track 05

⋆。𖦹°⭒˚。⋆

O som da máquina de café preencheu o ambiente enquanto Gracie esperava sua vez. O cheiro forte da bebida se misturava ao ar levemente abafado do escritório naquela manhã de inverno. Ela tamborilava os dedos no balcão, distraída, enquanto relia algumas mensagens antigas no celular. As palavras de Ethan estavam lá, intactas, como se nada houvesse mudado. Promessas, desculpas mal formadas, justificativas que, meses atrás, pareciam plausíveis. Agora, eram apenas um lembrete de como ela havia sido deixada em segundo plano. 

"Café duplo pra você? Ou vai de chá verde hoje?" A voz de Luke soou ao lado dela, tirando-a de seus pensamentos. Ele tinha aquele sorriso preguiçoso que parecia ao mesmo tempo desinteressado e completamente atento. 

"Café, definitivamente", respondeu, guardando o celular com um gesto rápido, como se quisesse esconder o que estava vendo. 

Luke inclinou a cabeça, intrigado, mas não pressionou. Ele parecia ter um talento peculiar para perceber quando não era hora de falar — ou quando alguém precisava que ele não falasse. Além disso, ele sabe como Gracie é reservada.

"Dia cheio pela frente, hein? O showcase está nos esperando." 

Gracie apenas assentiu, ainda envolta em seus pensamentos. De bônus, Gracie foi selecionada para ajudar Luke a organizar um showcase de final de ano. Com patrocínio do Apple Music, a Highline faria esse showcase para divulgar o segundo álbum de uma de suas maiores popstars, Lily Roberts. Algo que aprendeu trabalhando com artistas é que os prazos sempre são apertados e organizar um evento em duas semanas parece loucura.

O ritmo do trabalho naquele dia era intenso. A organização do showcase era como montar um quebra-cabeça com peças que insistiam em não se encaixar. Havia contratos pendentes, artistas convidados indecisos e uma lista interminável de ajustes técnicos. Gracie e Luke passavam a maior parte do tempo trocando ideias e resolvendo detalhes. 

"Sabe, Lily que vai abrir o evento... tenho minhas dúvidas sobre o refrão da música dela", disse Gracie, enquanto olhava a letra no laptop.

Luke, que estava ao lado dela no estúdio, lançou um olhar curioso. "O que você mudaria?" 

Gracie hesitou, mas depois respondeu: "Eu acho que falta algo. Talvez uma harmonia no refrão, algo que dê mais força à mensagem." 

Ele sorriu de um jeito quase imperceptível. "Você tem ouvido para isso, sabia? Por que não testamos? Entra na cabine e grava um esboço de backing vocal. Quero ouvir sua ideia." 

Gracie arregalou os olhos, surpresa. "Eu? Não, nem pensar. Eu só... dou sugestões. Não canto." 

"Besteira." Luke já estava de pé, segurando a porta da cabine aberta para ela. "Você nunca canta na frente dos outros, mas eu já te ouvi sozinha, cantando Taylor Swift enquanto acha que ninguém está ouvindo." 

Um leve rubor tomou conta do rosto dela. "Isso não conta! Eu faço isso pra mim mesma." 

"Então faz pra você agora. Só que com um microfone", provocou. "Finja que não estou aqui!"

Relutante, Gracie entrou na cabine. Sentiu o coração acelerar enquanto colocava os fones de ouvido e olhava para Luke, que estava do outro lado do vidro, ajustando os controles. Ele deu um sinal de aprovação, e a música começou a tocar. 

A primeira nota saiu hesitante, mas, aos poucos, Gracie encontrou sua confiança. A harmonia que ela havia imaginado parecia preencher o vazio que antes incomodava. Quando terminou, Luke apertou o botão do interfone. "Isso foi incrível, Gracie." seus olhos estavam fixos nela.

Ela saiu da cabine, ainda sem acreditar no que tinha feito. "Não exagere. Foi só um teste." 

"Foi mais do que isso. Você tem talento. E se você quiser, pode ir além." Luke falou com uma seriedade que fez algo se mexer dentro dela. Ele parecia estar vendo algo que ela mesma não enxergava. 

[...]

Na pausa para o almoço, Gracie encontrou Anna na sala de descanso. A melhor amiga estava casual como sempre, usando seus típico casaco de pelos, sentada no sofá com as pernas cruzadas e mexendo no celular. 

Gracie se direcionou ao microondas para esquentar o seu almoço e se virou para a garota.

"Então, como está indo o showcase com Luke?" perguntou Anna, com um sorriso curioso. 

"Intenso, mas estamos progredindo", respondeu Gracie, pegando um sanduíche. "Lily é...Complicada"

"Ele ainda está tentando te impressionar? Porque, vou te contar, ele tem um jeito de fazer isso sem nem perceber." 

Gracie riu. "Ele é profissional no estúdio, Anna. Nada além disso." 

Anna arqueou uma sobrancelha. "Claro que sim.." riu irônica. "Ouvi ele contando que você cantou na cabine hoje. Ele estava te elogiando."

Gracie riu, envergonhada. "Ele fez isso hoje. Mas acho que eu passei no teste." 

"Sabia. Ele faz isso com quem ele respeita." Anna deu um gole no café. "E, de novo, não se esqueça: Ele é um bom amigo e um excelente profissional. Só... fique de olho nos seus limites, tá?" 

Gracie sabia que Anna estava sendo cuidadosa, mas o tom despreocupado da amiga ajudava a manter tudo em perspectiva. Ainda assim, as palavras ecoavam em sua mente. Na cabeça de Gracie estava perfeito o limite da amizade, era o suficiente.

À tarde, Gracie foi para uma reunião com os investidores e patrocinadores do showcase, afinal, Apple Music era muito exigente naquilo que colocava seu nome e precisava de tudo impecável. Focada em desenhar flores no seu caderno quando o assunto foi além de música, teve sua atenção desviada e sentiu a respiração falhar. Ethan estava lá. Ele entrou na sala como se nada tivesse acontecido, conversando com um dos executivos da gravadora. Se desculpou pelo atraso com sua falsa polidez e deu um aceno geral. Havia esquecido que Ethan fazia parte da equipe de Relações Públicas de um dos maiores investidores da Highline.

Ela ficou imóvel por um instante, o coração disparado. Ele estava exatamente como ela se lembrava e tentava esquecer — o mesmo sorriso charmoso, o mesmo jeito de falar que parecia convencer qualquer pessoa. Seu cabelo estava um pouco mais longo e ele parecia mais forte, mas aquele rosto era o mesmo que a assombrava, o ator principal de todas as suas memórias, boas e ruins.

Luke não fazia ideia que aquele era de fato o famoso Ethan, porém, com a tensão de Gracie na cadeira ao seu lado, os pontos se conectaram. Por mais que sentia uma necessidade de poupá-la daquilo, sabia que tinha que recuar. Afinal, era uma reunião muito importante.

Desde a chegada a reunião demorou milênios para passar e Gracie só sabia murmurar quando concordava com Luke. Folheou seu caderno e deu de cara com a composição de I know it won't work, como um lembrete de que precisava terminá-la e de que Ethan não conseguiria conquistar ela de novo.

Quando a reunião terminou, Ethan aproveitou para se aproximar aos poucos, sem invadir o espaço dela: "Gracie. Faz tempo." 

Ela assentiu, mantendo uma postura profissional. "Sim, bastante." evitou olhá-lo.

Ethan deu aquele sorriso que costumava desarmá-la. "Ouvi dizer que você está brilhando por aqui. Não estou surpreso."

"Obrigada. Estou focada no trabalho." A resposta saiu mais fria do que ela pretendia, mas ela não tinha forças para suavizá-la. Qualquer brecha a levaria ao erro.

"Eu... pensei em te ligar, mas achei que você não fosse querer falar comigo." Ele parecia sincero, mas Gracie sabia que ele tinha o hábito de dizer as coisas certas na hora certa. Mesmo evitando esticar a conversa, ela parecia claramente mexida.

"Estou ocupada, Ethan. Foi bom te ver." E com isso, ela saiu da sala antes que ele pudesse dizer mais.

Se prolongasse iria se atrasar, ainda precisava ir para o estúdio lidar com as exigências de Lily Roberts. Saiu apressada e evitou ao máximo pensar naquele fragmento de interação que teve com Ethan. Era surreal como ele mexia com ela.

Chegou no estúdio e ficou na maior parte do tempo em silêncio, não sabia se tinha feito a coisa certa, o universo sempre coloca Ethan de volta no seu caminho e até parece que eles estão destinados a se ver. Gracie deixou que Luke dominasse o processo criativo de hoje e sempre que podia tomar um ar, aproveitava a deixa.

Luke percebeu que algo estava errado, desde a reunião, e Gracie estava nitidamente com a cabeça cheia.

"Tá tudo bem?" perguntou, enquanto ajustava alguns botões na mesa de som. Evitou trocar olhares.

"Só um dia cheio", respondeu Gracie, tentando soar despreocupada. 

Luke não pareceu convencido, mas não pressionou. Em vez disso, colocou uma música suave para tocar no fundo e sentou-se ao lado dela. De cara ela reconheceu, era Mirrorball da Taylor Swift. Aquilo fez Gracie sorrir fraco.

"Você sabe que é boa no que faz, né? Quero dizer, realmente boa", ele disse, mudando de assunto. 

Gracie olhou para ele, surpresa. "De onde veio isso?" 

"Só achei que você precisava ouvir. Às vezes, a gente esquece de dar crédito a quem merece." 

Ela sentiu o peso das palavras dele. "Obrigada, Luke. Isso significa muito." 

Ele sorriu, mas havia algo mais na forma como a observava. Algo que fazia Gracie se perguntar se estava enxergando demais onde não devia. Talvez estivesse tão apática com a quantidade excessiva de trabalho que ficou meio atordoada, estava torcendo para as coisas tranquilizarem durante a semana e que suas perguntas sobre Ethan fossem respondidas logo.

Luke a liberou mais cedo e disse que caso Joe perguntasse, ele arranjaria uma ótima desculpa. Gracie agradeceu profundamente e aproveitou para se mimar voltando de táxi para casa. Era o mínimo que poderia fazer por ela.

Chegou em sua casa e correu para um banho relaxante, passando longos minutos ouvindo suas músicas prediletas e cuidando de si mesma. Naquela noite, sozinha em seu apartamento, Gracie refletiu sobre tudo o que havia acontecido. A música, o trabalho com Luke, a volta inesperada de Ethan. 

Ela se lembrou de sua mãe, que havia desistido de um sonho para seguir o caminho que os avós dela haviam escolhido. A paixão pela música que sua mãe havia plantado nela desde cedo parecia mais forte agora, como uma chama que se recusava a apagar. Gracie pegou seu caderno e tomou coragem de escrever tudo que esta a em sua garganta naquele momento.

E enquanto Gracie olhava para as partituras espalhadas pela mesa, percebeu algo. Talvez fosse hora de deixar o passado para trás — e começar a enxergar o que o presente tinha a oferecer.

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e ai!! estão gostando?
estou adorando a dinâmica desses dois

venho aqui também recomendar uma leitura! a lastkissy acabou de postar uma história perfeita, é uma Fanfiction do George Russell chamada But Daddy I Love Him!

Com amor,
Clara.

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