Capítulo 01

— Senhor, entenda, eu realmente gostaria de lhe ajudar. Porém sem a receita do seu médico, eu não posso. — tento mais uma vez explicar ao senhor de idade algo que já repeti mais de 5 vezes.

— E por que não!?, Olha aqui mocinha, eu preciso desse remédio, o meu coração precisa. — ele se altera, e me controlo para não revirar os olhos.

Precisa tanto que nem a receita do médico se dispôs a trazer!

Vá para casa, traga a receita, e não terei o menor problema em lhe vender, entende? — forço um sorriso, e me assusto quando ele bate forte sua bengala no chão.

— Eu nunca mais volto a essa espelunca! — ele me dá as costas, e lhe dou dedo.

— Que se foda você e seu remédio então! — murmuro para mim mesma, porém sou pega de surpresa quando meu chefe surge do além atrás de mim.

— Isso é jeito de tratar os clientes? — ele semicerra os olhos para mim.

— Desculpe senhor, é que o homem estava insistindo na compra de um remédio sem receita. — lhe explico morrendo de vergonha, e quando tento me aproximar, acabo batendo meu dedinho no pé da cadeira. — Porra!

— Que tipo de remédio? — meu chefe nem se importa se quebrei os dedos.

— Para o coração. — trinco os dentes de raiva.

Essa quinta feira não estava dando para mim. Quase perdi o metrô, um cachorro tentou me pegar na rua, o universo parece que havia decidido que iria foder comigo hoje.

— Bem, realmente, sem receita não dá. Mas manere seu linguajar, okay? — ele questiona, e entra de volta para sua mini sala, que mais parece um cubículo, sem me dar a oportunidade de responder.

Vá se ferrar você também!

— Inferno! — Praguejo quando sem querer esbarro na minha xícara de café, despejando o líquido quente sobre todo o balcão da farmácia.

Eu desisto de entender o que o mundo tem contra mim!

— O mundo não Corine, o universo! — murmuro sozinha pegando o espanador embaixo do balcão caminhando até às prateleiras de remédios.

Pelo menos eu dei sorte, hoje não era dia de checar o depósito, nem fazer o balanceamento de medicamentos nas prateleiras.

É, talvez eu só esteja sendo dramática.

[...]

Corro pelo corredor, sendo repreendida pela mulher que limpava o chão próximo aos banheiros da universidade.

— Desculpe! — peço não me virando para olha-lá.

E quando chego no mural, no fim do corredor meus ombros sem encolhem.

Isso vai demorar!

E aqui estava eu, tentando ao máximo manter meu cabelo preso em um rabo de cavalo. Enquanto as pessoas só faltavam se estapear para saber a nota que tiraram no teste surpresa.

— Já conseguiu ver? — Thomas, meu amigo que estuda jornalismo questiona se aproximando de mim.

— Eu até estou tentando, não é? — aponto para as pessoas que não paravam de chegar.

— Tinha esquecido o tanto de cursos que tem nesse andar. — ele rir da minha expressão de desagrado. — Eu e a Sara vamos te esperar na lanchonete, tá bom? Boa sorte ai! — ele da dois tapinhas no meu ombro me fazendo olhar emburrada para ele.

Obrigada, vou precisar.

Vendo que aquelas pessoas não sairiam tão cedo dali, me abaixo passando pelas pernas das pessoas. Levando chute? Sim, sentindo fedor de chulé? Sim, porém consigo finalmente olhar minha nota.

— Isso, obrigada meu Deus! Eu sabia que esse dia do cão, seria abençoado com uma noite celestial. — comemoro sozinha enquanto levo empurrões.

Faltava apenas um ano para eu me formar em nutrição. E eu não dava vacilo na faculdade, foi incrivelmente difícil, quase impossível conseguir uma bolsa aqui, e eu não daria a mancada de ficar com notas baixas.

Não mesmo!

[...]

— Parabéns Corine, você mereceu, estudou muito para conseguir essa nota. — Sara me abraça quando conto minha pontuação.

— Não foi bem estudar, já que foi um teste surpresa, não é? — brinco com ela. — E vocês? Quanto tiraram?

— Eu fui muito mal, acho que a minha mãe vai me matar quando eu contar a ela. — Thomas coloca a cabeça na mesa, dramatizando a situação.

— O que é isso Tom? Você é um dos melhores alunos de jornalismo que essa faculdade já teve. Não é uma nota ruim que vai estragar tudo. Além do mais, foi um teste surpresa, acho que não vale tanto assim. — tento anima-ló.

— Tem certeza? Afinal eles deram nota. — Sara sorri sem graça para Thomas que bufa.

— Mas bem, você vai tirar uma nota melhor nas provas, tenho certeza. — digo e Sara assenti. — e você? Quanto tirou?. — Sara está no último ano em Moda.

— Olha isso. — ela mostra a foto que tirou do mural no segundo andar.

— Mentira!, Meu Deus, você foi excelente! — levanto para poder abraça-lá.

— É...excelente. — Thomas mexe no bolinho cabisbaixo.

— O que é isso Tom, não está feliz por mim?

— É óbvio que estou, só queria que fossemos nós três a tirar boas notas. — ele entra no abraço coletivo.

Assim como eu, Tom ainda tinha mais um ano de curso. E esse é o último ano da Sara na Universidade. O que me deixa ansiosa pois faltam poucas semanas para os términos das aulas, e eu espero que minhas notas não tenham sido umas das piores.

[...]

A quinta-feira havia sido de matar, porém nada era mais desgastante do que encontrar meu irmão deitado no sofá com Eva no colo.

— Ei, cheguei, vamos acordando? — dou tapinhas no seu rosto, e ele acorda assustado.

— Que horas você voltou? — ele questiona, e eu pego a menina de dois anos de seu colo.

— Agorinha, pode ir dormir, eu coloco ela na cama.

— Olha que vou aceitar. — ele beija minha testa, caminhando para o seu quarto.

— Caio?

— Hum?

— Ele não está, não é? — questiono e vejo o pesar em seus olhos.

— Não precisamos dele, lembra? Somos nós três contra o mundo. — ele me dá as costas caminhando para o seu quarto.

É, nós três.

Olho para Eva no meu colo, ela havia puxado os cabelos loiros do nosso pai, e os olhos negros da mamãe.

Éramos só nós três, pois desde que a mamãe resolveu sair de casa depois do nascimento da Eva, nosso pai simplesmente enlouqueceu. Não liga para nenhum de nós três, nem para mim, Eva ou Caio. Seu mundo gira em torno da bebida, é goles atrás de goles.

É o meu irmão que cuida de tudo, Caio tem 28 anos, vai casar daqui a alguns meses. Eu tenho 23, e Eva tem dois, e realmente, somos nós três contra o mundo.

— Não é mesmo Eva? —caminho com ela até o seu quarto, a colocando sobre a cama cercada de travesseiros.

Eu sentia pela pequena, Eva nem ao menos tinha conhecido a mãe, Caio e eu somos tudo o que ela tem.

— E aquela cobra nunca vai chegar perto de você! — beijo sua bochecha gordinha, caminhando até o sofá perto da janela.

Eu não tinha uma vida fácil, não. Porém eu não andava choramingando pelos cantos. A pessoas que não tem absolutamente nada, não tem o que comer, o que vestir, família, e bem...eu tenho tudo!

— Nós temos tudo. — encaro Eva deitada agarrada a seu coelho de pelúcia.

— Ainda acordada? — me assusto com Caio na porta.

— Lhe pergunto o mesmo, você não estava morrendo de sono criatura? — sento tirando meus tênis.

— Até estava, porém quis vim dormir com vocês! — ele diz bocejando e deitando ao lado de Eva.

É, eu tenho tudo!


Banner de capítulo feito pela talentosíssima barbieverena , muito obrigada ❤️.

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