Capítulo 38

———— Caio Mc'Dan ————

Aí praga!

Xingo mentalmente sentindo uma mãozinha agarrar o meu nariz sobre a cama, e as unhas arranharem sem querer a minha pele.

— Sua filha está tentando arrancar o meu belo rosto novamente — toco o braço de Sabina por baixo do cobertor, porém ela não se move.

Contrariado abro os olhos me deparando com o pequeno trambolho loiro em cima de mim. Eva está com os olhos avelã marejados, e com seu cachorro de pelúcia por baixo do braço.

— O que houve? — tiro sua mão do meu rosto — Pesadelo de novo? — a pego nos braços levantando da cama. Não pude culpar minha esposa por não acordar, ela havia tido um dia cheio na perfumaria.

Para não interromper seu sono, caminhei com Eva agarrada ao meu pescoço até o seu quarto. Não sei como ela conseguia dormir em meio a tantos ursos de pelúcia, por mais que a culpa fosse minha, eu não conseguia passar por um lugar e ver algo do tipo e não lembrar dela.

— O lobo mau — ela se aconchega no meu peito quando sento sobre sua cama.

— E o que o papai já te disse sobre ele? — papai...eu sentia essa responsabilidade sim sobre a pequena, mas ainda era difícil receber esse título levando em consideração que ela é minha irmã.

— Que você o mataria, e faria pantufas para mim — ri, que Sabina nunca descubra essa história.

— Exatamente, não há com o que se preocupar pequena. Não é como se eu fosse permitir qualquer um encostar em você.

— Promessa de dedinho? — ela ergueu seu mindinho me fazendo lembrar de Corine, ela que tinha essa mania quando era mais nova.

— Promessa de dedinho — pisco agarrando seu dedo no meu.

Por mais que não estivesse mais assustada ela não me largou nem por um segundo, parecendo sentir a sensação de estar segura, em estar perto de mim. E isso causou uma fisgada de proteção no meu peito, Eva era só uma criança, havíamos comemorado seu aniversário de 3 anos mal fazia um mês, e mesmo assim era mais esperta e inteligente do que muitas pessoas que já ousei conhecer.

Quando sua mão escorregou do meu dedo, e senti sua cabeça pesar ainda mais em meu ombro aproveitei minha deixa. A deitei sobre sua cama, e ajeitei o cobertor sobre seu pequeno corpo. Apaguei as luzes do quarto, deixando apenas o abajur.

Pai, eu pai, quem teria a ousadia de imaginar algo assim?

[...]

O cheiro de bolo de cenoura, e o barulho de televisão ligada me alcançaram enquanto eu descia as escadas arrumando minha roupa. Sabina estava em cima de uma cadeira, procurando algo sobre os armários, enquanto Eva tinha sua atenção no bolo em suas mãos, e no desenho extremamente colorido, com vozes insuportáveis dos personagens animalescos que ela tanto gosta.

Crianças e seus gostos estranhos.

— Papai! — a agarrei quando ela sugeriu pular de sua cadeira de alimentação.

— Está cada vez mais rápida — ela riu orgulhosa de si quando beijei sua bochecha rechonchuda.

— Bom dia amor — Sabina resmungou enquanto ficava na ponta do pé. Ela estava simplesmente linda, como sempre.

Particularmente eu não entendia como a mulher na minha frente só ficava mais bela, desde que nos conhecemos a 8 anos atrás, Sabina parece que nunca esteve em uma má fase. Sempre com o seu sorriso doce, e a gentileza estampada em seu olhar. Raramente a vi brava com algo, e ainda nesses momentos a mulher parecia uma deusa.

Minha deusa.

— O que está procurando aí? — fiquei próximo a seu traseiro avantajado, segurando a cadeira para que ela não caísse, e segurando Eva com o outro braço, que estava preocupada demais com o desfecho dos porquinhos voadores na TV.

— Viu minhas essências de baunilha? — ela me olhou por cima, e me acertou um tapa no braço quando me pegou admirando sua bunda apertada em mais um de seus vestidos floridos, que só ficam bonitos nela — Caio! Preste atenção. — ela riu, o rubor tomando conta de sua face enquanto me repreendia.

— Já disse que você me tenta às vezes? E o quanto seus vestidos são extremamente provocantes? — questionei colocando Eva de volta em sua cadeira, aproximando seu prato.

— Você me diz isso todos os dias.

— É para que você se convença de uma vez — a agarrei a tirando de cima da cadeira. — Estão todos dentro daquela caixa azul que você guarda os corantes.

— Merda! Eu que organizo, e eu mesma esqueço — ela riu contrariada e eu a beijei.

— A Eva — ela me empurrou quando meu aperto em sua cintura se tornou mais firme.

— Eva minha pequena praguinha, você se incomoda do papai beijar a mamãe? — a olhei.

— Não, porque você ama ela. — ela respondeu prontamente.

— Não a chame assim — Sabina revirou os olhos do meu apelido fofo dado a nossa filha a muito tempo.

— Ela disse que eu te amo — a provoquei.

— É porque crianças não mentem — ela piscou, pegando as coisas da pequena em cima da mesa — Estou tão atrasada que por Deus, mal tive tempo de tomar café — ela suspirou pegando as chaves do carro próxima a porta dos fundos.

O pequeno ser loiro, fascinada por bichinhos de pelúcia, teria aula de natação hoje. Eu só permitia isso porque Sabina sempre afirmava o quanto isso era bom para ela, porque se dependesse de mim, nunca que deixaria minha filha entrar em uma piscina daquele tamanho.

— Eu levo ela hoje, assim você tem mais tempo — Eva levantou os bracinhos animada — Quem vai pular nas lombadas com o papai?

— Eu! — ela agarrou seu cachorro de pelúcia inseparável.

— Vocês ainda vão me causar um infarto — Sabina nos beijou enquanto eu saia com a pequena montada em meus ombros.

[...]

Quando recebi a mensagem da minha irmã uma hora antes do horário do almoço, me convidando para almoçar com ela estranhei. Não é como se eu e Corine nos mantivéssemos afastados, o que era até impossível, mas ela sempre preferiu reservar esse horário aos amigos.

Que a Sara não esteja lá!

Estacionei meu carro no lugar reservado aos clientes do restaurante de massas em que combinei com a minha irmã, e desci, a encontrando já na entrada, havia acabado de chegar também.

— Não acredito, me esperou todo esse tempo para abrir a porta para mim? Que gentileza — beijei sua testa.

— Você já está na casa dos 30 anos, quando irá crescer? — ela empurrou a porta, entrando comigo atrás dela.

— 29 não é 30, porque está querendo me fazer ficar velho antes do tempo? — ela escolheu uma mesa mais reservada e estranhei.

Primeiro o fato do restaurante, ela sempre preferiu lanchonetes. Principalmente a perto do metrô, conhecida pelos seus sucos naturais e sanduíches saudáveis, e o famoso bolinho de nozes. E segundo a mesa mais afastada, ela sempre preferiu as de perto da entrada, seguindo a ideologia de que em um assalto ou incêndio ela teria mais chances de fugir.

— Não me diga que vamos novamente ter uma conversa constrangedora sobre seu namoradinho. — Cruzei as mãos sobre a mesa erguendo uma sobrancelha.

Eu estava feliz por ela, é óbvio que sim, eu podia ver a forma que seus olhos brilhavam ao falar do bombadão. Na verdade, sempre soube no que suas saídas com ele resultaria, só ela que parecia não perceber. Os apaixonados são sempre os últimos a perceberem.

Mas ainda assim eu ainda a enxergava como o bebezinho que sempre protegi, a menininha que era apaixonada pelas tranças horrorosas que eu fazia em seus cabelos. O quanto amava quando eu a levava para escola, e das nossas conversas sobre seus exs namorados metidos a bosta de esgoto, o quão eu até hoje não sei como ela me convenceu a não esmagar suas bolas com meu taco de beisebol.

Sou contra violência, mas tudo tem um limite, mexer com as minhas meninas é um pouco demais.

— Não é sobre o Magnus — ela colocou a mão sobre sua aliança de namoro — Porque não me contou que a mamãe te procurou antes do casamento? Porquê não me disse que ela queria falar comigo? — seus olhos escuros me analisaram, louca para me pegar na mentira.

Meu bom humor diário sumiu com sua pergunta descabida, até falar sobre o armário teria sido mais agradável.

— A Emy — a corrigi, mãe era uma palavra muito forte — Teria mudado algo? Porquê isso agora? — eu não estava sorrindo, e isso a deixou ainda mais nervosa.

— Ela me procurou — a ponta de suas orelhas estavam começando a ficar vermelhas, e era assim que eu estava enxergando.

Que maldição eu teria que fazer para aquela mulher entender que não a queremos?

Encarei minha pequena gnomo, eu sei o quanto ela queria esse reencontro, e as diversas teorias de conspiração que ela montava em sua cabeça. Tudo para não admitir o óbvio, Emy havia escolhido abandonar uma vida por outra, e nesse meio tempo não se importou com ninguém além de si mesma.

— O que ela queria? — não havíamos pedido ainda, graças ao restaurante um pouco cheio, então me contentei em beber a água em minha taça.

— Ela não pediu desculpas, não perguntou da Eva. — não havia sido a resposta para a minha pergunta, mas ela havia me dado bem mais.

— Porquê ela não se importa Corine, porquê é tão difícil para você entender isso de uma vez? Ninguém a arrastou, ela foi com as próprias perninhas, entenda de uma vez por todas! — acabo me alterando, e isso me faz me amaldiçoar. A culpa não era dela, respirando fundo peguei sua mão — Somos nós três contra o mundo, lembra?

— Estou procurando um apartamento — ela mudou de assunto, e agradeci por isso.

— Do jeito que as coisas andam, achei que já estivesse morando com o cozinheiro — a provoquei, retomando meu humor diário.

— Apesar dele não ser tão lento quanto você — ela rebateu minha provocação, me fazendo sorrir — Não vou morar com ele, apenas não quero ficar naquela casa.

A encarei, eu sabia muito bem o porquê, e se aquele bêbado vagabundo ousasse encostar nela mais uma vez, que Deus me banhasse de paciência, porque eu não responderia por mim.

— Sabe muito bem que a minha casa, sem...

— Ah, nem termine — ela riu — Você é um homem casado agora, Sabina não pode descobrir o qual você é implicante com a sua irmã.

— Eu sou? — dei um peteleco em sua testa e ela chutou minha perna por baixo da mesa.

Era bom ver que o reencontro com a Emy não havia a quebrado como sempre temia que acontecesse. E o fato dela querer se mudar é algo que eu mais que agradeço, e que vou ajudar, não confio nela sozinha naquela casa.

O almoço havia se passado tranquilamente entre risadas, e minhas provocações com o pequeno gnomo. Eu sentia falta de sua presença diária, mas é assim quando crescemos, as coisas uma hora mudam, a única coisa que nunca mudaria é o meu amor por ela. Isso nunca, eu e minha irmã estávamos bem próximos de ter aquela ligação de gêmeos, por mais que não sejamos.

[...]

— Adivinha a beldade que chegou? — sorri aparecendo na cozinha, aonde minhas meninas estavam.

— Papai! — Eva correu para abraçar minhas pernas.

— Mais um desenho? — questionei, e Sabina abraçou meu quadril, beijando meu pescoço.

— Ela tem o mesmo talento para pintura que você — a olhei sobre os ombros, enquanto Eva explicava sua obra.

— Não entendi se isso foi um elogio ou ofensa — me fiz de rogado.

Eu sou péssimo com pintura.

— Me parece feliz — ela disse enquanto eu colocava Eva sentada em meu colo, agarrando suas tintas.

— Está tão óbvio? — questionei.

— Com certeza — ela riu — Deixe-me adivinhar, conversou com a Corine sobre a mãe de vocês? — ela perguntou sentando a nossa frente na mesa da cozinha, e agarrando os outros lápis da pequena.

— Quando minha esposa se transformou nessa vidente? — ela colocou uma mecha de seu cabelo loiro atrás da orelha, antes de seus olhos oliva me capturarem com seriedade.

— Conheço perfeitamente o homem que está ao meu lado, para saber o quanto você estava perturbado com essa história. E principalmente com a reação da Corine.

— Ela reagiu melhor do que imaginei — assumi, segurando a mão de Eva sobre a minha, para que ela fizesse um arco íris na tela.

— Porque ela amadureceu bastante, não é mais sua menininha.

— Precisa me dar esse banho de água fria amor? — me fiz de ofendido, e ela piscou.

— As vezes é necessário — assenti, porque ela tinha razão — Fiz torta de abacaxi. — os pequenos olhos se iluminaram intensos enquanto suas bochechas ganham um rubor excitante.

— E depois eu que sou o pervertido da casa — a provoquei recebendo um dar de ombros provocante.

Isso era algo que valia a pena, esses momentos, essas pessoas, minha gnomo, e eu sempre faria tudo para vê-las bem, e felizes. E por Deus, tudo mesmo.

Um bônus do nosso amado Caio.

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