Estranho
Minha mãe havia se produzido toda para o tal do Simon. Escovou o cabelo, vestiu um vestido preto bonito e estava usando salto. Sem contar que havia se maquiado também, e estava bastante caprichada.
Estava inclinada em frente ao espelho retocando o brilho meio avermelhado em seus lábios. Virou-se para mim e perguntou:
— Como estou, Olie?
— Está... Uau! Você está linda, mãe! — disse eu.
— Obrigada. Ah, não vai se arrumar?
Olhei para a minha roupa.
— Bem... Eu já estou arrumado. — contei.
— Pelos céus, Oliver! Suba e arrume-se decentemente, pelo amor de Deus! — me empurrou para a escada. Dei língua para ela e subi as escadas.
Quando entrei no meu quarto, despi-me e separei outra roupa para vestir. Aliás, o que a minha mãe tinha contra o meu pijama de panda? Eu não via problema algum.
Peguei uma camisa preta tipo social e a vesti, dobrando a manga até acima do cotovelo. Vesti uma calça jeans preta e joguei a barra da camisa por cima, depois calcei o meu Converse preto e... Prontíssimo!
Desci de novo as escadas e encontrei a minha mãe preocupada, andando de um lado para o outro e roendo a unha pintada.
— Mãe, calma! — pedi, me aproximando dela. Então escutamos um som de motor do lado de fora e eu fui até a janela.
Afastei a cortina e vi um Ford branco do lado de fora e um homem alto, com o cabelo loiro claro, óculos no rosto e uma roupa bem... Como posso dizer? Ele vestia uma camisa social (como a minha, dobrada acima do cotovelo) azul clara, tinha um colete azul marinho por cima, usava uma calça jeans azul e um sapato da mesma cor do colete. O homem consertou o óculos e eu fechei a cortina rapidamente.
— Acho que ele chegou. — anunciei.
— Oh, meu Deus... Eu estou bem mesmo, Oliver? — ela jogou parte do cabelo para frente dos ombros.
— Você está linda, mãe. E além do mais, mesmo se não estivesse, o que poderia ajeitar em si em apenas alguns segundos?
E a campainha tocou.
Minha mãe apressou os passos e abriu a porta.
— Oi, Simon. Bom vê-lo. — ela o abraçou e eles trocaram beijos no rosto.
— Digo o mesmo. E... Uau, você está linda, Mary! Não precisava isso tudo para mim! — ele disse.
— Eu sou assim, querido. A fabulosidade já nasceu em mim. — deu um espaço para ele entrar e assim ele fez. — Obrigada mesmo assim.
— Adoro a sua sinceridade... Oh, esse é o famoso Oliver? — virou-se para mim.
Eu sorri.
Famoso? Nossa, diga adeus ao Oscar, DiCaprio!
— Sim, é. — mamãe concordou, fechando a porta atrás de si.
— Prazer. — estendi a minha mão para um cumprimento.
— Idem. — ele a apertou, com um sorriso no rosto.
— Espero que goste de comida chinesa, Simon. Eu tentei preparar algo, mas não deu muito certo... — "...como sempre" ela devia completar.
— Oh, eu adoro comida chinesa! — ele disse, sendo guiado por minha mãe até a cozinha.
— Sério? Que bom!
E eu iria ser submetido à comer comida chinesa. Minha mãe sabe que eu detesto comida chinesa e mesmo assim fez um banquete oriental para Simon. Eu tive que revirar os olhos e seguir os dois.
Na verdade, eu não sei nem o que aquele tal de Simon estava fazendo ali. Só me lembro de estar sentindo-me deslocado. Não é todo o dia que se vê a sua mãe num encontro com um outro cara.
Caramba. Isso é mesmo um encontro?
Que raios eu estava fazendo? Eu deveria estar no meu quarto, assistindo alguma série ou ouvindo música alta nos fones de ouvido, como qualquer adolescente de dezesseis anos. Mas esse é o problema: eu não sou e nunca fui normal. E talvez, por esse motivo eu sentei na mesa e tive uma mini náusea ao ver toda aquela comida.
— Parece estar ótimo! — comentou Simon, e eu abri um sorriso visivelmente amarelo.
— Mal posso esperar para comer isso tudo! — disse eu, com uma falsa animação.
Eu não ia comer aquela droga nem morto.
Minha mãe trocou algumas palavras com ele, então "começamos" (entre aspas porque eu nem havia tocado naquele bagulho) a comer.
— Então, Oliver, em que série você está? — quis saber Simon, num dado momento de distração minha.
— Segundo ano... — respondi, arrumando a comida no prato, como se fosse comer.
Uma coisa a qual aprendi com a primeira geração de Skins foi como enrolar na hora de comer, com uma boa misturada no prato e um ótimo papo. Eu não queria deixar Simon desconfortável sobre eu não comer o tipo de comida que ele come.
E a minha mãe estava se acabando de comer, eu notei. Não que ela devesse fingir ou algo do tipo, eu só não achava que ela gostava tanto de comidas orientais. Na maioria das vezes, caíamos de boca em uma boa pizza, um cachorro-quente — na verdade, a minha relação com os cachorro-quentes é um tanto peculiar, já que sempre que como eu me sujo todo, parecendo uma criancinha —, hambúrguer e um banquete de comida mexicana ou italiana.
Me lembrei de meu pai, que achava aquele tipo de comida uma "tolice". "Bom mesmo é encher o bucho, Olie. Uma boa comida, pesada e que pode lhe dar azia. Mas que seja comida a qual você se sinta livre em comer e que você pode repetir o quanto quiser. E não acho conveniente comer peixe cru", dizia ele.
E eu me lembro de quando eu sentava no seu colo e perguntava o que fazia, e ele sempre me respondia: "Tentando entender o Universo". Ele era incrível. Tinha um enorme fascínio pelos astros e amava Andrômeda.
"Se você fosse menina, Olie, você se chamaria Andrômeda", disse ele uma vez. E eu ri.
"Por que uma garota se chamaria Andrômeda?", eu havia pensado, mas continuei rindo.
Quando ele me apresentou as constelações, fora incrível, eu havia me apaixonado. Me dizia os nomes, onde se localizavam, a sua história, a estrela alfa, a beta e gama. Era tudo fenomenal.
— E o que está achando da Califórnia? — Simon interrompera os meus flashbacks.
— Mágica. — respondi. — Podem me dar licença? Preciso ir ao banheiro...
Ambos assentiram e eu me dirigi ao cômodo. Tirei o meu celular do bolso e fitei a tela de bloqueio por um tempo, pensando sobre tudo.
Sentado na tampa do sanitário, lá foi o "Pensativo Oliver" (assim ele me apelidara) pensar outra vez. E talvez eu tenha ficado triste, porque quando eu lembrava dele e me batia uma enorme saudade, eu caía no abismo tristeza, e eu queria que a noite fosse divertida para a minha mãe. Ela merecia aquilo.
Ergui-me e abri a porta, saí do banheiro e voltei à cozinha. Minha mãe estava num papo bem animado com Simon, estava rindo (muito alto, por sinal) com ele. Simon não era uma má pessoa, eu é quem tinha problemas.
— O que você acha, Oliver? — minha mãe me perguntou, como se eu estivesse prestando atenção na conversa.
— Perdão, eu... — pigarreei.
— O que há, Oliver? Está tudo nem? — perguntou Simon.
— Sim. Eu... Eu estava fazendo uma teoria muito louca sobre uma série que assisto. Desculpa, do que falavam? — menti.
Simon riu e abocanhou uma porção da sua comida. Eu revirei um pouco a minha, fingi que iria comer mas não fiz.
— Sobre irmos ao cinema um dia desses... — explicou mamãe.
Para eu servir de vela? Não, obrigado.
— Sim, claro. — respondi com um sorriso.
Depois de alguns longos minutos e de conversas sem fim com a minha mãe, Simon disse que precisava ir porque estava ficando tarde. Concordamos e fomos levá-lo do lado de fora.
— Obrigado, Mary. E à você também, Oliver. — disse Simon. — Foi uma noite prazerosa e divertida, nunca me esquecerei. Se quiserem um bis, pode ser na minha casa.
— Que ótima ideia, adorei! — exclamou a minha mãe. Então ela abraçou Simon e foi bem mais forte do que quando ele chegara.
— Podemos marcar um dia desses...
— Com certeza. — mamãe sorria.
— Tchau, Simon. — me despedi dele.
— Tchau, Oliver. Foi um prazer te conhecer. Te vejo segunda, Mary. — ele beijou-lhe a face e entrou no carro. Acenou para nós antes de acelerar e sumir na rua.
Minha mãe me abraçou de lado e suspirou.
— Então é esse o seu namorado?! — aquela voz, aquele tom... Henry Dust é um bom bisbilhoteiro.
— Filho de uma... — resmungou a minha mãe, virando-se para trás de abrindo um sorriso amarelo. — Não te interessa, Dust.
Ele estava na janela, com os braços cruzados e um pijama de bolinhas. Ele havia cortado o cabelo, tive que notar.
Henry riu e relaxou o corpo.
— Você é uma figura, Mary. — afirmou. — Estou falando sério.
— E eu também. Só porque me beijou duas vezes, abre parênteses, contra a minha vontade, fecha parênteses, não significa que eu não devo ter relacionamentos. Seu tarado! — agora ela estava indo até ele.
— Ah, era o que faltava... — resmunguei para mim mesmo e cruzei os braços, assistindo a confusão.
Whisky, que deu de ficar só na parte externa da casa, apareceu ao meu lado e ficou a assistir comigo.
— Era pra você ter trazido a pipoca, Whisky. Como pôde esquecer? — brinquei.
— Pois eu vou te denunciar! Vou, sim. Olha só! Eu fui assediada por um psicopata, que incrível! — gritava a minha mãe. — Seu... Ciumento!
— Ciumento? Por que eu teria ciúmes de alguém feito você, sua maluca? Eu te quero bem longe de mim, isso sim! — rebatia Henry.
— Tanto que me beijou sem a minha autorização!
— Nem vem, pois você retribuiu os beijos!
— Seu tarado! — minha mãe bateu no braço dele. — Além disso e de ser um psicopata, ainda é um mentiroso? Você que me beijou e eu que recuei.
— Conta mais, Mary... Deixa Oliver saber de todos os detalhes! Deixa ele saber sobre o quanto você beija b... — ele deixou as palavras no ar.
— Complete, imbecil. Vamos! — minha mãe sacudiu-o levemente.
— Não me toque, sua doida! Não me toque! Se me bater mais uma vez... — Henry afastou-se um pouco da janela.
— Desculpa, esqueci que tem uma lei que proíbe agredir animais... — minha mãe fingiu se sentir culpada.
— Uh, essa foi forte... — sussurrei para Whisky.
— Há-há-há. — Henry Dust fingiu uma risada. — Você é muito engraçada, querida. Já te falaram isso?
— Vê se me erra! — pediu a minha mãe, já no auge da impaciência.
Dessa vez Henry ficou calado, quieto e apenas a observava. Se aproximou mais da janela e segurou o braço de minha mãe, em seguida, ele a puxou na sua direção para um abraço. Minha mãe tentou se afastar, mas Henry a apertava contra o seu peito e ela desistiu de lutar, retribuindo timidamente ao abraço. A única coisa que atrapalhava aquela conexão era a parede da janela, apenas isso. E Henry tinha o rosto mergulhado nos cabelos negros de Mary e na curva do seu pescoço.
Claro, fiquei um pouco incomodado com aquele tipo de contato dos dois. Porque... Ela é minha mãe! Eu pensei que nunca me acostumaria a vê-la com um outro homem senão o meu pai. Ah, meu pai...
— Você está linda, Mary. — comentou Henry, acariciando as suas madeixas escuras. — Você é linda.
— Obrigada, eu sei disso. — ela respondeu. — Tudo bem, eu sei que está um pouco solitário e carente também, mas não precisa me abraçar. — se desvinculou dos braços de Henry e suspirou. — Tenha uma boa noite, Henry. Espero que não me irrite amanhã. E saiba que a minha vida amorosa não tem nada a ver com você.
— E se tiver? — inclinou-se na janela.
— Oh... — foi o que saiu dos meus lábios.
E mil anos de silêncio se fez, até a minha mãe suspirar outra vez e dizer:
— Boa noite, Dust. — ela caminhou pelo jardim e me puxou para dentro de casa. Whisky nos seguiu e mamãe fechou a porta.
— O que há com ele? — perguntei, jogando-me no sofá.
— Ele foi contaminado pela minha fabulosidade, só pode ser isso. — respondeu a minha mãe, mas eu sabia que tinha algo mais.
Tinha algo acontecendo com aqueles dois e eu iria descobrir de um jeito ou de outro.
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