Capítulo 46

— Dá para você falar alguma coisa? — sugeri, mas os olhos castanhos úmidos ainda estavam presos em mim como garras — Por favor — eu sentia meu fluxo sanguíneo correr quente e rápido nas veias em minha garganta, provavelmente meu pescoço estava vermelho, enquanto meu coração acelerava rápido, quase como um início de infarto, mas eu sabia que era apenas a minha ansiedade.

— Você está...— Caio pigarreou, piscando perdido, quase como se tentasse buscar sua voz em um limbo perdido — Você está maravilhosa, tão bonita como eu imaginei que estaria, até mais na verdade.

— Estou? — esperei um "mas" carregado de alguma gracinha.

— Sim, isso é genética, olhe para mim? Como você poderia não está linda — revirei os olhos em um meio sorriso, é claro que ele soltaria essa no meio da minha formatura.

Não me surpreendendo, Caio abriu os braços onde me aninhei, sentindo um pouco da ansiedade abandonar o meu corpo. Por muito tempo fomos apenas nós dois e Eva, os tempos são outros, novas pessoas em nossas vidas, novos caminhos, mas ainda sim somos pedaços unidos e igualitários.

— Eu estou tão orgulhoso de você, sabia que você iria até o fim minha gnomo — ele sussurrou, tomando cuidado suficiente para que só eu ouvisse no emaranhado de alunos preocupados com suas becas e capelos.

— Ok, ok, você vai me fazer chorar, Caio — me afastei e peguei a beca de sua mão, a vestindo. Sua curiosidade sobre meu vestido era quase tão grande quanto a minha durante essas últimas semanas — Onde está o resto do pessoal? — olhei ao redor.

— Bem ali — ele acenou para o final da arquibancada, onde mãos se ergueram em nossa direção, Sara, Sabina e Eva estavam juntas. Tom deveria estar junto com o pessoal do seu curso, então provavelmente eu só o viria no final da cerimônia, ou na festa — O Magnus não vem?

— Ele está atrasado, problemas de infiltração em um dos restaurantes, ele precisou ficar para supervisionar tudo — dei de ombros, mas na verdade eu estava chateada, não com ele é claro mas sim com o universo. Eu queria que ele estivesse presente quando o meu nome fosse chamado, porém pelo andar da carruagem só nos veremos após toda a comemoração.

— E não está chateada com isso? — Caio me sondou, como uma águia e abri meu melhor sorriso de comercial de dentadura.

— Não tente me provocar, Caio, hoje não — beijei sua bochecha, e me encaminhei para a segunda fileira, cumprimentando o pessoal da minha classe.

Os primeiros diplomas simbólicos — já que os verdadeiros só serão entregues na próxima semana — foram da turma de jornalismo, e aplaudi com fervor enquanto o nome do Tom era chamado. A cerimônia estava sendo realizada em um estádio de futebol graças ao número de formandos, um palco havia sido montado no centro junto a bancos para os alunos.

Assisti enquanto todos eram chamados, nome a nome, diploma a diploma. Até que os alunos de nutrição foram mencionados, me erguendo olhei para trás, Sara acenou para mim e sorri tensa, aparentemente ele não vai conseguir chegar.

Sorri para a moça a minha frente, ela parecia perto de ter um colapso de euforia, sorridente e alegre demais consigo mesma. Eu também estava assim é claro, foram anos de estudos que me levaram a esse momento, só queria que mais uma pessoa estivesse presente para me prestigiar.

Aplaudi meus colegas que subiram no palco muito bem enfeitado, até que o próximo nome a ser chamado seria o meu, novamente me ergui na ponta dos pés, na esperança de me deparar com um par de olhos azuis muito diferente dos presentes ali. Porém não o encontrei, e sorri para minha família na arquibancada, Caio era o que mais sorria, e me senti ainda mais orgulhosa de mim mesma.

Quando o meu nome foi chamado, senti minha perna tremer, e uma enxurrada de nervosismo preencher meu estômago. Passo a passo subi a pequena escadaria, arrumando o tassel verde no meu capelo. Agarrei meu diploma e cumprimentei os professores e diretores responsáveis. Não gostando muito do toque do professor Erick sobre minha pele e seu sorriso enigmático, mas ignorei a sensação me virando para meus parentes ergui o diploma com um pulinho.

Meu coração saltou quando o encontrei caminhando a passos largos por entre as pessoas. Sua estatura alta o destacava no emaranhado de pessoas e seus olhos encontraram os meus enquanto ele tentava se sentar próximo a minha família, ele sibilou algo que não consegui entender mas senti meu coração bater ainda mais forte contra minha caixa torácica. Magnus estava todo despenteado e sua camisa azul de mangas estava dobrada, aparentemente ele havia se esforçado bastante para chegar a tempo e isso me fez sorrir ainda mais pressionando o diploma em minhas mãos.

Ok, noites de sonos perdidas realmente havia valido a pena por toda essa sensação de glória.

[...]

A festa pós cerimônia estava animada, mas meu irmão já havia ido embora com a esposa já que já havia passado da hora da Eva dormir. Sara estava conversando com o DJ, e Tom dançava com a Mônica.

— Está cansada? — olhei sobre meus ombros para o homem atrás de mim, Magnus e eu estávamos sentados no bar, sua mão sobre minha cintura e minha cabeça encostada em seu peito.

Como imaginado, o problema no restaurante era maior do que ele havia deduzido e isso quase causou um alagamento na cozinha de um dos restaurantes. Porém ele havia corrido contra o tempo para chegar antes do final da minha cerimônia e esse simples gesto aqueceu meu coração de algo muito bom.

— Nenhum pouco — o respondi vendo Sara cochichando algo na orelha do DJ.

O que ela está aprontando?

— Eu já disse o quanto você está deslumbrante? — ele murmurou contra minha nuca e senti minha pele esquentar em constrangimento — Você está parecendo um sonho, bom, lindo e inalcançável, só agradeço por ser a minha realidade.

— Você está sendo gentil.

Não fiquei surpresa quando "Dangerous" começou a tocar, e ainda menos surpresa quando Sara apareceu no centro do salão agarrada dançando com o DJ. Minha melhor amiga sabe agitar uma festa como ninguém.

— Estou sendo realista — ele plantou um beijo sobre meus cabelos e apertou levemente minha cintura — O merdinha a nossa frente não notou que você está acompanhada, acho que terei que plantar meu punho na cara dele para que veja.

A mudança de humor me pegou de surpresa e me afastei para poder encarar seus olhos, mas ele apontou com o queixo levemente para a nossa frente. Segui seu olhar e um dos formandos tinha seu olhar sobre nós, mas especificamente em mim, e nem mesmo meu mal senso de observação podia negar o inegável.

— Esqueça isso — tentei amenizar o clima, porém o homem esguio ergueu sua taça em nossa direção e quase me desequilibrei quando Magnus se levantou, mas agarrei sua mão com força — Por favor, é a minha noite — usei de seu amor por mim como arma e quando achei que não havia funcionado ele agarrou meu pescoço.

Surpresa e ansiedade tomou conta de mim quando ele se curvou e me puxou para si, nossas bocas se encontraram, necessitadas e apaixonadas. Sua língua se esfregou na minha sem pudor algum enquanto seus dedos se enfiaram em meus cabelos, forçando uma leve pressão.

Eu não queria nem imaginar o que as pessoas que nos viam poderiam estar imaginando, e particularmente tendo o toque e o cheiro do homem à minha frente tão perto, ficava até difícil pensar.

— Eu nunca estragaria a sua noite — ele murmurou quando separou nossos lábios, mas não se afastou — Sabe que não tenho problemas que olhem, mas ele me pareceu ousado demais. Desculpe, estou aprendendo a lidar com ciúmes.

Ele segurou meu rosto entre suas mãos e sorri, esse era seu gesto involuntário que tenho certeza que ele ainda não havia notado, mas já era meu lar perfeito.

— Eu amo você — ergui ainda mais minha cabeça para beijá-lo e depois agarrei sua mão — Essa festa já deu pra mim.

Sai o puxando pela mão, pela minha visão periférica notei o rapaz que tinha um olhar desdenhoso e tinha certeza que Magnus estava orgulhoso de si, ele não me tocava tão intimamente em público sem um propósito.

Do lado de fora do salão tirei meus saltos e ergui a barra do vestido.

— Podemos caminhar um pouco? — sugeri, mas seus olhos estavam em meus pés descalços na calçada.

— Isso é necessário, senhorita Mc'Dan? — havia repreensão, mas ainda sim ele me mostrou novamente que era minha escolha certa quando tomou os saltos da minha mão, e com o outro braço tomou o meu, nos conduzindo para o central Park.

— Eu acho que nunca estive tão feliz em toda a minha vida, sou boba demais por isso? — ergui a cabeça para encará-lo, mas ele tinha seu olhar para frente.

— Nenhum pouco, e estou muito orgulhoso de você.

Um silêncio confortável se instalou entre nós dois, a rua não estava tão deserta quanto se esperava para altas horas da noite. Eu só podia estar louca por andar descalça pelas ruas, mas eu queria uma pequena loucura essa noite, além de que os saltos haviam machucado meus dedinhos.

— Eu comprei um presente de formatura — Magnus soltou depois de um tempo, e eu parei para que pudesse olhá-lo.

— Presente? — desconfiei.

— Não me olhe assim — ele sorriu de canto — Eu comprei quando estava indo para a formatura, me senti culpado por não ter comprado nada para você. É algo simples, adianto logo.

— Você não pre...

Ele ergueu uma sobrancelha, eu conhecia aquela expressão, intensa e determinada.

Não a conversa sobre.

— E o que é?

— Está no meu carro — ele apontou com o queixo de volta ao evento.

[...]

Meu corpo foi abraçado por trás quando chegamos a residência do meu namorado, eu praticamente já morava aqui só faltava aceitar, o que não estava nos meus planos presentes.

— Estou muito curiosa — disse enquanto ele nos conduzia para seu quarto, tropecei no meu vestido e tive uma crise histérica de risos quando quase nos esborrachamos no chão, mas por sorte Magnus foi mais ágil e nos aparou.

— Esse vestido — ele se juntou a mim na risada, algo que aqueceu meu coração. Era algo raro de se ver, e mesmo que isso pudesse custar algo quebrado, fico feliz que tenha sido causado por mim.

O vestido era azul e dourado, com traços indianos que me emocionaram quando vi. Eu nunca sequer havia pisado na Índia alguma vez, e não seguia sua cultura, mas quando mais jovem escutava muitas histórias que me fascinavam até hoje. A vestimenta possuía as costas nuas, cobertas por um tule delicado e pedrarias na parte da cintura.

— Você ficou deslumbrante nele, sempre fiquei curioso para saber como você ficaria vestida em um saree — Magnus desabotoou sua camiseta amassada e lhe dei as costas, me encarando no espelho gigante do seu quarto — E minha mente não me sabotou, você fica perfeita.

Sorri constrangida, e ele voltou a me abraçar. Mas dessa vez tinha a caixa de veludo em mãos, ele havia se negado a me deixar abrir no carro.

— Posso abrir agora? — apontei para a caixa e ele afastou os cabelos do meu ombro esquerdo para apoiar seu queixo ali. Ele ergueu as mãos na frente do meu corpo, e abriu em minha frente.

— É algo comum e simples, mas gosto do significado, quero que guarde seus melhores momentos aqui — o homem robusto atrás de mim parecia envergonhado enquanto me deixava tocar a peça prateada dentro da caixa.

Não consegui responder de imediato, encantada demais pela pequena pulseira para berloques. Era sim algo comum. Mas simples jamais, ainda mais porque já havia três berloques presos a ela. Uma flecha, um par de asas e uma maçã.

— O que significam? — toquei com ansiedade as pequenas miniaturas e quando ele demorou para me responder o encarei através do espelho — Magnus?

Invés de me responder ele me virou de frente, agora estávamos cara a cara e ele tocou meu rosto, gentil e ansioso. Seus olhos azuis pareciam ainda mais brilhantes essa noite e eu não conseguia não encará-los, sempre os buscando para onde quer que eu olhasse.

— Eu tomei a liberdade de adicionar três momentos bastante importantes na sua vida, assimilei isso porque foram os mais importantes na minha — ele tocou o zíper lateral do meu vestido, e começou a deslizar devagar — Eu me encantei por você desde a primeira vez que nos vimos, e dizem que o cupido é responsável pelos amores à primeira vista — agora o constrangimento estava literalmente ali.

— A flecha do cupido — assumi em um sorriso largo demais e ele assentiu.

— Você já era minha antes mesmo de me dizer sim — ele roubou meu fôlego quando me puxou para si e empurrou meu vestido pela minha cintura — Mas não posso negar que fiquei aliviado em ver a palavra sair da sua boca, foi como um desejo se realizando, um milagre que eu desejava com todas as minhas forças.

— Um anjo — completei sobre as asas e novamente ele acenou.

— E hoje, você sempre esteve obstinada sobre o seu futuro, acompanhei como um fã louco as últimas semanas das suas provas, focada, inteligente pra porra. A melhor nutricionista que o mundo terá, sei disso.

— Por isso a maçã verde — apoiei minhas mãos em seu peito nu, acariciando os pêlos ali, sentindo lágrimas de muita felicidade quererem abandonar meus olhos, mas as pisquei para longe — Eu não poderia ter ganhado presente melhor, muito obrigada — O beijei — E sim, esses são os melhores momentos da minha vida — murmurei contra seus lábios.

— Pensei em colocar um chicote, mas você não teria todo o descaramento de explicar para as pessoas o significado — ri, não querendo nem pensar na situação.

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