track 65
⋆。𖦹°⭒˚。⋆
A sala de reuniões era moderna e minimalista, com paredes de vidro que refletiam a vista de Manhattan. Gracie estava sentada à mesa, ao lado de Joe, o produtor-chefe e mentor que a acompanhava desde os primeiros dias na gravadora. Do outro lado, uma equipe de marketing ocupava os assentos com laptops abertos e expressões neutras – pelo menos até começarem a discutir a próxima etapa do álbum dela.
"Então," começou Tanya, a chefe de marketing, ajeitando os óculos e inclinando-se para frente. "Ouvimos Risk, e não há dúvidas de que é uma música boa. A letra tem profundidade, e a interpretação vocal é impecável. Mas... precisamos falar sobre comercialidade."
Gracie arqueou as sobrancelhas, tentando disfarçar o nervosismo que subiu pelo peito. Luke, sentado no canto da sala, cruzou os braços, observando a conversa com uma expressão que dizia tudo: ele estava pronto para defender Risk até o fim.
"Comercialidade?" Joe questionou, a voz firme. Ele já sabia para onde aquilo ia e não parecia nada satisfeito.
Tanya suspirou, como quem pisava em terreno delicado. "Olha, é uma música linda, mas o mercado está pedindo outra coisa. Algo mais... dançante, pop, talvez com um refrão mais chamativo. Nós precisamos de um single que grude na cabeça das pessoas no TikTok, algo que viralize rápido."
Gracie sentiu o estômago revirar. Ela sabia que Risk não era o tipo de música que explodia em trends de dança ou desafios virais, mas era a música mais pessoal que já havia escrito. Era o coração dela, exposto em cada verso.
"Risk não é sobre trends," Joe retrucou, firme. "É sobre construir uma conexão emocional com o público. Essa música tem um peso que muitas canções pop de hoje em dia não têm. As pessoas vão se identificar com a autenticidade dela."
"E se elas não identificarem?" Tanya rebateu. "Joe, nós não estamos dizendo para cortar a música do álbum. Ela pode estar lá, mas como single principal... não temos garantia de que ela trará os números que precisamos. Estamos falando de estratégias aqui."
Luke descruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. "Com todo o respeito, vocês estão subestimando as pessoas. Nem todo hit precisa ser uma explosão de beats eletrônicos ou uma música feita sob medida para challenges. Risk tem alma, e é isso que o público quer. Não é sobre números; é sobre impacto."
Tanya deu um sorriso educado, mas havia uma ponta de impaciência ali. "Nós entendemos o ponto, Luke, mas esse é o mercado em que estamos. Nossa sugestão seria que Gracie trabalhasse em algo mais upbeat, talvez até algo com uma batida tropical ou mais próxima do pop atual."
Gracie sentiu todos os olhares se voltarem para ela, esperando uma resposta. Ela limpou a garganta, tentando ganhar tempo.
"Eu... entendo o que vocês estão dizendo," começou, a voz um pouco hesitante. "Mas Risk é uma parte importante de quem eu sou. Eu não quero que minha música seja apenas algo para preencher playlists. Quero que ela toque as pessoas de verdade."
"E pode tocar," Tanya disse, diplomática. "Mas precisamos encontrar um equilíbrio. Talvez você possa experimentar algo novo, mostrar sua versatilidade. Temos um ótimo time de produtores para isso."
Joe bufou ao lado dela, cruzando os braços. "Gracie já tem sua visão. Se começarmos a moldar cada música ao que vocês acham que vende, ela perde a autenticidade. É isso que queremos?"
O clima ficou pesado por um momento, até que um dos assistentes de marketing, tentando aliviar a tensão, sugeriu: "Talvez possamos lançar Risk como um single secundário e focar em algo mais comercial para o primeiro lançamento. Dessa forma, Gracie não precisa abrir mão de nada."
Gracie mordeu o lábio, tentando esconder o desconforto. Aquela conversa parecia uma luta entre arte e estratégia, e ela estava no meio do fogo cruzado.
Luke, percebendo o quanto aquilo a afetava, decidiu intervir novamente. "Se me permitem, por que não damos mais tempo para Gracie trabalhar no álbum e encontrar o equilíbrio perfeito? A música é dela. Ninguém aqui conhece melhor o que ela quer passar do que ela mesma."
A sala ficou em silêncio por alguns instantes, até Tanya suspirar e ceder. "Ok. Vamos dar mais tempo, mas o prazo para a decisão final sobre o single principal está chegando. Não podemos adiar o planejamento por muito mais tempo."
Com isso, a reunião foi encerrada, mas Gracie saiu dali com o coração apertado.
Gracie saiu da sala com passos apressados, sentindo como se precisasse de ar fresco para reorganizar os pensamentos. O corredor amplo e bem iluminado parecia um refúgio temporário, mas mesmo ali, a pressão daquela reunião ainda pairava sobre ela.
"Ei," Luke chamou, alcançando-a com passos largos. Ele tocou levemente no cotovelo dela, forçando-a a parar e encará-lo. "Você tá bem?"
Ela hesitou, olhando para ele por um segundo antes de soltar um suspiro pesado. "Eu só... é frustrante, sabe? Parece que não importa o quanto eu me esforce para fazer algo que seja verdadeiro para mim, sempre tem alguém dizendo que não é suficiente."
Luke cruzou os braços, inclinando a cabeça para o lado enquanto a observava. "Eu entendo que o que eles falaram foi difícil de ouvir, mas você sabe o que eu acho? Que Risk é exatamente o tipo de música que mostra quem você é. E é isso que as pessoas vão amar. Se não for comercial o suficiente pra eles, azar."
Gracie soltou uma risada curta, sem muito humor. "Eu gostaria de pensar assim, mas não é tão simples, Luke. Eles não estão errados... O mercado quer algo que as pessoas possam dançar, algo fácil de consumir. Talvez Risk não seja isso."
Luke deu um passo à frente, aproximando-se dela. Seus olhos, intensos e firmes, buscavam os dela. "Você quer fazer música que toque as pessoas, ou só música que venda? Porque, pelo que eu vejo, você tem algo único em Risk. Algo que ninguém mais pode criar. Isso não vale mais do que um hit passageiro?"
Ela mordeu o lábio, hesitante. "Eu só queria que eles confiassem em mim... e talvez eu também quisesse ter um pouco mais de confiança em mim mesma."
Luke sorriu de lado e estendeu a mão para segurar a dela, de um jeito casual, mas reconfortante. "Ei, confia em mim então. Eu vejo o potencial disso – e mais importante, eu vejo o potencial em você. Você tem tudo o que precisa pra fazer esse álbum ser incrível, Gracie. Só... não deixa eles te fazerem esquecer disso."
Gracie sentiu o coração aquecer com as palavras dele, como se ele estivesse segurando o peso daquele momento para ela.
"Obrigada," ela disse baixinho, apertando a mão dele.
Luke piscou um olho, tentando quebrar a tensão. "Qualquer coisa, a gente faz uma música chiclete sobre mim e solta no TikTok pra compensar. Pronto, problema resolvido."
Ela deu uma risada de verdade dessa vez, balançando a cabeça. "Você é muito convencido!"
"Claro! Quem não me ama? Aposto que viraliza em dois dias," ele disse, com um sorriso travesso.
Gracie finalmente relaxou um pouco, sentindo-se mais leve. "Você é ridículo."
"E você tá sorrindo. Então, missão cumprida," ele respondeu, antes de soltar a mão dela.
O toque ficou no ar entre os dois por alguns segundos, um lembrete de como Luke sempre conseguia encontrar a brecha certa para chegar até ela.
[...]
O estúdio estava envolto em um silêncio tenso, mas não desconfortável. Era o tipo de silêncio que vinha com a busca incessante por algo que ainda não existia. Gracie estava sentada no sofá, com um caderno no colo, rabiscando palavras que vinham e iam sem fazer sentido. Luke estava ao lado dela, o braço casualmente encostado no encosto do sofá, observando as anotações dela enquanto tentava encontrar algo para contribuir.
River estava no piano, experimentando acordes, suas mãos deslizavam pelas teclas em busca de algo que se encaixasse. Ele suspirava a cada tentativa frustrada, suas sobrancelhas franzidas em concentração. No outro lado da sala, Caroline estava em silêncio absoluto, com os fones nos ouvidos e os olhos fixos no computador. O som quase imperceptível das batidas experimentais que ela criava era a única coisa que preenchia o ar.
Gracie suspirou e fechou o caderno por um momento, apoiando a cabeça nas mãos. "Não tá saindo nada. É como se as palavras estivessem presas, sabe?"
Luke sorriu de lado e deu um leve empurrão no ombro dela. "Talvez você esteja se cobrando demais. Dá um tempo pra sua cabeça."
River parou de tocar e olhou para eles. "Ou talvez a gente só precise de uma boa história pra tirar a pressão. Alguma coisa pra inspirar." Ele se virou para Luke, com um sorriso travesso. "Que tal você contar como você e Gracie se apaixonaram?"
Gracie levantou a cabeça, surpresa. "River, não tem nada a ver com a música..."
"Ah, tem tudo a ver!" River interrompeu, apoiando os cotovelos no piano, interessado. "Estamos tentando criar algo que seja a essência de Gracie, certo? Então, Luke, como foi? Quero detalhes."
Luke olhou para Gracie, rindo baixinho quando percebeu o olhar semicerrado dela. "Você vai mesmo me deixar responder isso?"
"Não vai sair nada decente daí," Gracie resmungou, tentando esconder o sorriso.
Luke ignorou, endireitando-se no sofá como se estivesse prestes a contar uma grande história. "Bem, vou começar do começo. Ela apareceu aqui, nova, meio inexperiente..." Ele fez uma pausa, o olhar ficando mais suave. "Eu lembro de te achar bonita antes mesmo de saber o seu nome. Mas o que me pegou foi o jeito como você estava sempre perguntando as coisas, pedindo ajuda."
Gracie revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o rubor no rosto. "Claro, porque eu não fazia ideia do que tava fazendo."
"Não era só isso," Luke continuou, ignorando a interrupção. "Era o jeito que você fazia. Tipo, você realmente queria aprender, e isso te fazia tão... apaixonante." Ele sorriu para ela, e sua voz ficou mais baixa. "Depois disso, nunca consegui sair de perto de você."
Por um momento, o estúdio ficou em silêncio de novo, mas dessa vez era um silêncio diferente. Mais carregado, como se algo estivesse prestes a acontecer.
Foi então que Caroline, ainda no fundo, murmurou quase imperceptivelmente: "Close to you... Close to you... Just let me be..."
Os três se viraram imediatamente para ela.
"Caroline," River chamou, erguendo uma sobrancelha. "O que você tá fazendo?"
Ela tirou os fones de ouvido e olhou para eles, como se acabasse de perceber que tinha falado em voz alta. "Ah, nada... Eu só... pensei numa frase."
Gracie se levantou de um pulo, seus olhos brilhando de excitação. "Diz isso de novo!"
"Close to you... Close to you..." Caroline repetiu, agora mais confiante, começando a bater de leve na mesa com as mãos, marcando o ritmo. "Just let me be..."
River deslizou no banco do piano, começando a seguir o tempo das batidas. "Tá, isso é bom."
Gracie correu até o violão e começou a dedilhar alguns acordes para acompanhar. Luke pegou o caderno dela no sofá e, sem perceber, começou a anotar palavras que vinham à mente.
O bloqueio criativo havia desaparecido, substituído pela empolgação do momento. O estúdio agora estava cheio de movimento, vozes se cruzando, melodias surgindo do nada e se moldando em algo real.
Era o começo de algo grande.
Caroline murmurava a melodia repetidamente, testando pequenas variações enquanto River ajustava os acordes no piano, explorando formas de torná-los mais consistentes. O ritmo começava a tomar forma, mas as palavras ainda pareciam flutuar no ar, esperando para se encaixarem no lugar certo.
Gracie estava sentada no chão, o violão repousando confortavelmente em seu colo. Seus dedos deslizavam pelas cordas em busca de algo intuitivo. Ao lado dela, Luke se agachava, apoiando um braço no joelho, os olhos fixos no caderno de anotações que ela segurava.
"Tá," ele começou, apontando para uma frase sublinhada. "A ideia central tá aqui. Algo sobre querer estar perto de alguém, tipo... irracionalmente perto. Mas não de um jeito sufocante, sabe? Uma obsessão boa."
Gracie ergueu os olhos para ele, dando um sorriso tímido. "Sim, é essa a vibe. Mas ainda falta um refrão que grude. Precisa ser direto, tipo... um mantra."
Luke inclinou-se um pouco mais, a distância entre eles diminuindo, enquanto ele espiava as palavras rabiscadas no caderno. "O que acha de simplesmente repetir 'Close to you'? Funciona como um gancho."
"Repetitivo de um jeito hipnótico," Caroline interrompeu, ajustando controles no computador sem desviar o olhar da tela. "Eu gosto disso. Dá pra construir algo crescente, meio sensual."
River dedilhou algumas notas no piano, aumentando a intensidade do arranjo. "Ok, mas a gente precisa de um pré-refrão que amarre tudo. Algo que prepare o ouvinte pra explosão no refrão."
Gracie mordeu o lábio, pensativa, enquanto Luke começava a murmurar baixinho, quase como se estivesse testando o peso das palavras na língua:
"I burn for you... And you don't even know my name..."
Os dedos de Gracie pararam sobre as cordas, e ela o encarou, surpresa. Sem perceber, repetiu as palavras, deixando que elas se moldassem à melodia que soava em sua mente.
"If you asked me to... I'd give up everything to be close to you"
Luke sorriu largo, os olhos brilhando como se acabasse de encontrar um tesouro. "Isso!" Ele pegou a caneta da mão dela, sem hesitar, e começou a rabiscar freneticamente no caderno. "O pré-refrão pode ser mais vulnerável, mostrando o quanto esse sentimento é intenso, quase... doloroso."
Enquanto ele escrevia, os dois trocaram um sorriso cúmplice. Gracie sentiu uma onda de calor percorrer seu peito ao vê-lo tão empolgado, tão conectado ao que eles estavam criando juntos.
"Vocês dois sempre trabalham assim, grudados um no outro?" River brincou, inclinando-se sobre o piano com um sorriso malicioso.
Gracie revirou os olhos, tentando disfarçar o rubor em seu rosto. "É só trabalho, River."
"Ah, claro," Caroline murmurou, arqueando uma sobrancelha enquanto mexia nos fones. "Super profissional."
Luke apenas deu uma risada curta, mas não desviou o olhar de Gracie. "Tá, e se no refrão a gente deixar mais dramático? Algo como..." Ele pausou, pensando alto. "Pull the trigger on the gun I gave you when we met... Como se você estivesse dando tudo, mesmo sabendo que pode se machucar."
Gracie pegou o violão novamente, experimentando acordes. Sua voz saiu baixa, mas carregada de emoção:
"Break my heart and start a fire... you got me overnight."
"Isso!" Caroline exclamou, erguendo os braços no ar como quem celebra um gol. "Perfeito! Continuem! A vibe tá incrível!"
River acompanhou no piano, aumentando a intensidade das notas, enquanto Caroline adicionava uma batida eletrônica pulsante, criando camadas que davam profundidade à música. O estúdio parecia vibrar com a energia criativa.
Gracie anotava ideias freneticamente no caderno, mas hesitou por um momento, mordendo o lábio. "Na segunda estrofe, pensei em algo mais visual, tipo..."
Luke completou, quase como se estivesse lendo sua mente: "And now your mouth is moving, cinematic timing"
Ela riu, anotando. "Sim! E... 'You pull me in and touch my neck..' And now I'm...dying..."
"Vocês dois são ridículos," River comentou, rindo enquanto continuava a tocar. "Isso aqui é tipo assistir um casal compondo uma carta de amor."
Gracie jogou a almofada nele, rindo alto. "Ah, cala a boca, River!"
Luke apenas balançou a cabeça, rindo também, mas seus olhos voltaram a se fixar em Gracie. O brilho em seu olhar dizia tudo: ele estava encantado, mesmo sem querer admitir.
A música começou a ganhar corpo de verdade. As vozes de Gracie e Luke se misturavam enquanto eles cantavam trechos improvisados, alternando entre sussurros e explosões de intensidade. Caroline capturava tudo em tempo real, ajustando o que precisava no computador.
Quando finalmente deram uma pausa, exaustos, mas eletrizados, Caroline deu play na gravação que tinham até então. A sala foi preenchida por uma melodia envolvente, quase mágica, com camadas que exalavam emoção e tensão.
"É isso," Caroline disse, com um sorriso de orelha a orelha. "A gente conseguiu."
Gracie olhou para Luke, sem dizer nada, mas sentindo que ele sabia exatamente o que ela estava pensando. Luke retribuiu o olhar, e por um instante, parecia que nada mais existia ao redor deles.
⋆。𖦹°⭒˚。⋆
eu AMEI esse capítulo!
simplesmente perfeito descobrir o ponto de vista do Luke desde que ele conheceu a Gracie (talvez isso seja um spoiler do proximo rs)
Com amor,
Clara
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top