12 | De volta ao Lar

O barulho do motor era algo entediante demais para se ficar ouvindo ecoar por todas as extremidades do carro, aquele silêncio medonho que se espalhava por todo o automóvel era semelhante a um cemitério cheio de faces comovidas com alguma morte a lamentar, aquela cena era tola, completamente patética, não havia nenhuma morte para se doer ou então algo que os impedissem de iniciar sequer um diálogo pelo restante do trajeto, todos pareciam estar estranhos e de certo modo preocupados com algo. Isso fez o coringa confirmar com clareza em sua mente vaga que algo realmente os preocupava ou aquilo tudo nada mais era que um complemento de mais um capítulo de outro drama em suas vivências.

Ajeitando o retrovisor do carro deixando a visão mais ampla para o senhor Yoongi, fez questão de o posicionar mais de uma vez em períodos diferentes tentando ao máximo disfarçar o tédio que dessa vez não tinha como negar, era difícil ignorar tudo ao seu redor já que pela primeira vez e talvez única o motorista encontrava-se pacífico dirigindo seu automóvel de luxo, causando espanto para muitos. Era extremamente necessário construir um canal comunicativo entre eles, aquele silêncio arrepiava todos os pelos do jovem que se enlouquecia a cada minuto que transitava, o relógio possuía o intuito de expor e confirmar sua paranoia que crescia loucamente em sua mente. Era perturbador e estressante demais para um doente mental não se conter, até que a chuva o impedisse de delirar.

Seus olhos semicerrados involuntariamente começaram a se unir, estalos tranquilizantes da chuva que corria pelo trajeto era uma poesia serena que acabou com toda aquela perturbação, as gotículas fazendo leves e fleumáticos barulhos na janela do carro escorriam como uma anestesia percorrendo cada extremidade de seu corpo, a temperatura teve uma drástica mudança fazendo todos começarem a tremer e se aconchegar ainda mais no calor transmitido pelos seus blazers.

Entrelaçando os braços para se manter aquecido, fez-se despertar ao olhar pelo retrovisor de visão periférica o rosto angelical de um garoto que brincava ingenuamente com a chuva, passeava seu dedo indicador pelas janelas fazendo desenhos naquela superfície embaçada e gélida, deixou escapar um sorriso bobo pelo seu motivo de sorrir que seria sempre a mesma pessoa, seu olhar penetrou no de quem amava fazendo ambos sorrirem tímidos até seus dedos se encontrarem perto da região do cinto de segurança, começaram a entrelaçar e a seguir o restante do caminho adormecidos.

— Acho melhor acordarem, estamos quase chegando no prédio. — passando a marcha do carro, o motorista guiou com o volante usando apenas uma das mãos enquanto a outra cutucava o passageiro adormecido a seu lado.

— Estou completamente exausto e meu corpo dói, precisava de um belo cochilo, mesmo não estando nas melhores condições. — bocejou o moreno enquanto fazia agonizantes barulhos com os dedos. — Dormiu bem, amor? — indagou ainda sonolento.

— Melhor que nunca. — despertou o coringa que conversava com seu tom de voz grosso e falhado, bocejou e logo tratou de ajeitar seus cabelos que estavam bagunçados.

O Senhor Min, chegando nas proximidades do local, diminuiu a velocidade do carro parando no estacionamento de seu prédio requintado, abaixou a janela do carro e abriu a porta dando ao chofer a chave do automóvel enquanto se retirava junto com os demais companheiros. As portas de vidro abriram quando o patrão se aproximou do local, a recepcionista se dirigiu até o chefe retirando seu manto preto por cima de sua camisa social branca. Percorreram o corredor enorme até a sala principal do local onde Yoongi trabalhava e fazia suas negociações, jogou-se na cadeira aliviado por voltar a seu império como chamava comumente sua empresa, retirou quatro copos de vidro da gaveta e pediu ao assistente uma garrafa de vinho, a mais cara que estivesse em seu estoque.

— Como é bom retornar. Um brinde ao sucesso e aos dias de glória que finalmente chegaram, acomodem-se. — ergueu a taça enquanto o restante se juntou a ele. — Estou pensando nos nossos assuntos pendentes, Kim, a princípio, preciso ir ao banco com Hoseok para que ele possa examinar todas as câmeras de segurança e um possível código para o cofre, é um trabalho cansativo, mas um tanto quanto necessário se posso dizer desse modo. — deu o último gole na taça que ficou completamente vazia, passou seu antebraço na boca limpando os resquícios de vinho que ficara no canto inferior de sua boca.

— Na parte do armamento também podemos ficar tranquilos, Namjoon cuidará muito bem dessa parte. — ele encheu a taça mais uma vez. — Seok parece-me ser de muita confiança, já trabalhei com ele algumas vezes e posso afirmar que não gosta de brincar em serviço, seus olhos flamejam ódio quando percebe que algo está ficando fora de seu controle, acho possessivo de sua parte. — o loiro bebia enquanto cerrava seu olhar no pálido que consentia com o discurso. — Mas não há problema nenhum em roubar aquele maldito banco, temos uma ótima equipe para isso e todos somos profissionais nas mais diversas áreas. Kim, não se preocupe quanto a isso, jamais brincamos quando um serviço é dado.

— O problema é só a segurança que é bastante rígida e talvez possa dar algum problema já que Jung será o único responsável por isso, talvez seja melhor mapearmos o banco antes e saber onde se encontram cada dispositivo para não sermos pegos de surpresa. — afirmou o moreno quando o coringa o completou.

— Está decidido, você pode cuidar do mapa do banco certo Min? — indagou à espera do consentimento do pálido.

— Prossiga — ordenou o mais velho enquanto enchia novamente sua taça, seus dias sóbrios estavam no fim fazendo-o ficar fora de si. 

— Hoseok cuida da parte tecnológica, vocês dois precisam trabalhar muito bem juntos para que não deixem escapar nenhum rastreador, câmera e nada que envolva a vigilância.

— Você é o chefe aqui Taehyung, seu pedido é uma ordem. — ergueu a mão que logo foi tocada pelo amigo. — Jamais começamos algo que não possamos cumprir, da nossa parte você não irá se arrepender, pode contar conosco que não falharemos. -— reafirmou, dessa vez mais preciso.

— Na parte das armas podem ficar tranquilos, consigo desenrolar qualquer equipamento para vocês do mais específico e aprimorado ao mais seguro possível, vocês sabem que o melhor trio de armamento pesado existe, por isso trabalho com o pistoleiro há anos juntamente com Jin. — piscou com o olho esquerdo. — Caso não encontrem a senha do cofre podemos muito bem arrombar com uma bomba, mas acho difícil algo que o ruivo não consiga decifrar. — terminou seu vinho. — Sua fama de decifrar códigos o torna imbatível.

— Ainda temos tempo para fazermos tudo enquanto não descubro mais coisas sobre meu passado, tenho certeza que iremos ser responsáveis pelo maior roubo da história. — sorriu enquanto brindava. — Ao nosso sucesso.

— Ao nosso sucesso! — em uníssono o restante brindou.

🎪

Aquelas orbes castanhas fitaram nas gotículas que espontaneamente se encontravam com o chão, a drástica mudança de temperatura se fez presente, a umidade e a mudança do tempo que se fechou era perceptível, a tempestade iria agora se fazer. Os seus olhos brilhavam como faíscas de fogo, Namjoon era um admirador da natureza, rangeu os dentes quando o vento gélido soprou suas madeixas e pelo retrovisor observou o ruivo dar leves tremores segurando seus braços contra o peitoral. Erguendo os vidros da janela e ainda com seu olhar fixo no garoto pelo retrovisor, o pistoleiro o encarou. Sua visão se voltou novamente à estrada em questão de segundos.

O ruivo no banco de trás empalideceu e seu lábio inferior tremeu, a chuva começou finalmente a ceder. Virou sua face para o lado direito do automóvel observando a paisagem que corria, o vidro se embaçou quando o garoto soprou um ar quente para fazer desenhos na janela do carro. Sua mente naquele minuto foi invadida por uma imensidão de questionamentos, tudo girava em torno de um porém... suas vivências, por trás de um homem galanteador e por mais inteligente que fosse, o passado obscuro de Hoseok seria talvez o mais temível do bando.

Suas raízes aprisionadas ao passado foram o ápice para que aquela ingênua criança na época se tornasse um homem forte e destemido, o ruivo dedicou grande parte da sua vida aos estudos para que um dia o mundo finalmente o reverenciasse por tamanha esperteza. Apesar de seus traumas desafortunados na velha infância e por todas as suas ações inconsequentes, algo ainda o incomodava, o ruivo não escondia sua angústia dentro do carro, aquela inquietação o perturbava, sentiu suas mãos tremerem com o frio e sentiu borboletas em seu estômago. 

— Bom, vocês já pensaram em algum plano ou... nossa — o silêncio medonho dentro do automóvel deixava o pistoleiro inquieto, balançou sua cabeça de leve enquanto sorria para tentar disfarçar sua perturbação, seu gesto contraditório despertou o interesse do amigo que logo começou a interrogar.

— Você foi o único que leu todos aqueles papéis, alguma informação válida que devemos saber? — cruzando seus braços para se aconchegar no calor de seu blazer, o moreno sentiu sua garganta secar, virou de leve a cabeça para observar a chuva cair. — Hobi, você me parece estranho, conte-nos o motivo de toda a sua aflição. — ele evitou qualquer contato visual após não ser correspondido.

O silêncio retornou para atiçar tensão nos jovens, o ruivo sentiu seu coração palpitar cada vez mais acelerado, seus batimentos cardíacos pareceram não se conter dentro de seu peito. O único que conhecia seu histórico era Min Yoongi, já que ambos os garotos tinham total confiança um no outro, isso ninguém poderia negar, eram uma caixa de segredos. Sua boca era um túmulo para evitar falar de tal assunto que tanto o enfadava, sua convicção no bando já era grande o suficiente para confiar a eles tal passado sombrio, por esses motivos resolveu aos poucos se abrir.

— Década de 90. — seu tom de voz monótono despertou a curiosidade de ambos. — A data expressa no jornal era dessa década, já me esforcei para tentar lembrar o ano exato, mas não consigo, minha cabeça está uma bagunça agora. — continuou a informação antes que um dos garotos o questionasse.

— Já é um grande avanço, precisamos procurar todas as adoções referentes a essa década, você é brilhante Hoseok, nunca desaponta. — manteve-se focado no assunto. — Sei que é inconveniente da minha parte continuar persistindo nesse assunto, mas por que está alterado? — indagou pela última vez antes de Namjoon que estava a seu lado franzisse a sobrancelha.

— Hoje pela manhã disse que era melhor você vir sozinho, até que sua lábia me fez parar aqui também, a verdade é que estamos indo para o meu antigo lar. Antes que me perguntem, não vou contar todo o meu passado até porque não é algo que falo com orgulho, mas sim, já parei naquele lugar e nunca ganhei a guarda de ninguém, conquistei a minha própria autonomia ao completar a idade necessária para sair. — era notório em sua face que toda aquela conversa o atormentava, mas nada que o ruivo gostasse mais de fazer do que ajudar seus amigos, sua amizade com Jeon JungKook não era de tempos, porém se tornou um vínculo forte pelo companheirismo e determinação de ambos.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com você. — sorriu pequeno enquanto a chuva começava a ficar cada vez mais abrangente, aquela intensidade se fazia excessiva, cerrando seu olhar na estrada logo a percebeu inundada, era o caos, pensou Jin.

Namjoon não desgrudou os olhos da direção enquanto o restante novamente fez voto de silêncio até chegarem ao local. Aqueles minutos de sossego fizeram o ruivo repensar sobre aquela cena retrógrada e como não deveria se abalar por consequências de um grave erro cometido há duas décadas atrás, uma culpa que carregava, mas nunca chegou a condenar nenhum réu pelo assassinato de sua família. Sentado no banco do passageiro, Seokjin através do retrovisor tentou fazer contato visual com o garoto que negou retribuir tal ato, estava perplexo com a chuva e distraído para perceber a atitude do mais velho.

O garoto sorriu bobo ao tocar seu dedo nos estalos que a chuva causava no vidro temperado, estava centrado com aquela provocação natural, era meio dia em ponto.

O orfanato que sempre fora extremamente barulhento já não era mais o mesmo, pensava Jung. As crianças não corriam mais na chuva, que antes era costume dos moradores brincarem em poças de água até voltarem completamente sujos e encharcados, o parquinho se encontrava em estado de calamidade, o cavalo de madeira que era o predileto do garoto na infância agora se encontrava destruído assim como suas lembranças daquele lugar, as paredes que antes eram de tonalidades azuladas e de forte intensidade agora se encontravam desbotadas e sem vida, algo estava errado, era o que ele acabara de concluir.

— Chegamos. — parando o carro em frente ao orfanato, o pistoleiro não negou seu espanto ao observar em sua frente um local que estava totalmente desgastado e por condições externas poderia caracterizar como abandonado. — Tem certeza que é esse o lugar que deveríamos estar, Seok? — olhando o local pela janela do carro, virou a face para o homem a seu lado.

— Tenho certeza, não há nenhum outro orfanato na cidade, talvez só esteja mal cuidado e com problemas técnicos, de formação e administração, presumo. — afirmou após retirar o cinto, desceu depressa do automóvel e ficou de prontidão em frente ao portão, analisou pouco distante uma grande porta que dava-se de passagem para o orfanato, possuía uma pequena cobertura para não ficar encharcado, seus passos o levariam até tal ponto. — Vocês vão vir ou vão ficar que nem retardados observando a instituição? Venham logo. — ordenou e Hoseok franziu a sobrancelha inconformado.

— Mas que bicho te mordeu, Seok? — perguntou, foi quando Namjoon sorriu de soslaio.

— Você sabe que não brinco em serviço, Hoseok, vamos logo porque não temos muito tempo. Temos muitas coisas do roubo para planejar e quanto mais tempo demorarmos com isso, menos tempo vamos ter para fazer tudo que precisamos. — respirando calmo e profundo, falou mais uma vez, era mais um de seus sermões.

— Nós sabemos, meu amigo, e concordo com você, o tempo precisa ser nosso aliado no momento para planejarmos tudo com bastante precisão e cautela, concorda? — retirando-se do carro, o pistoleiro sau  sereno e sem grande esforço, sem medo dos respingos, foi quando escutou o ruivo murmurar algo que ninguém entendeu.

— Bando de puxa saco. — as expressões de deboche tomaram conta de todas as extremidades da face do ruivo que saiu do carro fazendo gestos com seus lábios carnudos e rosados. — Vocês dois estão exagerando, com a ajuda do Min já tratamos de adiantar boa parte do serviço, e outra, esse local está muito estranho para um orfanato, suponho que seja uma armadilha daquele paspalho e insolente que está...

— Morto, Jung, você não acha que...

— Não comecem vocês dois, vamos logo. — abrindo o enorme portão cheio de ferrugens, adentrou o espaço que dava de passagem para um pequeno parquinho, o moreno deu meia volta para inspecionar aquela cena nada receptiva. — Esse lugar está em ruínas mesmo, será que tem alguém aqui? — indagou.

— Se não tiver, talvez tenha fantasmas. — fez leves barulhos e assobios para intimidar o garoto atrás de seu corpo, sentiu a mão do ruivo socar suas costas, foi quando gargalhou.

— Sem brincadeiras vocês dois, estamos encarregados somente de pegar a papelada e sair sem que ninguém perceba o furto, assim não conseguiremos executar nada, vocês são incoerentes. — suspirou tentando manter sua postura de líder. — Peço encarecidamente o apoio de vocês e parem de agir feito crianças, precisamos terminar isso de uma vez por todas para finalmente começarmos o roubo. — cerrou seu olhar calibre em ambos que ficaram pasmos com a precisão de cada palavra. — Foi o que pensei. Ao trabalho!

Profissionalismo, era o grau de empenho que os meninos deveriam ter para obter sucesso no furto, seria necessário bastante concentração para conseguir roubar o orfanato, era o que Seok pensava sobre a missão, ou talvez não indagasse confuso, o local quase deserto era semelhante a um casarão de filmes de terror, talvez até desprovido de tecnologia para a sua euforia.

Sem muita pressa o mais velho foi o primeiro a adentrar o orfanato, deixando ambos no lado de fora, o local estava em ruínas e era perceptível que todas as estruturas logo iriam se render ao chão, o piso de madeira já não adquiria sua coloração natural e o cheiro do mofo invadia todo aquele ambiente nada agradável. Unicamente, o que havia de incomum era uma governanta empacotando caixas, empilhava calmamente os documentos sem pressa alguma e lacrava com toda cautela, dando pausas para ingerir um gole de seu café meio amargo, a mesa rangia ruídos agudos que se tornavam agonizantes, mas nada que a incomodasse.

— Com licença. — falou receoso ao atrapalhar a moça de cabelos tingidos que aparentemente encontrava-se ocupada, ergueu o punho até a proximidade dos lábios e fez um leve ruído para voltar a atenção para si, não obtendo sucesso, permaneceu intacta. — Com licença! — ousou repetir mais uma vez fazendo-a erguer a cabeça e o analisar de todos os ângulos possíveis, sua face momentaneamente tomou uma coloração avermelhada, seu gay panic era visível. — Se não for incômodo, tenho algumas perguntas a fazer.

O contato visual foi feito para o pânico do mais velho ressurgir, suas mãos soavam e começaram a dar leves tremores, a recepcionista disfarçadamente enxergou pequenas gotas de suor surgirem em sua testa que não passavam de gotas de chuva camufladas em sua pele. Seus cabelos negros e longos cobriam todo o excesso de nervosismo aparente, apesar de bom com as palavras, o garoto não sabia se comportar com uma mulher a sua frente, seu nervosismo estava a flor da pele, o caos como pensava ele.

— Preciso de informações acerca de um menino que foi adotado há um bom tempo, precisamente há décadas atrás, teria como senhorita... — deixou escapar um sorriso bobo no canto da boca, colocando suas mãos trêmulas sobre a mesa e se aproximando da mulher que retribuiu a ação feita. Estava pondo em prática a arte da sedução.

— Senhor, desculpe-me... mas não posso dar informações para um completo estranho, por acaso é parente ou algo similar deste menino? Talvez consiga ajudá-lo se este for o seu caso. — fixou seu olhar no outro que aparentemente não tinha respostas para o embate.

— Devo dizer que sou um amigo bem próximo a um dos casais, a família não se sentia à vontade para vir buscar os documentos, eles... não queriam relembrar coisas do passado, entende? — deu um pausa no discurso que tanto gaguejou, era extremamente delicada a situação que se encontrava, a moça o observava não confiante de seu argumento, aproximou-se das extremidades do corpo alheio a deixando sem saída. — Se não for incômodo, há chances de me mostrar exemplares de três décadas atrás? Precisamente, meados de 1990 em diante. — demonstrando confiança em sua fala, indagou o moreno a jovem que encontrava-se envergonhada com seus corpos ocupando um espaço mínimo.

— Senhor, desculpe desapontar, mas não posso trazer nenhuma informação válida sobre os documentos, a única afirmação que posso oferecer é que esse posto não era meu há três décadas, como supôs. A antiga governanta pediu demissão há quase duas décadas, logo após o ato, adquiri o cargo. — travando sua respiração que acelerava constantemente, a moça depositou todo o seu campo visual unicamente no homem centrado a sua frente, foi quando o outro afastou-se de repente fazendo-a suspirar decepcionada pela distância que se fez entre ambos, sua mente estava confusa. 

— Não tenho muitas informações a oferecer, não posso dizer nada preciso acerca desses documentos, só sei que... — deu uma pausa breve antes do homem a interromper com seus questionamentos.

— Você só sabe que? — sem muitas expectativas, o moreno se aproximou novamente, era preciso arrancar alguma informação ou falhariam com aquela conversa sem conteúdo adicional, de boba a moça não apresentada nada, era óbvio que sabia alguma coisa. Deu meia volta na mesa e levantou o braço esquerdo prendendo sua concentração novamente, a mulher, após o ato, tapou a boca com as duas mãos como se tivesse prestar a falar algo sigiloso. — Me fale o que você sabe, pode confiar em mim, só preciso de uma única informação, meu amigo não gosta de esperar. — completou sorrindo minimalista em mais uma de suas atuações, não era de seu feito pedir favores a alguém, mas aquilo era necessário e faria o possível para ajudar JungKook. — Por favor, me conte mais sobre esses documentos. — suplicou sentindo certa dificuldade.

— Ah, vou ser demitida se descobrirem que contei isso, mas... os documentos dos anos 90 ficam em uma sala muito segura aqui do orfanato, não tenho a chave, porém sei onde pode encontrar. — prosseguiu insegura do que estava fazendo, aliás, seu emprego estava em risco, mas logo sorriu quando viu a expressão alegre no rosto do garoto a sua frente, aquilo era suficiente para continuar. — A sala da diretora fica no andar de cima, ela não está e nem deve voltar por agora. Seria sua chance de conseguir o que deseja, com minha ajuda poderia levá-los, mas não posso fazer isso então peço que se retire. — alucinada com mais um de seus amores à primeira vista, a jovem iludida com um possível romance entre ambos acabou por se render.

— Devo-lhe um favor, não sabe o quanto me ajudou. — piscou unicamente com o olho esquerdo para a jovem, deixando-a sozinha com sua imensidão de pensamentos.

See intrigava com a atitude da moça, qual seria o motivo de tirar-lhe tantas informações para depois partir? Pensava o mesmo sobre como ela poderia agir, mas não importava, todos os seus atos tinham um motivo, uma razão e agora era hora dos seus dois companheiros agirem.

Após despistar a jovem e sair pela porta da frente do orfanato, ele não perdeu nenhum segundo a mais, ligou para o pistoleiro que com a companhia de Jung burlaram as ordens de Seokjin, foram até o parquinho onde  transparecia inúmeras lembranças ao amigo, após sentir seu dispositivo vibrar, sem demora o atendeu, era o sinal de que deveriam inicializar.

— Podem começar! — ordenou simples e preciso.

— Certo! — confirmava o pedido feito, fazendo um sinal discreto com as mãos, o amigo logo tomou conta do recado e saíram em direção a porta até encontrarem o moreno, o ruivo adentrou o local e subiu as escadas devagar fazendo o mínimo de barulho possível para ser discreto na abordagem, cerrou seu olhar no garoto que já invadia o andar de cima após a governanta virar-se de costas. — Trinta minutos é o que precisamos para concluir tudo. — afirmou confiante enquanto observou o corpo do amigo sumir na imensidão do prédio.

— Confio em vocês. — suas palavras secas foram o necessário para fazer Namjoon sorrir tímido, desligou o aparelho o pondo no bolso frontal do blazer para que nenhum toque os atrapalhasse.

O pistoleiro em seguida infiltrou-se no lugar subindo rapidamente as escadas, receoso de que a madeira rangesse. Localizados no andar superior e com todas as informações que necessitavam, a preocupação de ambos agora era analisar atentamente o local de ponta a ponta, vistoriando atentamente cada parede na esperança de que não houvesse vigilância, os garotos passaram alguns minutos nessa saga.

Mesmo tendo a informação de que ninguém estaria presente no orfanato exceto a jovem governanta no andar inferior, tentavam adentrar as salas com o mínimo de barulho possível, afinal, era melhor estar preparado para qualquer circunstância. O piso velho de madeira rangia sobre a mínima pressão que se fizesse sobre ele, o que tornava o trabalho ainda mais complicado, porém não impossível.

O barulho da madeira rangendo e das portas se batendo faziam com que Hoseok tivesse um turbilhão de lembranças da sua longa estadia no local, logo se lembrou da sala da mulher que dirigia aquele lugar com severidade e que inclusive havia o colocado de castigo por uma série infinita. Como odiava se lembrar daquela rabugenta, mas naquele momento a sua memória fragilizada pelo lugar se fez útil pela primeira vez. Logo se virou para o companheiro de trabalho e apontou o local desejado.

— É ali que estamos procurando. — ergueu o dedo indicador na direção, apontando uma sala afastada do corredor em questão, uma enorme porta de tonalidade extremamente forte a tornava diferente de todas as demais, a marcação era infalível, ambos pensavam unicamente.

A brisa do vento gélido que invadia o local deserto movia brutalmente as janelas do segundo andar, ruídos agonizantes se faziam presentes, mas para o alívio dos garotos a chuva amenizou todo aquele ruído. Ambos se questionavam onde estavam as crianças daquele lugar. Seria inabitável? Era o que pensavam enquanto adentravam a sala que para a sorte dos garotos estava destrancada. Enormes prateleiras de madeira maciça preenchiam todos os móveis, Namjoon levantou o dedo indicador e passou sobre uma das diversas superfícies planas, retirando pequena parte da poeira que abrangia todos os armários.

Inúmeras pilhas aos montes faziam sua função de ocupar todo o ficheiro no canto da sala, a iluminação já não era mais suficiente para abranger cada espaço do local. O piso assim como no restante do orfanato estava velho e faziam pequenos ruídos quando qualquer movimento se fazia sobre ele, as órbitas circulares ficaram semi-abertas quando as luzes começaram a falhar e apenas poucos feixes penetravam a sala, tornaram-se debilitados a concluir tal pedido já que ambos ficaram parcialmente na escuridão, foi quando o ruivo ligou a lanterna do seu aparelho móvel.

Cada armário possuía uma etiqueta que relacionava os anos aos documentos ali inseridos, despertando o interesse de Jung. A década de noventa estava a sua frente e logo em suas mãos, encheu seus pulmões de ar antes de soprar toda a poeira que cobria a pasta que segurava.

— Encontrou algo útil? — rajadas de emoções tomaram conta de seu corpo, pacificamente o pistoleiro aproximou-se do amigo para analisar sua descoberta. — 1998. — seu modo de se expressar acabou por parecer uma dúvida que em sua cabeça não fazia sentido algum, a única possibilidade que passava em sua mente era, o ruivo lembrou o ano.

— Está pasta contém uma informação que quero que você leia. — seus dedos passearam sobre as folhas amareladas até pararem em uma das fichas da época, a retirou entregando nas mãos do colega.

— Ficha de cadastro da criança ou adolescente na instituição... — começou lentamente a ler a descrição enquanto as órbitas de Hoseok penetraram em sua face duvidosa. — Ingressou em 1998 após um trágico acidente de carro, Jung Hoseok filiou-se na comunidade local ficando sob a guarda da instituição até sua maioridade ser atingida. — seus olhos se arregalaram após absorver todas as informações. — Sinto muito pela sua infância.

— É horrível estar de volta ao lar, de fato indesejado. — um sorriso tímido se fez presente na face pálida do garoto que tomou o papel das mãos do amigo, fez várias dobraduras e o guardou no bolso do blazer. — Continuemos a missão. — prosseguiu quando sua voz falhou.

🎪 Participação especial; Senhorita_Yoon
🎪Beta; RM_Oliveira

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