07 | Clamor

Era fim de tarde quando Taehyung e JungKook finalmente voltaram para seu abrigo. O dia havia sido muito cansativo para ambos, principalmente para Taehyung, o trauma de atirar iria o prejudicar bastante, mas não era isso que o incomodava tanto. Ele sabia que devia um pedido de desculpas a Jeon, porém, era difícil conseguir dizer algo se o moreno nem lhe dava a oportunidade de lhe dirigir a palavra.

ㅡ JungKook, eu... — soltou tímido, entretanto, foi interrompido.

ㅡ Taehyung, não me chame assim, não quero falar com você por hoje, será que ainda não entendeu? — se sentou em um dos caixotes jogados por ali.

O palhaço apenas assentiu contrariado. Não imaginava que aquele mágico pudesse ser tão frio assim. Ele entendia que havia errado e queria se desculpar, mas Jeon não o ouvira pelo resto da tarde.

A noite finalmente chegou, e Taehyung estava bastante pensativo, queria que JungKook o ouvisse. Queria pedir desculpas para o moreno, queria que ele o desse a oportunidade de falar o quão errado estava. Ele sabia que não deveria ter sido grosso daquela maneira.

ㅡ Boa noite, JungKook. — não foi respondido. ㅡ Me escuta por favor? — suplicou Taehyung mais uma vez, mas foi ignorado novamente pelo moreno.

E isso foi o bastante para que os dois fossem dormir sem trocar uma única palavra.

🎪

Já era manhã quando o coringa se levantou e encontrou um bilhete em cima da mesa. Era de seu companheiro, nele estava escrito que Namjoon havia convocado uma reunião no local do treinamento. Havia lido tristemente, com um pouco de decepção por ter sido deixado sozinho, mas logo arrumou-se para ir ao local.

JungKook havia ido sozinho sem nem ao menos esperar pelo garoto, estava chateado demais para conversar com ele. Ainda bastante chateado e ressentido a encontrar o coringa, resolveu caminhar pelas ruas da cidade sem a companhia do garoto que tanto o amava, sem rumo algum deslocou-se pelas ruas sem ponto de chegada.

Taehyung, por sua vez, caminhou o mais rápido que pôde até o local, mas para sua surpresa e espanto de todos, o moreno não havia comparecido. O ex palhaço indagava sobre a situação e como tudo aquilo estava sendo difícil para ele, como uma ação tão compulsiva poderia mexer tanto com o garoto, não tirou suas razões, apenas pediu ajuda para o encontrarem. Sentia-se aflito a todo instante desde a noite passada, o ar pesado sufocava o rapaz que a cada instante ficava ainda mais inquieto, o peso sobre suas costas tornou-se um fardo insuportável.

ㅡ Taehyung, nós... — Seokjin caminhou lentamente até o encontro do coringa que não conseguia conter sua frustração, e chutou a grade que cercava o local restrito. Foi quando Namjoon interrompeu o homem de terno escuro.

ㅡ Não, Jin... cuide de tudo por aqui, o ajudarei a achar Jeon. — ergueu a mão para interromper os passos dele.

ㅡ Como quiser, irei para o escritório tomar conta de suas papeladas. — deu de ombros em direção ao carro preto que o esperava nas proximidades do local.

ㅡ Taehyung, você tem alguma ideia de onde ele possa estar? Algum local especial ou alguém que ele queira visitar em um momento como esse? — criando interrogações em sua mente, o pistoleiro começou um pequeno interrogatório.

ㅡ Não faço a mínima ideia de onde ele possa estar, Namjoon. — virou-se de costas para criar coragem, e suspirou dando uma pequena pausa.

ㅡ Estou ouvindo, Kim. — indagou curioso pelo assunto.

ㅡ Podemos não ter tido uma boa impressão um do outro, nos ameaçamos e eu não fico orgulhoso disso, peço desculpas a você, mas... — virou-se e logo cerrou seu olhar entristecido em Namjoon. ㅡ Eu preciso achar o Jeon, você não tem ideia do quão especial ele é... — foi interrompido pela ação inusitada do rapaz.

ㅡ Nós iremos buscá-lo, estou aqui e não descansaremos até o encontrar. — Namjoon, com um ato repentino, abraçou o garoto que deixara escorrer em sua face corada, resquícios de sofrimento. As lágrimas de Taehyung eram bastante preciosas, não era por todo mundo que ele sentia afeto, talvez depois da morte de sua mãe aquela fora a primeira vez que chorava por outro alguém.

— Vamos de carro - O pistoleiro afirmou.

A dor e o aperto no coração deixavam Taehyung entristecido, não era favorável voltar a ser solitário depois de tanto tempo ao lado do moreno. Sendo prisioneiro do abraço caloroso do pistoleiro, o coringa ressentido pela situação, relembrou de todos os momentos ao lado do garoto, desde o dia que se encontram na calada da noite até o incêndio do prédio onde o jovem por mais uma vez havia salvo sua vida. Procuraram por horas o moreno, estava anoitecendo e sua esperança de o achar diminuía conforme o sol desaparecia.

🎪

Do outro lado da cidade, JungKook andava calmamente. Queria pensar um pouco, esfriar a cabeça e relaxar acima de tudo, mas havia esquecido o tempo passar, a noite passada havia ficado sem sono, uma forte insônia o perseguiu durante a madrugada, por isso estava cansado demais para ir muito longe.

Ele resolveu se sentar em um meio fio, numa rua conhecida, já era fim de tarde e o céu estava banhado pelo pôr do sol que iluminou o olhar do moreno.

Foi aí que uma nuvem de lembranças invadiu a sua mente, passou horas pensativo no local sem perceber o tempo decorrer mais uma vez. Foi ali que conheceu Taehyung. Sentado ali, pela noite, sozinho, com frio e completamente indefeso, afirmava com certeza que naquela época ele não imaginava se apaixonar pelo jovem coringa, mas havia sido encantado de tal maneira que nem ele sabia explicar o que tinha ocorrido. Quando se deu por conta, estava nutrindo sentimentos pelo companheiro de trabalho.

Taehyung era a pessoa mais incrível que havia conhecido nos últimos anos e seu amor por ele era imensurável. Queria estar com o mais novo a todo momento, protegê-lo com a sua vida. Percebeu que não valia a pena ficar bravo por algo tão simples, Taehyung estava nervoso no momento e nem pensou direito no que estava falando. Sabia que seu amado não tinha feito aquilo por mal, por isso tomou uma decisão completamente madura, iria retornar esperançoso ao local do treinamento para se encontrar com Taehyung e perdoá-lo por tudo, a esperança o consumia.

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ㅡ Namjoon! — gritou, assustando o pistoleiro que o olhava medonho. ㅡ Me desculpe pelo grito, mas sei um lugar em que JungKook possa estar. Ele pode estar na rua em que nos conhecemos! — Taehyung  estava sorridente e esperançoso só de pensar na possibilidade de rever o moreno, esperava ansioso pela resposta do pistoleiro.

ㅡ Tá, me fale o endereço que dirijo até lá. —  Taehyung logo o informou, sendo bastante preciso em seus mínimos detalhes.

Enquanto ambos iam para o local, mais se distanciaram de JungKook que a essa altura se encontrava em um outro bairro da cidade. Na verdade, aquilo tudo era um grande círculo em que eles caminhavam em direções contrárias.

🎪

JungKook andava rapidamente pelo centro da cidade, queria esclarecer as coisas com Taehyung para que tudo voltasse ao normal o mais rápido possível. Já sentia falta de conversar com o Coringa e de seu modo carismático.

Andando a passos largos em direção ao local de treinamento, JungKook se percebeu em um beco sem saída. Mal acreditava no que estava vendo, era seu tio que estava andando calmamente por lá. Ele tentou sair sem ser percebido, mas o velho tirano o pega no flagra.

ㅡ Pegue o garoto! — ordenou preciso ao atirador que o acompanhava na busca pelo menino.

O tirano encarregava diariamente seus empregados para localizar o garoto até então desaparecido, e após diversas falhas, resolveu ele mesmo sair à procura do sobrinho que por sorte do destino o encontrara perdido no beco. Abriu um sorriso largo e malicioso, finalmente encontrou a peça que faltava em seu quebra cabeça, Jeon era a chave de seu sucesso e com ele lucraria ainda mais. Sua ganância infinita fazia ferver seu sangue em busca de riqueza e poder, seu maior defeito. Aliviado e repleto de possibilidades sobre como o puniria por suas desobediências, cerrou seus olhos no menino perplexo.

ㅡ Como vai, querido sobrinho? Há quanto tempo não o vejo, Jeon JungKook. — foi de encontro ao sobrinho que era fortemente segurado por seu protegido e hábil pistoleiro.

ㅡ Por favor, eu não devo nada a você, apenas me deixe em paz. Sem ressentimentos. — mexia-se de leve para afrouxar as mãos do capanga que a cada ação o repreendia ainda mais.

ㅡ E todo o lucro que me fez perder, todos os artistas que fugiram, todo esse tempo você foi o ápice de toda a minha desgraça. — cuspiu raivoso. — Mas agora com sua ilustre companhia, terei novamente os meus dias de glória. Aliás, todo chefe precisa de uma segunda mente, e você Jeon, é a minha, você é o herdeiro de tudo, precisa ter consciência que um dia será glorioso igual eu sou. — estendeu seu cajado no queixo do garoto que o olhava embravecido.

ㅡ Eu não preciso de riqueza, nem tudo gira em torno de bens materiais, nada físico me atrai, não sou igual você. Tenho vergonha do nosso parentesco. — ao direcionar as palavras ao tio, o outro lhe encara e sem piedade alguma, segura seu pescoço cravando suas unhas em sua pele branca, deixando o garoto sem ar, e se diverte com a cena.

ㅡ Se a riqueza realmente estivesse nos sentimentos, você não estaria aqui agora. Onde está o palhaço?  Por que não o acompanha? Não me faça de bobo. — cravou ainda mais suas unhas no pescoço do garoto que já revirava os olhos, estava sufocado, ambos o soltaram o largando no chão enquanto recuperava o fôlego.

Jeon, sem ao menos conseguir falar, posicionou as duas mãos no chão para se apoiar enquanto o velho gargalhava com intensidade a sua frente. O moreno começa a ser golpeado pelo velho que distribuiu todo seu ódio em seu corpo, dando chutes precisos em sua barriga, e dominado pelo ódio, clamou por ajuda enquanto o pistoleiro foi até o início do beco para observar se alguém se movimentava pelo local, mas tudo estava deserto. Soltando gemidos de dor com seus lábios sangrando, suplicou que o tio parasse.

ㅡ Você sempre será um fraco, mas a partir de hoje eu cuidarei de você. — abaixou-se e sentou ao lado do sobrinho que estava encostado em uma parede, abriu os botões de sua blusa branca e a retirou, passou no sangramento de Jeon que a manchou por completo

ㅡ Não toque em mim. — com dificuldades e revirando a face machucada, observou seu corpo repleto de arranhões, marcas de unha e diversos machucados espalhados por todo seu corpo.

ㅡ A partir de hoje você não terá opnião nos nossos afazeres. — segurou seu queixo e virou sua face que ainda de leve sangrava. ㅡ Consegue se levantar ou está fraco para isso? — levantou-se e estendeu a mão.

JungKook apoiou-se e sem êxito ao sair do chão logo tombou, estava fraco e destruído tanto por fora como por dentro. Sentindo cada região de seu corpo se contorcer de dor, o garoto deixou escapar suas lágrimas de sofrimento, tudo que mais queria era sair dali, mas não havia ninguém que o ajudasse naquele momento, seu grito de socorro era mudo, seu ar de liberdade agora o sufocava, seu corpo sadio agora era manchado com seu próprio sangue. O tio por sua vez ressentido com a enorme brutalidade que teve, cuspiu no chão, colocou novamente a blusa no garoto e deu sinal para que o pistoleiro cuidasse dele, deu de ombros e com passos lentos deixou o local da agressão.

ㅡ Você realmente não sabe onde está envolvido e nem a magnitude que isso ainda pode alcançar? — o pistoleiro em passos largos foi de encontro a Jeon que não cessou o choro. ㅡ Olha o que ele fez com você, para de resistir de uma vez por todas, você vai acabar morrendo.

ㅡ Você não entende? — ele falou com dificuldade. ㅡ  Eu não posso me render ao meu tio, não quero mais ter essa vida no circo. Prefiro morrer do que pensar nessa possibilidade. — soluçou. — Ele me tirou tudo, inclusive a coisa mais importante para mim, que era a minha mãe. — pronunciou JungKook, com raiva se levantando com a ajuda do pistoleiro.

ㅡ Sinto muito pelo que aconteceu com você. — suspirou pesado. ㅡ  Mas se eu não te levar de volta para o circo, algo de ruim irá acontecer a minha família e também aos meus companheiros de trabalho. — disse com uma feição triste, mas muda de repente para uma séria e determinada. Dava para observar que ele faria de tudo pela família, inclusive matar JungKook se fosse preciso.

ㅡ Eu te entendo, ele me ameaçava da mesma maneira. Mas eu acho que não vale a pena você seguir por esse caminho, não é seguro. Ele assassinou a minha mãe apenas por um erro que eu cometi no palco. — não conseguiu conter as lágrimas.

JungKook tentava acalmar o pistoleiro com palavras sensatas e conselhos, porém, apesar do outro parecer determinado em ajudá-lo a sair dali, ainda via o sinal de dúvida em seu olhar. Estava pensando em sua família.

ㅡ Me desculpe JungKook, mas tenho que te levar. — repetiu novamente. ㅡ  Senão ele vai matar a minha esposa e a minha garotinha. — sua voz falhou.

O moreno, já convencido de que não conseguiria fugir dali, se entregou ao pistoleiro. Entendia o que ele estava sentindo e não queria que a família dele morresse nas garras do velho tirano, como acontecera com a sua.

ㅡ Tudo bem, pode me levar. — se rendeu andando com dificuldade em direção ao fim do beco.

🎪

Namjoon e Taehyung procuraram em diversos lugares, até mesmo nos que sabia que o moreno não estaria, mas por precaução foram até lá.

ㅡ Taehyung. —  pronunciou de repente. ㅡ E se ele estiver voltando para o local do treinamento? Teríamos que usar a avenida principal, não é mesmo? — Namjoon enfatiza e Taehyung sinaliza para ir para a tal avenida.

Andando pela rua, ambos viam que naquele dia ela estava completamente vazia, e que quase nenhuma pessoa andava pelos passeios e arredores. Isso realmente era estranho.

Foi então que em um ato de desespero Taehyung visualizou o amado. Estava machucado e indo embora com um estranho.

ㅡ Namjoon, pare o carro! — ordenou o coringa e Namjoon o obedeceu imediatamente, também se retirando do veículo. ㅡ Acho que o vi! — gritou correndo em direção ao beco.

ㅡ Você, parado aí! — ordenou Kim e o moreno o olha surpreso.

Taehyung se aproximou do homem que segurava o garoto machucado e indefeso. Mas Jungkook pediu para não se aproximar deles, estava decidido a voltar para o circo.

ㅡ Por favor Tae, não quero que mais ninguém se machuque por minha causa. — apoiou-se fortemente no braço do pistoleiro.

ㅡ Jeon, você não vai a lugar algum com esse cara, olha só o que ele fez para você. — cerrou seu olhar furioso no homem a sua frente.

ㅡ Eu não fiz nada com o garoto, vocês chegaram após a saída do meu chefe... — foi interrompido pelo coringa.

ㅡ Então você foi espancado pelo seu tio? Você vai morrer assim, não pode voltar pra aquele circo. — implorou, logo sentindo a mão de Namjoon sobre seu ombro.

ㅡ Kim, não é a primeira vez que alguém se machucou por minha causa, ele tem família, sabe qual seria a dor dele se perdesse a filha ou a esposa? A mesma dor que senti ao ver meus pais sendo mortos na minha frente. Inúmeras vezes sonhei com esse pesadelo infernal que me atormenta, prometo a você que quando tudo estiver tranquilo, não importa onde você for eu irei te encontrar. — sorriu como uma forma de conforto.

ㅡ Ele que precisa decidir qual rumo quer tomar, não adianta você interferir nas escolhas dele. — o homem de terno branco falou pacífico enquanto o coringa estava indignado com a escolha do amado.

ㅡ Mas ele não pode... — os olhos de Taehyung se encheram de lágrimas. ㅡ Quero dizer, não posso viver sem você, Jeon... por favor, fica comigo? — suplicou, deixando escapar sua tristeza.

ㅡ Já tomei a minha decisão, eu quero voltar para o circo. Não quero prejudicar a ele. — disse se referindo ao pistoleiro. ㅡ Quero que a filha dele cresça e tenha um futuro bom. Por isso estou voltando para aquele lugar. — pronunciou com um tom de voz decisivo, e foi quando Taehyung descobriu que não teria jeito. O amado iria mesmo embora.

ㅡ Jeon, não... — chorou enquanto era segurado pelo amigo, que também olhava decepcionado para o moreno. Mal o conhecia, mas sabia que era um bom rapaz e que era muito importante para o Kim.

ㅡ Me perdoe, Tae. — foram as últimas palavras do moreno, que se virou de costas e foi embora com o pistoleiro do tio, ainda andando com dificuldade.

Taehyung ainda tentou impedir, mas foi impedido por Namjoon que o segurou e o aconselhou sobre o ocorrido. Segundo ele, não ia mesmo valer a pena tentar manter JungKook ali, ele estava ciente de sua decisão e não iria escutar a ninguém.

Depois de todo o ocorrido, o coringa pediu para o amigo deixá-lo em "casa", aquele dia havia sido longo. Só queria deitar-se para descansar e pensar no moreno, em como sentia falta dele a todo instante, em como sentia falta de seu companheirismo e de seu bom humor. Ah, como amava aquele garoto mais do que tudo. Havia sido doloroso o ver machucado daquele jeito, aquela cena o atormentou a noite toda. Não conseguia imaginar a possibilidade de o ver sofrendo mais uma vez, mas tinha falhado, era o que pensava a todo instante.

E afinal, como estaria seu amado naquele circo? Nem conseguia imaginar Jeon nas mãos daquele velho de novo. Havia tomado uma decisão: iria tirar JungKook de lá o mais rápido possível, mas para isso, iria precisar de ajuda de alguém como Yoongi.

🎪

ㅡ Nunca duvidei de sua capacidade. — estendeu a mão para o pistoleiro que entregava o garoto. ㅡ Preparei seu quarto nos fundos, chamei minhas assistentes para cuidarem de seus machucados. — bateu palmas para ambas aparecerem.

ㅡ Não precisa de tanto, já estava acostumado com meu colchonete. — entristecido, suspirou e deixou ser guiado até o quarto, onde foi bem tratado.

Ambas retiraram sua blusa manchada de sangue e prepararam um bom banho ao sobrinho querido do chefe. Levaram-o até o banheiro, foi quando Jeon, já sozinho no cômodo, se segurou na pia e observou pelo espelho o seu rosto com diversos cortes, pegou um algodão com álcool e passou sobre suas feridas que ardiam mais do que a dor que sentia em seu peito. O aperto e o desconforto da cena do beco o atormentariam pela madrugada, o moreno não queria jamais ter saído do lado do coringa, mas o que poderia fazer? Seu espírito justiceiro dominava sua mente.

ㅡ Taehyung, como você está? — passou lentamente o algodão pela face. ㅡ Ah, por que isso arde tanto? — fazia expressões de dor enquanto passava o algodão com mais cautela.

Jeon, após limpar suas marcas corporais, foi em direção a banheira para tomar um banho, sentou-se e nela permaneceu por longos minutos, estava pensativo.

ㅡ Enfim, voltei para o início... Não há nada que eu possa fazer para fugir desse pesadelo infernal, eu não tenho escolha. — o moreno, sem esperanças de sair do circo, prendeu a respiração e mergulhou na banheira sem pensar duas vezes.

O velho, por sua vez, ao perceber a demora do sobrinho, foi até o banheiro e logo clamou por seu nome, não obteve respostas e já preocupado com seu sumiço, tratou de arrombar a porta se deparando com a banheira transbordando água pelo chão. Ergueu suas mangas e afundou as mãos ali para tocar no corpo do garoto, o puxou sentindo seu peito estufado e o garoto já inconsciente.

ㅡ O que pensa que está fazendo cometendo suicídio? — pressionou seu peitoral para encher seus pulmões de ar, e obteve êxito ao observar o garoto cuspir o excesso de água em sua boca. ㅡ Moleque, me prometa nunca mais fazer isso ou será castigado. — deu um tapa no rosto do moreno.

ㅡ Por favor, eu não quero viver essa vida. — ainda atordoado, o moreno pegou a toalha a seu lado e pediu para o tio se virar, prendeu-a na cintura e acompanhou o velho, mas antes de sair do banheiro, sentiu suas pernas ficarem bambas e sua pressão cair repentinamente, desmaiando de fraqueza.

ㅡ Jeon JungKook! — o tirano segurou o corpo do sobrinho em seus braços antes que caísse no chão, com rapidez, o levou até o sofá de sua sala particular e deixou seu corpo erguido no sofá.

ㅡ Tragam remédios, roupas e uma toalha úmida. Rápido! — gritou o velho sacudindo o corpo do garoto.

Não demorou muito para que o atendessem.

ㅡ Aqui está. — o pistoleiro fez tudo o mais breve possível, remorso ao cerrar seus olhos no garoto, se retirou rapidamente do cômodo.

🎪

A noite quando Taehyung se levantou de repente. Estava assustado, havia tido um pesadelo com Jeon, um pesadelo muito real. Por algum motivo sentia que o amigo não estava bem e que precisava de sua ajuda imediatamente. Mas o que poderia fazer Taehyung se nem de manhã era ainda? Queria pedir ajuda a Yoongi , entretanto, a essa hora ele estaria descansando como qualquer outra pessoa normal. Pensou em ir sozinho, porém, sabia que o moreno iria o repreender pela ação inconsequente e nem um pouco lógica, já que era muito perigoso ir ao circo sozinho.

ㅡ Ah JungKook, será que você está bem? — disse para si mesmo e ouviu a sua voz se repetir várias vezes pelo enorme galpão. O eco de lá era enorme, e era muito ruim ficar sozinho por lá.

Queria que sua pergunta tivesse uma resposta, mas infelizmente o moreno não estava ali, seguro em seus braços. Queria vê-lo imediatamente, pois estava com um pressentimento ruim.

Era quase meia noite quando se levantou em um ato inconsequente. Gostaria de chegar até Yoongi o mais rápido possível. Era perigoso, mas por Jeon, era capaz de fazer tudo. Ele se dirigiu até o prédio requintado.

Ao parar em frente ao enorme lugar, Taehyung não pensou duas vezes e entrou já indo diretamente ao elevador, as criadas que regavam as plantas o conheciam e elas não iriam o impedir, ele ousou passar pela recepção fazendo com que a jovem secretária corra em sua direção sem obter êxito, já que a porta do elevador se fechou rapidamente.

Chegando em frente a porta enorme, o garoto bate e após alguns minutos acaba ouvindo a voz sonolenta de Yoongi o mandando entrar. Ele estava assustado, não era de costume uma interrupção a essa hora.

ㅡ Taehyung? — disse surpreso. ㅡ Não sabia que você e o seu amigo viriam hoje, poderiam ter marcado um horário melhor não é? — bocejou, pois ainda estava sonolento.

ㅡ Me perdoe por isso Yoongi, é que o assunto é urgente. — Ao ouvir isso, o outro pede para Taehyung se sentar. ㅡ É sobre o JungKook, ele voltou para o circo e não confio nada no tio dele, ele voltou por causa de um trabalhador do local, um pistoleiro, como o nosso só que... A família dele também fora ameaçada pelo tirano.

ㅡ Meu Deus, Taehyung! — levantou uma de suas sobrancelhas. ㅡ Parece que o susto que eu dei naquele velho maldito não foi suficiente. Deixe isso comigo, mandarei meus fiéis escudeiros para trazer JungKook de volta o mais rápido possível! — disse enquanto discava um número rapidamente no telefone.

Taehyung não sabia o que ele estava fazendo, mas mesmo assim acreditou e aceitou quando foi chamado para o carro.

ㅡ Vamos invadir o circo nessa madrugada. — contou. — Namjoon, Hoseok e SeokJin já estão se preparando. — observou o coringa assentir esperançoso e sorrindo malicioso. Queria suspirar aliviado, pois veria seu amado novamente, já conseguia o enxergar em seus braços prometendo nunca mais o soltar.

🎪

ㅡ Jeon, seu pirralho, acorde! — começou a remexer o corpo do sobrinho, colocou a toalha úmida em sua testa e observou lentamente o moreno despertar.

ㅡ Senhor, vamos dar a ele o que comer, olhe como está pálido e trêmulo. — O pistoleiro preocupado com a fraqueza do garoto, saiu.

Ele invadiu novamente o quarto com um prato de comida.

ㅡ Minha filha já ficou assim, deixe-me alimentar o garoto. — o tirano assentiu.

ㅡ Eu agradeço a sua generosidade, não como nada desde manhã. — sentou com dificuldade, e após a refeição, totalmente disposto, seguiu em direção ao seu quarto e retirou a toalha presa a sua cintura, colocando uma roupa branca, a mesma que usava antigamente nas apresentações.

Após se arrumar em seu quarto, o garoto recebeu a visita inusitada do tio, que pediu que o seguisse em direção a sua sala particular, talvez tivesse assuntos a tratar, pois já estava quase no horário de um dos espetáculos, o mais especial de todos da nova era, o da madrugada. Após trancar a porta do cômodo, mandou o garoto se sentar na cadeira em frente a sua mesa.

ㅡ JungKook, a partir de hoje você usará uma máscara branca para cobrir sua face. — deu-lhe uma que estava em sua gaveta. — Pegue e trate de a vestir diariamente nos espetáculos.

ㅡ Mas por que, senhor? O que há de errado com meu rosto? Não está tão machucado. — mentiu ao se inconformar com a proposta recebida, cuja não poderia sequer negar.

ㅡ Você sabe que Taehyung logo virá atrás de você. — acendeu seu charuto, logo espalhando a fumaça na cara do garoto a sua frente.

ㅡ Eu pedi para ele não fazer isso. — tossiu ao inalar a fumaça.

ㅡ JungKook, não seja tolo, se tratando de você, é claro que ele daria a vida para te ver longe daqui. Afirmo que ele tentará invadir o picadeiro em um dos nossos shows, de fato é o momento ideal quando não tenho você totalmente em minha visão. Mas iremos dificultar tudo um pouco. — sorriu sádico. — Com todos usando máscaras idênticas, será mais difícil de te reconhecer, você não participará mais do número de mágica, por enquanto, será apenas meu assistente de palco enquanto seu substituto ficará no seu lugar. Já tratei de o treinar em sua ausência e digo com clareza que ele está perfeito e capacitado.

ㅡ Você não ousaria fazer isso comigo, sempre trabalhamos juntos e dividimos o mesmo palco. — suplicou pelo cargo, seria mais fácil de Taehyung o reconhecer na multidão.

ㅡ Mas isso foi antes de você quebrar minha confiança, traiu-me com alguém que acabou de conhecer. Por favor, Jungkook, o amor é tolice, um sentimento que um dia ainda acabará com você. Por que estava andando sozinho naquele beco? Por uma briga idiota suponho. — argumentou sorrindo fechado e erguendo de leve suas sobrancelhas.

ㅡ Sim, nós tínhamos discutido e... — baixou de leve seu rosto.

ㅡ E ele te largou na primeira hipótese. — foi rápido. — E se não fosse por isso estariam juntos ainda. Mas por sorte está aqui e não sairá até que eu venha a falecer. Aliás, Jeon... Você sempre foi herdeiro do meu querido circo.  — ergueu o charuto ao ver o sobrinho se levantar embravecido.

ㅡ O circo dos horrores? Isso é um pesadelo, não passamos de uma farsa! — bateu seus punhos na mesa fazendo um estrondoso barulho.

ㅡ Basta. Olha aqui garoto, calado! — deu um tapa em sua face. ㅡ Não sabe as tolices que diz. Agora se prepare que o show já vai começar, será um dia muito importante para nós e há de você se me desobedecer mais uma vez. — esbravejou. —  Não esqueça que posso matar a quem eu quiser na hora que eu bem entender, estamos entendidos? — levantou-se e foi em direção a porta. ㅡ Responda-me! — gritou firme.

ㅡ Eu entendi, senhor. — embravecido, Jeon apertou os punhos, estava de costas para o tirano.

ㅡ Assim espero. E não esqueça sua máscara, precisará dela. — sorriu malicioso e se retirou da sala.

🎪 Participação especial; Senhorita_Yoon
🎪 Beta; RM_Oliveira

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