Capítulo 44
Olhei com desdém para o colar sobre a mesa da lanchonete. Sara estava focada demais em mim, e Tom focado demais nas fotos tiradas para o jornal, eu não podia lhe julgar, o supervisor dele parecia um cachorro sempre no seu cangote, tudo tinha que estar perfeito.
Faltava duas semanas para a formatura e eu mal conseguia acreditar que havia sobrevivido a vida de universitária sem ficar careca, Tom entregaria seu último trabalho do estágio e eu tinha certeza que seria contratado após a entrega do diploma. E eu? Andava pior que um urso panda, cheia de olheiras, o pobrezinho do meu cabelo com certeza não lembra o que é um pente. Meu trabalho de conclusão de curso drenou qualquer vestígio de energia que eu possuísse. Minha casa estava uma verdadeira bagunça de papéis e livros, e minha geladeira entupida de marmitas prontas.
Eva havia passado o último sábado comigo e mal aguentou uma hora de monotonia, eu queria lhe dar toda a atenção do mundo e brincar, mas meu cérebro estava focado no documento no meu notebook. Meu pequeno projeto de nutrição escolar diferente do que pensei estava ficando incrível, crianças e alimentação, universitários ultra atarefados e alimentação, será que eu precisava dizer mais alguma coisa? Foi difícil conseguir os acessos de serviço de saúde, e dados técnicos nutricionais já que os dados conseguidos no site eram antigos e eu precisava de um mais recente. Mas tendo um estagiário no maior jornal da cidade eu desenrolei isso.
Eu só tinha que finalizar minha conclusão para entregar amanhã e com a formatura planejava dormir pelo resto da minha vida...no mínimo.
— O que você vai fazer com ele? — Sara perguntou enfiando o famoso bolinho de nozes na boca.
O colar sobre a mesa havia sido entregue na farmácia, direcionado a mim. O pequeno bilhete dizia "como não poderei estar presente no dia da formatura, espero que esteja com algo meu. Com amor, mamãe".
Amor, mamãe...amor, mamãe.
Quase tive um colapso e joguei a caixa aveludada pela janela, mas não teria dinheiro para pagar a vidraçaria da farmácia. Amor e mamãe não são palavras que devam ser usadas pela Emy, qual a grande dificuldade que ela tem em entender que não faz parte das nossas vidas? Da minha vida.
— Quer para você? — sugeri, era uma gargantilha de ouro, com um pingente de rubi cravejado. Segundo a especialista em jóias, também conhecida como Sara, a peça é totalmente verdadeira.
— Claro que não — ela me olhou como se eu tivesse acabado de lhe ofender — Sabe-se lá as feitiçarias que tem nesse negócio.
— Sara! — Tom quase caiu da cadeira alta quando seu corpo balançou em uma risada escandalosa e eu o olhei sugestiva — Nem vem, concordo com ela — ele apontou sua caneta para a loira ao meu lado.
— Não tenho o endereço dela, como posso mandar devolver? — suspirei, e apoiei minha cabeça na mesa — Preciso de energético, cafeína, e todas as drogas existentes para conseguir levantar desse banco.
Um mês e meio havia se passado desde minha última visita a dona Luna, ela nos convidou novamente mas ando arrumando desculpas, ela pegou o filho dela com a boca em mim, literalmente, como posso encará-la? No episódio foi um grande sacrifício para que eu conseguisse sair daquele quarto, mas Magnus ameaçou me levar nos braços, o que só teria piorado a situação.
— Um café serve? — Thomas sugeriu e eu assenti, meu cabelo estava preso em um coque baixo todo mal feito já que meu cabelo passava longe de hidratado.
— Você terminou seu trabalho?
— Já entreguei até, só estou finalizando as fotos para o jornal e estarei livre — ele sorriu tão verdadeiro que senti um ânimo me invadir, por mais pequeno que fosse — E depois?
— Festa — Sara completou movendo os ombros.
— A Mônica quer aproveitar para que eu possa ir conhecer a família dela no interior — assenti, finalmente ele havia durado mais que dois meses com alguém, e eu estava feliz pelo casal.
— Meu horário de almoço acabou — suspirei e agarrei o copo de café que havia acabado de ser posto na mesa pelo garçom, lhe agradeci e me ergui agarrando minha bolsa que pesava tonelada com os livros que eu andava para cima e para baixo. — Vejo vocês a noite?
— Pode contar com isso — os dois disseram em uníssono e eu saí da lanchonete.
Em plena quarta-feira e meu corpo já pedia arrego, Sara e Thomas tem ido me buscar na faculdade e depois passamos para buscar a Mônica no trabalho dela. Como organizadora de eventos, é normal ela sair tarde.
Meu celular tocou e sorri sem nem ao menos me dar o trabalho de ver quem era.
Sempre tão pontual.
— Já almoçou? — a voz grossa sendo encoberta por outras vozes em movimento soou.
— Sim, estou voltando para o trabalho.
Com a faculdade e as férias chegando eu e Magnus não estamos passando tanto tempo juntos como antes, o que não posso negar, me entristece. Assim como no meu aniversário a alguns meses, ele me surpreendeu com um jantar de um ano de namoro a duas semanas. Se estamos namorando há um ano? Não, mas segundo ele eu sou a mulher da sua vida desde do dia que ele me conheceu. O que eu realmente não consigo discordar, já que as coisas mudaram muito dentro de um ano.
— Tem certeza que não quer que eu vá te buscar hoje? — ele insistiu na sua pergunta diária.
O assunto Morgana havia sido deletado da minha cabeça, mas aparentemente não dá dele. Quero pensar que com o julgamento e prisão de 5 anos do Enrico ela vá se manter longe de nós, melhor, eu tenho que pensar nisso se não perderia meu juízo.
— Você só sai de madrugada do restaurante Magnus, não quero que fique saindo para ir me buscar, eu estou bem, é sério.
— Não é isso que seu rosto de panda diz — ri, atravessando a rua.
— Termino minha conclusão hoje.
— E depois será toda minha?
Santo Deus...
— Eu já não sou? — provoquei e um grunhido do outro lado elevou meu ânimo rapidinho.
Ok, talvez ainda reste um pouco de energia.
— O que você é?
— Sua
— Repete — não era um pedido, era uma ordem, e eu mal podia acreditar que estava subindo pelas paredes em plena avenida.
— Eu sou toda sua.
— Tenho que desligar antes que largue tudo e vá buscar você agora mesmo, amo você.
A ligação foi interrompida e sorri feito uma idiota para o celular em mãos, meu humor de velha rabugenta a adolescente apaixonada estava bem presente no momento. Porém não demorou muito para que meu celular vibrasse com uma mensagem, mas resolvi ver somente quando chegasse na farmácia.
— Boa tarde — cumprimentei meu chefe enquanto abria a farmácia e entrei para colocar minha bolsa no armário.
Agarrada ao meu celular sentei próxima ao balcão e uma escolha nunca havia sido tão inteligente, dei glória por está sentada quando abri a mensagem pois quando meus olhos deslizaram pelo pequeno texto minhas pernas viraram gelatinas.
"A próxima vez que você disser que é toda minha espero tê-la de joelhos aos meus pés, comigo até sua garganta e seus olhos bonitos me implorando para ser fodida
Do homem que te ama, seu senhor."
— Está tudo bem Corine? — meu chefe perguntou e eu o olhei perdida — Parece com falta de ar.
— É o calor — sorri desligando meu celular.
Ele leva a brincadeira realmente a sério.
[...]
Liberada um pouco mais cedo, consegui devolver os livros para a biblioteca quando dei início a minha conclusão. A bibliotecária era uma senhora na casa dos 50, que aparentemente odeia alunos e qualquer coisa que se mova.
Desci as escadarias da faculdade, e me sentei no último degrau, como um ótimo motorista Tom havia esquecido de abastecer o carro e eles se atrasaram. Mas estava tranquilo, a lanchonete em frente estava aberta, e alguns alunos estavam usando a biblioteca para o ódio da bibliotecária. Meu cabelo estava com a trança lateral para disfarçar a palha em que se encontrava e eu estava com o básico jeans e blusa de tricô, em parte porque metade do meu guarda roupa se encontrava no cesto já que ainda não tive tempo de lavar roupa essa semana.
— Corine — uma voz doce soou atrás de mim e pela segunda vez no dia fiquei feliz por está sentada.
A mulher ruiva que apesar de bonita, tinha uma aparência sombria a primeira vez que a vi estava diferente. Seu cabelo estava mais brilhoso, seus olhos passivos e afetuosos e ela tinha um sorriso verdadeiro nos lábios. Olhei duas vezes para os lados à procura de uma câmera, não podia ser a mesma pessoa.
— Kimberly? — ainda estava incerta, ela tinha a cara da ex submissa do Magnus, mas ainda não parecia a ex submissa do Magnus. A mesma mulher que me deixou transbordando de pavor no banheiro da Sra. Campbell.
— Oi, quanto tempo — meu corpo travou quando com um sorriso ela se aproximou e apertou meu corpo contra si.
Por breves segundos havia esquecido como se respirava e quando retomei a consciência meu pulmões agradeceram e eu delicadamente me afastei do abraço. Ainda surpresa, encarei novamente a mulher à minha frente, alguns centímetros mais alta que eu e com o logo de uma perfumaria que eu conhecia muito bem. A loja da Sabina, que não ficava tão longe daqui.
— É, quanto tempo, você está — procurei a palavra certa — diferente, muito diferente.
— Diferente da louca que gritou com você e estava te culpando pelo o Magnus não me querer mais? — ela sugeriu com um meio sorriso e eu estava começando a achar que esse prédio é amaldiçoado, só acontece coisas estranhas na porta.
— É, diferente dela...
— E eu só tenho a agradecer ao Magnus e a senhora Campbell, ele pediu que ela me ajudasse depois do que aconteceu no nosso último encontro. Então eu estou fazendo terapia desde então, e até consegui um emprego — ela apontou para o logo em sua blusa como se fosse a melhor coisa do mundo e não teve como não sorrir.
— Isso é muito bom, fico feliz por você. — e era verdade, eu particularmente surtei com o Magnus depois daquele jantar, eu não queria ficar do jeito que a mulher a minha frente estava.
— Obrigada, ele foi a minha casa depois daquela noite — foi é? — Ele sempre foi apaixonado por você, não queria que eu estragasse isso aparecendo para te perturbar. Ele me pediu para voltar com a minha antiga psicóloga, que ficasse bem, que esquecesse ele porque você era o presente e o futuro que ele queria.
Novamente fui atingida por mais surpresas, ele disse a ela tudo isso? Ele não é o tipo de homem que anda por aí se abrindo com as pessoas, expondo seus sentimentos ou problemas.
— Claro que eu ainda sim culpava você, eu estava totalmente fora de mim. Mas ele me ajudou com isso, e foi na minha primeira sessão comigo, conservou com a psicóloga sobre os meus problemas e aquela foi a última vez que eu vi ele, o que foi bom. A senhora Campbell me acompanhou nos primeiros meses, mas agora eu não perco uma sessão e vou sozinha, eu estou bem melhor — orgulho brilhou em seu rosto e me senti quase emocionada. Ela era muito jovem para se perder por causa de um término, por mais que não houvesse amor, havia algo forte e intenso, e mesmo que isso me cause uma pitada de ciúmes é fato que antes de mim vieram outras pessoas e elas foram importantes ou marcaram o homem que eu amo.
— Eu realmente não sei o que dizer, só estou contente que você esteja se tratando e que esteja retomando a sua vida.
— Sim — ela se aproximou alguns passos como se fosse me contar um segredo e eu fiquei alerta — A Morgana ou o Enrico procuraram você?
— O que você sabe deles? — ergui a sobrancelha. — O Enrico foi preso, vai ficar na cadeia por 5 anos, e ainda sim porquê eu não quis registrar queixa pela tentativa de assassinato.
— O que? O Enrico tentou matar você? Porquê você não o denunciou?
— Porque ele está como você já foi — minhas palavras pareceram atingir-lá e fiquei em dúvidas se deveria pedir desculpas, até que ela assentiu.
— Eles me procuraram duas vezes depois do que aconteceu, na verdade eu só fui naquele jantar porque a Morgana me disse que você estaria lá. Ela queria minha ajuda para me livrar de você, ela achava que minha obsessão pelo Magnus chegava a tanto.
— E não chegava? — não consegui controlar minha língua.
— Chegava, mas eu não poderia viver com aquilo, eu contei a minha médica e ela me pediu para passar um tempo na casa dos meus pais, eles moram na Filadélfia. Ficar longe do caos que estava minha vida seria bom, mantivemos as consultas online e eu retornei recentemente. Se eu estava obcecada pelo Magnus, ela está obcecada por você... você deveria tomar cuidado.
Morgana de novo.
— Eu estou tomando, não se preocupe.
— Foi bom rever você — ela sorriu e novamente me abraçou se despedindo.
Ainda não decidi se foi bom rever você.
Suspirando apertei minha bolsa, estava feliz por ela estar bem, mas novamente minha cabeça começou a girar em torno da Morgana.
Uma buzina alta me fez olhar para o final da rua onde Tom vinha com seu carro e Sara com a cara na janela.
— Vamos, vamos que temos que fazer mais ajustes no seu vestido essa madrugada.
Gemi em frustração, Sara me obrigou a aceitar que ela fosse minha estilista para o meu vestido da formatura. Quando na verdade eu só iria comprar um pretinho básico.
— Vamos lá Corine, alegria!
Quem é viva sempre aparece. Me perdoem por um mês sumida, nunca achei que me tornaria a odiada escritora que atualiza um dia e some por um mês...mas é a vida.
Com finalmente, oh glória! Minha vida organizada, Clímax voltará a ser atualizado semanalmente a partir de domingo. E não é por ser meu livro não, mas se eu fosse vocês eu não perderia por nada o capítulo 45👀.
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