track 34

⋆。𖦹°⭒˚。⋆

Anna estacionou o carro na entrada da casa dos Flowers, desligando o motor enquanto os últimos raios de sol mergulhavam no horizonte. Gracie suspirou, observando a casa com um misto de alívio e hesitação. Ainda estava na casa dos seus pais, parecia mais acolhedor passar esse momento com eles. A fachada familiar parecia tão acolhedora quanto uma memória antiga, mas sua mente ainda estava pesada, como se estivesse carregando nuvens de chuva. 

"Pronta?" Anna perguntou, com um sorriso encorajador. 

"Não exatamente, mas vamos lá." Gracie desceu do carro, o casaco apertado contra o corpo para se proteger do vento gelado.

A porta se abriu antes mesmo que elas alcançassem a entrada, e May Flowers surgiu com um pano de prato no ombro e um sorriso caloroso. "Anna! Finalmente conheço você. A Gracie fala muito de você, mas nunca traz ninguém em casa." 

"Oi, May. A Gracie exagera, tenho certeza," Anna respondeu, rindo enquanto era puxada para um abraço. 

"De jeito nenhum! Entre, as duas. Thomas acabou de preparar chá. Querem? Ou vinho? Sobrou um pouco do Natal." 

Anna aceitou o chá, e logo elas estavam sentadas na sala, com Thomas entrando para cumprimentá-las. O pai de Gracie tinha o mesmo olhar acolhedor da filha, mas parecia mais atento, como se soubesse que algo estava errado. 

Depois de algumas risadas leves, as duas subiram para o quarto de Gracie, deixando o aconchego da sala para trás. O quarto parecia um refúgio, com livros empilhados no canto, fotos antigas em molduras desgastadas e um violão apoiado na parede.

Anna olhou ao redor, absorvendo o ambiente. "Esse lugar é tão... você. E esses pôsteres? Taylor Swift é realmente seu lance." ela riu.

Gracie sorriu, passando os dedos pelas cordas do violão. "É, acho que sempre foi aqui que eu me sentia mais segura." 

Anna sentou-se na cama, observando a amiga. "Então, o que tá pegando? Você não me chamou aqui só pra tomar chá com seus pais." 

Gracie hesitou, o olhar perdido no violão. "Eu estraguei tudo com o Luke." 

"Como assim?" 

"Na festa... eu ouvi algumas coisas sobre ele. Pessoas falando de como ele é com as mulheres, de como eu talvez fosse só mais uma. E depois eu vi aquela mensagem da Rachel no celular dele. Tudo isso me fez pensar que eu estava errada em confiar nele. E ao invés de perguntar, de falar o que eu tava sentindo, eu só... fugi. A gente teve uma noite incrível e eu fui embora de manhã."

Anna ficou em silêncio, mas seu olhar dizia que ela estava processando cada palavra. Gracie continuou, sentindo-se um pouco mais segura para se abrir. 

"Eu acho que isso é um padrão, sabe? Eu sempre tive essa sensação de que não sou suficiente. Isso vem desde o ensino médio, mas... acho que piorou quando eu namorei o Ethan." 

Anna se inclinou para frente, intrigada. "Ethan, o ex que te deixou em pedaços?" 

Gracie assentiu, os dedos inquietos nas cordas do violão. "Ele parecia perfeito. Era o garoto bonzinho, sabe? Educado, elogiado por todo mundo, um exemplo. Começamos a namorar no último ano do ensino médio, e, no começo, eu me senti sortuda. Como se, finalmente, alguém tivesse me escolhido. Mas, dentro do relacionamento, ele sempre me fazia sentir... pequena. Como se eu fosse o problema, mesmo quando ele dizia que me amava." 

"Pequena como?" 

"Ele dizia coisas sutis, tipo 'você é sensível demais, Gracie', ou 'você devia ser mais como fulana, sabe? Mais confiante, mais divertida'. E eu... eu acreditava. Eu achava que tinha que mudar pra ser boa o suficiente pra ele. E, quando não dava certo, ele sempre dizia que eu era quem complicava tudo." 

Anna bufou, cruzando os braços. "Parece um manipulador clássico. E você ainda acha que isso é culpa sua?" 

"Não tanto quanto antes, mas essas coisas... elas ficam. Quando você ouve tantas vezes que não é suficiente, começa a acreditar nisso. E aí entra o Luke... alguém como ele. Charme, confiança, talento. É difícil não pensar que ele vai perceber que pode ter algo melhor." 

Anna se aproximou, segurando a mão de Gracie. "Você sabe que isso não é verdade, né? Eu vejo como o Luke olha pra você. Ele não é perfeito, mas eu sei que ele é sincero com você. E sabe o que mais? Você também precisa ser sincera com ele. Não é só ele que tá em risco aqui." 

Gracie respirou fundo, sentindo as palavras penetrarem em suas barreiras. "Eu tentei escrever algo hoje. Algo que expressasse o que eu tô sentindo, mas... saiu amargo." 

"Deixa eu ver," Anna disse, pegando o caderno que Gracie hesitou em entregar. Ela leu em voz baixa: 

"Look at me now, said I wouldn't do it, but I hunted you down
Know you had a girl, but it didn't work out
Know you bought a house, but you had to move out and
I'm not proud, guess I'm just scared of you shooting it down
You can just talk, and I'll stare at your mouth
It could be bad, but I wanna find out"

Anna deu um pequeno sorriso. "É forte. Dá pra sentir a verdade nisso. Você tá falando o que sente, mesmo que seja difícil. Isso é música, Gracie. É disso que você precisa agora." 

Gracie pegou o caderno de volta, passando os dedos pelas palavras. "Talvez. Eu só queria que isso fosse... suficiente." 

"Você é suficiente. Sempre foi. O problema não é você, é acreditar em quem tentou te convencer do contrário." 

Elas ficaram em silêncio por um momento, antes de Anna sugerir: "Sabe o que seria perfeito? Ir na gravadora agora. Quase de madrugada, a vibe tá certa. Vamos lá tentar gravar isso. Nem que seja pra você ouvir e se reconhecer de outro jeito." 

Gracie hesitou, mas o olhar animado de Anna a convenceu. Pegando o violão e o caderno, ela sentiu algo se acender dentro de si. Talvez fosse só um lampejo, mas era um começo.

[...]

A madrugada parecia pesar no ar quando Gracie e Anna chegaram à gravadora. A rua deserta tinha o silêncio de quem guardava segredos, e o brilho tênue do letreiro iluminava as feições delas, que carregavam não só instrumentos, mas também o peso de emoções ainda não resolvidas. 

Gracie abriu a porta com cuidado, como se aquele lugar pudesse sentir sua hesitação. O eco dos passos era um lembrete de que estavam sozinhas ali, em uma hora que parecia ser de ninguém. 

"Espero que ninguém esteja aqui," Anna comentou com um sorriso, embora sua voz fosse baixa, quase respeitosa. 

"E quem estaria a essa hora?" Gracie respondeu, a ponta dos lábios curvando-se num sorriso breve. 

As luzes do estúdio acenderam, lançando uma claridade suave sobre os instrumentos, as paredes acolchoadas, os cabos organizados com precisão. O espaço tinha um tipo de intimidade que fazia parecer que tudo era possível ali — inclusive dizer coisas que não conseguiam sair em palavras comuns. 

Anna começou a conectar cabos e ajustar o microfone, enquanto Gracie se acomodava no chão, segurando o violão com os dedos hesitantes. 

"Luke me mandou mensagem," Anna disse, casualmente, mas com um olhar atento à amiga. 

Gracie ergueu os olhos do caderno, parando de dedilhar notas ao acaso. 

"Ele já está no aeroporto. Disse que vai pra Miami passar uns dias com a família... e respirar," continuou Anna. 

"Respirar." A palavra saiu como um eco, e Gracie a repetiu, quase num sussurro. Ela baixou o olhar para as páginas do caderno, os rascunhos inacabados que carregavam fragmentos de sentimentos. "Respirar soa... tão definitivo. Como se ele quisesse me tirar da cabeça." 

"Ou como se ele precisasse de espaço," Anna contrapôs, puxando uma cadeira e sentando-se ao lado. "Gracie, você não acha que está complicando demais?"

Gracie suspirou profundamente, abraçando o violão como um porto seguro. 

"Talvez, mas acho que é uma forma de evitar que algo mais catastrófico aconteça." bufou. "É querer algo que talvez não esteja garantido, é um risco de tudo funcionar e tudo dar errado"

"Exatamente! E corra esse risco com essa música! escreve isso." Anna inclinou-se para perto, olhando-a com seriedade. "Sobre o risco de se jogar de cabeça em uma paixão" 

Gracie fechou os olhos por um momento, respirando fundo. As palavras de Anna pareciam fazer sentido, mas doíam mesmo assim. 

"Look at me now, said I wouldn't do it, but I hunted you down" começou ela, baixinho, os dedos dedilhando acordes mais agitados. "Know you had a girl, but it didn't workout...Know you bought a house, but you had to move out..."

Anna sorriu, incentivando-a. 

"Continua. Descreve o que você sente." 

"I'm not proud, guess I'm just scared of you shooting it down...You can't just talk, and I'll stare at your mouth." um sorriso surgiu nos lábios dela ao se lembrar de Luke. "It could be bad, but I wanna find out" o ritmo se acelerava. "And I wake up, in the middle of the night, with the light on, and I feel like I could die..." fitou Anna e soltou um riso. "'Cause you're not here, and it don't feel right...'Cause you're not here..."

Gracie abriu os olhos e se inclinou sobre o caderno. As palavras começaram a vir como uma corrente, cruas e verdadeiras. Então, o refrão perfeito reverberou em sua mente, risco, a palavra perfeita.

"God, I'm actually invested, haven't even met him! Watch this be the wrong thing...Classic!" Gracie sentia uma adrenalina invadindo em seu corpo. "God, I'm jumping in the deep end, it's more fun to swim in..."

"Heard the risk is drownin', but I'm gonna take it!" Anna complementou cantando no mesmo ritmo, mesmo sua voz sendo mais grave, foi o complemento perfeito.

"I'm gonna take it!"

Ela parou, olhando para Anna, que estava agora completamente envolvida. 

"É bom, Gracie," disse Anna. "Mas me parece que tem mais aí." 

Gracie assentiu, os olhos fixos nas palavras. As palavras rapidamente se organizaram na sua cabeça e tudo que ela estava guardando se dissolveu no seu diário. Ela estava concentrada, testava melodias e Anna assistia aquilo como se fosse um filme. Gracie nasceu para fazer música.

Segurou o violão e continuou a melodia.

"Isn't it fun? Thinking I'm right when I'm propably wrong...Holding my breath like I met someone..." continuou, quase como se estivesse lendo de um diário secreto. "Knowing damn well that I haven't been touched by you."

Ela rabiscava envolvida, os versos tomando forma

"In my head, you're in the car and you're coming to me and you get to my door, and you can't even speak but I think that it's sweet" deslizou seus dedos pelas cordas do violão. "Yeah, I think that you're sweet!"

Anna sorriu para ela e harmonizou com ela no pré-refrão, lendo o caderno com ela.

"And I wake up, in the middle of the night, with the light on, and you're not here"

Gracie parou, sorriu para a melhor amiga, tocando o violão, como se a convidasse para cantar o refrão com ela.

"God, I'm actually invested! Haven't even met him." as duas cantavam juntas animadas. "Watch this be the wrong thing, classic!" Gracie estava realizada, era a melodia perfeita. "God, I'm jumping in the deep end, it's more fun to swim in...Heard the risk is drownin', but I'm gonna take it!"

Gracie afastou os dedos do violão e fitou Anna, que sorria como se sua serotonina estivesse no máximo. Era apenas o poder da música, decifrar o que parece impossível de entender, traduzir sentimentos da forma mais linda.

"Isso... isso é tão real," Anna riu. "Você está se arriscando!" ela estava animada.

"Você acha que parece um pedido de desculpas?" Gracie indagou.

Anna balançou a cabeça, pensativa. "Um pedido desculpas, mas ao mesmo tempo, uma declaração de amor!" ela disse, sem rodeios. "Deveria se chamar Risk!

Gracie olhou para a amiga, a confissão pairando no ar como algo que ela nunca teve coragem de dizer nem para si mesma. 

"Sim," admitiu, a voz quase falhando. "É perfeito."

Anna colocou uma mão sobre a dela, apertando-a com força. 

"Então escreve sobre isso. Toda essa bagunça. Esse amor. E, se for pra dizer algo pra ele, diga com a música. Porque, se tem uma coisa que eu sei sobre Luke, é que ele sente as coisas de um jeito tão profundo quanto você." 

Gracie sorriu, mas os olhos brilhavam com lágrimas contidas. A noite parecia mais longa do que nunca, mas também carregava uma sensação de propósito. 

Anna pegou o violão e começou a tocar os acordes que Gracie havia dedilhado antes. As duas se perderam na melodia, enquanto Gracie rabiscava mais versos, construindo, peça por peça, uma música que não era apenas sobre Luke, mas sobre si mesma. Escreveu mais no caderno enquanto Anna explorava com os instrumentos. Em questão de minutos, ela tinha um rascunho completo.

Fez um sinal para Anna acompanhar com o violão. Anna ajeitou o instrumento no colo, dedilhando com calma. Parecia ser a ponte perfeita.

"I'm gonna bend 'til it break and you'll be my favorite mistake" sua voz ecoou mais alto, ela se levantou segurando o caderno. "I wish you could hold me here, shakin'" rodopiou pelo estúdio. "You're the risk, I'm gonna take it! Why aren't you here in my bedroom? Hopelessly boring without you! Too soon to tell you "I love you", too soon to tell you "I love you""

"God, I'm actually invested! Think I really want this!" Anna cantou e Gracie sorriu.

"I'm not even kidding! No, I'm actually invested" complementou sorrindo.

Anna se animou com o violão e Gracie dançou pelo estúdio, cantarolando o refrão diversas vezes, Anna largou o violão e se levantou, abraçando a amiga.

"Gracie! Temos uma música." se animou. "Você é incrível..." segurou os ombros dela e riu vendo um rubor vermelho tomar conta das bochechas de Gracie.

"Obrigada, Anna, valeu a pena ter fugido essa madrugada." mordeu o lábio inferior. "Vamos produzir essa música ao longo dessa semana...Podemos pedir para Joe, durante o expediente."

"Ótima ideia, e se formos para a casa na praia de Blake no final de semana, tentar gravar algo caseiro, como um clipe..."

"Ok! Vamos por partes." Gracie riu e abraçou seu caderno. "Foi como um desabafo..."

"Definitivamente, você também precisa respirar, mocinha." deu um empurrãozinho nela. "Agora vamos, vou te deixar em casa."

⋆。𖦹°⭒˚。⋆

oieee meus divos! como vocês estão?
esse foi um dos meus capítulos prediletos de escrever, espero que tenham gostado, tentei deixar mais vulnerável com Gracie se entendendo também, rsrsrs surpresinhas estão chegando.

Com amor,
Clara

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top