Astros

A diferença foi mínima, eu continuava lanchando sozinho. Cada um tinha o seu grupinho, os seus amigos ou lugares para ir no intervalo. Sky provavelmente estaria com Jesse, e eu fiquei me perguntando se ela realmente gostava dele.

Eu havia passado o domingo inteiro escutando musicas tristes e lendo o livro de Henry Dust.

Aliás, tenho que ter uma boa conversa sobre o rumo dessa história...

Eu sempre quis dividir um pacote de biscoito com alguém, e eu pensei que o clube poderia ser esse "alguém" o qual eu dividiria o meu precioso. Não queria admitir, mas eu estava muito triste e pessimista, então eu pensei que não adiantou muito a minha ridícula encenação para conseguir amigos.

Eu pensei comigo sozinho, sobre a minha vida e sobre o meu pai. Ele sempre quis que eu me tornasse uma boa pessoa, e eu não tinha certeza que eu estava sendo uma. Eu estava confuso, e passando por uma mini crise naquele momento. Não queria falar com a minha mãe sobre isso, ela ficaria tentando me ajudar e eu acho que isso é o que mais me irrita. Talvez ela tivesse um pouco de pena de mim, pois tudo ocorreu de repente e meu pai prometera voltar para casa mais cedo, para o meu aniversário de dez anos.

Essas lembranças são tudo o que tenho, e às vezes eu gosto de fuçar as coisas de meu pai só para "vê-lo" outra vez.

Eu tive que fazer sessões no psicólogo — cujo tinha um nome estranho (Bundowisky? WTF?), e eu não conseguia ouvir ou ler o nome dele sem rir —, porque eu me sentia culpado pela morte dele. Minha mãe prestava apoio emocional, mas o meu pai era o meu Cavaleiro Zodíaco favorito e ninguém nunca será como ele.

E por mais que eu quisesse que a minha mãe seguisse em frente, era doloroso admitir que não seria a mesma coisa e que eu não ficaria tão feliz assim.

Confuso. Eu estava confuso.

Eu precisava falar com alguém, talvez com o clube. Eles me ouviriam, talvez também. Tudo era questão de senso, e eu precisava deles.

✖️✖️✖️

Eu entrei na Terra Do Nunca com um certo receio. Eles não estavam lá dentro, ninguém estava. Então eu me perguntei se eles saíram ou algo do tipo, mas ficaria ali do mesmo jeito. Eu não havia gastado o meu dinheiro com o ônibus para nada. Sinceramente.

Caminhei pelos cômodos e não os encontrei. No último quarto, desejei olhar pela janela, que mostrava o que havia detrás da casa. De fato, o que Sky falara era verdade. Tinha uma vasta área estilo campo ali, com flores amarelas e uma vegetação um pouco afastada. Aquilo nem parecia a Califórnia, e também estávamos um pouco afastados das famosas praias.

Eu via Zach, Alec e Cass, estavam sentados no chão e conversavam. Zach estava de óculos naquele dia, então concluí que ele havia esquecido-o no dia do meu ritual de bem-vindo.

Saí da casa e fui correndo até eles, eu nunca havia corrido num campo antes e era legal. Eu me senti como aqueles garotos dos filmes, que são do campo e vivem a correr com a sua garota pelas plantações de trigo e flores de diferentes cores.

— Oliver! — exclamou Zach.

— Oi. — cumprimentei todos e sentei-me.

— Agora consigo te ver melhor! — disse Alec, aproximando-se de mim. — Como você é bonito, Oliver... Não estou dando encima de você e nem nada do tipo, mas você realmente é bonito.

Confesso que estranhei aquilo, mas apenas sorri e balancei a cabeça.

— Obrigado. Você também é, Ben. — respondi com naturalidade. Eu também tinha que admitir, Alec é bem bonito. Ele sorriu.

— Eu queria ir à praia hoje... — comentara Cass.

— Que fogo seu pela a praia! — Zach reclamou.

— Onde está a Sky? — eu quis saber.

Zach estalou os dedos e se espreguiçou, com um bocejo alto. Em seguida, me respondeu:

— Com o avô dela. Ahn... Cass quer ir à praia, quer ir conosco?

— Tudo bem. Mas eu não tenho roupa de banho aqui.

— Não vamos entrar no mar. — disse-me Ben, limpando o as lentes óculos na camisa.

— Tudo bem. Vamos. — me levantei, e eles assim também fizeram.

✖️✖️✖️

— Eu amo as estrelas. — contei. — Elas são... Fascinantes.

— Você é um poeta, Oliver. — disse Alec. — Diz coisas tão legais...

Estávamos sentados na praia, numa pedra que não tinha muito contato com o mar. Olhávamos o horizonte e o céu, as estrelas e toda a sua beleza.

— Minha mãe dizia que cada estrela no céu são as pessoas queridas que se foram. — contou-nos Cass, puxando as pernas e abraçando os joelhos.

— A minha também. — Zach concordou. — A de todas nós, eu acho.

— Então o meu pai é uma estrela. E espero que seja uma alfa... — pensei em voz alta, e os garotos olharam para mim.

Ficamos em silêncio por um tempo, e eles me fitavam. Então senti os braços de Alec ao redor do meu corpo e logo em seguida Cass e Zach. Eles me prestaram apoio silenciosamente, e isso eu nunca irei esquecer. Sobre como me abraçaram de um jeito carinhoso e me ajudaram quando nem ao menos me conheciam direito. Senti-me amado, senti que eram os melhores amigos do mundo. Que podíamos ser um bom time, um bom clube. E aquilo foi fenomenal.

— Obrigado, pessoal. Muito obrigado. — agradeci, assim que se afastaram de mim.

— Você quer falar sobre isso ou...

— Prefiro... — interrompi Zach. — Prefiro tomar um sorvete.

— Boa ideia. — disse Cass, levantando-se e me ajudando a levantar. — Vamos nos drogar com sorvete e ficarmos loucões!! — pulou animado.

— Cassidy. Menos, por favor. — Zach segurou-o e começamos a andar.

— Não me toque, ou eu mando Styles te dar um corretivo! — Cass o empurrou, mas acabou sendo forte demais e Zach caiu. — Ops!

— Filho de uma mãe! — ele foi correndo atrás de Cass, e pareceram dois malucos correndo na areia.

— Então... — Ben caminhava ao meu lado. Na verdade, eu preferia chamá-lo de Alec. — Qual o seu sabor de sorvete favorito?

— Tenho tantos... — foi a minha resposta.

Alec sorriu para mim e fomos até uma sorveteria próxima. Claro, Cass e Zach chegaram primeiro e eu até pensei na possibilidade de fingir que não os conhecia, mas Cass veio todo animado:

— Quantas bolas você quer?

Zach riu, acho que ele pensou em uma coisa maliciosa ou algo do tipo.

— Duas está bom. — respondi e vi Zach rir mais.

— Quer duas bolas de...? — Cass perguntou-me.

— Cameron Dallas la la la la.... Hm... La la la la... La la la la la la... Tuts, tuts la la la... — cantarolou Zach, me deixando visivelmente vermelho. Alec o fitou com repreensão. — Eu 'tô cantando, ué! Nunca escutaram essa música? — era óbvio que ele estava inventando.

— Eu ia pedir de flocos e coco. — disse eu, baixinho.

— Que imbecil você é, Zach! — Alec o empurrou e foi até o caixa pedir os nossos sorvetes.

Eu realmente estava um pouco triste, então eu não poderia ficar fazendo brincadeiras maliciosas com os outros e tampouco conseguiria rir se fizessem uma comigo. Se bem que essa do "Cameron Dallas" foi uma bela porcaria nada criativa e estupidamente ridícula, mas talvez seja daí que vem a graça dessas palhaçadas idiotas.

E quando a moça me entregou o sorvete e eu dei a primeira colherada, eu sorri para mim mesmo por ter alguém que me faça piadas maliciosas e que me pague um sorvete de flocos e coco, com uma calda de caramelo e M&M colorido por cima.

— Obrigado, pessoal. Muito obrigado mesmo. — eu agradeci, quando eu já tinha terminado o meu sorvete e tínhamos voltado para praia e estávamos observando o céu novamente. Eu amei ter feito aquilo com eles, porque eu me lembrei de quando eu costumava fazer com o meu pai e quando conversávamos sobre os astros. 

— Você é um de nós agora, Oliver. Estaremos ao seu lado. — contou-me Alec, com a mão em meu ombro.

E eu sorri, porque mesmo que não tivéssemos falado sobre os astros, eu me sentia mais realizado ainda por ter um momento nostálgico e ao mesmo tempo tão... Novo, talvez.

Aquilo era bom, e eu realmente estava amando "ser" gay.

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