07. o sr. darcy é um esquisitão

Quando o Sr. Henderson grunhiu pela décima vez seguida, Alia ergueu os olhos do livro. Ele suspirou, um pequeno vinco de irritação surgindo entre suas sobrancelhas castanhas.

— Esses... malditos lençóis — reclamou ele, puxando os lençóis de linho para si e reorganizando-os na cama. — Sempre ficando... enrugados... onde não... devem.

Do sofá de couro, Alia fechou o livro, os olhos presos em seu falso namorado. O Sr. Henderson, dono de uma das maiores empresas de comunicação dos Estados Unidos, três vezes vencedor do Prêmio Ernst & Young de Empresário do Ano e ex-namorado de uma modelo internacional estava furioso por conta de lençóis que não ficavam do jeito que ele queria. Com cuidado, ela perguntou:

— Está tudo... bem?

— Sim — respondeu ele, sem erguer a cabeça. Enfiando uma ponta do lençol para baixo do colchão, rebateu: — Por que a pergunta?

— Bem, o senhor está estendendo a cama há uns... 20 minutos.

Quando acordaram — com a barreira de travesseiros intacta, graças a Deus — Alia foi a primeira a tomar uma ducha. Quando ela voltou do banho, ele pediu alguns minutos para terminar de estender a cama, o que ela prontamente cedeu, sentando-se para ler. O único problema era que o Sr. Henderson estava há 20 minutos amaldiçoando os lençóis que, para Alia, estavam perfeitamente estendidos.

O Sr. Henderson ajeitou os lençóis de novo e outra vez, o cenho franzido. Ele olhou para ela de relance.

— E agora você acha que sou maluco.

— Maluco, não — ponderou ela, dando de ombros. — Talvez... obcecado?

— Como você.

— Eu?

— Bem, sou obcecado por camas perfeitamente estendidas e a senhorita é obcecada por Orgulho & Preconceito. — Ele sorriu com o canto dos lábios, alisando os lençóis. Alia ergueu as sobrancelhas antes de virar o rosto para a velha cópia que sempre carregava do livro. — Se não estou enganado, você leu esse livro duas vezes somente no mês passado.

Ele estava errado, mas ela não o corrigiu. Alia lera o livro três vezes no último mês. Com uma expressão de desafio, ela disse:

— É um ótimo livro.

— Não nego. — Ele grunhiu para os lençóis. — Mas o final foi terrível. Elizabeth se casar com Darcy foi uma desgraça.

— Pera aí, o quê...?

As sobrancelhas de Alia se uniram, mas o Sr. Henderson deu de ombros, mais preocupado com os lençóis amarrotados do que com a careta dela. Ele olhou de relance para Alia, sem graça com o silêncio chocado.

— Darcy era um esquisitão. Não entendo como uma mulher incrível feito Elizabeth se apaixonaria por ele — explicou o Sr. Henderson, como se pedisse perdão. — Ele a tratou como nada, se meteu nos assuntos de Jane e Bingley e pensou que, só porque era rico, Elizabeth tinha o dever de aceitar a mão dele. Isso sem falar que ele falou mal da família dela. Que tipo de homem faz isso?

Então, quando ela menos esperava, veio o ferimento mortal:

— Acredito que se Elizabeth tivesse se casado com Wickham, ela teria sido mais feliz.

Alia se manteve em silêncio. O Sr. Henderson ajustou uma ponta dos lençóis e suspirou cansado quando a outra se enroscou. Ela riu, talvez com um deboche desnecessário, e perguntou:

— O senhor está me dizendo que Lizzie deveria ter se casado com Wickham, o cara que destruiu a vida da irmã de Darcy? Isso só pode ser brincadeira.

— Confesso que talvez eu esteja sendo um pouco duro. Talvez ela devesse ter ficado sozinha — disse ele. Alia balançou a cabeça. O Sr. Henderson sorriu com o canto dos lábios. — Você concorda que Elizabeth merecia mais do que um homem prepotente e desagradável como marido. O problema é que a senhorita gosta de finais felizes, e isso...

Alia apertou os olhos para ele. O Sr. Henderson era o chefe dela, mas tinha de ouvir uma verdade ou duas. Ela reuniu todo o autocontrole que possuía para não ser rude e disse:

— Ambos cometeram erros, mas se apaixonaram. Acontece. Você nunca julgou alguém e mais tarde descobriu que a pessoa era completamente diferente? Você nunca confessou seu amor de uma maneira esquisita, sem saber o que fazer? — Alia ergueu as sobrancelhas antes que ele respondesse. — Lizzie conhecia os defeitos de Darcy, e ele os dela. Isso é amor. Aceitar o outro e escolher se apaixonar mesmo contra todos os preconceitos e julgamentos.

Ela silenciou ao perceber que não chamava o chefe de senhor. Porém, ainda com o peito ardendo para defender suas personagens preferidas, a língua de Alia foi mais efetiva do que seu embaraço:

— E apesar de Darcy não ser agradável, relaxado e interessante como Wickham, ele é respeitador, constante e tem princípios, além de verdadeiramente se importar com Lizzie. É isso o que todo mundo quer no final. Alguém que se importe. E é por isso que Darcy é uma personagem fascinante. Alguém que se importe.

O Sr. Henderson permaneceu num silêncio chocado, absorvendo a erupção de palavras com as mãos nos lençóis. Alia sentiu o rosto arder. Nunca, em três anos como a secretária dele, ela falara tanto com o chefe, ainda mais sobre personagens de um romance de 200 anos de idade. O coração dela batia furioso quando o Sr. Henderson endireitou a postura e sorriu, fazendo suas covinhas aparecerem.

— Você é realmente apaixonada por esse livro, não?

Sem saber como reagir, ela deu de ombros e sorriu.

— Contra fatos não há argumentos.

— Pode até ser, mas você não me convenceu. — Ele riu, as mãos voltando aos lençóis. — Para mim, a melhor personagem foi e sempre será...

Uma batida na porta engoliu as próximas palavras do Sr. Henderson.

— Bom-dia! — A linda voz de Jane, alta e clara, silenciou cada respiração do quarto. Alia percebeu os ombros do Sr. Henderson se enrijecerem ao lado da cama perfeitamente estendida. Os dois permaneceram em silêncio, mas Jane riu do outro lado da porta. — Vamos lá, Colin! Você pode estender a cama mais tarde!

Alia sabia que era uma piada, mas o Sr. Henderson não riu. Ele suspirou, a ponta de suas orelhas ficando vermelhas enquanto uma expressão triste tomava seu rosto bem barbeado. Com uma careta, ele caminhou lentamente até a porta, mas Alia segurou seu pulso. Recebendo um olhar confuso como resposta, ela engoliu em seco. Preciso fazer alguma coisa.

— Tive uma ideia — disse ela, abrindo a mala que descansava em cima do sofá. Onde estava aquele maldito batom? Alia ergueu uma das mãos e sussurrou: — Não abra a porta.

— Mas, Alia... — Os olhos dele se arregalaram quando ela puxou a blusa do pijama, revelando a parte de cima de seu biquíni azul. — Por que você está tirando a roupa?

Alia ignorou o comentário e, com o batom em mãos, o encarou.

— Me dê sua camiseta. Vamos, Sr. Henderson! — reclamou ela tão logo Jane bateu outra vez. — Não temos tempo para isso!

— Vamos, Colin! Deixe a cama descansar — insistiu a voz risonha de Jane.

— Só um minutinho! — pediu ele, puxando a camiseta pela cabeça.

Tão rápido quanto conseguiu, Alia vestiu a camiseta dele e, segurando o rosto confuso do Sr. Henderson com uma mão, fez marcas de batom com a outra. Desarrumando o cabelo dele com os dedos e espalhando melhor as marcas vermelhas por seu rosto, Alia sorriu para o chefe antes de soltar o rabo de cavalo.

Estavam com a cara do casal apaixonado que recém acorda. Só havia um item faltando.

Alia puxou os lençóis da cama milimetricamente estendida para o chão — causando um gemido de dor no Sr. Henderson — e se virou para ele. Jane bateu outra vez, perguntando Ei, vocês estão aí?

— Escute, só abra quando eu disser, certo? — pediu ela.

Ele assentiu, e ela se escorou na parede. Tomara que isso dê certo. Quando Jane bateu outra vez, Alia fez um sinal para o Sr. Henderson. Ele girou a maçaneta, e antes mesmo que pudesse ver a figura esbelta de Jane, Alia se afastou da parede e o puxou pela nuca para um beijo. Na boca. Como se fossem namorados.

Enquanto beijava o Sr. Henderson, uma infinidade de sentimentos se agitou dentro dela. O beijo propriamente dito não era nem bom nem ruim. Por ter participado do clube de teatro no colégio — e por ter figurado em produções amadoras aqui e ali na faculdade — Alia sabia que um beijo sem significado, um beijo de palco, não precisava ser real. Era apenas ficção, uma maneira de fazer o público suspirar pelos personagens.

Era esquisito se lembrar de que estava beijando a boca do próprio chefe, que não usava nada além de calças de abrigo e meias, e não uma personagem qualquer. Aparentemente o engraçado da ficção era isso; aonde terminava a atuação e aonde começava a realidade?

Ela se afastou, segurando-o pela nuca. O Sr. Henderson piscou, seu rosto corado e os lábios entreabertos encarando-a de volta. Alia engoliu em seco e, perdida naqueles olhos castanhos de Golden Retriever, sorriu sem graça.

— Ah, sinto muito, eu...

Os dois se viraram para Jane ao mesmo tempo. Ao que parecia, haviam se esquecido da presença da modelo ali. Sem graça, Alia se afastou. O Sr. Henderson enrijeceu novamente. Jane deixou os olhos cinzentos passearem pelo corpo dele antes de sorrir sem graça para a cama desarrumada.

— Só quis... só quis avisar que o café-da-manhã está pronto — disse ela. — Sinto muito. Não quis... interromper.

— Obrigado — respondeu ele, apertando a maçaneta. As marcas de batom no rosto bem barbeado do Sr. Henderson eram quase cômicas. Com uma expressão séria, ele arrematou: — Vamos terminar aqui e... e estaremos com você em um minuto.

Com essa frase, ele fechou a porta e se virou para Alia, que ainda estava parada ao seu lado. Os passos de Jane sumiram pelo corredor, e o Sr. Henderson respirou novamente, o rosto alegre e corado como o de um menino. Ainda pensando no beijo esquisito, Alia sorriu.

— Acho que... que conseguimos — murmurou ele, incrédulo. O Sr. Henderson riu para si mesmo, as marcas de batom brilhando em sua mandíbula. — Acho que realmente conseguimos, Alia. Meu Deus. Você foi incrível.

Sem graça, ela sorriu.

— Certo, foi uma boa ideia. Agora vamos descer e...

— Posso... posso estender a cama antes de...

Ela riu.

— O senhor está brincando, não?

Ele não estava.

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Depois de mais 20 minutos — que o Sr. Henderson usou para amaldiçoar e alisar os lençóis perfeitamente estendidos — eles desceram as escadas.

Na cozinha, todos silenciaram quando os dois apareceram, exceto o tio Tom, que continuou rindo e enfiando panquecas na boca antes de convidá-los a se sentar. Alia agradeceu com um gesto de cabeça quando o Sr. Henderson puxou uma cadeira para ela. Do balcão, os olhos cinzentos de Jane pegaram fogo por cima da xícara, mas Alia fingiu não perceber. Aquela manhã já estava agitada demais para seu gosto.

Carol disse algo ao marido, que lia o jornal com as sobrancelhas erguidas. Dylan e May dividiam um prato de morangos, e enquanto Alia puxava uma panqueca para o próprio prato, o tio Tom sorriu, dando um tapinha no ombro do Sr. Henderson.

— A noite foi boa, rapaz?

O Sr. Henderson franziu o cenho quando um silêncio pesado envolveu a cozinha.

— Acredito que sim. Por quê?

— Deve ter sido — disse o tio Tom, acotovelando Rupert, que ergueu os olhos do jornal. — Marcas de batom não aparecem do nada, garoto.

Então Alia viu, exatamente onde a mandíbula encontrava a orelha, uma marca vermelha e vívida de batom. O Sr. Henderson esfregou, espalhando ainda mais a maldita mancha. Alia engoliu as panquecas e tossiu no guardanapo, evitando erguer os olhos para seu chefe e com o pensamento fixo na mãe.

— Você não faz ideia, pai. — Dylan riu, envolvendo os ombros de May com um braço. — Esses dois riram a noite inteira. Tive até de bater na parede. Quem diria que Colin seria um grande garanhão insaciável?

O tio Tom apertou os olhos para o filho. Carol franziu os lábios. Alia teve a horrível sensação de sentir a garganta se fechando debaixo do olhar frio de Jane. O Sr. Henderson, corado como a bandeira da China, estava mais interessado em comer as próprias panquecas do que em oferecer uma resposta.

Após aquela crise de riso no quarto, eles fizeram uma barreira de travesseiros e se desejaram boa-noite, mas o sono não veio tão cedo. Sem nada melhor para fazer, dividiram algumas histórias engraçadas sobre os esquisitões do escritório e riram de casais grudentos como Dylan e May até adormecer. A noite foi boa e, apesar de tudo, Alia não achou tão esquisito assim dividir a cama com o próprio chefe.

Bem, nunca machucou ninguém dividir a cama com um homem gentil e engraçado que cheirava a chá de menta, sabonete e creme barbear.

— Não seja rude, Dylan. — Carol o encarou com uma expressão dura. Ela serviu outra xícara de café a Rupert, que agradeceu com um murmúrio. — Coma suas panquecas e cuide da sua vida, querido.

Alia sorriu agradecida para Carol, tentando não se sentir constrangida debaixo do olhar clínico de Jane. Ainda escorada no balcão, a modelo baixou o rosto com um sorriso contido para a própria xícara. Um breve silêncio preencheu a cozinha.

— Ouça sua tia e cale a boca, rapaz — aconselhou o tio Tom, apontando o garfo para o filho. — Só Deus sabe o que já tivemos de ouvir e ver por causa de você e May.

Dylan deixou um grunhido irritado escapar. May soltou uma risadinha, dando de ombros e apertando a mão do namorado. Jane largou a xícara no balcão e sorriu de maneira contida.

— Chega de deixar todos sem graça. — Ela uniu as mãos como se fosse rezar e encarou Alia. — Deveríamos ir ao centro. Preciso conferir as flores e escolher o bolo.

Da cadeira, o Sr. Henderson apertou o próprio garfo como se a qualquer minuto o objeto fosse se dissolver entre seus dedos. Alia viu mãe e filha conversarem sobre as rosas e o melhor sabor de bolo, quando percebeu quão dolorosa toda aquela situação deveria ser para o Sr. Henderson. Ver sua ex se casando com outro cara deve ser horrível. Sendo que o cara nem está aqui.

— Amor, cheguei!

Ninguém abriu a boca. Os olhos cinzentos de Jane se arregalaram. Com um sorriso verdadeiramente alegre, ela abriu a porta que dava para os fundos da casa para Edward Macklin, seu noivo.

Ele atirou as bagagens no chão e ergueu Jane do chão, girando com ela. Edward usava uma camisa vermelha, jeans e botas. Aquele visual o deixava mais parecido com um lenhador do que com um astro da Fórmula 1, mas o cabelo loiro revolto e o sorriso perfeito no maxilar forte o trazia a ele a essência de todo modelo de cuecas. Ou um deus grego meio hipster.

Com Jane nos braços, sorrindo como o homem mais realizado do mundo, Edward realmente se parecia com um deus, com um rei que reencontra sua rainha. A simetria do casal chegava a ser revoltante; ambos altos, pálidos, lindos, felizes e ricos. O mundo era deles, e não havia nada que alguém dissesse ou fizesse que os convenceria do contrário.

Alia, como todos na cozinha, não conseguia desviar a atenção de Edward e Jane. Todos sorriam, fazendo perguntas e enchendo o lugar com o característico Awww que as pessoas deixam escapar quando encontram um casal apaixonado esbanjando felicidade. Todos ali os amavam. Exceto o Sr. Henderson.

Ele estava sério, focado em cortar as panquecas com a atenção de um monge recluso. Ele cumprimentou Edward com um gesto frio, e fora a cortesia distante, Alia sabia que Edward não receberia nada mais do Sr. Henderson.

— Bem, agora que Ed está aqui — disse Rupert, fechando o jornal —, você não precisa mais de nós, querida.

— Qual é, pai! — Jane riu, um braço ainda ao redor do pescoço de Edward. Seus olhos cinzentos encontraram os castanhos do Sr. Henderson, que trincou a mandíbula. — Adoraríamos ter a companhia de vocês. Quem está comigo?

— Eu estou — disse o Sr. Henderson, limpando a boca no guardanapo. — Nós estamos, na verdade. Eu gostaria de levar Alia à livraria da Sra. Mendez. Tenho certeza que você irá adorar o lugar — disse, se virando para ela.

Ele tinha um daqueles sorrisos no rosto bem barbeado. Um daqueles sorrisos frios e assustadores que o Sr. Henderson costumava lançar a investidores insistentes e pequenas companhias que tentavam tirar vantagem dele nos negócios. Alia assentiu meio sem jeito, limpando a boca no guardanapo.

— Claro, eu... — disse ela, antes que alguém mais percebesse a pequena veia saltando na têmpora do Sr. Henderson. O sorriso falso dele cresceu, e enquanto a tensão aumentava na cozinha, Alia sorriu também. — É claro. Eu adoraria.

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Ele abriu a porta da livraria, e Alia agradeceu com um sorriso. Fora da pequena loja, o sol brilhava num céu azul e sem nuvens, iluminando cada canteiro de flor, árvore e pessoa comprando, tomando sorvete ou rindo nos bancos. Caminhavam lado a lado pela calçada quando ela disse:

— Esse lugar é incrível! Adoro livrarias independentes. — Ela suspirou, segurando a sacola repleta de livros de segunda mão com um sorriso relaxado. — E a Sra. Mendez é muito simpática.

— Eu sabia que você gostaria dela — respondeu o Sr. Henderson, sorrindo de maneira contida e enfiando as mãos nos bolsos do jeans. — A Sra. Mendez é uma ótima pessoa. Ela sempre me liga quando recebe livros novos.

Caminharam em silêncio durante alguns instantes, cada um perdido nos próprios pensamentos. Alia notou, através de pequenos olhares furtivos, que o Sr. Henderson estava triste. Dentro da livraria, foi quase impossível fazê-lo sorrir. Nem os livros que a Sra. Mendez guardou especialmente para ele foram capazes de arrancar um sorriso do Sr. Henderson.

— Essa manhã foi... difícil — disse ela. Ele a encarou, desviando de uma criança que corria pela calçada —, mas não se preocupe. Estamos indo bem, Sr. Henderson.

Ele permaneceu em silêncio, e Alia quase pôde ver sua mente procurando pelas palavras certas.

— Edward é uma lembrança constante de tudo o que não sou — disse ele, erguendo as sobrancelhas. Alia desviou o rosto, de repente ciente da expressão melancólica de seu chefe. — Sou eu quem deveria estar me casando com ela.

Puta merda. Alia engoliu em seco, evitando encarar o rosto triste do Sr. Henderson. Ela parou de caminhar, meio sem saber como reagir. Um homem como ele, que tinha tudo o que alguém poderia querer, não merecia ficar triste daquela maneira.

— Posso pedir uma coisa? — perguntou ele, sem graça. Ela ergueu as sobrancelhas. — Você pode, por favor, me chamar pelo meu primeiro nome e parar de me chamar de... senhor?

— Vai ser difícil. Apesar de tudo o senhor é meu chefe. — Eles voltaram a andar e ela riu, dando de ombros. — Além do mais, se eu começar a usar seu primeiro nome, todos no escritório vão pensar que estamos transando.

— Mas eles já pensam isso, não? — O Sr. Henderson riu, mas tão logo ela franziu o cenho, ele corou, dando de ombros. — Só estou pedindo porque seria difícil explicar à família de Jane os motivos de você me chamar de "Sr. Henderson" sem dizer que é uma espécie de... fetiche sexual entre nós.

— Meu Deus. — Ela riu. — Bem, acho que... você está certo. Prometo tentar. Aliás, o que acha de... algodão-doce?

Ela perguntou quando passaram em frente a uma velha senhora vendendo algodão-doce a criancinhas esfomeadas. O Sr. Henderson estacou no lugar, suas sobrancelhas vincadas.

— Não acredito que você gosta de algodão-doce. Não de verdade.

— Por que não? — Alia riu, alcançando o dinheiro à senhora e escolhendo um algodão-doce azul. — Quer um pouco?

Ela balançou a massa azul e doce diante dele. O Sr. Henderson apertou os olhos.

— Faz anos desde a última vez em que comi um desses.

— Nunca é tarde demais.

Ela puxou um pedaço de algodão-doce com a ponta dos dedos e ofereceu a ele. Hesitante e com um olhar quase desconfiado, o Sr. Henderson aceitou a massa azul que ela lhe estendia. Engolindo com dificuldade, ele sorriu.

— Por que me sinto como um menino de 10 anos?

— Essa é a magia do algodão-doce. E todo esse... açúcar. — Ela riu, mas franziu o cenho quando reconheceu o casal vindo na direção deles. — Ei, aqueles não são Carol e Rupert?

Os pais de Jane pareciam extremamente aliviados ao encontrá-los. Rupert usava um suéter amarelo amarrado sobre os ombros e tinha uma expressão cansada. Carol, por outro lado, segurava o braço do marido e parecia se divertir mais do que o normal.

— Estávamos indo à livraria da Sra. Mendez, querida! — exclamou ela, sorrindo para Alia. — Temos um convite para fazer a vocês.

— Aula de dança para os noivos. — Rupert sorriu como quem pede desculpas. Alia sabia que ele preferiria estar sentado numa confeitaria chique e se empanturrando de bolo do que dançando. Ela também. — Jane havia se esquecido das tais aulas. Sorte a nossa termos passado em frente ao estúdio. O que nos dizem?

— Vamos, queridos! Será tão divertido! — Carol apertou o braço do marido.

Ainda segurando o algodão-doce, Alia trocou um olhar com um Sr. Henderson sério e rígido. Ele não parecia o tipo de cara que sabia dançar. Adeus, meus pobres pés.

— Estaremos logo atrás de vocês. — Alia sorriu para Carol. Quando os pais de Jane guiaram o caminho, Alia tomou o braço do Sr. Henderson e sussurrou: — Prometa que você será gentil com meus pés.

O olhar que o Sr. Henderson lançou de volta foi o suficiente para que um calafrio se grudasse à espinha dela. Com um sorriso sem graça, ele disse:

— Não me faça prometer o impossível, Alia.

E foi então que ela soube que estava perdida.

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