Prólogo
Como qualquer coisa importante que acontece em sua vida, ela geralmente divide sua existência em duas partes: antes e depois.
O antes corresponde ao que você fazia antes da Grande Virada, saca? Corresponde a quando você tirava meleca do nariz em público com cinco anos de idade ou a quando sua única preocupação era tirar uma nota boa na escola.
O depois geralmente vem acompanhado de coisas ruins. Como por exemplo, você não tira mais a meleca em público, mas fica incomodado achando que o nariz está sujo; e percebe que, se seus pais não pararem de brigar no andar debaixo, fica difícil prestar atenção na matéria da escola. E então, BOOM, recuperação!
Minha Grande Virada aconteceu no verão, na última sexta-feira do mês de junho, cerca de sessenta e oito dias antes da formatura do primeiro ano.
Porém, ela não veio acompanhada de coisas totalmente ruins. Acho que eu fui um felizardo sortudo que, dentre bilhões de outros, fui privilegiado por um evento irreprovável que marcou não só meu ensino médio, mas, como eu esperava, marcou também toda a minha vida.
E, assim como boa parte das coisas que me aconteceram futuramente, elas envolviam esse meu grande evento irreprovável que, ao contrário de muitos eventos irreprováveis por aí, o meu não era um acontecimento em si, mas era uma pessoa. A minha pessoa favorita.
Passei minhas últimas horas do antes na manhã de sexta, assistindo Kim Taehyung babar por Micha pelos corredores. Eu estava no meu armário, pegando meus materiais, quando ela e algumas amigas passaram por nós. Ela lançou uma olhadela na direção de Tae, que praticamente se arrastou de joelhos até ela.
Ele continuou olhando e eu me virei para a observar também. Todo mundo se virou, na verdade. Não era coincidência eu só poder ver a nuca de todo agora. Micha sumiu no meio dos alunos, e virou no corredor a direita, em direção a aula de artes que teria. Eu ainda tinha o trabalho de observar algumas coisas que ela fazia e eu nem sabia o porquê. Acho que, no fundo, eu sentia falta da amizade dela.
Kim Micha era do segundo ano. Nós nos conhecemos desde o jardim de infância — a maioria daqui se conhecia desde o jardim de infância, na verdade.
Nós já fomos vizinhos e melhores amigos, até eu estar no terceiro e ela no quarto ano do ensino fundamental, quando ainda frequentávamos a Seul Elementary. Vivíamos um na casa do outro e até saíamos com ambas as famílias nos finais de semana. Mas, com o tempo, parecia estranho ficarmos perto um do outro, principalmente na escola. Sempre tinha algum idiota para cantarolar: "Jimin e Micha tão namorando, Jimin e Micha tão namorando!".
No final do terceiro/quarto ano, eu e Micha tivemos uma discussão boba que eu nem me lembro o motivo. Algumas semanas depois ela se mudou com os pais para o centro e nunca mais nos falamos.
Micha mudou muito desde então. Ela passou a andar com os bagunceiros, mesmo que pequena, e foi ganhando espaço no meio deles com o tempo. Já a vi aprontar algumas coisas e batizar alunos novos com armas de xixi, como em Cidades de Papel. Não sei se ela realmente mudou, ou se ela sempre foi assim e eu não sabia.
A Kim era aventureira. Não tinha uma comitiva de garotinhas ricas atrás de si, como Jieun tinha. Ela era popular por si só, embora tivesse amigos populares também, mas que não andavam por aí seguindo-a como pintinhos.
O lado bom disso tudo era que Micha e sua trupe nunca mexeu comigo. Acho que grande parte disso se devia ao nosso antigo laço emocional. Ela era uma boa amiga e acho que ela achava a mesma coisa de mim também. A forma de ela agradecer era tentando me manter mentalmente estável até o final da escola, e a minha era de não entrar em seu caminho tentando reatar a amizade.
Quando me voltei para frente outra vez, percebi que Tae ainda estava olhando para o final do corredor, com a saliva quase escorrendo pelo canto da boca. Eu fiz uma careta e terminei de enfiar as coisas na minha mochila.
— Cara, você deveria falar com ela.
Ele demorou uns três segundos para processar o que eu havia dito e, quando finalmente o fez, franziu o cenho e se abaixou para pegar sua mochila esportiva do chão. Eu sequer podia ver seu rosto direito, estava completamente tapado pela porta aberta do seu armário vermelho.
— Está louco? — Ele disse. — O que eu falaria com ela? Tipo — então ele puxou a porta para poder me olhar —, "Oi Micha, como você está? Eu sou o Taehyung e provavelmente você nunca me viu antes, mas, eu gosto de você, assim como a escola inteira, será que você poderia me dar uma chance?".
Eu suspirei e puxei meu caderno, despreocupado.
— Tire o "provavelmente você nunca me viu antes" e o "assim como a escola inteira" que você ganhará um beijão — eu disse sério, mas só porque sabia que ele se irritaria.
Taehyung bufou e enfiou seu livro de educação física na bolsa. Sua turma tinha feito um artigo no jornal esportivo da escola sobre os perigos das aulas de educação física e, um deles, incluiu o perigo que era os shorts do sr. Johnson — professor de educação física de (infelizmente) praticamente todo o ensino médio. Embora toda a escola tenha concordado que aqueles shorts eram horríveis e um crime a sanidade visual dos alunos e funcionários, a turma dele ainda ficou um mês de castigo.
Era tão apertado que, quando ele se abaixava, as costuras pareciam-se como dentes de crocodilos, prestes a explodir e mostrar toda a sua intimidade enrugada. Sem contar que ele ainda cuspia muito quando falava. Ele era estrangeiro, embora, ninguém soubesse exatamente de onde ele tinha surgido. Há boatos de que ele nasceu nos Estados Unidos ou na Inglaterra por causa do sobrenome, mas ninguém nunca o viu falar inglês — sequer tinha sotaque inglês ou americano. De qualquer forma, nós ainda tínhamos o artigo impresso na parede do Buteco, por puro entretenimento.
Buteco, em si, não era um bar ou um lugar que vendia bebidas alcoólicas, não somente, pelo menos. Buteco era um galpão que ficava logo atrás da nossa escola, na rua debaixo. Acontecia de tudo lá. Desde gente matando aula, até venda de drogas e bebidas. Alguns até transavam naqueles sofás imundos.
Ele tinha esse nome porque era realmente um boteco antes. Um boteco chique, com mesas chiques e bebidas chiques, porém ainda era pequeno e ainda tinha um nome esquisito: Burn Tears and Come. O nome não fazia sentido algum, mas nós nos recusamos a esquecê-lo, então juntamos as iniciais e aí nasceu o nosso querido Buteco.
Porém, desde que uma menina foi encontrada nua, por um professor, fomos proibidos de entrar lá.
Dizem que ela estava com o Bill, um garoto dinamarquês do último ano. Ele deu no pé quando ouviu a porta ser aberta e se escondeu atrás da geladeira e saiu pela porta — aquele lugar não tinha janelas — quando o professor foi ver se tinha mais gente escondida nos quartos.
Jina — a garota — levou a culpa sozinha. Ela pegou uma semana de suspensão, mas só porque tinha matado aula várias vezes. O galpão em si não tinha muito a ver, até porque ele não fazia parte da escola.
Só fomos proibidos de entrar lá porque tinha dono e, depois que a notícia correu como enchente pela vizinhança, o proprietário ficou sabendo e colocou um guarda para ficar de vigia. Mas o guarda era um dinheirista do caramba. Era só oferecer duas notas de mil que ele deixava você entrar até com um leão de circo lá dentro.
Pobres leões...
Enquanto Tae terminava de colocar as coisas dentro da mochila e arrumava um espaço para deixar seu sax — ele fazia parte da banda da escola —, Hoseok chegou atrasado, como sempre. Ele correu, com sua capa de baixo balançando feito um boneco de posto, até nós. Hoseok corre da mesma forma que eu corria com cinco anos de idade. Por algum motivo, sempre parece que tem um fantasma muito malvado atrás dele.
— Bom dia — ele disse, puxando o ar com dificuldade e se encostando no armário ao lado do de Tae. Eu fechei a porta do meu e procurei pelo cadeado no meu bolso de trás. Antes que eu pudesse cumprimentá-lo, Taehyung começou:
— Bom dia? — julgou, o olhando irritado. — Eu te esperei no terminal por vinte minutos, Hoseok. Vinte minutos. Eu nem tomei café, achando que você apareceria no segundo ônibus, mas você nem respondeu as minhas mensagens.
Taehyung sempre tomava café no colégio, antes das aulas. Isso porque ele morava longe e precisava pegar dois ônibus para chegar aqui e ficava enjoado quando comia muito cedo. O segundo ônibus ele sempre pegava com Hoseok, no terminal, e eles vinham juntos. Bom, isso na teoria. Na prática, Hoseok sempre se atrasava.
— Você tem que me avisar quando for se atrasar! Já é a segunda vez que você não vem e não me avisa.
Hoseok se desencostou do armário fazendo uma onda. Depois olhou arrependido para Taehyung enquanto torcia o braço para pegar a chave no bolsinho onde ele deveria carregar uma garrafa d'água. Eu me reencostei no armário e cruzei os braços, esperando que os dois se resolvessem.
— Desculpa, Taetae — eu encolhi os ombros e fiz uma careta de vergonha. Hoseok o chamava assim porque achava que estava sendo fofo. Mas só usava quando Taehyung estava bravo com ele. — Eu iria avisar, mas eu estou sem crédito e minha internet está desligada desde que a Capetinha derrubou o modem e cortou os fios.
Capetinha era a irmã mais nova de Hoseok. Desde que seus pais se separaram, meio que é ele quem mais cuida dela. A ajuda a se arrumar para a escola e a leva até o ponto de ônibus para pegar o escolar. Ela tem esse apelido justamente por fazer jus ao nome.
Ela dificultava a vida de Hoseok ao máximo. Rabiscava paredes, sujava louças limpas, vivia picotando livros e trabalhos do irmão e ainda inventava mentiras para o pai dele, dizendo que ele não a buscou no ponto do escolar depois das aulas, ou que não fez seu lanche. A garota tem cinco anos, mas pode causar uma guerra entre os neurônios-paz-e-amor de Hoseok e os neurônios-das-trevas, que raramente apareciam.
Em sete anos de amizade, eu só vi Hoseok perder a cabeça quatro vezes e três delas foram com Hanjun, sua irmãzinha. A outra foi com Emanuel, um carinha estrangeiro que ele conheceu na praia que quebrou todas as suas pázinhas e baldinhos de areia quando ele tinha nove anos. E todas elas foram sinistras.
Taehyung respirou fundo e fechou a porta do armário. Hoseok foi rápido em tirar um potinho transparente da mochila e entregar para o saxofonista. Eu só fiquei olhando. Hoseok odiava ficar brigado com alguém, então sempre fazia de tudo para acertar logo as coisas e geralmente era o primeiro a pedir desculpas. Ele pedia desculpas com tanta facilidade que eu até sentia um pouquinho de inveja. O problema era que, nem sempre ele estava errado. Quando Taehyung e ele brigavam, o primeiro sempre ficava ainda mais irritado quando Hoseok vinha pedir desculpas por algo que ele não tinha culpa. Dizia que ele precisava se valorizar mais. E eu achava o mesmo.
— Eu ia dar para você no ônibus, mas eu me atrasei — o potinho estava soando por dentro eu fiz uma caretinha, mas era fofo. — São bolinhos fritos de massa.
— Obrigado — Taehyung agradeceu, pegando o potinho com as duas mãos e o abrindo. — Desculpa, eu não sabia que estava sem internet e sem crédito.
Hoseok assentiu e ficou tudo bem. Taehyung abocanhou os bolinhos e me ofereceu alguns, mas eu neguei. Eu estava entupido de cereal industrializado e super, super cancerígeno.
O primeiro sinal tocou enquanto Hoseok separava seus materiais. Nós o esperamos e depois seguimos para nossas salas.
Naquela tarde teria ensaio da banda. Meus amigos faziam parte dela, mas eu não. Então eu os esperava, sob a janela, do lado de fora da escola, sentado na grama, geralmente lendo ou adiantando alguma lição. Era assim toda segunda, quarta e sexta. Era mais um ritual, na verdade. Eu podia simplesmente ir embora às seis, mas sentia que deveria esperá-los até às dezenove e meia.
Eu também os esperava porque, durante as quartas, o irmão mais velho de Hoseok — que não morava mais com ele, mas em um apartamento minúsculo e bolorado no subúrbio — passava por aquelas ruas para vender alguns saquinhos de pó de giz inaláveis — completamente seguros e benéfico à saúde, dizia ele — e aproveitava para nos dar carona, deixando todo mundo em casa. Eu morria de medo e minha pulsação ficava perigosamente acelerada toda vez que eu subia naquele celta 2001 cinzento rebaixado. Sempre encolhia as pernas, temendo que o assoalho cedesse ao passar raspando na lombada. Aquela coisa já estava tão destruída que a porta do carona era amarrada em um rebite do banco. Ninguém ia na frente, exceto pelo irmão do Hoseok.
Tipo, era perigoso, mas era divertido.
Depois do fim das aulas da parte da manhã, durante o almoço, Hoseok comentou sobre como as aulas estavam sendo chatas ultimamente. Eu concordei e disse que era estranho ele dizer isso, porque era o puxa-saco número um dos professores. Ele rebateu dizendo que ele não gostava dos professores, mas que os professores eram quem gostavam dele.
Era verdade, afinal. Hoseok não precisava fazer esforço nenhum para as pessoas gostarem dele. Até hoje eu não entendia como ele não era popular. Todo mundo sabia que o Jung e Taehyung faziam parte da banda da escola, mas nunca davam bola, como davam para Namjoon, o vocalista e Seokjin, guitarrista e sub vocalista da Inside.
Havia uma certa rixa entre os dois. Seokjin dizia que Namjoon não deveria estar no centro porque Namjoon apenas precisava cantar e sorrir o tempo certo para que todos caíssem de amor por ele. Enquanto isso, ele e os outros precisavam tocar, sorrir, cantar e ainda fazer expressões faciais que chamassem atenção, tudo no tempo certo.
Óbvio que eu só sabia disso porque eles me contavam e porque eu ouvia eles discutindo, encostado debaixo da janela. Ninguém mais sabia da competitividade que pairava naquela sala depois das aulas.
— Eu disse para o meu irmão passar hoje a noite para pegar a gente — Hoseok disse, com a boca cheia de purê de batata.
Eu engasguei com o suco de uva e Tae bateu nas minhas costas. Mas hoje nem era quarta!
— Por que?! — Eu perguntei com a voz entrecortada
— Calma, cara. Escuta, ele disse que esqueceu de fazer uma entrega na quarta e vai passar aqui hoje outra vez. Ele perguntou se a gente queria carona e eu disse que sim.
— Você não estava sem internet e sem crédito? — Taehyung perguntou, me oferecendo um pouco da sua água. Eu neguei e disse que já estava bem.
Hoseok concordou e passou seu garfinho pelo purê, construindo várias estradinhas no prato branco.
— Sim, mas ontem a noite ele apareceu lá em casa. Wooseok escalou a janela do meu quarto e me pediu dinheiro. Eu o mandei procurar um emprego e ele ainda me ofereceu uma carona. Estava claramente chapado — e enfiou uma tirinha de carne na boca.
— Mas ele já vende pó — Taehyung lembrou.
— Eu sei. Eu quis dizer um trabalho fixo. Nem sempre ele ganha bem com isso. Às vezes as pessoas não pagam e no fundo ele é molengo para ir cobrar.
— Seu irmão é igual a você. Só que viciado — Tae completou.
— Também sei disso.
Eu ri e continuamos conversando, porém eu me senti distante. Eu sempre sentia o frio na barriga de sair com o irmão de Hoseok. Ele era legal, mas eu sabia que muita gente para quem ele vendia não era. E também tinha medo da polícia.
Estávamos terminando o almoço quando levantamos os olhos das bandejas para olhar para um garoto do nono ano passando por nós e atravessando o refeitório com os ombros erguidos e andar enrijecido. Sua camiseta branca estava toda molhada com alguma coisa amarelada.
Eu franzi o cenho, mas ficou meio óbvio quando um cheiro ruim pairou sobre a cantina. Taehyung parou de comer seu hambúrguer e apontou com a cabeça, eu e Hoseok nos viramos para trás e vimos Micha junto com alguns garotos do time de basquete e de lacrosse com aquelas armas gigantes de água.
Mas todo mundo sabia que não era água que tinha ali dentro.
Eu fechei a cara e me virei para frente outra vez. Hoseok passou um tempo maior os encarando, mas se voltou para frente também.
— Será que era de gente ou...? — Taehyung perguntou.
— Não acho que eles iriam conseguir fazer qualquer outro animal mijar lá dentro — eu disse, sentindo meu estômago revirar um pouco.
Taehyung assentiu. Até hoje não sei o que ele via em Micha para gostar tanto dela.
— Eles são uns idiotas — Hoseok comentou, baixo.
— Eles são uns filhos da mãe — eu disse. — Para não dizer outra coisa.
— Ei, a mãe deles não tem culpa — Tae emendou.
— A mãe do Jiyoung tem. Ouvi dizer que ela o abandonou numa vala — Hoseok comentou outra vez.
— Onde foi que você ouviu isso, cara? — Eu perguntei.
— Ouvi Seokjin falando com Yoongi na sala de prática.
— Quem é Yoongi? — Eu indaguei, tentando buscar qualquer informação arquivada sobre um dos dois terem me mostrado algum Yoongi quando entraram na banda.
— É o tecladista, cara — Hoseok disse como se fosse óbvio. — Não lembra do cara que fez o tocou A Thousand Miles da Vanessa Carlton na aula de música.
Eu bati na minha testa. É claro que eu lembrava! Só não sabia o nome dele. Acho que ele foi vítima das armas de xixi apenas uma vez, no primeiro dia de aula, no ano passado. Nunca o vejo nos corredores, nem em lugar algum.
***
Foi quando eu li pela quarta vez a página dezessete, que eu percebi que O Médico e o Monstro e o refrão de What I Like About You do The Romantics sendo repetido um milhão de vezes na sala de música, não combinavam. Eu fechei o livro sobre o meu colo e pensei seriamente em me levantar um pouco e pedi-los para abaixar o volume dos instrumentos, mas aí me lembrei que era eu o intruso ali.
Foi quando eu também percebi que eu não era mentalmente desenvolvido para ler uma obra com tantas palavras difíceis e que agradeci por ter nascido neste século.
Eu tinha que terminar de ler este livro para fazer um resumo e entregar para a professora daqui a duas semanas. Bem, eu já tinha lido uma boa parte, mas não tinha entendido praticamente nada. A verdade era que eu odiava livros antigos demais por achar tudo muito rígido e tudo muito estranho. Começando pelo vocabulário — tipo, ninguém mais hoje em dia usa capcioso para descrever algum pilantra por aí —, até a forma como as pessoas agiam e se vestiam. Mas, ainda era algo que, segundo a professora, nos traria uma grande bagagem de aprendizado. Até agora o que eu aprendi foi que não se deve confiar em médicos que têm aparência de macacos.
Encostei a cabeça na quina da janela e fiquei observando o movimento da rua. Daqui dava para ver um conjunto de prédios abandonados, lá ao longe, quase no final do bairro. Já tinha passado lá algumas vezes e o lugar era sinistro. Não tinha janelas, nem portas, apenas os espaços onde elas deveriam estar. Pareciam prédios de papelão soltos no meio de um matagal que crescia mais e mais a cada dia.
A obra fora abandonada há mais de dois anos, porque o dono supostamente morreu e a família não quis continuar a construção. Eles saíram do país e devem estar desfrutando da herança do velho tomando whisky nas Maldivas ou pegando um bronze em Miami, eu realmente não fazia ideia.
O fato era que dava um arrepio passar por lá quando íamos visitar minha avó, em Busan, ou quando íamos ao centro da cidade.
Me peguei pensando em como as pessoas conseguiam subir tão alto para pixar lá em cima. Era uma coisa que eu sempre tive curiosidade, mas nunca descobri como. Tipo, era alto para caramba, e as pixações ficavam em lugares praticamente inacessíveis, como no meio entre uma janela e outra, ou nos encontros das paredes.
Fechei os olhos quando a música lá dentro da sala começou a sair com mais fluidez. Então ouvi a voz de Namjoon soar, ainda sem o microfone. Eles estavam fazendo um remake, trazendo uma música antiga para o estilo deles. Tinha mais guitarra e mais bateria também, além do vocal de Namjoon não ser nenhum um pouco parecido com o do vocalista do The Romantics.
Porém quando chegou na parte do destaque da guitarra do Seokjin, ele errou e a banda toda parou a pedido de Namjoon e os dois começaram a discutir. De longe, ouvi Tae suspirar. Taehyung suspirava bem forte quando estava irritado. Na verdade, a parte de Seokjin meio que foi improvisada. Isso porque na música original, essa ponte é feita com uma gaita de boca, mas, ninguém da banda sabe tocar gaita de boca.
Eu revirei os olhos, bati as mãos na grama e me levantei.
— O baterista — eu disse, aparecendo feito fantasma na janela. Seokjin e Namjoon, que estavam na frente da sala, um de frente para o outro discutindo, pararam e olharam para mim.
— Desculpa, o quê? — Namjoon perguntou e eu revirei os olhos mais uma vez e apontei com a cabeça para o baterista.
— O baterista — eu repeti. Ele virou a cabeça para trás para me olhar. Eu estava quase em cima dele, já que ele ficava quase colado na parede da janela. — Ele está atrasado e o Seokjin está seguindo a batida dele, mas os outros estão seguindo o ritmo da sua voz. Se o baterista tocar um pouquinho mais rápido, o Seokjin pode fazer a parte dele direito e vocês saem logo dessa barulheira. Eu já estou com dor de cabeça de ouvir vocês tocando a mesma coisa há uma hora.
Todo mundo ficou um tempo me olhando do lado de dentro. Hoseok e Taehyung estavam assustados por eu ter levantado do nada e conversado com eles tão abertamente. Discretamente, eu vi Taehyung juntar as mãos e olhar para o teto, em louvor. Ele também já estava cheio.
Namjoon continuou me encarando e eu continuei também, mas só porque tinha uma parede nos separando. Então, o silêncio foi quebrado quando Seokjin bateu no peito do outro Kim e ele quebrou o olhar. Eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
— Eu te disse que era a bateria, seu idiota egocêntrico! Valeu, Jimin — e ele acenou para mim. Eu concordei com a cabeça e enfiei as mãos nos bolsos da calça e me balancei nos calcanhares enquanto sorria, mas saiu mais como uma careta.
— É. Obrigado, Jimin — Namjoon disse, mas não era o que ele parecia querer dizer.
— Por nada — e me abaixei outra vez, sumindo da vista deles.
Alguns segundos depois, a música começou do início outra vez. Namjoon cantou no microfone dessa vez e o baterista continuou no mesmo ritmo até o final. Quando chegou no refrão, eu esperei com expectativa e ele passou quase perfeito. Na parte de Seokjin, eu prendi a respiração e torci para que desse certo. Não queria dar o gostinho de Namjoon dizer que eu estava errado.
Acho que o baterista e Seokjin também estavam empenhados nisso, porque ele deu uma base muito boa para o guitarrista. Seokjin dedilhou e dedilhou até Namjoon mudar o tom e todos os instrumentos ficarem mais baixos.
— "What I like about you" — ele cantou no final da ponte e todo mundo lá dentro pulou, inclusive eu, só que sentado. Eu apenas tirei meu bumbum do chão.
Eles continuaram naquele ritmo baixinho e calmo até erguerem o volume de volta e encerrarem a música.
Satisfeito, eu estiquei as pernas e abri o livro sobre as coxas, enquanto ouvia todo mundo comemorar lá dentro. Eu sorri ladino e tentei me concentrar em ler.
Este era mais um motivo por eu sempre esperar meus amigos nas tardes de sexta.
***
— Caramba, cara — Taehyung disse, ao meu lado no carro.
— Eu pensei que o Namjoon fosse pular em você — Hoseok disse.
— Eu também — eu assumi. — Só continuei porque sabia que teria bastante gente para segurá-lo caso ele tentasse atravessar a janela.
Os dois riram, inclusive o irmão de Hoseok. Ele já tinha ido entregar sua encomenda e eles estavam indo me deixar em minha casa.
Meu coração estava acelerado e minha barriga gelada. Seria mentira se eu dissesse que não ficava olhando para trás a todo instante, com medo de estar sendo seguido pela polícia ou algo assim. Às vezes eu tinha a mania de pensar nas coisas mais trágicas possíveis para que eu pudesse me preparar caso elas realmente acontecessem. Geralmente não aconteciam, mas eu estava sempre preparado, ou achava que estava, pelo menos.
Hoseok e Taehyung continuaram conversando sobre a banda e eu concordava sempre que eles diziam alguma coisa só para fingir que estava prestando atenção. Mas a verdade era que eu estava me recuperando de um quase ataque quando vi um carro luminoso passar por nós com uma sirene ligada. Era uma ambulância, mas mesmo assim serviu para me deixar com as pernas tremendo.
Eu sentia um pouquinho de diversão em fazer aquilo, mas também sentia medo e, de algum tempo para cá, este medo vem quase ultrapassando a diversão.
O irmão de Hoseok perguntou como andavam as coisas na escola e eu disse que andavam bem. Que eu tinha um trabalho para entregar sobre um livro escrito antes da rainha da Inglaterra ter nascido. Ele riu e disse que não fazia sentido estudar uma coisa tão velha. Então eu disse que, depois que eu terminasse de ler, ganharia uma grande bagagem de aprendizado só para ver se fazia mesmo sentido pelo menos quando dito em voz alta. Não fazia, mas eu afirmei uma segunda vez como se fizesse.
— Mas você nem vai usar isso no futuro, carinha — ele disse.
— Eu vou — discordei. — Eu preciso saber que não devo criar poções mágicas para me tornar outra pessoa — zombei e ele riu e me olhou pelo espelhinho retrovisor.
— Em que página você está? — Ele perguntou.
— Dezessete — é, eu não tinha avançado nada enquanto esperava meus amigos.
— E tem quantas?
— Cento e dezoito ou cento e vinte, por aí.
Ele concordou.
— Eu li ele quando estava no primeiro também.
Eu me empolguei.
— E você entendeu alguma coisa dele? — Perguntei.
— Não. Hosek babou no meu trabalho todo com aquele chupetão! — Ele expôs e Hoseok passou por cima de mim para dar um tapa nele, que gargalhou. — É sério, Hoseok ainda chupava chupeta com cinco anos e babava por tudo... Ai!
— Cala. A. Boca! — Hoseok dizia pausadamente, distribuindo um soco a cada intervalo.
— Agora é a Capetinha quem baba pela casa inteira — ele disse, massageando o ombro e vi quando Hoseok ficou quieto, colando o rosto na janela. — Eu passei por isso tudo quando você nasceu, carinha.
— Mas pelo menos a mamãe estava em casa, otário.
— Ei, ei, ei — ele manifestou e tirou as mãos do volante, em sinal de rendição e se virou rapidamente para trás, antes de mudar a marcha e diminuir a velocidade do carro. — Eu só estava brincando com você.
O Jung mais novo não disse nada, mas continuou quieto por todo o trajeto. E eu achei melhor não insistir. Puxei meu celular do bolso e digitei uma mensagem positiva no Kakao e vi Taehyung fazer o mesmo. Ele veria quando sua internet voltasse. Eu o ligaria mais tarde.
Meu coração se acalmou durante pouco mais da metade do caminho quando saímos da área movimentada e chegamos aos bairros. Ninguém mais deu um pio dentro do carro e eu puxei o livro, de modo que o barulho das páginas e do tráfego lá fora fossem os únicos a serem ouvidos.
Ao chegar na minha rua, eu levei um susto ao ver uma caminhonete entrando na garagem da casa ao lado. Era ali onde Micha morava e faziam quase sete anos que ninguém entrava ali. O sobrado já estava deteriorando e as dobradiças ficando enferrujadas. Não sabia como alguém poderia cogitar a ideia de voltar a morar ali.
Por um instante, pensei ser Micha, mas então lembrei que seus pais provavelmente não tinham uma caminhonete — eles não gostavam de carros que ocupassem muito espaço. Então, quando o chão começou a tremelicar, eu olhei para o lado, percebendo um caminhão de mudança gigante vindo em nossa direção. O irmão de Hoseok acelerou primeiro e estacionou na rampa da garagem da minha casa.
— Não sabia que teria novos vizinhos, Park — ele disse.
Eu me virei para trás, acompanhando o movimento do caminhão até ele parar na rua, sem subir na calçada.
— É. Nem eu — disse.
— Será que tem garotas ali? — Taehyung perguntou e ficou de joelhos para olhar. Eu dei um tapa na sua perna e ele se virou para frente outra vez, com uma carranca.
— Ei, não tenho culpa se meu espírito adolescente está aflorando.
— Pensei que gostasse da Micha — eu disse.
— Eu gosto, mas é um amor platônico — eu ergui uma sobrancelha e cruzei os braços, como se dissesse "Ah, sério?! Não me diga, HA, HA!" Não que eu não acreditasse em um possível romance entre os dois. Taehyung não era tão ruim. O problema era Micha. — Qual é, Park! Você mesmo sabe que Micha é uma facínora.
Eu franzi o cenho e o encarei com cara de batata. Até Hoseok desencostou a cabeça da janela para olhar para nós.
— Que raios é facínora? — Eu perguntei.
Ele me olhou como se fosse óbvio.
— Alguém que é malvado, perverso, cruel.
— Não acho que Micha seja cruel — eu disse. Ainda queria acreditar que tinha uma pontinha de bondade nela. Tipo, ninguém é inteiramente mau ou bom.
— Claro, porque não foi você quem ficou ensopado de xixi mais cedo — ele rebateu e eu me calei. Era verdade. Micha nunca mexeu comigo, mas já acabou com muita gente.
Nós todos nos esprememos perto da janela esquerda do carro, apenas para tentar identificar quem estava chegando de mudança.
Dois homens saíram de dentro da garagem. Um parecia ter uns quarenta e tantos e o outro não devia passar dos vinte e cinco. Eles ficaram conversando com o caminhoneiro que saiu de dentro da cabine e logo começaram a descarregar os móveis. Uma mulher saiu de dentro do carro e abriu a porta, depois outro garoto, que parecia ter mais ou menos a nossa idade, saiu de lá também e começou a ajudar com as coisas mais leves.
Ele estava usando um moletom amarelo e calças jeans. Me perguntei se ele não estaria derretendo lá dentro. Mas, aparentemente, ele estava bem. Parecia um pouquinho emburrado, mas se esforçava para sorrir para o caminhoneiro que fazia alguns comentários engraçados sobre a viagem.
— Será que eles perceberam que a gente tá bisbilhotando a vida deles? — Wooseok perguntou, quebrando o silêncio. Eu me afastei da janela depressa e quase bati a nuca no nariz de Hoseok, que resmungou.
— Qualquer um num raio de dois quilômetros perceberia que estamos bisbilhotando qualquer um. A gente não sabe disfarçar — Tae falou e eu concordei.
— Bom, acho que eu vou indo. Não quero assustar os novos vizinhos ainda — Tae abriu a porta e saiu. Eu me arrastei pelos bancos até estar fora do carro. — Até logo, pessoal. Obrigado pela carona, Jack — eu zombei, lembrando do filme que tínhamos assistido há umas semanas atrás.
— Não há de que, honey — Wooseok completou e fez uma careta apaixonada, com um biquinho de beijinhos e tudo. Eu ri.
— Tchau, Jimin — Taehyung disse entrando outra vez no carro. — E não assuste os vizinhos.
— Não vou — eu prometi.
— Tchau, Jimin — Hoseok disse, num muxoxo e eu sorri ladino.
— Tchau, Hoseokie. Tomem cuidado, não vou pagar a fiança de ninguém.
Wooseok ironizou uma risada e começou a dar ré, para sair do quintal.
Antes de ele ir embora, buzinou duas vezes e os vi acenando. Eu acenei também, na pontinha dos pés e me virei para entrar. Quando olhei para o lado, vi que o garoto me olhava um pouco estranho, talvez percebendo que realmente tinha alguém dentro do carro e que estava ali o tempo todo xeretando.
Eu ri amarelo, sem saber muito o que fazer. Então fiz um cumprimento de cabeça e enfiei as mãos nos bolsos. Ele ignorou meu cumprimento e continuou andando, com um tampo de mesa nas costas e uma cadeira nas mãos. Ele parecia um contorcionista.
O Sol estava quase se pondo, pintando o céu de amarelo e laranja. Era como se alguém tivesse subido nas nuvens e jogado um balde de tinta lá de cima, de forma totalmente abstrata. Mas era bonito, no final das contas.
Quando abaixei o olhar, fiquei um pouco cego, com um monte de desenhos deformados em coloridos sombreando minha visão. Odiava quando aquilo acontecia, porque eu não tinha nenhuma memória de movimento. Ou seja, eu nunca sabia onde pisar ou quantos passos faltava para eu meter a minha cabeça na parede de casa sem olhar.
Porém, decidido a não parecer mais um curioso, futricando os novos vizinhos, eu tentei, mesmo assim, chegar a minha casa e acreditei que pudesse abri-la sem enxergar quase nada.
Eu acreditei, realmente acreditei. Até tropeçar nos degraus da entrada e morrer por meio segundo antes de sentir meu joelho todo ralado. Eu praguejei baixinho e, com o susto, minha visão voltou ao normal em milésimos. Arg!
Então ouvi um risinho e me virei para olhar. Era o vizinho. Ele já estava de costas, entrando em casa. E eu me senti um idiota. Meu rosto ficou quente de vergonha e eu queria que existisse um botão para voltar no tempo. Droga!
Abaixei o olhar para ver, e eu quis muito, muito enfiar minha cabeça na água da pia. Minha calça tinha rasgado. Era nova, ou quase nova, mas era a única sem rasgos. Minha mãe me enterraria vivo.
Meleca!
Eu grunhi e tirei a mochila das costas. Estava mesmo doendo, mas eu sobreviveria sem um curativo. Estava mais preocupado com a calça do que com meu joelho em si. Era só um corte, mas em volta dele, ocupando quase todo aquele ossinho meio deformado, tinha um ralado enorme, cheio de pelezinha esfolada. Eu me arrepiei. Odiava machucados, mas não a ponto de ter um ataque com isso.
Vasculhei minha bolsa para pegar a chave e puxei de lá um chaveiro frufru lilás que eu ganhei da minha tia no ano passado quando ela veio do Japão. Eu geralmente tinha vergonha daquele pompom cheio de fios. Tipo, a irmã do Hoseok tinha um igualzinho e ela tinha cinco anos. Mas eu também ficava com a consciência pesada ao não usá-lo.
Minha tia sempre me dava presentes — ainda que fossem tirinhas de pedidos para amarrar no pulso, ou camisetas escritas: "Estive em Daegu e lembrei de você" — e eu sentia que estava fazendo desfeita quando não usava. Então, eu usava, mas não conseguia não sentir um pouco de vergonha.
Me levantei e destranquei a porta. Depois me abaixei e peguei a mochila. Então subi mancando as escadas em direção ao meu quarto, onde tomei banho e limpei o machucado. Quando desci e vasculhei o armário da cozinha, com a barra do pijama levantado até a coxa para não encostar no corte, eu soltei um muxoxo. Não tinha mais band-aid, nem remédio para tirar a ardência. Mas, tudo bem, não era como se minhas tripas fossem sair por ali.
***
Estava sentado na escrivaninha, me forçando a ler aquele livro. Eu já tinha avançado para a página vinte e cinco, mas eu sempre perdia o foco. E, o que me fez tirar os olhos da folha na vigésima vez, fora a movimentação na janela que ficava logo à frente da minha.
Quando afastei um pouco a cadeira de rodinhas, pude ver com mais clareza as janelas grandes abertas. Era estranho olhar para elas e vê-las assim, depois de sete anos fechadas. Era mais estranho ainda olhar e não ver uma garotinha banguela de chiquinhas acenando para mim sorrindo. Quando forcei mais a visão, percebi que o quarto ainda era rosa e que tinha marcas de cola dos desenhos que pregamos nas paredes.
Me levantei e fui até a minha janela. Os vizinhos já tinham colocado toda a sua mobília para dentro, mas eu podia ouvir o som de martelos, furadeiras e de coisas sendo montadas.
Senti-me meio nauseado com a lembrança. Será que o novo vizinho pintaria o quarto de outra cor ou colaria outras coisas nas paredes? Eu não sabia, mas esperava que sim. Eu não queria mais olhar para aquela janela e assemelhá-la com Micha.
Eu ainda estava na janela, observando o quarto, quando os dois vizinhos mais novos passaram pela porta. Eu me alarmei e puxei as persianas. Mas voltei a espiar, separando duas faixinhas com os dedos. O mais velho estava com a mão nas costas do outro, que estava estranho. O maior esperou que o outro se deitasse e apagou a luz antes de sair e fechar a porta.
O barulho na casa diminuiu consideravelmente. Eu podia ver um pedaço da cama já montada e as meias coloridas dos pés de um certo alguém. Seus dedos estavam encolhidos e de repente sumiram do meu ponto de vista. Ele tinha encolhido as pernas. Senti que já estava sendo invasivo demais e me afastei.
Então, de hoje em diante, eu teria um novo alguém para encontrar ao abrir a janela.
***
Oieee!!!!
Bem vindos a Cigarros de Morango🍓
Este foi o prólogo, espero que tenham gostado e que possam dar um chance a uma fic flop de uma autora flop que gosta de escrever.
A fic não tem um dia certo para ser postada, mas vou postar o mais rápido que conseguir. Promessa de mindinho, viu?
Aaah, sabia que Cigarros de Morango tem uma playlist no spotify?? Pois é, o link está na bio do meu perfil, só clicar lá😎😎
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Bom, é isso, xuxus! Fiquem bem, bebam água e se alimentem!!💃
Tchauuzinho💜
~Zalline~
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