Doces
Os garotos logo desistiram da brincadeira, pois acharam que eu já havia ganhado com o meu discurso. Depois que parei para pensar sobre o que eu havia dito, percebi que nada daquilo fora fictício. E se Sky tivesse percebido, eu estava totalmente ferrado.
— Que raios está havendo aqui? — eu conhecia aquela voz, e tive que virar-me para a cerca de arbustos que havia ali perto. — Oliver! Isso... É uma festa?
Não era a primeira vez que eu via Henry Dust sem camisa e segurando a caneca de platelminto com a mão esquerda. Pensei ter um tipo de dejá vu, mas eu nem pude concluir o meu raciocínio devido à expressão dos meus amigos.
Digamos que... Estavam bem animados.
— Henry, eu... — nem tinha pensado direito numa boa desculpa, mas eu fui logo interrompido pela Sky:
— Dust?! Henry Dust?! — ela se levantou e foi até ele.
Depois que ele sorriu e concordou com a cabeça, ativei o meu modo mudo e não escutei mais nada da conversa. Era óbvio que ali estava acontecendo um encontro de leitor e escritor, mas eu já estava meio cansado daquilo logo nos primeiros minutos. Não sabia como ele estava com a minha mãe, pois não passara muito tempo em casa e ela estava namorando o Simon.
Aliás, eu estava até tentando evitar ficar em casa pois não queria vê-la com ele. Simon e Mary faziam o típico casal perfeito; talvez. Embora eu gostasse mais dela e Henry. Os dois podiam ter cessado um pouco, e minha mãe havia dito que haviam conversado, mas eu tinha certeza que ainda iam brigar bastante.
— Pois bem! — eu me levantei e fui até os dois — Henry Dust, essa é Sky Blank. Sky, esse é Henry Dust.
— Já nos apresentamos, Oliver. Eu já a conheço — Dust falou, me olhando com as sobrancelhas formando uma expressão de confuso.
— Mas, Henry... Ela... Ela é Sky... — fiz um gesto furtivo apontando para Sky.
— Ah... — só então Henry foi sacar a referência — Bem, foi um prazer te conhecer, Sky. E aos seus amigos também. — ele acenou para os garotos que estavam na piscina. — Ouvi dizer que sua mãe irá jantar com Simon esta noite, Oliver.
Ah, claro! Ele estava observando a minha minha mãe! Que incrível! Ele bem que deveria estar escrevendo mais um de seus best-sellers para maiores de idade ou uma série de fantasia. Vai que ele se torna o escritor de umas das melhores sagas do tempo? Poderia ter um livro dele ao lado de Harry Potter e Game Of Thrones e Senhor dos Anéis.
Eu sempre me perguntei que raios o Dust fazia durante o dia. Ficar observando o que minha mãe fazia ou deixava de fazer era uma das suas atividades, com certeza. Eu rezava para que fosse a sua favorita.
Eu bufei.
— Temos que sair daqui. Quero doce. — resmunguei.
— Você quer doce sempre! — Styles revirou os olhos, eu ri e passei a mão pelo cabelo molhado.
— Doce é a minha droga; eu não sou um unicórnio drogado por nada! — argumentei, colocando as mãos na cintura. — Tem uma loja de doces aqui perto, vamos?
— Mas, Oliver... — Sky fez uma expressão de cachorrinho sem dono e foi quase impossível ir contra. Eu estava quase cedendo, mas Henry a incentivou.
— Vão, podem ir. Talvez um dia desses vocês vêm outra vez e nós possamos conversar mais — ele disse, e eu sorri.
✖️✖️✖️
Para ser sincero, nem doce eu queria naquele momento. Mas eu confesso que estava um tanto incomodado com a relação Henry-Sky ali na minha frente. Não que eu estivesse com ciúmes, mas a Sky animada por uma outra pessoa a não ser eu era muito raro, pois quase ninguém a fazia ficar assim. Então quando a vi com ele, fazendo perguntas atrás de outras, eu quis que aquilo terminasse e que ela lembrasse da minha existência. Henry Dust não era o centro do mundo.
— Eu sou o Universo... — Cass inventava uma música, enquanto estava sobre as costas de Styles — ... Eu sou o tudo, o tudo sou eu...
— Que música patética! — Taylor exclamou.
— Ela não foi feita sobre você, não — Cass revirou os olhos e abraçou Styles mais forte — Seu cabelo está cheiroso, S.
— Hm... Obrigado — Styles agradeceu e sorriu.
— Vou vomitar! — disse Taylor, ainda provocando Cassidy.
— Onde é a loja, Olie? — Sky estava animada demais, às vezes saltitava ao meu lado e balançava os meus braços feito uma criança.
— Hm... Deixe-me ver... — olhei ao redor — Ah, ali! — apontei para a loja rosa com o nome "BubbleShop."
Nos aproximamos da loja, mas percebemos que ela estava fechada. Já estava ficando tarde, pois o sol já estava de partida. Eu fiz um drama na frente da loja, com um falso choro e gritos implorando por doces. Alec me segurou pelos ombros e os apertou, então eu senti uma vontade de contar que aquele drama estava muito próximo da realidade, mas se eu tivesse dito isso eu não iria escutar o que ele me falou.
— Se doces são a sua droga, eu posso muito bem substituí-los, não é? — com certeza o álcool que ele ingeriu estava envolvido naquela sua revelação.
Talvez eu também estivesse meio exaltado, embora não percebesse. Taylor estava olhando a loja de vários ângulos, e eu não entendi o porquê. Engoli em seco e me desvinculei das mãos dele. Não queria dar o fora em Ben, mas eu com certeza teria de ser sincero e não iludi-lo mais.
— Você não é a minha jujuba favorita — eu disse, e fiquei algum tempo interpretando o que raios aquilo poderia significar.
— Quem é o "chicletão"? — Ben cruzou os braços, e eu tive de admitir que ele ficava bonito daquele jeito.
— Eu ainda não o tenho. Mas já sou viciado nele, e não seria justo ficar viciado em você também. Seria um erro, além de quase impossível. — disse eu, e Alec sorriu como se já esperasse aquilo — O que foi?
— Eu... Só percebi que estava certo sobre algo. Embora a minha vontade seja de chorar — ele se virou para Taylor e o abraçou de lado.
Taylor fez uma cara de incomodado e o empurrou para longe. Ao invés de fazer um comentário maldoso, continuou observando a loja e foi aí que eu fiquei mais curioso.
— Vamos aos fundos. Quero fazer uma coisa — ele sorriu e nós o acompanhamos.
Havia uma porta para funcionários, mas estava num beco entre outra loja. Taylor foi naquela direção e tirou algo do bolso: um clipe.
— Ei! Não vamos invadir um estabelecimento! Cai fora, Taylor! — Sky gritou.
— Eu sempre quis fazer isso — nos contou — Meu sonho da infância, não posso realizar?
— Claro que não! — Sky falou, enquanto eu olhava ao redor para ver se tinha alguma câmera por ali.
Eu achava estranho sermos monitorados. Não que eles quisessem saber o que fazemos ou deixamos de fazer, mas eles vêem se fazemos algo de errado e nos caçam e nos castigam por isso. Foi um bom resumo, sei. Mas sempre achei que atrás do Governo sempre tem algo a mais, algo que nos controla e não podemos evitar. Ou nos monitora.
Mas isso é só uma coisa da minha cabeça.
— Relaxa, Sky — Taylor tentou manter a paz, mas ele nunca foi de pedir harmonia e aquilo já era um mal sinal — Está tudo sob controle — e então ele usou o clipe para tentar abrir a porta.
— Vamos nos ferrar em três, dois, um... — Zach fez uma contagem regressiva, encostado na loja e de braços cruzados.
— Isso pode ser uma boa ideia — Styles nos disse, e todos viramos na sua direção — Não me olhem assim! Taylor está certo. Podemos nos divertir um pouco e nada vai acontecer, então saímos de fininho e fingimos que nada disso aconteceu. Vou ligar para o meu tio e pedir para ele trazer o carro antigo do meu pai, para caso algo aconteça.
— Você quer nos acalmar enquanto fala da possibilidade de sermos pegos? — Zach praticamente gritou, e eu arqueei as sobrancelhas.
— Entramos, brincamos, saímos. — disse eu, e todos se viraram para mim — Impedir Taylor é impossível, Styles pode nos ajudar. Vamos apenas nos divertir um pouco. Nada vai acontecer se não permitirmos.
— Vamos voltar para a piscina de Oliver! — choramingou Cassidy, e eu apenas dei de ombros.
Para mim, tanto faz se entrássemos ali ou não. Mas confesso que eu estava doido para fazer algo ilegal. A adrenalina corria nas minhas veias, eu queria algo perigoso e que me fizesse arriscar. Se fôssemos pegos, tudo bem. Pelo o que eu tinha visto nos filmes, era tudo muito fácil e divertido. Pelo menos eu teria boas recordações do meu Ensino Médio.
— Abri! — anunciou Taylor, empurrando o portão — Aquilo ali é uma máquina de sorvete?
Eu puxei Zach e entramos na loja, todos em silêncio e tentando ser discretos. Taylor fechou o portão, e encontrou o interruptor de luz. Em questões de segundos, todas as luzes foram acesas e o paraíso estava espelhado em meus olhos. Meu cabelo ainda estava meio molhado, então eu o joguei para trás e andei pelo estabelecimento. Jujubas, chicletes, balas, marshmallow, chocolate e gomas. Aquilo ali era o paraíso para as crianças, e inclusive o meu.
— É hoje que morro de overdose! — comentei, pegando um pacote de jujuba e o abrindo.
— Vamos pagar, não é? — Zach nos perguntou e Taylor revirou os olhos.
— Cala a boca, Zach! — então Taylor andou até a máquina de sorvete e a acariciou.
Eu gostaria de ter pensado que iríamos só pegar uma coisa ou outra, mas acabamos por não sermos modestos e nem educados. Taylor já estava devorando o sorvete, e estava cada vez mais reabastecendo o pote.
— Vamos fazer uma competição! — Alec estava lambuzado de açúcar. — Quantos marshmallows Oliver consegue pôr na boca?
— Acho que ele prefere outra coisa... — Styles soltou a bomba e saiu daquele corredor. Eu o mandei para a casa do chapéu e me sentei no chão com um saco cheio de marshmallow.
— Aqui. Bebe um pouco disso — Taylor apareceu ao meu lado com a boca suja de sorvete e uma garrafa de bebida alcoólica na mão.
— Você... Trouxe? — perguntei o óbvio, arrancando a bebida de sua mão e abrindo.
— Obviamente, seu imbecil! Sempre ando preparado! — tirou da minha mão quando bebi.
— Que grosso! — comentei.
— Dane-se! — ele foi para o outro lado da loja.
— Sim, você vai aceitar a competição? — Alec insistiu.
— Contra...? — cruzei as pernas e abri o saco.
— Contra Zach! — ele puxou o japonês e o sentou na minha frente. — Vamos ver quanto esse japa aqui aguenta! — bateu nos ombros dele e massajou, sussurrando coisas em seu ouvido como se fosse um lutador de MMA se preparando para a luta.
— Se envolve comida no meio, obviamente que vou ganhar! — falei, girando os ombros como se estivesse me preparando para uma luta. — Espera, qual vai ser o prêmio? — perguntei, e Alec parou para pensar.
— Zach, se você ganhar, vai roubar a Sky do Oliver e poderá virar o rei! — Alec disse, mas eu achei aquilo muito injusto e fiz uma careta.
— Nah! Isso daí está muito errado. E se eu ganhar? O que ganho? — cruzei os braços e fiz cara de indignado.
— Diabetes! Além, claro, de continuar sendo o rei da Skyzinha — ele olhou para ela, que estava vendo alguns biscoitos recheados.
Quando escutou seu nome, ela virou-se para a nossa direção e Alec piscou para ela, arrancando um sorriso dos seus lábios antes tão sérios. Eu acenei, tentando ser fofo, e gesticulei um "My queen" com os lábios, e ela conseguiu fazer a leitura labial porque me respondeu com um "My king."
Eu estava tão feliz!
— Aquele jogo na piscina foi um erro, Kennedy. Você vai ver que sou eu quem mereço a Sky Blank! — Zach me lançou o seu melhor olhar desafiador.
Ben abriu o saco e separou duas pilhas com trinta marshmallows cada. Segundo ele, quando disséssemos que não dá mais, ele ia contar quantos sobraram e quem tivesse o número menor ganharia. Enfim, ele fez a contagem regressiva e eu agarrei o primeiro marshmallow. Caso eu não conseguisse colocar muitos, eu ia mastigar alguns e conseguiria algum espaço. Há quem diga que isso é trapacear, mas eu chamo de sobrevivência. Eu estava tão bem com Sky... Quer dizer, eu achava isso. Mesmo depois de ela ter ficado estranha comigo nas últimas horas. Mas eu relevei aquilo, porque eu queria ir abraçá-la naquele instante. Mas não dava, eu já havia colocado marshmallows demais na minha boca e nem conseguiria dizer que a amo.
Styles recebeu uma ligação. Era o tio dele dizendo que já estava com o carro ali perto, o que me fez perguntar-me se eles eram parentes do Flash, pois eu nem tinha percebido que Styles ligou para o tio para avisar sobre o carro e também porque eu estava com a sensação de que não tinha dado nem uma hora desde que havíamos chegado na loja.
— Vai, Zach! — gritava Alec — Olha, Oliver, não me leve a mal... Na verdade, me leve para o seu quarto... O quê? Vocês não ouviram nada! Continuando... Não me leve para o seu quarto, mas... Espera, fiquei confuso! — ele estava me fazendo rir, mas eu não podia senão iria colocar tudo para fora — Tudo bem, agora vai: Não me leve a mal, Oliver, mas o Zach precisa ganhar essa!
Eu tentei pedir para ele calar a droga da boca, mas eu não consegui. E mesmo se eu conseguisse, ele estava tão alterado que provavelmente pediria para eu calar com a minha e ficaria um silêncio mortal na loja. Era melhor eu com a boca cheia mesmo, falando algo parecido com o árabe.
— Oliver, faz uma pausa, por favor. Zach tem que ganhar! — Alec pediu para mim, e foi aí que eu peguei três de vez e coloquei para dentro.
Como esperado, já tinha chegado ao meu limite. Aproveitei que Ben estava distraído incentivando Zach e mastiguei alguns, liberando espaço para outros. E assim eu realmente cheguei no limite, pois não tinha nem mais como eu mastigar e nem colocar nada na boca.
Eu tentei dizer que não aguentava mais, mas Alec riu de mim e se jogou no chão gargalhando. Então eu bati nele repetidas vezes para chamar a sua atenção.
— Enquanto você me bate, Oliver, eu te beijo. Você está muito fofo com essas bochechas grandes! — ele beijou ambas as minhas bochechas. Eu quis matar ele, mas acho que fiquei vermelho. — Olha só! Sky! Olha só como seu rei ficou ruborizado depois que beijei ele!
Sky olhou para mim e abriu um sorriso triste. Eu sei disso porque eu já a conhecia demais para reconhecer algumas das suas características. Não entendi sobre isso, mas eu queria que ela ficasse feliz. E mesmo sendo um falso gay, eu queria fazê-la sorrir de felicidade. Eu queria presenteá-la com momentos inesquecíveis, do mesmo jeito que ela estava me presenteando com um ano inesquecível.
Eu tentei falar que desisti, mas eu estava muito idiota e não percebi que aquilo não daria certo. Então levantei a mão para sinalizar, e Alec entendeu. Pouco tempo depois, Zach também desistiu e Alec contou quanto deixamos.
Contou treze de Zach e nove na minha frente. Zach colocou tudo para fora e disse que eu trapaceei. Aquela era uma suposição, mas uma bem real. Ninguém podia saber, mas eu trapaceei para não perder o amor da minha vida.
Enquanto tirava os marshmallows da boca e mastigava os poucos que ficaram, fiquei me imaginando anos depois, casado com ela e morando com os nossos filhos gêmeos, Ollynho e Skyzito. Seria incrível acordar ao lado dela e vê-la brilhar com o sol e tocar na sua pele macia e dizer o quanto a amo.
— MEU DEUS DO CÉU!!! — escutamos um grito vindo de Cassidy e nos levantamos correndo. Quando seguimos o som, ele estava na frente de uma fonte de chocolate e eu senti que iria desmaiar.
— Deve ter alguma fruta aqui! Com certeza! — gritei correndo para a parte onde tem as bebidas adocicadas (aquilo não é suco em lugar algum, tem apenas o gosto parecido) no freezer. Foi uma sorte ter encontrado pratos de morango ali dentro, por isso aproveitei e agarrei quantos consegui e voltei até a fonte — Esse é o melhor dia da minha vida!
— Oliver, você é tão lerdo! — Taylor arrancou os morangos das minhas mãos e abriu o plástico e distribuiu os morangos para cada um.
— Também me amo, T. — sorri para ele, que me olhou como se eu fosse um retardado. Mergulhei o morango no chocolate e mordi um pedaço, sentindo uma explosão de sabor e me sentir como um universo.
Era como se eu estivesse voando, sentindo tudo e ao mesmo tempo nada. Não por conta do chocolate, mas por estar ali com pessoas que eu amava. Vi Cass passar chocolate na bochecha de Styles, o qual roubou um beijo dele; Sky rir enquanto Alec estava fazendo aviãozinho de morango com chocolate; Taylor estava inclinado na fonte tentando conseguir o chocolate com a própria boca e Zach estava enfiando três morangos na boca (acho que ele se esqueceu que a competição acabou). Meus lábios estava melados de chocolate, mas eu sorria e mastigava.
Queria ficar com aquele momento para sempre, mas sempre temos que acordar pela manhã. E é frustrante quando você olha para a janela e vê o tempo fechado, melancólico, depois de sair do reino dos sonhos. E podemos dizer que aquele alarme alto era a chuva que destruiu o meu parquinho encantado com jujubas de ursinhos e chocolate derretido no morango.
✖️Notas ✖️
Gente, me perdoem pela demora. De verdade. Esses últimos meses foram corridos para mim porque é a última unidade e tudo mais. Atrasei tudo porque estava sem tempo, e eu sinto muito por isso. Esse capítulo ia ser maior (tipo, muito mesmo), mas eu decidi dividí-lo no meio por conta da demora que estou levando para atualizar. Por conta disso, decidi adiantar logo e espero que entendam. E é isso, obg pelos votos e comentários ❤️❤️❤️
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