banheiro e saiu falando um palavrão junto com infinitas risadas. Então eu me perguntei o que eu estava fazendo da minha vida. Mas já estava feito. Eu já estava enxaguando o cabelo e eu temia pelo pior. Cass não me deixou ver o resultado, ele ligou o secador que tinha e secou o meu cabelo. Reclamou que eu deveria cortá-lo, pois já estava crescendo, e tentou fazer um penteado decente nele.
— Pode se olhar no espelho. — avisou-me.
Eu poderia dizer que ficou incrível — fora a primeira vez que eu pintei o meu cabelo — e que o castanho escuro havia ficado fabuloso. Mas eu não vou dizer isso porque não era castanho escuro. Nem chegava a ser castanho. Na verdade, aquela cor poderia ser tudo menos castanho.
Era rosa.
Um rosa pastel.
Cassidy pintou o meu cabelo de rosa pastel.
Meu Deus.
Eu nem sei explicar como foi a minha real reação. Por dentro, eu estava xingando e gritando. Por fora, eu estava olhando fixamente para o meu reflexo renovado no espelho.
— Está parecendo um unicórnio!! — exclamou ele, dando saltos animados.
— O que você fez com o meu cabelo? — eu tentava manter a calma.
Styles, que estava passando pela frente do banheiro, tomou um susto e foi chamar os outros. Não é que estava feio, estava apenas diferente. Eu nunca me imaginei com o cabelo rosa.
— Não está tão ruim, Oliver. — Ben tentou me consolar.
— Ele sabe que ficou incrível! — disse Cass, e eu tocava no meu cabelo como se não fosse meu.
— Parece que um unicórnio cagou em você!! — ria Taylor.
— Algum problema contra unicórnios, Taylor? — Cassidy exaltou-se.
— Não, nenhum. — e se afastou do banheiro.
— Toma, Oliver. — Sky tirou o gorro de Styles e me entregou. — Você vai precisar disso mil vezes a mais que eu.
Eu peguei, e fiquei me perguntando como eu iria contar aquilo para a minha mãe.
✖️✖️✖️
Naquela mesma tarde, quando estávamos sentados no campo de flores e Taylor ainda segurava a risada, ficamos conversando sobre filmes e séries de TV. Eu estava usando o gorro, cujo cobria todo o meu cabelo (obrigado, Senhor), e estava tocando nas flores e assistindo as formigas correndo apressadas.
Eu me perguntei como era ser uma formiga. Seria cansativo ficar correndo toda vez que visse um humano, e eu ficaria bastante assustado ao ver o seu tamanho e ter a consciência de que poderiam me matar a qualquer instante. Deve ser horrível ser uma formiga. No entanto, ela é livre e pequena. Ninguém nunca as vê no chão e tampouco se incomodam muito com isso (a não ser que estejam na comida) e eu gostei da ideia de ser quase invisível.
— No que está pensando? — sussurrou Sky para mim, já que Taylor contava sobre a sua série favorita.
Percebi que Sky era a garota mais bonita a qual eu havia visto. Ela era incrível. E não só por fora, mas eu sabia que o seu interior era tão brilhante quanto a sua doce e jovem imagem.
— Sobre formigas. — contei. — Apenas isso.
Ela sorriu como se tivesse achado estranho e depois inclinou a cabeça para o lado.
— Nunca conheci alguém que pensa sobre formigas. — disse ela, e depois agarrou o meu braço repentinamente. — Está doendo? — olhava para o meu curativo no cotovelo. Eu concordei com a cabeça, pois eu mal conseguia mexer direito o braço.
Para a minha surpresa, Sky beijou o meu curativo e depois sorriu para mim. Eu confesso que senti um baque no meu coração, acho que eu ia ter um enfarto.
— Pronto. Minha mãe dizia que um beijo sempre melhora o dodói. — largou o meu braço e tirou o cabelo do rosto
— Obrigado, Sky. — quase não saía.
Foi então que Alec inventou de entrar e pegar o violão (eu nem sabia dessa existência) para tocarmos uma música legal. Quando voltou, tropeçou no chão e quase caía com o violão na mão. Por sorte, isso não aconteceu e ele sentou-se junto com o grupo.
— Bandido! — gritou Cass enquanto Alec afinava o instrumento. — Bandido! Bandido! Taylor tem comida e está escondendo!
— Opa... Vamos dividir, coleguinha! — Sky arrancou a mochila do dono.
Taylor cruzou os braços e e ficou mastigando o que quer que estivesse comendo.
— Olha... Batatinhas. — exclamou Styles, assim que Sky abriu a sua mochila e tirou os pacotes de dentro de lá.
— Tudo bem, galera. O que vamos cantar? — perguntou Alec, após pigarrear.
— Say My Name / Cry Me A River. — dissera Zach, cujo estava em silêncio desde que saímos da escola. Estava quase invisível.
Então Alec começou a tocar e todos nós cantamos com ele. Quer dizer, eu não cantei porque não acho que canto bem. Pra falar a verdade, eu não achava. As únicas vezes que eu havia cantando era no chuveiro ou na minha casa, com a minha mãe.
Ela sempre dissera que canto bem, mas eu não botava muita fé. Mãe sempre nos acha perfeitos, bonitos e especiais. Eu sempre pensei que era para me agradar, mas ela sempre me viu como motivo de orgulho, até mesmo quando eu, um dia antes, cantava debaixo do chuveiro enquanto ensaboava as axilas com mau odor. Na verdade, ela sempre foi a minha dupla. Desde pequeno.
"Oliver & Mamãe", seria o nosso nome. E faríamos tours pelo mundo — até na Austrália e Taiti e Angola e Portugal — e cantaríamos músicas de Natal e usaríamos tiaras de renas e suéters vermelhos e verdes. Sem contar na coreografia simples de tosca que resumiria-se em enlaçar o braço no do outro e chutar algo invisível em nossa frente.
É uma boa ideia, eu anotaria se tivesse uma caneta na mão.
— Canta, Oliver. — Alec pediu e eu neguei com a cabeça.
Foi um erro, já que todos inventaram de gritar para eu cantar e inclusive bateram palma, como se eu fosse um cantor famoso e a multidão estivesse pedindo bis.
Eu ria e balançava a cabeça negativamente. Eu não ia cantar nem morto, já havia pagado muito mico naquele dia.
— CANTAAAAA!!!!!! — Cass voou em cima de mim e me derrubou no chão.
— Sai de cima dele, Cassidy! — Alec largou o violão e empurrou Cass para cima de mim.
Quando eu me levantei, dei-me conta de que o gorro de Styles não estava mais em minha cabeça.
— Que momento feliz, vou tirar uma foto! — Taylor usou do seu sarcasmo e pegou a sua câmera da mochila. Em seguida se levantou e nos fotografou diversas vezes.
Na maioria das fotos eu estava tentando pegar o gorro da mão de Cass, o que não estava dando muito certo. Sky me puxou para longe dele e tentou ajeitar o meu cabelo rosa.
Eu nunca iria me acostumar com aquela cor.
— Vamos tirar uma foto normal, por favor? — disse Taylor. Então todos nós nos juntamos e fizemos alguma expressão engraçada ou simplesmente sorrimos. — Pronto. Muito obrigado.
Alec pegou o violão e passou a tocar uma música a qual eu nunca havia escutado, mas todos ali sabiam a letra. Quando terminamos, olhamos para o lado e ficamos assistindo o pôr-do-sol. A garota ao meu lado apoiou a cabeça em meu ombro e deixou os cabelos caírem sobre o meu peito.
Eu sorri, pois estava me sentindo feliz em tê-la ao meu lado e ainda poder sentir o seu cheiro gostoso.
Pensei sobre o dia no caminho até em casa, e quando entrei na minha residência, encontrei a minha mãe assistindo a um programa de culinária. Ela estava focada em progredir, e aquilo poderia dar certo.
— Por que está de gorro? Você nunca usa gorro! — foi o cumprimento dela.
— Ahn... É de um amigo meu. Achei que ficaria legal. Gostou? — respondi, ou melhor, inventei.
— Não ficou ruim. É que sou acostumada a ver o seu cabelo. — disse ela, e eu concordei com um gesto.
— Eu vou dormir. Estou cansado. — avisei, já subindo as escadas.
Eu não queria mentir para a minha mãe, mas eu já estava cansado demais e eu não queria ficar ouvindo-a falar sobre o meu cabelo. Ele não ficou ruim, talvez eu pudesse deixá-lo assim por um tempo. Mas a minha mãe descobriria de qualquer jeito e eu não poderia ficar com o gorro de Styles para sempre. Talvez se eu achasse um boné antigo do meu pai eu pudesse cobrir parte do meu cabelo rosa unicórnio.
— Não vai comer? — quis saber.
— Obrigado, não. Eu já comi. — tudo bem, batatinhas não são bem comida de verdade, tipo aquelas que enchem a barriga e nos fazem sentir estufados. Mas era alguma coisa, e eu estive morrendo por um pacote de jujubas o dia inteiro. — Boa noite, mãe.
Ela acenou com a cabeça e eu subi as escadas até o meu quarto. Lá dentro, tirei o gorro e larguei a mochila em qualquer lugar. Desci e tomei um banho rápido e relaxante. Vesti uma calça de pijama e mais nada, pois estava muito calor.
Encontrei as minhas famosas jujubas numa caixa debaixo da cama. Sempre tive o meu estoque de guloseimas, e era ali que ficava. Decidi pegar o meu notebook para jogar jogos online. Mas eu não esperava vir uma notificação do Skype com uma chamada de vídeo da Sky.
Instantaneamente eu aceitei, e sorri quando seu rosto veio à tela.
— Olá, Oliver... Wow! Que sexy você é! — ela notara a minha nudez superior. Encabulado, saltei para fora da cama e vesti a primeira camisa que vi na frente. Conseguia ouvir as risadas de Sky. — Eu queria dizer que você esqueceu o seu celular na Terra do Nunca. Eu estou com ele.
— Ah, ufa! Que bom. Obrigado, Sky. — fiquei visivelmente aliviado.
— Sua senha não foi difícil. — e eu olhei para a sua mão e lá estava o meu celular, e ela deslizava o dedo sobre a tela. — Não se preocupe, não entrei na sua galeria de fotos e tampouco de música ou redes sociais. Quer dizer, menos o Skype, pois eu precisava te contatar.
— Agradeço por isso. De verdade.
Ela sorriu e depois se despediu de mim. Dei um boa noite e ela retribuiu, em seguida desligamos. Minha mão estava cheia de jujubas e eu me perguntei o porquê de não ter aproveitado a oportunidade e ter conversado de verdade com ela, sem os outros garotos estarem na cola.
Ela tinha namorado, eu sei. Mas eu sempre fui esperançoso e talvez essa seja a minha maior virtude. Já havia feito, era apenas questão de tempo e de atitudes positivas para eu poder conhecê-la melhor e vice-versa.
Fiquei um pouco pensativo por conta disso, pois eu não sabia nem o que eu estava fazendo da minha vida e aquilo era realmente uma boa péssima ideia. Nem eu era capaz de entender os meus planos malucos, mas aquela fora a primeira loucura (segunda, pois a primeira foi nascer) que eu havia feito na minha vida. E aquilo com certeza seria memorável.
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