Nós estamos conectados para sempre>26
Sunoo estava nervoso desde que Sunghoon havia ido conversar a sós com Simon, e Kun havia percebido aquilo muito bem, já que o rabo do garoto estava inquieto, indo da esquerda para direita sem parar.
- Vai ficar tudo bem... Tenho certeza que ele não vai desconfiar de nada. - murmurou Kun, tentando acalmar o amigo.
- Mas se o Sunghoon não se lembra...significa de que ele também se esqueceu...de ontem? - Sunoo se virou para o mágico, que prontamente se viu em uma enrascada. Tinha certeza de que Sunoo reagiria mal a tudo aquilo.
- Ainda não sabemos se isso não é temporário... Não vamos nos precipitar. - Kun alertou encarando o vazio do trem. - Temos que ser positivos...
Sunoo fitou o chão, arranhando o piso de metal que estava abaixo de si. Queria Sunghoon de volta, não queria que Simon o tocasse...nunca mais.
- Quando ele volta? - e por mais uma vez, em menos de 5 minutos Sunoo estava fazendo a mesma pergunta.
Quando Kun fez que ia responde-lo, ouviu-se um estrondo no vagão seguinte, tomando à atenção dos garotos.
- O que foi isso? - Kun pensou alto, já se encaminhando até a porta para verificar o que havia acontecido.
Sunoo ficou atrás se si, espiando pela fresta da porta. Os olhos do menino passeavam rapidamente pelo ambiente sem que este pudesse entender o que havia causado tal som, até que finalmente estes se encontrassem com o vestido longo de Diva.
- O que você tá espiando hein?! - a garota riu feito boba, encarando Kun com um sorriso no rosto - Curioso para ver o meu figuro de amanhã a noite?
Kun esquivou o olhar afastando-se da porta enquanto Diva terminava de abri-la.
- É bonito, não acha? Simon disse que queria algo branco e esvoaçante. - a garota continuo, rindo para o mágico.
- Você não ouviu um barulho estranho? - Kun decidiu ignorar as perguntas da menina, indo direto ao ponto.
A garota franziu as sobrancelhas, sem entender do que o outro falava.
- Barulho?
- É...como se algum vidro estivesse sido quebrado...
Diva prontamente fez que não, dando de ombros.
- Provavelmente a Poppy deve ter derrubado mais um copo, isso sempre acontece.
Kun e Sunoo se entreolharam, sabiam muito bem que um copo quebrado jamais faria tanto barulho assim.
- Agora tchau...tenho outras roupas para experimentar. - Diva propôs, empurrando Kun para longe, enquanto voltava a fechar a porta que dividia os dois vagões.
- Vocês se enganaram de vagão, o barulho veio lá de trás... - Quatro apareceu de repente segurando um envelope em mãos - Tava te procurando pra ensaiar Sunoo... Isso tava no chão, o Simon disse que era pra você quando eu perguntei.
Sunoo tentou esconder que não se sentia bem por ter de ensaiar com a garota concentrando-se em pegar o papel das mãos desta. Poderia ser o que ele estava pensando?
" Eu estou aqui finalmente, mas não posso me arriscar a ir até você pessoalmente. Preciso que você se concentre em algo que provavelmente acontecerá durante a apresentação, mas não acredite no que o Simon te dirá, pois por mais real que pareça...não é verdade. Ela tentará te fazer acreditar que você é um monstro, mas você precisa mostrar a todos que não é... Sunoo eu sei que você é bom. Você também tem de saber disso caso ainda tenha dúvida. Lembre-se do amor que recebeu. Torne todo o vermelho cor-de-rosa. Você é importante, você só estava no lugar errado durante esse tempo todo. Até mesmo eu demorei a entender...mas ele sempre esteve conectado a você, e sempre estará a onde quer que vocês estejam. Lembre-se de que ele viu beleza em seu coração, lembre-se daquele garotinho que fez com seus chifres piscassem em rosa pela primeira vez."
- Meus chifres...piscassem em rosa...? - Sunoo pensou alto, confuso com o que o outro o havia dito.
Não lembrava-se de sua infância. Não sabia de onde havia vindo. Como poderia saber quem havia feito seus chifres piscarem em rosa?
- Aconteceu quando você estava com o Hoonie... Você não sabia? É bem bonito...
XXX
- Vocês estão completamente malucos... Em que mundo vocês vivem que acham que eu vou levar quatro crianças comigo em algo tão perigoso do outro lado do mundo? Querem que seus pais desejem minha morte?
Era desesperador que Heeseung houvesse negado a proposta deles, mas de fato o garoto estava certo. Não poderiam viajar, não sem a autorização dos pais.
- Olha tenho certeza de que meus pais não se importariam... -Niki foi contra a maré, como de costume - Inclusive preparei uma carta e peguei uns trocados da carteira do meu pai antes de vir aqui.
Heeseung encarou o garoto com estranheza. A família japonês tinha fama de excêntrica, mas nenhum pai em sã consciência autorizaria aquele tipo de coisa.
- Taeyong confia muito em você...acho que ele poderia até surtar, mas logo depois de uns três dias ele nos perdoaria Heeseung. - dessa vez foi Junwgon a comentar, fazendo com que Heeseung ameaçasse arrancar seus cabelos.
Renjun e Jay se entreolharam, já que não tinham nenhum tipo de desculpa pra dar. Com certeza se os pais dos garotos soubessem, estes ficariam de castigo pelo resto da vida, mas estavam dispostos a se arriscar.
- Olha garotos, nem se eu quisesse eu poderia levar vocês... Não tenho dinheiro suficiente nem para a minha passagem, quanto mais para a passagem de vocês. - Heeseung esclareceu, já sentindo dores de cabeça.
- Okay...a gente não tinha pensado nisso...- Niki esclareceu, sorrindo torto. - Mas sempre tem uma solução, não é?
Heeseung ergueu uma sobrancelha, sem entender do que o garoto falava.
- Acho que cabemos na mala... - Niki proferiu já magoado, a ideia havia ido por água abaixo.
- Se o Jake estivesse aqui com certeza pagaria a passagem de todo mundo... - Jay balbuciou cabisbaixo.
- Meninos eu entendo que queiram muito ajudar... Mas primeiramente é muito perigoso, e segundo que ainda não sabemos se isso é verdade, por mais que me doa vocês tem que admitir que ainda há a possibilidade de Doyoung ter errado ou estar nos enganando... - Heeseung foi firme, mas sem a intenção de machucar os garotos. Sabia muito bem o quanto aqueles garotos vinham lutando por seu irmão.
- Traga ele de volta, okay? Não importa como...só traga Hoonie de volta. - proferiu Renjun encarando os próprios sapatos, tinha medo de estar se enganando.
- Eu vou trazer Injun, vai ficar tudo bem... - o jornalista afagou os cabelos do chinês, esperava que este se acalmasse. - Mas agora digam logo o que sabem... Não temos muito tempo.
Os meninos se entreolharam, com medo que o Lee não acreditasse em suas palavras.
- Você se lembra do show do sétimo sentido?
Heeseung fez que sim, obviamente estranhando o papo em questão. Havia percebido o quão nervosos os garotos pareciam, mas ainda assim, havia algo chamando atenção do homem do outro lado da rua. Quem era aquele garoto loiro na janela do quarto de Yukhei?
XXX
Simon havia feito questão de separar uma sala apenas para Sunghoon e Diva, o que era mais do que péssimo, já que Sunghoon não fazia ideia de como se portar ao lado da garota. Para ele, era como estar como uma desconhecida.
- Está bonito com essa roupa, Hoonie... - a garota murmurou sorrindo.
Sabia que não estavam em boas condições, mas mesmo assim arriscava uma aproximação para que não fizessem feio na hora do ato.
- Obrigado... - o garoto respondeu sem graça, perdido com o que estava acontecendo.
Haviam ensaiado algumas vezes durante o dia, mas Sunghoon estava confuso com suas memórias. Sabia que deveria se apresentar, lembrava que seriam os últimos, mas não entendia porque Sunoo estava longe e porque seu par era a garota de cabelos loiros.
A verdade é que estava nervoso e estranhamente sentia muito a falta do menino. Além de ser uma das poucas figuras conhecidas, Sunghoon vinha sentindo uma imensa vontade de estar ao lado do menino. Não sabia o porque, mas aqueles obviamente eram o sintomas do amor que havia desenvolvido pelo mais novo.
- E como estou? - a menina insistiu, balançando o vestido na frente do Park que forçou-se a encara-la por alguns segundo.
- M-muito...bem...
O sorriso de Diva se alargou enquanto esta estendeu suas mãos ao Park.
- Você se lembra de que precisa permanecer imóvel no chão quando as luzes se apagarem, não lembra? Não tente se mexer até que o sinal seja dado. - a garota se aproximou de si, segurando suas mãos com delicadeza.
Sunghoon assentiu, ainda muito nervoso com aquilo tudo. Deveria mesmo seguir as instruções da garota? O que poderia lhe acontecer seguindo as regras de Simon?
- Vamos arrasar, Hoonie... Vai agradecer por ter sido o grande escolhido do Simon.
Depois que a garota largou suas mãos, o Park sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era como se já soubesse que algo de ruim estava por vir.
XXX
- Senhora e senhores, meninos e meninas, crianças de todas as idades! Vocês estão prontos para o Show do Grande Simon?
A voz de Simon ecoava estrondosa pelos amplificadores, mas o som da plateia endoidecia encobrira sem esforço tudo o que homem dizia. Gritos entusiasmados, crianças pulando dos assentos e olhos vidrados no palco. Ele não poderia sentir-se mais atormentado.
- Estão prontos para Diva, sereia do pântano? - Simon anunciou a menina. Uma luz emergia sobre si, revelando que esta apresentava-se em um lago improvisado. Sentada em uma pedra artificial, Diva penteava seus fios dourados.
O garoto sentia o estômago se embrulhar enquanto a "sereia" ganhava gritos de excitação vindos da plateia.
- Vocês estão prontos para Yangyang, o garoto sem ossos?
Uma luz emergiu no picadeiro novamente. Yangyang estava ao centro do palco demonstrando suas habilidades de contorcionismo.
- Vocês estão prontos para o Encatador de Monstros?
Sunghoon não estava preparado. Sabia que aquela era sua deixa, mas não fazia ideia de como se apresentar. Com certeza já havia feito aquilo um milhão de vezes, mas não se lembrava nem sequer de um detalhe. Tudo o que sabia é que odiava aquele título que Simon o havia dado. Sunghoon não era um encantador de monstros, Sunoo não precisava de alguém para doma-lo.
Quando a luz o iluminou, Sunghoon teve seus ouvidos preenchidos pela onda de aplausos. Poderia não ter feito nada, mas era amado por inúmeras pessoas quando o talento nunca fora dele. Sunoo poderia ter uma bela voz, mas sempre o reduziriam a uma aberração que cantava.
Sunghoon estava esperando ansiosamente para o momento em que Sunoo fosse apresentado, estava preocupado com Simon e qualquer possibilidade do homem ousar o machucar. Mas o que Sunghoon não sabia é que, daquela vez, Sunoo não estava incluído no ato. Ou pelo menos era isso que Simon pretendia faze-lo pensar até o final do show.
XXX
Diva e Sunghoon estavam alinhados. A menina conferia o próprio vestido enquanto Sunghoon encarava o horizonte, pensando em que lugar Sunoo poderia estar, já que segundo Simon, todos deveriam estar incluídos naquele momento final.
Os olhos do Park trabalhavam como nunca atrás de qualquer sinal do Kim, mas o máximo que este havia encontrado fora Kun, este que também parecia estar desesperadamente procurando por alguém.
- Viu o Sunoo? - Sunghoon cochichou ao Qian, o qual prontamente disse que não.
- Eu vou procura-lo...não deixe que a Diva sabia que sai daqui. Ela parece suspeita. - Kun sussurrou ao menino, o qual assentiu estático.
Sunghoon engoliu em seco, nervoso com aquilo tudo. Pensou em desistir do ato, chegando a mover-se para trás, mas Diva o segurou, colocando-o de volta a posição minutos antes das luzes se apagarem por completo e apenas a voz do dono do circo preencher o ambiente.
- Respeitável público... Gostaria, nessa noite especial, de contar-vos uma história. Abram seus olhos, prestem muita atenção a cada detalhe... Ao meu sinal. Façam como eu faço.
A plateia obedeceu, gritos de excitação poderiam ser ouvidos em intervalos de tempo. Kun havia dito para que este o obedecesse, mas porque Sunghoon sentia que deveria quebrar as regras?
- Alguns de vocês devem saber...que todas nossas crianças foram resgatadas de lares tempestuosos. Infelizmente muitas perderam os pais, já outras foram cruelmente abandonadas. Aqui elas encontram tudo que não tinham. Comida, uma cama para dormirem...e o mais importante alegria de viver. - o tom escolhido trazia emoção ao discurso. Simon sabia muito bem como manipular a todos das mais diversas formas possível.
Enquanto uma onda de aplausos invadia o local, o Park sentia um grande aperto em seu peito. Nada daquilo era verdade. Sunghoon lembra-se, tinha sido sequestrado. Ele estava lá contra sua vontade.
- Se houvesse tempo hábil, contaria a vocês a respeito da história de cada um por aqui... Mas hoje, gostaria de contar a todos a respeito de alguém que infelizmente não pode estar conosco hoje.
O coração de Sunghoom acelerou-se, sabia muito bem que o homem estava falando de Sunoo.
- Alguns de vocês conhecem-no pelo título de "Monstro Cantor" outros mais antigos pode conhece-lo por "Monstro Inútil"...mas hoje gostaria que os tratassem simplesmente...por Kim Sunoo.- a respiração controlada, as pausas extensas: tudo aquilo fazia parte da estratégia de um ótimo orador.
A tensão poderia ser sentida por todos. Até mesmo Kun, o qual já era especialista nas artimanhas de Simon, não sabia o que o outro estava tramando com aquele discurso emocional enquanto se emaranhava em meio a plateia, e checava se estes estavam sendo hipnotizados.
- Sei que muitos tem medo do garoto... E não os julgo! Não é todo dia que se lida com um garoto com chifres!
A plateia gargalhava, trazendo nojo ao Park. Não era engraçado debochar das características do menino.
- Mas devo os dizer o seguinte... Sunoo, por pior que aparente, ainda assim tem um coração. E eu jamais o neguei ajuda...por pior que este pudesse se comportar! Por mais coisas terríveis que este pudesse ter feito enquanto estava fora de controle... Pois eu sabia que fora do Simon's Circus...ele jamais encontraria o amor.
Falso e dissimulado. Simon era a pior das criaturas.
- Eu sabia que era o único capaz de controla-lo... Acreditava pode-lo tornar alguém melhor. Alguém que além de receber amor, também pudesse distribui-lo... Acreditei que seu coração jamais me trairia! - em tom eloquente, o homem encarava a plateia fixamente. - Mas o meu grande erro foi acreditar nessa falácia! O meu grande erro foi acreditar que até mesmo um demônio poderia amar!
A plateia mal conseguia se controlar em seus assentos. Todos pareciam desesperados ao descobrir que Sunoo não era um garoto de fato.
- Eu deveria ter suspeitado desde o princípio... Fui ingênuo por mais uma vez! Caso os senhores não saibam...não é a primeira vez que uma criatura desse tipo cruza meu caminho! Pois infelizmente...minha família sofre a ira de uma maldição! Uma maldição que recaiu sobre meu precioso irmão... O qual vive até hoje nas mãos de um deles!
Uma onda de alardes surgiu. Todos cochichavam amedrontados, deixando Sunghoon cada vez mais confuso.
- Meu irmão infelizmente foi possuído por um demônio quando criança... Esse demônio tinha o intuito de eliminar minha família... - o choque dos espectadores eram transmitidos através de gritos de desespero enquanto Simon apertava o peito, fingindo sentir dor - Esse demônio levou meus pais e toda trupe de nosso circo...eu vi chamas e sangue para todo o lado! Eu vi desespero nos olhos de cada um! Mas eu também vi...meu irmão sorrindo.
Sunghoon engoliu em seco. Não sabia quem diabos era o irmão de Simon e nem como aquilo tudo se relacionava com Sunoo. Só não queria acreditar, não queria acreditar em qualquer coisa ruim sobre o menino. Conhecia-o pouco, mas Sunoo nunca havia demonstrado qualquer sinal negativo. Sunoo era só uma criança como ele, uma criança que havia vivido a vida inteiro sofrendo, mas ainda assim apegava-se ao resquício de alegria que havia lhe sido dado. E Sunghoon sabia bem que ele era um dos motivos para que o menor não desistisse de ser bom.
- Meu irmão havia perdido sua alma naquele instante...e eu sabia que deveria fugir...sabia que aquele já não era mais ele. - Simon retirou seu paletó aos poucos, deixando o público atônito.
A roupa foi ao chão juntamente com a camiseta branca que trajava por baixo. O homem expunha seu peito nu, repleto de queimaduras, deixando a plateia em choque.
- Esse demônio feriu-me e me deformou! Mas ele queria-me morto! Queria a todos que fossem importantes para mim feridos...! Através da minha boa ação de resgatar crianças tive meu pesadelo revivido! Pois os demônios estavam entre nós...esperando para revelar sua verdadeira face do mal! Sunoo foi enviado para matar-me e fazer mal a todos que jurei proteger... Todas as mortes que jurei serem dadas por causas naturais! Todos os olhares amedrontados dirigidos a ele... Tudo que eu fechei os olhos e ignorei, acreditando que ele fosse apenas um garoto inocente! Por isso hoje...com todas as testemunhas aqui presentes...gostaria de convida-los a eliminar esse mal de uma vez por todas! Convido-os a presenciarem a face de um demônio enviando a nosso mundo para façam o que bem entenderem consigo! Este que fora responsável pela morte de Kim Jungwoo, Dong Sicheng e que vem ameaçando a integridade física de nosso adorado Encantador de Monstros. Este que merece queimar como eu queimei!
O palco tornou-se vermelho enquanto os protestos do público vinham a tona. Sunghoon estava estático e confuso. Sabia que tudo aquilo era mentira...mas porque Simon haveria de estar fazendo aquilo? Por que Simon eliminaria Sunoo quando este parecia dar tanto lucro para si? Por que havia o torturado durante tanto tempo se no final apenas o mataria? Teria Sunoo realmente...tornado-se perigoso?
Um puxão de Diva fez com que o garoto abrisse seus olhos. Era a hora do show.
Todos os artistas posicionaram-se em seus devidos locais. Estava tudo escuro e Sunghoon só fazia tremer, sem reação com o que estava acontecendo. Queria que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, mas forçou-se a deitar no chão como combinado. As lágrimas marcavam o palco enquanto Sunghoon pensava em alguma maneira de fugir dali.
Uma música estranha começara a soar, Sunghoon ouvia barulhos de metais sendo arrastados. Algo ruim desenhava-se para acontecer.
Alguns segundo se passaram e o canadense pode sentir algo escorrendo sobre si. Era grudento e gelado, seu cheiro era forte e fétido, mas o Park ainda não podia identifica-lo.
A plateia parecia alarmada, sem nenhuma pista do que poderia estar acontecendo. Os murmúrios aumentavam a cada segundo enquanto Sunghoon rezava pela integridade de Sunoo.
Sem que ninguém esperasse, uma voz soou em meio aos sons de conversa. Alguém estava cantando uma música francesa calma e doce, a qual Sunghoon demorou a identificar.
Era La Vie en Rose. Aquilo era o suficiente para que Sunoo o alcança-se.
Um estalo em sua mente e Sunghoon sentiu como se sua vida passasse toda diante de seus olhos. Lembrava-se de que Sunoo havia cantado aquela música para si, lembrava-se do que havia vivido ao lado do garoto que tanto amava, e finalmente, confirmava que Simon havia enganado a todos, Sunoo jamais havia o machucado. Sunoo jamais havia feito nada daquilo que Simon o acusava.
Ainda na escuridão, Sunghoon sentiu vontade de se levantar e seguir a voz do menino. Só queria fugir consigo e desmentir tudo aquilo que Simon havia implantado em sua cabeça. Só queria dizer a todos que estava bem.
- HOONIE, ONDE VOCÊ ESTÁ?! - a voz de Sunoo soara novamente, atormentando o público. O barulho de correntes acompanhava cada um de seus passos.
O Park até pensou em responde-lo de volta, mas quando abriu a boca, nenhum som pode ser escutado. Simon o havia pego pelos ouvidos, sem que este se desse conta. Não havia sido hipnotizado por completo, mas ainda assim, havia sido neutralizado.
-HOONIE!!! - Sunoo gritou em desespero, o Park entendia que este estava chorando e sentia muito por não conseguir responde-lo.
Não demorou a perceber que também estava imóvel. O liquido grudento que havia sido jogado sobre si havia o colado no chão. Sunghoon não podia nem ao menos mostrar que estava por perto.
A plateia, por sua vez, parecia muito aterrorizada. Ninguém sabia quem era o garoto em questão e nem o porquê de ele estar gritando. Todos preocupavam-se com o que poderia ter acontecido a Simon, o qual, até o momento, não havia anunciado o ato final.
Mais do que de repente, Sunghoon sentiu que as luzes voltavam a preencher o espaço. Ele abriu seus olhos e deparou-se com o corpo estático de Diva, coberto pelo que ele acreditava ser sangue. Se o Park pudesse, com certeza teria gritado assim como toda a plateia vinha fazendo. O desespero preenchia seu corpo enquanto ouvia-se berros e esperneios de todos os lados.
Foi no meio de tamanha confusão que Sunghoon o avistara. Sunoo estava sentado no meio do picadeiro. Suas mãos tapavam seus ouvidos enquanto a multidão o encarava como uma aberração. O menino estava revivendo seu pesadelo.
Sunghoon estava com medo. Havia entendido o que Simon queria. O homem pretendia enlouquecer Sunoo, faze-lo acreditar que havia matado a todos inclusive, ele próprio. Queria que o lado bestial de Sunoo fosse revivido, sabe-se lá porque.
O Park não tinha ideia do que faria. Sabia que Sunoo, inocente do jeito que era, poderia muito bem acreditar na mentira que Simon havia bordado. Mesmo que não pensasse que havia feito tudo aquilo, provavelmente se culparia por ele estar "morto". Sunghoon tinha de fazer algo antes que Sunoo visse seu corpo.
Àquele ponto a maior parte da plateia já havia se retirado, mas havia aqueles que acreditavam que tudo fazia parte do show e permaneciam assistindo ao surto do jovem demônio.
Era inevitável que Sunoo estivesse em pânico. Tentava se acalmar com as palavras de Doyoung, mas ainda sentia-se desesperado com aquilo tudo. Tudo havia acontecido muito de repente... Acordara dentro de sua jaula com sangue dentro de sua própria boca. Simon havia o acorrentado e dito que este havia saído do controle por mais uma vez. Segundo ele, Sunoo havia matado o Park. E por mais que não quisesse ser enganado, não conseguia duvidar de que aquilo poderia ser verdade.
O garoto estava aos prantos enquanto caminhava sobre o corpo de seus colegas. Ele realmente não era responsável por aquilo tudo? Sunghoon queria evitar aquilo, mas não demorou até que o mais novo chegasse perto de si e o avistasse de longe.
- HOONIE! HOONIE!!! - o garoto correu até o corpo do Park, estava em total desespero e mal percebia que não só o coração do Park batia, como também que o menino mexia os olhos desesperadamente para mostrar que estava vivo.
Sunoo poderia ser resistente a manipulações por relógios, mas palavras e imagens controlavam-no como nunca.
- Eu sou...inútil...eu sou cruel...eu o matei... -Sunoo abraçava o corpo repleto de sangue do mais velho, sentia muita dor em seu coração. - Me matem! Eu preciso que me levem junto com ele... Eu preciso que me machuquem, pois eu o machuquei.
Todos na plateia assistiam aterrorizados enquanto os chifres de Sunoo piscavam em um vermelho em brasa. Aquela interpretação já estava passando dos limites e até quem queria o menino morto começava a duvidar das palavras de Simon.
Sunghoon sentia seu coração apertar enquanto tentava fazer qualquer coisa para ajudar o mais novo. Seu olhar passeava pela plateia até que este encontrou uma figura amiga por perto. Jake estava ali olhando para si, Sunghoon sabia que ele entenderia seu sinal e mexeu os olhos na frente do garoto.
- SUNOO! Se lembre do que o Doyoung disse! Hoonie está vivo, olhe bem pra ele! - uma voz soara da plateia chamando a atenção do menino. Jake acreditava em Sunoo..
Heeseung também assistia a tudo. Ainda que estivesse chocado demais com o acontecido, se inspirou no garoto, dando um voto de confiança tanto para o Sims, como para o próprio garotinho que havia acabado de conhecer.
- Sunoo, não acredite nas mentiras dele! Você é especial! -Heeseung tomou coragem, gritando para o menino.
- Não é real Sunoo! Nada disso é real! Você é bom, você é corajoso...você não é um monstro! - aquela era a voz de Taeil, Sunoo a reconheceria em qualquer circunstância.
- Sunoo...volte pra casa. - um homem familiar havia se levantado na multidão. Sunoo não sabia de onde, mas sentia que o conhecia. - Você não é ruim... Ele sempre te amou.
- Sunoo! Jungwoo está vivo! Ele sente sua falta! Ele quis te resgatar mas estava muito doente! - Heeseung voltou a se pronunciar, dessa vez com mais confiança - Você é nossa família agora... Você é um Park.
- Sun... Você não é um monstro! Você é meu amigo! Lembre-se por favor! - Kun havia finalmente aparecido, exclamando com confiança por trás do picadeiro.
O menino se via em choque sem conseguir processar toda aquela informação. As lágrimas lavavam o rosto, o coração perdia o compasso, mas lá dentro de si ele havia absorvido o amor. Só faltava um pequeno gesto para que seus chifres piscassem em rosa.
Com todo esforço que podia, Sunghoon passara a murmurar La Vie en Rose, como se soubesse que a magia daquele música pudesse superar as trevas do feitiço de Simon. Sunoo finalmente voltou seu rosto para o menino. Sunghoon nunca havia o deixado, e sempre seria responsável por trazer o rosa de volta para si.
Palmas agora eram ouvidas ao fundo. O homem de cartola estava de volta com seu sorriso de ouro. A plateia encontrava-se confusa, mas todos que estavam por ali sabiam muito bem que o homem poderia trazer problemas a Sunoo e Sunghoon.
- Eu sabia que você era fraco...mas não sabia que era uma manteiga derretida garoto. Apaixonado por um demônio e atraindo todas essas figuras estúpidas para o meu palco... Eu achei que você fosse bom! Eu achei que você estivesse ao MEU LADO! Achei que tivesse entendido o quão ruim esse garoto pode ser...mas você é da mesma laia de Doyoung! Você só vai entender quando ele matar alguém que você ama...quando ele levar embora qualquer um que te importa.- o homem esperneou, aproximando-se de Sunoo. - Mexam-se idiotas!
Simon ordenou, e todos os outros artistas recobraram seus sentidos. Fazendo com que Sunoo apertasse ainda mais o corpo de Sunghoon com o intuito de protege-lo.
- Você sabe que ele não é assim... - Doyoung havia finalmente aparecido, deixando a plateia ainda mais confusa - Sabe que Sunoo estava em boas mãos! Você tentou o estragar como fez com Sicheng! Mas nenhum dos dois te trouxe o que queria! Nenhum dois é podre como você!
Simon sorrira sarcástico, fazia anos desde que não via o próprio irmão e não poderia estar mais surpreso por Doyoung estar por trás daquilo tudo.
- Você ama mais seus demônios do que sua própria família... Você é a própria escoria. Ainda sai por aí ao lado daquele tal de Yuta?! Ainda ousa desonrar nossa família com essa estupidez Doyoung? Eu jurei acabar com todos eles para que você acabasse sozinho e miserável! Pois você fez com que eu crescesse assim!
- Como posso amar vocês quando sempre me humilharam?! Gosto de pensar nos demônios como os próprios humanos, existem os bons como Sunoo, Yuta e Sicheng, e os horríveis tão asquerosos quanto você! Não há diferença entre nós e eles, você se tornou tão ruim quanto aqueles de quem jurou me proteger. Você é pior do que nosso pais Simon!
Um tapa fora desferido na face de Doyoung. Simon estava furioso, mas sabia que o irmão estava certo. Havia seguido os passos de seus pais devido ao ódio que cegava seus olhos.
- Você sabe que ele o matou porque faziam mal a mim...Yuta me libertou de um peso sem que eu soubesse, nós estávamos conectados. Ele sempre irá me proteger.- Doyoung murmurou sem emoções, enquanto sentia o rosto a latejar - Você foi poupado por hora...mas seu karma virá. Eles virão te buscar Simon... E o inferno é bem pior que esse picadeiro para quem matou um deles. Purifique sua alma enquanto há tempo...não deixe que essas pobres crianças cresçam desestruturadas como você. Esses que restaram na plateia são as famílias que buscam por eles a anos... Devolva suas memórias! É uma ordem!
Sunghoon estava tão ocupado encarando os dois irmãos que mal percebeu que Sunoo não estava por perto. Sentiu se coração explodir em desespero. Para onde poderia ter ido Sunoo?
XXX
- SUNOO!! ONDE ESTÁ VOCÊ?! - no meio do campo de margaridas, atrás do picadeiro, Sunghoon procurava desesperado pelo menino. Sem que se desse conta de que sua própria família estava atrás de si.
O menino rondou o local com os olhos. Estava desesperado, com medo de que Sunoo pudesse fugir de si, mas nenhuma resposta poderia ser ouvida em meio a calmaria da noite.
- SUNOO...ONDE VOCÊ ESTÁ?! - Sunghoon já não conseguia mais segurar o choro. Precisava que Sunoo voltasse para si.
O outro garoto estava ali. Sunghoon podia sentir sua presença, mesmo que o outro não quisesse responde-lo, o Park o encontraria.
- Eu...estou aqui... - Sunoo murmurou em tom fraco, tentando esconder o brilho de seus chifres que piscavam em rosa.
O mais velho correu até o menino, vendo a luz iluminando a escuridão da noite. Sunoo estava muito machucado. Simon o havia torturado antes que o levasse ao picadeiro com intuito de despertar sua fúria.
- Sun... - Sunghoon se viu desesperado, percebendo pela primeira vez o quão ruim estavam os ferimentos do menino - nós precisamos ir agora, todos estão esperando por nós...nossa família.
Sunoo mirou o chão, seu coração doía ouvindo o garoto falar aquilo.
- Meu lugar não é aqui, Hoonie. O Simon disse bem...eu sou um demônio. Eu não sou como você. - o garoto apertou os próprios punhos, tentando conter a dor que sentia.
- Isso não importa pra mim, não ligo pra nada disso... E-eu amo você.
Sunoo sorriu quadrado, como havia apreendido com outro garoto. Era bom ouvir aquilo pois sentia o mesmo.
- E-eu também...muito mesmo... Doyoung disse que estamos conectados desde crianças.
- Papai me contou muito rápido agora pouco...n-nós brincávamos juntos quando bebês. E-eu sempre soube, Sun...sempre soube que tinha algo muito especial entre nós. - uma lágrima de felicidade escorreu dos olhos do Park enquanto este acariciava as mãos ensanguentadas do menino.
- Mas...eu tenho que ir, Hoonie. Por mais que eu não queira eu tenho que ir...eu tenho que voltar pra casa.
- A sua casa é a minha, Sun... Você vai adorar conhecer todo mundo...a mamãe, o Jungwon, Renjun, Jay, Niki, o Bingo, Taeyong, Jaehyun...
-Hoonie...estou falando sobre o meu mundo. - Sunoo cortou-o, com certa dor no coração.
- Mas por que? Eu fiz algo de errado? Já te dissemos que você não me fez nada, Sun...
- Mas eu posso fazer, Hoonie. Não só a você mas a qualquer pessoa que te perturbar... Yuta matou muitos porque machucaram Doyoung, e toda vez que eu via a Diva perto de você eu sentia vontade de fazer algo ruim. Eu já me descontrolei muitas vocês...pode não ser perigoso pra você, mas é perigoso para todos aqueles que você ama.
- Sun...por favor... - Sunghoon já havia molhado até sua camiseta de tanto que estava chorando.
- Eu estraguei sua vida uma vez...não me perdoaria se fizesse isso de novo. -Sunoo puxou o garoto para perto de si - Mas eu estarei sempre com você...bem aqui.
O mais novo apontara para o coração de Sunghoon, mas o Park não conseguiria abandonar seu choro. Então Sunoo achou melhor calo-lo com mais um beijo doce.
XXX
24 de dezembro de 1948 - 3 meses depois do resgate de Sunghoon
Todos estavam reunidos na casa do japonês, os quais comemoravam, não só o Natal, como a saída dos garotos no jornal da cidade.
- Nishimura Niki, Jay Park, Huang Renjun, Yang Jungwon, Jake Sim e Wong Yukhei, jovens de apenas 14 e 15 anos, juntamente ao lado do renomado jornalista, Lee Heeseung, contribuíram para a derrubada de um imenso esquema criminoso encabeçado por Kim Simon, devolvendo um total de 20 crianças desaparecidas de volta a seus lares e provocando a prisão de mais de 40 agentes policiais envolvidos à uma milicia criminosa dentro da cidade. - a mãe de Niki proferia orgulhosa, enquanto todos escutavam atenciosamente, até que lhes fosse desferido uma salva de palmas ao final.
Todos os outros meninos se viam envergonhados, enquanto Niki distribuía sorrisos orgulhosos por ter participado do caso. Sunghoon não poderia estar mais feliz por ter aqueles tipos de amigos, os quais jamais haviam deixado de procura-lo, mesmo quando tudo apontava para que este estivesse morto.
- Queria o nome do Doyoung e do Taeil nesse jornal... - murmurou Niki após sentar-se - Se não fossem por eles nada disso seria possível, é uma pena que eles tenham escolhido terem ficado longe da mídia.
- Tem razão, o Doyoung sabia desde o principio que Simon tentaria enlouquecer o Sunoo... Ele reuniu todo mundo a tempo e fez com que ficássemos unidos e ignorássemos a hipnose de Simon... E o Taeil que teve a ideia de mostrar apoio ao Sunoo, mostrar que estávamos lá por ele. - Jake dizia empolgado, lembrando-se como tudo havia acontecido naquele dia.
- Queria ter estado lá...conhecido o Sunoo... - murmurou Niki, causando certo desconforto em Sunghoon m. Sentia falta do Kim.
- Ele era mesmo incrível, não é, Hoonie? Fico feliz que ele tenha cuidado de você enquanto eu estive longe. Jungwoo sempre fala muito bem dele... - Lucas comentou sorrindo, fazendo Sunghoon assentir.
- Ele era um bom garoto mesmo...não merecia tudo que sofreu...e-eu queria ter feito mais por ele...ter o conhecido melhor...mas a maior parte do tempo em que estive com ele...não era exatamente eu.- murmurou o Park, lembrando-se dos momentos com o outro garoto.
- Não importa se você estava pela metade, Hoonie... Ainda era você. E você era o suficiente para que ele sorrisse. Porque você torna as pessoas melhores só com sua presença. - concluiu Heeseung, acariciando os cabelos do irmão.
XXX
A hora da ceia já havia passado. Os garotos estavam no quarto de Niki enquanto os adultos conversavam na sala de estar.
Sunghoon estava saindo do banheiro quando viu um reflexo estranho em meios às luzes do pisca-pisca da árvore de Natal do japonês.
- NIKI! VOCÊ COLOCOU UM PISCA-PISCA ROSA NA ÁRVORE?! - exclamou Sunghoon, encarando com estranheza para o enfeite de Natal.
- NÃOOOO!
- Sun? É você...?
Sunghoon se aproximou do local, tocando na árvore com cuidado. Tinha um aperto no peito, com a esperança de reencontrar o garoto. Mas tudo que achou por ali foi uma caixinha de música.
Abriu com cuidado, já desconfiando de quem poderia tê-la deixado por ali. Desta não poderia soar música diferente, senão aquela que os conectava.
Naquela noite de Natal, Sunghoon cantarolava La Vie em Rose na esperança de que, alguma vez, pudesse fazer um dueto ao lado daquele que mais amava.
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