Capítulo 1 - O Reino

Eu já tinha muito com que me preocupar, mas os meus superiores não se importavam, com uma série de assassinatos acontecendo ao redor do reino, eu não tinha tempo para um almoço na corte.

Enquanto o motor a lenha daquele veículo fazia um barulho infernal, eu tentava focar minha mente para procurar unir as pontas do caso. Tentando lembrar de quaisquer coincidências entre os mortos mais recentes. Nenhum assassino em série mata aleatoriamente, deveria haver um padrão.

Três mortes em três semanas, um bêbado que saía de um bar, um morador de rua e uma mulher de um bordel. Não havia muito sobre o passado de cada um, isso dificultava minha vida.

A mesma maldita carta encontrada nos locais dos crimes o Ás de paus, aquele maldito invento que quando tocado explodia e em sua fumaça surgia as palavras "os de paus se lembram".

O veículo parou em frente ao castelo e eu desci. Colocando a cartola sobre a cabeça, o coração de Copas desenhava as torres claras do castelo, assim como enfeitava a cartola escura que eu usava e o casaco.

As boras de couro também tinham o emblema do nosso reino nelas, uma maldita formalidade para os nobres. Subi as escadas de mármore branco até as portas que possuíam o formato do coração de copas.

Os guardas do palácio pegaram minha identificação e me permitiram entrar com as minhas armas.

Caminhei para dentro até estar no salão do trono onde o rei e a rainha estavam. Ele usava roupas brancas com apenas o símbolo de copas enfeitando, ela usava um vestido vermelho longo e de gola alta e o símbolo do reino o adornava em preto.

Curvei-me aos monarcas retirando a cartola da cabeça enquanto o fazia.

— Louis, agradeço por atender ao meu chamado — o rei disse.

— É sempre uma honra servi-lo, majestade.

— Vamos para a sala de chás do lado oeste do castelo — pediu a rainha se levantando.

Ela caminhou para fora da sala e o rei foi atrás. Os guardas os seguiram e eu fui atrás destes. Quando entramos na sala eu me senti enclausurado como sempre me sentia na corte.

As xícaras também tinham o símbolo de nosso reino, assim como as decorações. O excesso de vermelho me lembrava o sangue que vi espalhado no chão da rua apenas horas antes.

— Soube que você é o responsável pela investigação das mortes em nosso reino — o rei disse. — Achei que precisava lhe dar algumas respostas.

— Por favor, estou aceitando quaisquer informações de ajuda.

— Entrei em contato com a rainha de Paus, ela me disse que não está envolvida com os crimes e me garantiu que seu reino nada tem a ver com estes crimes, ela também ofereceu qualquer ajuda em sua investigação. Eles estão sendo fiéis ao tratado de paz nos últimos cinquenta anos, não acredito que estejam por trás disto — falou.

Encarei os dois que pareciam certos daquela informação e suspirei.

— Então, acredito que alguém queira causar uma guerra entre os reinos. Me parece óbvio que o assassino é alguém de Copas, só preciso descobrir quem.

Encarei a xícara ainda intocada e me perguntei como seguir algum caminho e quais eram os caminhos que aquela situação me dava.

— Há alguma maneira de ajudarmos na investigação? —  a rainha me perguntou. — Nosso povo está sendo assassinado, gostaria de ajudar como puder.

O reino de Copas não possui muitos assassinatos, geralmente a punição para o crime é a morte e com todas as nossas invenções, fica fácil desvendar os assassinos, então poucos assassinatos eram cometidos, mas este homem é diferente de qualquer um que já vi.

Os monarcas realmente se preocupam com o povo ao ponto de oferecerem sua ajuda naquela situação e eu me via tentado a aceitar, já que este assassino era como a neblina da noite que desaparece com o sol e deixa poucas marcas para trás.

— Pensarei a respeito e lhes darei uma resposta — avisei.

— Não hesite em nos avisar se pudermos ajudar — pediu a rainha.

Um criado entrou trazendo consigo uma carta e a entregou a rainha, a mulher a abriu e suspirou. Observei-a contendo minha curiosidade a respeito.

— O que foi? — o rei questionou.

— Minha prima, a nova duquesa, ainda não se sente pronta para estar em sociedade. Pediu desculpas por não poder comparecer à reunião desta noite.

— Já faz um mês que a antiga duquesa faleceu, precisamos apresentar esta garota a sociedade, todos já começam a achar que ela é um fantasma! — o rei esbravejou.

— Tenha compaixão, minha tia morreu há alguns anos, essa jovem foi criada por minha prima, é quase como perder uma mãe — disse a rainha.

Eu estava desejando sair daquela mesa e voltar as minhas investigações, mas não poderia fazê-lo até que me liberassem.

— O senhor esteve na mansão da duquesa quando ela faleceu, não é? — o rei me perguntou.

— Estive, majestade.

— Chegou a ver a irmã dela, a herdeira do título?

— Não senhor, os criados apenas me informaram que a garota não se sentia disposta para ver ninguém. Precisei ir até a mansão para dar uma olhada no corpo, meus superiores queriam ter certeza de que a duquesa morrera por causas naturais.

— Seus superiores não deveriam desconfiar de todos — a rainha disse.

Os dois entraram numa conversa baixa e permaneci imóvel até que o rei me dispensou, saí do castelo e o fim de tarde me recebeu. Eu temia que naquela noite houvesse mais um assassinato e sentia que não seria capaz de impedir.

Segui para o veículo e pedi que me levasse a um bar. Eu precisava beber um pouco. Quando entrei no estabelecimento vi poucos rostos conhecidos e logo pedi uma garrafa de rum, sentei-me junto ao atendente e ele me serviu enquanto eu esvaziava o copo diversas vezes.

Enquanto bebia me perguntava que tipo de pessoa era o assassino. Ele tinha habilidade e com certeza conseguia equipamentos muito sofisticados.

Paguei pela bebida e fiz meu caminho para casa. Um plebeu jamais conseguiria pagar por equipamentos como os que o assassino parecia usar e as cartas que explodiam... Aquilo era uma invenção que exigia muitos recursos.

Com toda certeza, o assassino era alguém rico. Ele deveria ser muito forte, pois os dois homens que foram mortos com toda certeza eram bons lutadores.

Não encontramos pegadas úteis nem qualquer vestígio do assassino, mas eu acreditava que ele seria alto.

Passei a mão pelos cabelos embaraçados e observei o céu estrelado antes de entrar na minha casa. A criada me recebeu e apanhou a bolsa com meus equipamentos.

Sem uma palavra, segui direto para o quarto. Eu precisava de uma forma de me encontrar com os mais ricos da cidade, para conseguir informações sobre eles.

Apaguei naquela noite e acordei com o insistente som dos tambores que tocavam quando os ponteiros do relógio chegavam às seis da manhã.
Ignorei a dor de cabeça e comecei a planejar o que faria em seguida.

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